RELATÓRIO DE MISSÃO. PT Unida na diversidade PT. Parlamento Europeu na sequência da missão a Utreque e Haia, em 8 e 9 de fevereiro de 2016

Transcrição

1 Parlamento Europeu Comissão dos Assuntos Jurídicos RELATÓRIO DE MISSÃO na sequência da missão a Utreque e Haia, em 8 e 9 de fevereiro de 2016 Comissão dos Assuntos Jurídicos Membros da missão: Heidi Hautala Joëlle Bergeron Julia Reda (Verts/ALE) (chefe da missão) (EFDD) (Verts/ALE) CR\ doc PE v01-00 Unida na diversidade

2 Introdução A missão da Comissão dos Assuntos Jurídicos a Utreque e Haia teve lugar durante dois dias, em 8 e 9 de fevereiro de 2016, incidindo, em particular, nas competências da comissão em matéria de Direito Internacional, tanto público como privado, e tendo igualmente abrangido reuniões específicas subordinadas aos temas como «legislar melhor», a igualdade de género e a cooperação judiciária. Os três deputados participantes fizeram-se acompanhar por uma equipa composta por membros do secretariado, conselheiros políticos e intérpretes. Relato sucinto das reuniões Ao longo da missão, os participantes realizaram um total de sete reuniões: 1. Reunião com representantes da «European Equality Law Network» (Rede Europeia de peritos legais no domínio da igualdade de género e da não discriminação) Na Universidade de Utreque, os participantes procederam a uma troca de pontos de vista sobre a legislação em matéria de igualdade de género com Susanne Burri, coordenadora especializada em questões relacionadas com a igualdade de género, Linda Senden, professora, perita em questões relacionadas com a igualdade de género e membro do Comité executivo, Marcel Zwamborn, coordenador geral, e Alexandra Timmer, coordenadora pro tempore das questões relativas à legislação em matéria de igualdade de género. Os deputados mostraram-se particularmente interessados em ouvir a opinião da Rede, tanto sobre a necessidade de uma legislação relativa à representação das mulheres nos conselhos de administração, como sobre a importância da Convenção de Istanbul. À troca de pontos de vista seguiu-se um almoço no clube da faculdade da Universidade de Utreque, em que foi possível prosseguir o debate numa base menos formal. 2. Visita ao Tribunal Internacional de Justiça No Palácio da Paz, em Haia, os deputados reuniram-se com Philippe Couvreur, escrivão do Tribunal de Justiça, e Andrey Poskakukhin, Primeiro Secretário do Tribunal e chefe do Departamento de Informação do mesmo, a fim de procederem a uma troca de pontos de vista sobre o Direito Internacional. Os deputados receberam informações sobre a criação e a história do Tribunal Internacional de Justiça, bem como sobre o papel que este desempenha, tendo ainda tido a oportunidade de fazer algumas perguntas sobre o trabalho em curso. 3. Visita à Eurojust De seguida, os representantes do Parlamento visitaram a Eurojust, a fim de procederem a uma troca de pontos de vista sobre a cooperação judiciária. Foram PE v /2 CR\ doc

3 recebidos por Michèle Coninsx, Presidente da Eurojust, Klaus Meyer-Cabri, membro nacional pela Alemanha e Presidente da Equipa da Eurojust de Bruxelas, Piia Vottonen, membro nacional pela Finlândia, e Cyril Lacombe, assistente do membro nacional pela França. Na sequência de uma exposição sobre a importância do trabalho desenvolvido pela Eurojust no âmbito do combate à criminalidade transnacional, os deputados foram informados das conclusões que, em termos orçamentais, devem ser tiradas da crescente cooperação judiciária neste domínio. 4. Visita à Academie voor wetgeving Na Academie voor wetgeving, uma instituição pública neerlandesa que faculta formação aos profissionais da justiça que trabalham a nível governamental e legislativo, os representantes da comissão procederam a uma troca de pontos de vista sobre «legislar melhor» com o Professor Niemeijer, decano da Academia, e Nico Florijn, gestor de programa. Os representantes da Comissão dos Assuntos Jurídicos mostraram-se particularmente interessados em conhecer as opiniões da Academia sobre o significado do conceito «legislar melhor», bem como sobre o papel desempenhado pelos funcionários públicos, sejam eles nacionais ou europeus. 5. Visita ao Tribunal Permanente de Arbitragem Subsequentemente, os deputados regressaram ao Palácio da Paz para uma troca de pontos de vista sobre arbitragem internacional com Hugo Siblesz, Secretário-Geral do Tribunal Permanente de Arbitragem, que foi precedida de uma exposição muito informativa sobre arbitragem internacional, apresentada por Dirk Pulkowski, Conselheiro Jurídico Sénior. Uma vez que a atividade do Tribunal Permanente de Arbitragem abrange igualmente a resolução de litígios entre os investidores e o Estado, os deputados mostraram-se particularmente interessados em inteirar-se da importância de um quadro jurídico adequado, aplicável às decisões, caso se preveja o recurso à arbitragem. Na realidade, neste domínio, a controvérsia é raramente gerada pelo recurso à arbitragem em si, mas antes pela falta de consenso relativamente aos princípios em que assentam as decisões arbitrais. Como é óbvio, estes princípios são acessíveis às partes que chegam a acordo relativamente a uma convenção de arbitragem. 6. Reunião privada com Ard van der Steur, Ministro da Segurança e da Justiça Os participantes na missão reuniram-se com Ard van der Steur para uma troca de pontos de vista sobre a Presidência Neerlandesa do Conselho e outros temas da atualidade. Os deputados foram nomeadamente informados dos progressos realizados no Conselho a respeito de uma cooperação reforçada em matéria de regimes matrimoniais, bem como dos efeitos patrimoniais das parcerias registadas. O ministro manifestou interesse na proposta da comissão relativa a um Direito administrativo da CR\ doc 3/3 PE v01-00

4 União Europeia. De seguida, o ministério ofereceu um almoço aos participantes da missão, que permitiu prosseguir o debate com os colaboradores do ministro. 7. Visita à Secretaria Permanente da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado Tendo em conta que o Direito Civil e o Direito Internacional Privado fazem parte das competências fundamentais da comissão, os deputados aguardavam com grande expetativa a troca de pontos de vista com a Conferência de Direito Internacional Privado sobre esta matéria. A Secretaria fez-se representar por Christophe Bernasconi, Secretário-Geral, Marta Pertegás, Primeira Secretária, Philippe Lortie, Primeiro Secretário, Laura Martínez-Mora, Assessor Jurídico Principal, John Thomas, Assessor Jurídico Principal, Kerstin Bartsch, Assessora Jurídica sénior, e Maja Groff, Assessora Jurídica Sénior. Os deputados mostraram-se particularmente interessados em conhecer as opiniões da Secretaria Permanente sobre a questão da proteção dos adultos vulneráveis, sobre a qual Joëlle Bergeron estava a elaborar um relatório de iniciativa legislativa, bem como sobre o recurso ao Direito Internacional Privado para resolver algumas das questões em torno da filiação e da gestação para outrem. A esta última reunião seguiu-se uma visita ao museu Escher, em Haia. Conclusões As reuniões em Utreque e Haia foram de grande utilidade para a Comissão, tendo em vista a formulação da futura política no domínio das suas atribuições. Para além de reconhecerem a importância de estabelecer mais contactos com as diferentes partes interessadas com que tiveram a oportunidade de se reunir, os participantes puderam chegar às seguintes conclusões concretas: É necessário prosseguir o trabalho sobre opções legislativas destinadas a promover a nomeação de mulheres para os conselhos de administração das empresas; Em resultado da complexa interação entre a legislação europeia e a legislação a nível dos Estados-Membros, bem como em consequência de fatores societais, a discriminação indireta é suscetível de se manifestar em vários domínios da legislação, pelo que é necessário reconhecê-la e tê-la mais em conta; É necessário promover a adesão da UE à Convenção de Istambul, de 2011; A flexibilidade estatutária foi essencial para permitir que as organizações internacionais florescessem ao longo dos anos; A cooperação judiciária penal, nomeadamente através da Eurojust, é essencial para combater a criminalidade e o terrorismo transfronteiras; PE v /4 CR\ doc

5 Ao longo dos últimos quinze anos, as atividades de luta contra o terrorismo foram, em larga medida, motivadas por acontecimentos, sendo, pois, desejável proceder a uma análise da eficácia das medidas tomadas ao longo desse período, com base em dados concretos; É necessário apreciar os meios orçamentais ao dispor da Eurojust, com vista ao seu eventual aumento; É necessário proceder a uma reflexão mais aprofundada, designadamente a nível europeu, do significado de «legislar melhor», Em termos académicos, «legislar melhor» exprime o conceito de que ideias e decisões políticas se traduzem de forma precisa numa legislação transparente, eficaz e eficiente, e não se refere ao conteúdo material das políticas em causa; Tendo em conta as atuais controvérsias sobre a resolução de litígios entre os investidores e o Estado através da arbitragem, é necessário colocar uma maior ênfase em prover o quadro jurídico no âmbito do qual os árbitros emitem decisões de conteúdo material, e não apenas prever regras processuais; A comissão deve cooperar de forma mais estreita com o Conselho e a Presidência do Conselho no que se refere às propostas de decisão em matéria de regimes matrimoniais e relativas aos efeitos patrimoniais das parcerias registadas, bem como no que diz respeito à iniciativa legislativa da comissão sobre um Direito administrativo para a União Europeia; A comissão deve intensificar a sua cooperação com a Secretaria Permanente da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado; O papel desempenhado pelo Direito Internacional Privado na consolidação da paz, tanto a nível internacional como no seio da União Europeia, não deve ser esquecido; A União Europeia deve apoiar os esforços envidados pela Conferência da Haia no sentido de assegurar a consistência na aplicação do Direito da Família aos casos individuais, em particular quando estes têm uma dimensão transfronteiriça; A União Europeia deve apoiar o trabalho desenvolvido pela Conferência da Haia relativo à convenção sobre decisões judiciais. CR\ doc 5/5 PE v01-00