O ORÇAMENTO PÚBLICO MUNICIPAL E OS RECURSOS PARA A INFÂNCIA A ORIGEM DOS RECURSOS E O PLANEJAMENTO PARA O ORÇAMENTO
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- Maria do Mar Débora Cavalheiro Domingos
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1 O ORÇAMENTO PÚBLICO MUNICIPAL E OS RECURSOS PARA A INFÂNCIA A ORIGEM DOS RECURSOS E O PLANEJAMENTO PARA O ORÇAMENTO
2 1. Qual a origem dos recursos disponíveis no orçamento para a área da INFÂNCIA? Todos os recursos de que os municípios dispõem para custear as despesas, para realizar os investimentos e para implantar políticas públicas têm origem nos impostos, nas transferências que vêm da União e do Estado, e, em menor parte, em receitas próprias, como resultados de alienações de bens pelo poder público e de parcerias com instituições privadas. As fontes que mais nos interessam são as seguintes: as receitas provenientes dos impostos (municipais ou aos quais o município tenha acesso); as transferências na forma de convênios e participação em programas estabelecidos pelo Estado ou pela União; a aplicação das obrigações constitucionais; o Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, criado nos Estados e municípios pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Exemplo Os recursos do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente são um exemplo de recursos vinculados que devem ser utilizados em benefício das crianças e adolescentes, em conformidade com a lei que criou o fundo em cada localidade. Os recursos do fundo têm uma contabilidade própria e seguem o mesmo processo orçamentário dos demais recursos públicos. Geralmente o fundo está ligado à Secretaria de Assistência Social e é acessado para financiar ações definidas e aprovadas pelo Conselho da Criança e do Adolescente de cada município.
3 A importância do tema da INFÂNCIA exige esforço e criatividade para a proposição de ações prioritárias, para a identificação de fontes alternativas de apoio e para a inclusão de programas de interesse da INFÂNCIA nos orçamentos municipais. O conhecimento das classificações orçamentárias nos auxilia a realizar esta última tarefa. Precisamos entender com precisão a linguagem orçamentária e as técnicas de lançamento das despesas de um projeto no orçamento do município, para podermos compor as ações e os recursos de modo a usá-los com eficácia. 2. Em quais áreas podemos aplicar recursos que apoiem as políticas destinadas à INFÂNCIA? As políticas de interesse da INFÂNCIA podem ser encontradas em várias ações de governo. Uma obra de saneamento, um programa de melhoria do ensino voltado à qualificação de professores, um programa de esporte e recreação, um programa de difusão cultural, um programa de educação especial, um programa de alimentação escolar: são exemplos de ações que direta ou indiretamente impactam a qualidade de vida das crianças. Em todos estes casos será sempre essencial a correta e precisa consignação no orçamento, de modo a tornar explícito que as ações não são apenas intenções genéricas, mas representam despesas e compromissos concretos em benefício das crianças. O processo orçamentário deve detalhar as prioridades para a INFÂNCIA, apontando os recursos que serão despendidos e transformados em lei orçamentária e em obrigação a ser cumprida pelo poder público.
4 Os gastos públicos na área da INFÂNCIA assumem frequentemente uma dimensão intersetorial. Até mesmo quantias modestas, aplicadas em ações bem definidas de áreas correlatas, são importantes para vincular as políticas públicas e potencializar os investimentos. Os instrumentos para fazer esta vinculação entre programas variados, áreas administrativas e finalidades que interessam à INFÂNCIA, são os conceitos de função e subfunção, que serão apresentados adiante e que permitem incluir e especificar os recursos para a INFÂNCIA nas mais variadas ações. Para compreendermos como um programa pode vincular diversas áreas e englobar ações de várias Secretarias Municipais no interesse da INFÂNCIA, podemos considerar um exemplo que será usado mais adiante para explicar a codificação e classificação nas peças orçamentárias. Suponha um programa com várias frentes de ação que pretenda proteger as crianças em uma região e promover a melhoria da sua qualidade de vida. Esse programa poderá conter atividades como: construção de um equipamento urbano apropriado; manutenção desse equipamento; serviço de atendimento odontológico; serviço de apoio a crianças com necessidades especiais; programa médico da família na área de pediatria; saneamento da região no entorno do equipamento; obras de engenharia para acesso; realocação geográfica de um aterro sanitário; programa cultural na comunidade; programa de combate à desnutrição infantil; programa de enfrentamento de violências contra crianças. Os órgãos
5 envolvidos serão as Secretarias Municipais de Saúde, Educação, Assistência Social, Obras e Serviços Urbanos e Cultura, a empresa municipal ou concessionária de saneamento, o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente e outros. Os recursos poderão advir do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, de convênios com órgãos federais e estaduais, de receitas do próprio município e de recursos vinculados à Saúde e à Educação, desde que aplicados de acordo com as suas regras. Os recursos para o aterro sanitário ou para o saneamento não serão buscados no Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, pois este se destina prioritariamente à proteção das crianças contra violações de direitos, mas sim em receitas municipais ou em transferências. Os recursos do Fundo poderão financiar o programa de enfrentamento das violências contras as crianças. Os recursos da saúde poderão financiar as ações de combate à desnutrição infantil. Assim, o orçamento público é o instrumento que indicará com precisão as despesas relativas a cada órgão e a origem dos recursos destinados ao programa em questão. Nele, os recursos orçamentários envolvidos deverão ser identificados por diferentes codificações orçamentárias. A precisão desta codificação facilitará o adequado monitoramento da execução de cada ação. O orçamento permite esta composição e torna a aplicação dos recursos uma obrigação legal. 3. Como podemos identificar o caráter estratégico da aplicação dos recursos na área da INFÂNCIA? Um orçamento bem feito, claro e propositivo é resultado de um bom planejamento. O processo orçamentário de elaboração e aprovação da lei do orçamento deve se basear em um plano de governo
6 construído com mecanismos de participação social previstos nas leis e que estabeleça as áreas estruturais que devem ser priorizadas para os gastos públicos. O conhecimento do processo orçamentário permite incluir os recursos de interesse da INFÂNCIA nas ações propostas para atuar nestas áreas estruturais. O orçamento deve ser a consequência de um processo de diagnóstico da realidade local e da situação das crianças e adolescentes, que possibilite o estabelecimento de prioridades e a alocação de recursos com finalidades bem definidas que deverão ser cumpridas e poderão ser monitoradas. Quando idealizamos um programa de interesse da INFÂNCIA podemos adotar a perspectiva intersetorial para projetar gastos nas áreas estruturais (educação, saúde, assistência social, cultura, saneamento, habitação etc.) e buscar um impacto mais amplo das ações. O programa terá recursos definidos para serem despendidos em áreas diversas desde que sua previsão orçamentária contemple esta diversidade. O Senado Federal mantém um sistema de informações - o Portal do Orçamento - que permite o acesso ao orçamento da União na internet. Uma página deste portal oferece os dados consolidados em várias formas de agrupamento de informações acerca dos gastos públicos na área da criança e do adolescente. Este serviço pode ser acessado através do endereço e é um exemplo da diversidade de ações que podem ser articuladas em torno do interesse da INFÂNCIA e da variedade de contribuições das diversas áreas do Poder Executivo Federal.
7 4. Por que conhecer o orçamento municipal é ponto de partida para melhorar o desenvolvimento de políticas na área da infância? As ações de governo municipal só poderão ser concretizadas se existir previsão orçamentária. O orçamento é o documento legal que trata dos planos, das prioridades, dos recursos necessários e das despesas previstas para a criação, ampliação ou manutenção de serviços e programas de atendimento à primeira infância. O orçamento se constitui no ponto de partida para que o Poder Público local exerça seu dever legal e constitucional de proporcionar proteção integral às crianças e adolescentes (cf. arts. 1º e 4º, caput, da Lei nº 8.069/90 e arts. 226 e 227, da Constituição Federal). Os aspectos técnicos deverão ser compreendidos para que os programas sejam inseridos no orçamento e agreguem as diversas ações e áreas de execução de forma correta.
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