AULA 7 24/03/11 O EMBARGO DE DECLARAÇÃO

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1 AULA 7 24/03/11 O EMBARGO DE DECLARAÇÃO 1 O CONCEITO O embargo de declaração é a espécie de recurso que se destina a integrar um ato judicial 1 decisão interlocutória ou sentença (ao despacho não cabe recurso qualquer) permeado por um vício que pode ser uma obscuridade, uma contradição ou uma omissão 2. No tocante ao ato judicial, o embargo declaratório mira a decisão interlocutória inclusive as decisões monocráticas do segundo grau, aquelas do relator do tribunal e a sentença ou o acórdão. Os despachos atos que não prejudicam ninguém não se expõem a recurso qualquer. Note que, sendo o ato do julgador um ato humano é falível e pode vir recheado com eventual vício que pode maculá-lo. O recurso em apreço objetiva resolver o sobredito vício a fim de tornar o ato judicial inequívoco, coerente e completo. Destaque-se que, o instrumento em tela não busca a reforma de um ato judicial, mas sim tornálo bom, adequado. Ainda assim, tem natureza jurídica de recurso porquanto tenha a sistemática brasileira definido o que é recurso em lei 3 e nela está ele textualmente mencionado. 1 Código de Processo Civil do Brasil (1973): Art Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. 1 o Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. (Redação dada pelo Lei nº , de 2005) 2 o Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente. 3 o São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma. 4 o Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessários. (Incluído pela Lei nº 8.952, de ) 2 Ib.: Art Cabem embargos de declaração quando: (Redação dada pela Lei nº 8.950, de ) I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de ) II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de ) 3 Op. cit.: Art São cabíveis os seguintes recursos: (Redação dada pela Lei nº 8.038, de ) I - apelação; II - agravo; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de ) III - embargos infringentes; IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; Vl - recurso especial; (Incluído pela Lei nº 8.038, de ) Vll - recurso extraordinário; (Incluído pela Lei nº 8.038, de ) VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário. (Incluído pela Lei nº 8.950, de )

2 40 DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2 O CABIMENTO 2.1 A OBSCURIDADE Obscuro quer dizer escuro, hermético, confuso, abstruso, indigesto. O ato judicial obscuro é aquele que não é claro. Exemplo: uma sentença que, ao ser lida pelos usuários do direito, deixa dúvidas no tocante à jurisdição, dizer o direito no caso concreto. 2.2 A CONTRADIÇÃO Contradição quer dizer incoerência, incongruência, absurdo, aberração. O ato judicial contraditório é aquele que não é coerente: há conflito entre trechos ou idéias. Exemplo: o juiz elabora sua fundamentação a favor do autor e no dispositivo registra a improcedência do pedido. 2.3 A OMISSÃO Omissão quer dizer supressão, falha, elipse, deleção, eliminação. O ato judicial omisso é aquele que não é completo: o julgador não se manifesta sobre um ponto relevante da causa, importante para a solução do litígio, no mais das vezes, concernente ao pedido ou a causa de pedir. Exemplo de omissão relevante: o autor, em sua inicial, pede indenização material e indenização moral; o julgador, em sua sentença, declara procedente o pedido da indenização material, entretanto, nada comenta sobre a indenização moral (vício infra ou citra petita). Exemplo de omissão irrelevante: o auto, em sua inicial, pede a rescisão contratual e a devolução dos valores pagos; o julgador, em sua sentença, declara improcedente a rescisão e nada comenta sobre a devolução (note que o primeiro pedido é prejudicial ao segundo: sem um, sem o outro). Apostila-se que, caso o juiz não declare o voto vencido ao longo do processo, caberá o embargo de declaração motivado pela omissão; ademais, a partir da declaração deste voto vencido caberá, por vezes, o embargo infringente.

3 41 AULA 7 O EMBARGO DE DECLARAÇÃO 2.4 OBSERVAÇÕES As Vias Excepcionais Havendo qualquer um dos três vícios, a parte deverá sempre embargar, porquanto possa, no futuro, ter que abrir mão de recurso especial ou extraordinário. Lembremos que os tribunais superiores somente conhecem de matéria que tenha sido conhecida pelas instâncias precedentes. Neste norte, o embargo de declaração deve ser oposto a fim de questionamento que permita abrir as vias excepcionais futuramente. Nos Superior Tribunal de Justiça e no Supremo não se pode inovar. Se o tribunal não se manifestar: embargo do embargo (violação do art. 535, do Código 4 ) A Dúvida Antes da reforma de 73 do Código de Processo Civil, o diploma previa a dúvida como possibilidade de oposição de embargo de declaração. Com a reforma, o elenco de cabimentos foi enxugado, pereceu a dúvida porquanto surja ela sempre de um dos três vícios. Entretanto, destaque-se que, segundo pede a Lei n /1995 Lei dos Juizados especiais a dúvida pode dar causa ao embargo de declaração, devendo a mesma ser concernente à interpretação do ato judicial e não nele em si que é claro, coerente e completo. 4 Código de Processo Civil do Brasil (1973): Art Cabem embargos de declaração quando: (Redação dada pela Lei nº 8.950, de ) I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de ) II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de )

4 42 DIREITO PROCESSUAL CIVIL 3 OS PRAZOS As partes gozam de um prazo de cinco dias para oporem embargos de declaração, contados da intimação das mesmas. Destaque-se que, a oposição de embargos de declaração interrompe 5 os prazos para interposição de outros recursos para ambas as partes. Interrupção é a paralisação até que se julgue o embargo momento no qual é o prazo é zerado, ou seja, é concedido outro prazo integral, não somente o intervalo de tempo que restava. Difere, pois, da suspensão, fenômeno marcado pelo congelamento do prazo. Exemplo: juiz prolata a sentença. Destrava prazos para apelação e embargo, simultaneamente. No quinto dia, o réu embarga por omissão. O prazo da apelação é interrompido. Dias depois, o embargo é julgado. Então, são concedidos outros quinze dias para as partes apelarem. Comenta-se que, se o embargo for percebido protelatório 6 a parte embargante é punida com multa de um por cento do valor da causa. Se reincidir, dez por cento e para outro recurso deverá comprovar que efetuou o pagamento desta multa. O sobredito ocorre sempre que, na ausência de um dos três vícios comentados, a parte embarga apenas com o intuito de ganhar tempo no processo, uma vez que o embargo interrompe os demais prazos. A multa é uma punição para fugir a procrastinação. 5 Código de Processo Civil do Brasil (1973): Art Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das partes. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de ) [...]. 6 Ib.: Art. 538 [...] Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por cento), ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de )

5 43 AULA 7 O EMBARGO DE DECLARAÇÃO 4 OS EFEITOS 4.1 OS CLÁSSICOS O efeito suspensivo: suspensão da eficácia da sentença (não pode ser executada). O efeito devolutivo: devolução ao juiz o conhecimento da matéria por ele julgada. E, o efeito expansivo: expansão para todos em caso de litisconsortes (a sentença é aclarada e completada para todos). 4.2 OS MODIFICATIVOS A regra é que: o embargo de declaração não é oposto a fim de reformar um ato judicial, mas sim torná-lo bom, adequado: claro, coerente e completo. Excepcionalmente, o embargo de declaração pode ter efeito infringente, ou seja, modifica a decisão judicial. Percebe-se que, por vezes, o embarco consegue mais do que aclarar, concernir e completar um ato judicial, posto que ele, efetivamente, modifica a decisão do juiz. Tal pode ser observado em duas situações, ambas de caráter excepcional. A primeira: o embargo visa sanar um dos três vícios e com isto altera-se a decisão. Exemplo: o juiz fundamenta a favor do pedido do autor e no dispositivo declara a improcedência do pedido. Embargo por contradição. Reconhecido o embargo vem a nova decisão: procedência do pedido. A segunda: inexiste um dos três vícios; existe sim um erro de fato ou um erro material. Exemplo: o juiz na fundamentação alega falta de prova em face do que declara a improcedência do pedido. Erro de fato: há prova que não foi vista. Reconhecido o embargo: procedência do pedido. Oportuno relembrar preclusão pró judicato: depois de prolatada a sentença, o julgador não mais poderá alterar a sua decisão, salvo em duas hipóteses, quais sejam, o erro material ou de cálculo e por meio do embargo de declaração 7. 7 Código de Processo Civil do Brasil (1973): Art Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: (Redação dada pela Lei nº , de 2005) I - para Ihe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou Ihe retificar erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração.

6 44 DIREITO PROCESSUAL CIVIL 5 O PROCESSAMENTO O embargante apresenta petição ao juízo a quo aquele que praticou o ato judicial que, por hora, é alvo do recurso em tela. A petição deverá ser escrita 8 ; logo, em caso de decisão interlocutória proferida em audiência, a parte nada fará naquele momento, mas sim nos cinco dias seguintes. A parte que embarga o embargante deve, obrigatoriamente, descrever precisamente a obscuridade, a contradição ou a omissão. Destaque-se que, nominar o cabimento na petição é facultativo e, em o fazendo, se houver erro o mesmo é ignorado pelo julgador. Os prazos para os demais recursos são interrompidos, até que o embargo de declaração seja julgado. Evidentemente, desde que recebido o embargo (acolhido ou rejeitado). Naturalmente, o embargo intempestivo não interromperá o prazo dos demais recursos. Caso a outra parte tenha apelado, a apelação não sobe, porquanto possa ser alterado o ato judicial original que deu causa àquela apelação. Ademais, será conferido ao apelante o direito de aditar o seu recurso, qual seja a apelação. Como a regra geral é a de que o embargo não visa reformar a decisão, mas sim aclará-la, o juiz não intima a parte contrária a fim de que apresente contra-razões. Inexiste contraditório porquanto inexista a possibilidade de prejuízo a outra parte. Excepcionalmente, em se considerando o embargo de declaração com efeito infringente, porquanto ocorra alteração do ato judicial que deu causa ao referido recurso, o juiz intimará a parte contrária a fim de que apresente contra-razões. Igualmente, se o embargante juntar documento novo. O magistrado deverá julgar o embargo de declaração no prazo de cinco 9 dias: reconhece o embargo e sana o respectivo vício (obscuridade, contradição ou omissão); ou rejeita o embargo e declara o ato judicial claro, coerente e completo. 8 Código de Processo Civil do Brasil (1973): Art Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não estando sujeitos a preparo. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de ) 9 Ib.: Art O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias; nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subseqüente, proferindo voto. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de )

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