Principais helmintos intestinais em cães no Brasil
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1 Ano 02 Edição 08 Junho 2015 Principais helmintos intestinais em cães no Brasil Profa. Dra. Solange Maria Gennari CRMV-SP Professora Titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP). A s parasitoses causadas por helmintos em cães são infecções de alta prevalência em todas as partes do mundo, podendo ser especialmente graves em animais jovens ou imunocomprometidos. Alguns desses parasitos, além de causarem problemas sérios nos cães, podem infectar humanos, sendo responsáveis por importantes zoonoses, que também são mais prevalentes e graves em crianças e em pacientes com imunossupressão. Assim, o conhecimento de aspectos da biologia dos nematoides é importante e permite ao clínico veterinário introduzir controles eficazes das infecções nos animais e fazer um trabalho de saúde pública, impedindo a infecção dos humanos. Há estudos realizados em países altamente desenvolvidos, como a Holanda, que mostram que o médico veterinário é o profissional que possui mais conhecimentos e oportunidades para, em suas atividades rotineiras, passar informações sobre as zoonoses transmitidas por cães e gatos para as famílias de seus pacientes. Essa importante função, muitas vezes, não é feita por desconhecimento de pontos básicos da biologia dos parasitos ou por acharem que essas informações não sejam de interesse das famílias que frequentam suas clínicas. Em estudo realizado nos Estados Unidos, no qual 450 clínicos veterinários de pequenos animais foram entrevistados, constatou-se que 60% não se preocupavam com infecções sobre helmintos gastrintestinais e somente 33% discutiam com as famílias sobre o potencial zoonótico das infecções. 1 Não temos um estudo semelhante realizado no Brasil, entretanto provavelmente teríamos índices semelhantes ou até maiores no país. Katagiri & Oliveira-Sequeira (2008) 2 realizaram um estudo em Botucatu, interior de São Paulo, no qual um questionário foi feito a proprietários de cães sobre zoonoses transmitidas por helmintos de cães, mecanismos de transmissão, fatores de risco para a infecção e mecanismos de controle e observaram que a maioria dos entrevistados não tinha nenhum conhecimento sobre os pontos analisados, mesmo tendo o estudo sido realizado em um município do estado mais rico e desenvolvido do Brasil. Dentre as zoonoses de importância transmitidas pelos helmintos de cães estão a larva migrans visceral (LMV) e larva migrans ocular (LMO), transmitidas por Toxocara spp.; a larva migrans cutânea ou bicho geográfico, transmitida pelo Ancylostoma spp., além de infecções por Dipylidium caninum. Dessas infecções, a LMV e a LMO, também chamadas em humanos de toxocaríase, são as mais patogênicas. Segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a toxocaríase é responsável pela perda de visão de aproximadamente 70 pessoas por ano, somente naquele país, a maioria constituída por crianças. Infecções por D. caninum em humanos ocorrem com mais frequência em crianças quando estas ingerem, acidentalmente, pulgas infectadas com o parasito, todavia são de simples tratamento e pouca patogenicidade. No Brasil, ainda não há um grande estudo abrangendo todas as suas regiões sobre a prevalência de helmintos em cães. No Quadro 1, são listados alguns estudos realizados nos últimos 15 anos, e neles se pode observar que algumas regiões não foram contempladas, o que é um alerta aos pesquisadores para que um grande e abrangente estudo seja feito no país. Como no ciclo de vida dos nematoides gastrintestinais há uma parte do desenvolvimento dos parasitos que acontece fora do hospedeiro, as condições ambientais, em especial temperatura e umidade, são de extrema importância e podem favorecer ou prejudicar a manutenção do parasito no meio externo e fazer que alguns vermes sejam altamente prevalentes em algumas regiões e pouco encontrados em outras. De modo geral, os helmintos de maior importância nos cães, e que serão enfocados neste artigo, são: Toxocara canis e
2 Toxascaris leonina, Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliense, Trichuris vulpis e Dipylidium caninum. Juntamente com esses helmintos, é bastante comum o encontro de infecções associadas a protozoários como Giardia duodenalis, Cystoisospora spp. e Cryptosporidium spp., que não serão abordados neste artigo. O Quadro 1 mostra que os nematoides mais frequentemente encontrados em exame de fezes de cães no país são Ancylostoma spp. e T. canis. É importante ressaltar que, com exceção do estudo feito por Klimpel et al. (2010), 12 que obteve resultados de exames coproparasitológicos e de necrópsia e pesquisa do parasito adulto nos cães, todos os outros se basearam somente em pesquisa de formas parasitárias nas fezes dos animais. Assim, alguns parasitas, como Toxocara spp., estão subavaliados, uma vez que forte imunidade ocorre nos cães com a idade, sendo o encontro do Toxocara spp. mais comum em animais jovens, até o sexto mês; nesses estudos, foram avaliados animais de todas as faixas etárias. Dipylidium caninum também é subavaliado em exame de fezes, já que as cápsulas ovígeras (formas presentes dentro das proglotes) dificilmente são encontradas durante o exame. É importante ressaltar que, com exceção do estudo feito por Klimpel et al. (2010), que obteve resultados de exames coproparasitológicos e de necrópsia e pesquisa do parasito adulto nos cães, todos os outros se basearam somente em pesquisa de formas parasitárias nas fezes dos animais. Quadro 1 - Ocorrência (%) de helmintos gastrintestinais em amostras de fezes de cães de diferentes localidades brasileiras (estudos realizados nos últimos 15 anos) Locais Nº de amostras examinadas Ancylostoma spp. Toxocara spp. Trichuris vulpis Dipylidium caninum Referências (ano) São Paulo-SP ,5 5,5 2,4 0,3 Gennari et al. (2001) 3 São Paulo-SP* zero Muradian et al. (2005) 4 São Paulo-SP ,7 2,6 1,8 1,0 Funada et al. (2007) 5 Botucatu-SP ,8 8,7 7,1 2,4 Katagiri & Sequeira (2008) 2 Rio de Janeiro-RJ ,2 7,4 5 0,2 Balassiano et al. (2009) 6 Monte Negro-RO 95 73,7 18,9 9,5 zero Labruna et al. (2006) 7 Itapema-SC ,9 14,5 13,9 1,9 Blazius et al. (2005) 8 Porto Alegre-RS ,2 4,1 0,9 1,6 Lorenzini et al. (2007) 9 Curitiba-PR ,2 1,9 3,3 0,8 Leite et al. (2004) 10 Pinhais-PR** ,7 (44,8) 10,5 (58,6) 14,1 (6,9) zero (6,9) Martins et al. (2012) 11 Fortaleza-CE*** 46 82,6 (95,7) zero (8,7) zero (4,3) zero (45,7) Klimpel et al. (2010) 12 *Cães com até 10 meses de idade; ** 1º ano de coleta (2º ano de coleta); *** Positivos no exame de fezes (positivos na necrópsia parasitológica) Ancylostoma caninum Este parasito pertence à família Ancylostomidae e, como todos os membros dessa família, é hematófago e responsável por quadros de anemia, que podem ser bastante severos e mesmo fatais, especialmente quando altas infecções acometem cães jovens. Habita o intestino delgado, onde é facilmente reconhecido, uma vez que atinge 1 a 2 cm de comprimento e tem aspecto de gancho, razão pela qual, em inglês, recebe o nome de hookworm (verme-gancho). Possui cápsula bucal grande, bastante característica, e, para se fixar, durante a alimentação, possui pares de dentes. Desenvolve-se bem em solos úmidos e em temperatura de 18 a 30 C. O cão pode apresentar duas espécies de 2
3 Ancylostoma, A. caninum e A. braziliense; a primeira é a mais patogênica. Os ovos dessas espécies são muito semelhantes; assim, pelo exame de fezes, o diagnóstico, baseado no encontro dos ovos do parasito, não os difere por espécie. Ancylostoma caninum tem um ciclo direto. Os ovos chegam ao meio ambiente pelas fezes de um cão infectado e aí se desenvolvem para a forma infectante, a larva de terceiro estágio (L3). Essa fase ocorre muito rapidamente, em apenas cinco a sete dias, conforme as condições de umidade e temperatura. As L3 atingem um hospedeiro que as ingere, via oral, ou penetram ativamente na pele dos cães, mesmo sem nenhuma solução de continuidade. Nos cães, caminham por diferentes órgãos e continuam seu desenvolvimento até atingir o intestino delgado como larva de quinto estágio (L5), e terminam seu desenvolvimento transformando-se em machos e fêmeas em apenas duas a três semanas após a infecção. O tempo entre esta e o aparecimento dos ovos nas fezes é chamado de período de pré-patência. Uma proporção das larvas, durante a migração, antes de atingir o intestino delgado, percorre a musculatura esquelética dos cães e permanece como que dormente na musculatura. Entretanto, quando a fêmea atinge o período final da gestação, essas larvas, que estavam na musculatura, retomam a migração e chegam ao intestino delgado, tornando-se adultas. Uma parte delas também atinge os recém-nascidos pela via galactógena (colostro e leite). Assim, a mãe torna-se a fonte de infecção da ninhada, e elas podem estar presentes no leite por até três semanas. As larvas infectantes no meio ambiente podem infectar outros hospedeiros, mamíferos e aves, inclusive o homem. Nesses hospedeiros, as larvas migram pelos tecidos, mas não se desenvolvem em adultos. Caso um cão se alimente com tecidos desses hospedeiros, chamados paratênicos, as larvas contidas nos tecidos continuarão seu desenvolvimento nos cães, até atingir o intestino delgado, tornando-se adultas. Essa é mais uma forma de transmissão da infecção. Uma fêmea infectada uma única vez tem reservas de larvas na musculatura que a torna capaz de infectar mais de uma ninhada pela via transmamária. As fêmeas do parasito são prolíferas, isto é, capazes de eliminar milhares de ovos por dia, por várias semanas, contaminando o ambiente e possibilitando a manutenção da infecção entre os animais. A anemia é o mais importante sinal clínico nas infecções por Ancylostoma spp. Ninhadas com alta infecção podem apresentar os primeiros sinais de anemia ao redor do 10º dia de vida. Nessa fase ainda não se encontram ovos nas fezes, pois os adultos ainda estão imaturos, entretanto já apresentam aparelho bucal completo e são capazes de sugar sangue dos hospedeiros. Sabe-se que cada fêmea adulta é capaz de remover 0,1 ml de sangue por dia, assim infecções maciças levam os cães rapidamente ao quadro de anemia severa. Os animais jovens alimentam-se de leite, que é pobre em ferro, pois não é de extrema importância nessa fase da vida dos cães, assim as reservas de ferro esgotam-se rapidamente e a medula óssea não tem como responder à anemia nessa fase precoce da vida. Além da anemia, ocorrem frequentemente emagrecimento, perda de apetite e diarreia com muco e sanguinolenta. Toxocara canis Toxocara canis e Toxascaris leonina são os ascarídeos que infectam os cães. Pertencem à superfamília Ascaridoidea, são vermes grandes, de aproximadamente 10 cm, esbranquiçados e com ciclo de vida direto, enquanto os adultos se estabelecem no intestino delgado. T. canis é o mais patogênico. Os ovos são bastante típicos, de parede grossa e rugosa, escuros e bastante resistentes no meio ambiente. No meio ambiente, os ovos eliminados nas fezes dos cães infectados se desenvolvem, com a formação de duas fases larvais, dentro dos ovos. Assim, o ovo com L2 (larva de segundo estágio) é a Em animais jovens, até aproximadamente os seis meses de vida, uma parte das larvas chega ao intestino delgado e se transforma em adulta, e parte dela faz migração somática e pelo sangue atinge vários órgãos, como fígado, músculos, glândula mamária etc. forma infectante do parasito. Os ovos se desenvolvem bem em temperaturas que variam de 10 a 45 C, com boa umidade e aeração, e são altamente resistentes no meio ambiente, podendo sobreviver por anos. Também essas fêmeas são altamente prolíferas, e milhares de ovos são eliminados no ambiente a cada dia. Os ovos infectantes, quando ingeridos, chegam ao estômago e sofrem a ação de enzimas digestivas e liberam as L2, que logo atingem o intestino delgado do cão. As L2 iniciam, então, uma migração e chegam aos pulmões. A partir daí, o ciclo varia com a idade do animal. Em animais jovens, até aproximadamente os seis meses de vida, uma parte das larvas chega ao intestino delgado e se transforma em adulta, e parte dela faz migração somática e pelo sangue atinge vários órgãos, como fígado, músculos, glândula mamária etc. Nesses locais, permanecem viáveis, em dormência. Após o sexto mês, devido à imunidade adquirida pelos animais, somente a migração somática ocorre nos cães e raramente adultos de T. canis estão presentes. Da mesma forma que comentado para a infecção por Ancylostoma spp., nas cadelas prenhes no final da gestação (ao redor do 42º dia), pela queda da imunidade e pelo efeito hormonal, essas larvas teciduais retomam o ciclo de desenvolvimento. Entretanto, neste caso, as larvas de T. canis também conseguem atingir os fetos pela veia umbilical, e por isso os cães já nascem 3
4 infectados por T. canis. Vinte dias após o nascimento, os filhotes já têm formas adultas no intestino delgado e podem contaminar o ambiente. As larvas também são eliminadas pelo colostro e leite. No ciclo evolutivo de T. canis, também pode haver a participação dos hospedeiros paratênicos. Os ovos larvados, quando ingeridos por vários mamíferos, se desenvolvem até a fase de L2 e ficam retidos nos tecidos, podendo infectar o cão que se alimentar desses tecidos. Assim, o período de pré-patência varia de duas a quatro semanas, conforme a via de infecção. Os ascarídeos alimentam-se de aminoácidos, vitaminas e oligoelementos dos hospedeiros, motivo do baixo desenvolvimento dos animais infectados. Em infecções moderadas, a migração do parasito não é acompanhada de sintomas respiratórios, entretanto, quando altas doses de ovos atingem os hospedeiros, pode haver problemas respiratórios com pneumonia e edema pulmonar. Na fase intestinal, os vermes adultos podem causar enterite catarral e obstrução intestinal devido ao grande tamanho do parasito e do pequeno volume das alças intestinais de animais jovens, com o risco de ocorrer perfuração do intestino com peritonite e morte de cães. É comum, naqueles com altas infecções, o abdome apresentarse distendido, os pelos sem brilho, e a mortalidade de ninhadas inteiras pode ocorrer em poucos dias após o nascimento. Trichuris vulpis Este parasito geralmente acomete os cães após o desmame, uma vez que não é transmitido pela mãe, e apresenta a forma fecal-oral de infecção. O T. vulpis é um verme grande, que, quando adulto, mede de 4,5 a 7,5 cm e habita o intestino grosso. Os ovos, no ambiente, se desenvolvem e tornam-se infectantes, com a L3 dentro do ovo. Os ovos são ingeridos pelos cães, e as L3 penetram no lume do intestino delgado, e aí continuam seu desenvolvimento. Alguns dias depois, deixam o lume como L4 e migram para o ceco e o intestino grosso, onde se tornam adultos. Os vermes, então, enterram a parte anterior de seus corpos na mucosa, deixam a posterior no lume e vão eliminando os ovos que atingiram o meio ambiente por meio das fezes. O período de pré-patência é de 90 dias. Os ovos de T. vulpis são bioperculados e facilmente diagnosticados em exames de fezes. São bastante resistentes no meio ambiente, podendo sobreviver por anos em local com boa umidade e proteção direta de radiação solar. Em baixas infecções, não há sintomas, entretanto infecções severas podem causar diarreia, geralmente com muco e sangue. Dipylidium caninum Trata-se do cestoide mais prevalente em cães. O adulto pode atingir até 50 cm de comprimento e habita o intestino delgado. Como todos os cestoides, possui um hospedeiro intermediário (HI) em seu ciclo evolutivo, isto é, uma das fases do desenvolvimento do parasito necessita de um hospedeiro invertebrado no qual o parasito se torna infectante. No caso de D. caninum, as pulgas do gênero Ctenocephalides felis e os piolhos do gênero Trichodectes canis são os HIs. Os cães eliminam proglotes, que são móveis e que contêm, em seu interior, as cápsulas ovígeras. No mesmo ambiente, encontram-se as larvas das pulgas ou adultos dos piolhos. Ambos têm, nessa fase evolutiva, aparelho bucal mastigador que permite a ingestão das cápsulas ovígeras do cestoide. Nas pulgas e/ ou nos piolhos, os ovos das cápsulas desenvolvem-se para a chamada forma cisticercoide, que é a infectante. A larva de pulga transforma-se em adulta e mantém a forma cisticercoide viável. Quando um cão ingere uma pulga infectada, essa forma infectante é liberada pela ação de enzimas digestivas e atinge o intestino delgado, onde o protoescólex se fixa na mucosa e inicia seu desenvolvimento, produzindo escólex que se desenvolve, liberando os proglotes grávidos eliminados pelas fezes. A infecção muitas vezes é assintomática, mas o cão arrasta a região anal, indicando incômodo e prurido no local, podendo algumas vezes haver irritação anal. O período de pré-patência é de semanas. Arquivo pessoal da autora Ancylostoma caninum Forma infectante: L3 Vias de transmissão: oral, percutânea, transmamária, ingestão de hospedeiro paratênico Período de pré-patência: 2 a 3 semanas Toxocara canis Forma infectante: ovo com L2 Vias de transmissão: oral, transmamária, transplacentária, ingestão de hospedeiro paratênico Período de pré-patência: 2 a 4 semanas Figura 1 - Ancylostoma caninum e Toxocara canis: detalhes do ciclo evolutivo dos parasitos 4
5 Diagnóstico Com exceção de D. caninum, que raramente aparece nas fezes e tem o diagnóstico feito pela descrição do proprietário do comportamento do cão e a visualização das proglotes, que se assemelham a grãos de arroz ou sementes de pepino, em fezes frescas, o diagnóstico dessas infecções parasitárias é feito por meio de exame de fezes. As fezes devem ser examinadas de preferência frescas ou coletadas em, no máximo, 12 a 24 horas, mantidas refrigeradas, logo após o animal as eliminar, devidamente identificadas e enviadas a um laboratório de confiança do veterinário. Muitos clínicos têm condições de realizar esses exames na própria clínica, e, para a pesquisa de ovos desses helmintos, as técnicas podem ser bem simples. Entretanto, um exame coproparasitológico completo deve buscar o diagnóstico não só de verminoses, mas também de protozoários, geralmente presentes em infecções combinadas. Muito mais devido aos protozoários do que aos helmintos, o chamado exame direto, com coleta de um pouco de fezes acrescida de algumas gotas de solução fisiológica e pesquisa de formas parasitárias em microscópio, é um método muito pouco sensível. Se os exames forem feitos no próprio consultório, deverão seguir um padrão de qualidade e contemplar técnicas mais sensíveis e específicas. Assim, técnicas de flutuação e sedimentação devem ser utilizadas, pois permitem o diagnóstico de ovos de helmintos e das formas evolutivas dos protozoários, como cistos de Giardia, oocistos de Cystoisospora etc. Esses técnicas baseiam-se no Arquivo pessoal da autora A B C Figura 2 - (A) Ovo de Ancylostoma caninum, (B) ovo de Toxocara canis e (C) ovo de Trichuris vulpis princípio de flutuação ou sedimentação de ovos, leves ou pesados, em soluções de densidades conhecidas. São, em seguida, examinadas em microscópio, e o diagnóstico é feito, o que exige experiência, considerando-se, em especial, os protozoários. A Figura 2 ilustra ovos de Ancylostoma caninum, Toxocara canis e Trichuris vulpis, como observados em exame de fezes. Controle O controle da infecção por helmintos depende de ações sobre o hospedeiro e o ambiente. Como foi comentado, é no ambiente que se encontram as formas infectantes desses parasitos. Assim, a limpeza dos canis e locais frequentados pelos cães são fundamentais para o sucesso. Muitos ovos são bastante resistentes a certos desinfetantes, por isso é necessário um tempo mínimo de contato entre o princípio ativo dos desinfetantes e os ovos ou larvas. Muitas vezes, produtos eficazes são utilizados, mas subdosados ou por um tempo muito curto de contato, não permitindo que possam agir na camada externa e protetora dos ovos de helmintos. Alguns bons desinfetantes também podem causar irritação na pele de alguns animais. Recomenda-se a limpeza sem a presença deles; depois do uso de desinfetante, 5
6 Muito mais devido aos protozoários do que aos helmintos, o chamado exame direto, com coleta de um pouco de fezes acrescida de algumas gotas de solução fisiológica e pesquisa de formas parasitárias em microscópio, é um método muito pouco sensível. este deve ser removido enxaguando o ambiente com água. Equipamentos de lavagem com água sob pressão de vapor ou a quente são altamente recomendados. As formas de vida livre dos parasitos não suportam as altas temperaturas. Recomenda-se a remoção das fezes e limpeza do canil e, em seguida, o uso de desinfetantes ou equipamentos de limpeza com água quente. Os canis devem receber sol durante um período do dia, o que mantém o ambiente mais seco e inviabiliza os ovos e as larvas no ambiente. No caso do D. caninum, o controle depende totalmente do controle dos HIs, das pulgas e dos piolhos. As pulgas em seu desenvolvimento passam por quatro fases: ovos, larvas, ninfas e adultos, e o controle desse inseto é bastante difícil, o que exige o uso de aspiradores de pó no local onde os cães dormem, limpeza e remoção dos cobertores e travesseiros dos animais, lavagem do ambiente onde os cães vivem etc. Todas as fases evolutivas devem ser enfocadas num controle para que este seja eficaz. Sem o controle das pulgas, as infecções pelo cestoide se repetirão muitas vezes, mesmo com o uso de medicamentos com eficácia sobre as pulgas adultas que se encontram nos cães. Tratamento O uso de vermífugos pode ser feito de forma preventiva e curativa. O mais acertado seria o uso somente após o diagnóstico coproparasitológico positivo, entretanto são poucos os proprietários que mantêm de forma constante, a cada quatro a seis meses, o envio das fezes para exame. De modo geral, nos dias atuais, a maioria dos vermífugos disponíveis para cães é bastante segura, de amplo espectro, e alguns agem contra vermes, pulgas, carrapatos, sarnas e piolhos. É importante saber que essas formulações, chamadas endectocidas, pelo amplo espectro de ação, auxiliam no controle e no tratamento dos mais importantes parasitos dos cães num único medicamento, entretanto o veterinário deve ter sempre em mente que, no ambiente, se encontra a maior parte das formas parasitárias, e um controle eficaz deve ser sempre feito em associação. Alguns dos princípios ativos dos medicamentos, inicialmente recomendados para helmintos, provaram ter boa eficácia também contra alguns protozoários, como o fenbendazole, e seu uso no tratamento de Giardia duodenalis em cães. Muitos medicamentos utilizados em cães são compostos por mais de um princípio ativo, de forma a abrangerem com eficácia os helmintos mais comuns. O verme do coração, Dirofilaria immitis, está incluso no espectro de ação de medicamentos. A maioria dos vermífugos é recomendada de forma preventiva para esse verme. Outro grande avanço desses medicamentos está na forma de uso, com aplicações sobre a pele (pour-on, spot-on), com boas absorção e eficácia e longo período residual, tornando o uso de antiparasitários uma forma de controle bastante segura, fácil e muito importante. Uma das grandes falhas no que diz respeito a esses medicamentos até os dias atuais é o seu uso em ninhadas. Grande parte dos produtos para uso em cães jovens é segura para seu início a partir da segunda ou terceira semana de vida dos filhotes. Como foi colocado na descrição do ciclo de vida dos parasitos, o período de pré-patência desses helmintos varia de duas a quatro semanas, e no caso de 6
7 Ancylostoma spp. e de Toxocara spp. sintomas já podem estar presentes antes da segunda semana de vida, uma vez que os animais podem adquirir a infecção mesmo antes do nascimento e, logo após, quando da ingestão do colostro e do leite. Ou seja, o primeiro tratamento pode ser iniciado já na segunda semana de vida, entretanto a grande maioria dos cães só recebe a primeira vermifugação quando vai à clínica veterinária para as primeiras vacinas, isto é, ao redor da sexta ou sétima semana de vida. A ninhada deve ser vermifugada na segunda semana de vida, e pelo menos mais duas doses devem ser ministradas até o sexto mês; isso porque, por meio do leite, as larvas vão infectar os filhotes por pelo menos três semanas, e, pela mãe ter tido uma queda da imunidade no período periparto, o ambiente estará mais contaminado, com maior possibilidade de infecção dos filhotes. A mãe deve ser tratada juntamente com a ninhada. É importante ressaltar que, Alguns dos princípios ativos dos medicamentos, inicialmente recomendados para helmintos, provaram ter boa eficácia também contra alguns protozoários, como o fenbendazole, e seu uso no tratamento de Giardia duodenalis em cães. quanto mais larvas e ovos estiverem contaminando o ambiente, maior será a quantidade que conseguirá tornar-se infectante e maior a quantidade de larvas que ficarão retidas nos órgãos e tecidos dos cães para se tornarem adultas nas próximas gestações. Os vermífugos não agem sobre as larvas que estão nos tecidos; lá elas estão protegidas da ação dos medicamentos. Assim, o uso de vermífugos em fêmeas prenhes deve acontecer próximo ao parto, na última semana da gestação, quando as larvas já estão deixando os tecidos e estarão suscetíveis à ação dos vermífugos. Para cães adultos, estudos europeus têm recomendado o uso de vermífugos a intervalos de dois a três meses. Cães que têm contato com áreas jardinadas, ruas, outras espécies animais, que vivam em canis com outros cães e animais do meio rural têm mais chances de se infectarem, por isso necessitam de medicamentos a intervalos mais curtos, com pelo menos quatro ou seis vermifugações anuais, a critério do médico veterinário. Cães de apartamento, com pouco contato com as ruas e outros cães, podem ter essas dosagens mais espaçadas. O veterinário deve fazer as recomendações conhecendo o estilo de vida e os fatores de risco para essas infecções a que os cães estarão expostos. O uso preventivo de vermífugos não só protege os animais como reduz a contaminação ambiental e os riscos de infecções para os humanos. As opiniões aqui refletidas são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da Bayer. Referências: 1. Harvey. Journal of the American Veterinary Medical Association, 179: , Katagiri & Oliveira-Sequeira. Zoonoses and Public Health, 55: , Gennari et al. Veterinary News, 52: 10-12, Muradian et al. Veterinary Parasitology, 134: 93-97, Funada et al. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, 59: , Balassiano et al. Preventive Veterinary Medicine, 91: , Labruna et al. Arquivo do Instituto Biológico, 73: , Blazius et al. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 38: 73-74, Lorenzini et al. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, 44: , Leite et al. Archives of Veterinary Science, 9: 95-99, Martins et al. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 21: , Klimpel et al. Parasitology Research, 107: ,
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