BRASIL VISLUMBRA VOOS MAIS ALTOS no

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1 BRASIL VISLUMBRA VOOS MAIS ALTOS no setor de logística BRASIL Newsletter Logistics & Procurement # 22 I Fevereiro 2013 PAC Como o investimento do governo vai aumentar o volume de negócios no setor INFRAESTRUTURA Dimensões do Brasil: problema ou oportunidade? INOVAÇÃO A palavra-chave para um serviço mais eficiente ENTREVISTA Geraldo Gontijo, da Embraco, dá suas percepções sobre o setor logístico

2 a equipe Caroline Cadorin Gerente das expertises Hays Logistics, Hays Procurement e Hays Engineering em Campinas caroline.cadorin@hays.com.br Raphael Falcão Diretor regional da HAYS no Rio de Janeiro raphael.falcao@hays.com.br Thiago Sebben Gerente e responsável pelo escritório da HAYS em Curitiba thiago.sebben@hays.com.br Winnie Welbergen Gerente das expertises Hays Logistics e Hays Procurement em São Paulo winnie.welbergen@hays.com.br A HAYS Recruiting experts worldwide lançou mais uma edição semestral do Hays Journal. A publicação oferece aos seus leitores matérias voltadas à atualidade, tendências e percepções sobre temas que exercem impacto no mundo do trabalho. Confira! Investimento em infraestrutura expande o mercado de logística Em 2012, o Governo Federal anunciou o Programa de Investimento em Logística, que prevê parcerias público-privadas em rodovias e ferrovias e investimentos de R$ 133 bilhões nos próximos 25 anos. Desse total, R$ 79,5 bilhões devem ser investidos dentro de cinco anos. Mais do que modernizar a infraestrutura do País, a medida terá forte impacto no mercado de trabalho brasileiro, principalmente no setor de logística. Com o setor em expansão, o mercado está se preparando para o aumento da demanda e das exigências. Mas os salários já estão inflacionados. Os aumentos mais significativos em 2012 foram para os gerentes de operações, porque há poucos profissionais no mercado. A parte variável da remuneração tem sido a mais beneficiada: durante o processo de negociação, os próprios candidatos pedem benefícios e bônus. Também se notou maior agressividade na oferta de oportunidades de desenvolvimento de carreira, porém sempre dentro das métricas e dos indicadores da função. As empresas estão, ainda, investindo em universidades corporativas e treinamentos pontuais para qualificar esses profissionais, avalia Winnie Welbergen, gerente da área Hays Logistic e Hays Procurement em São Paulo. Outro foco de contratação são os gerentes de operações logísticas com inglês, e visão holística do negócio. Além dessas, cargos muito demandados foram de gerente sênior de planejamento e gerente sênior de compras de indiretos. Gerente de logística nacional e internacional também é um cargo novo e difícil de encontrar profissionais com experiência. E como muitas empresas novas e importadoras estão aumentando seus investimentos no Brasil, essa tendência deve se manter em 2013, aposta Winnie. Segundo dados coletados da edição de 2012 do Guia Salarial da HAYS, as posições gerenciais foram as mais aquecidas, notadamente operação e planejamento de demanda e produção. Os cargos mais requisitados foram os de gerente de operações, gerente de planejamento de demanda e coordenador PCP (Planejamento e Controle de Produção), bem como cargos para os setores de projetos e inteligência logística. Outras posições, como as ligadas a movimentação e abastecimento, também apresentaram grandes demandas. As empresas de modo geral também têm realizado esforços para melhorarem seus desempenhos e resultados frente ao seu mercado competidor de atuação - aliados à busca incessante na redução de custos. Esses desafios passam necessariamente pela evolução de modelos e conceitos de gestão consagrados e reconhecidamente eficientes no panorama mundial. A próxima tendência neste sentido é o modelo de Supply Chain Management com seus indiscutíveis benefícios e retorno sobre os investimentos. Esses são alguns dos principais temas tratados nesta newsletter. Também são abordadas nesta edição as tendências e tecnologias para deixar a área de Supply Chain mais eficiente e os requisitos técnicos e comportamentais para o profissional que quer migrar para o setor. Outro ponto abordado é como o tamanho territorial do Brasil afeta a maneira de se transportar e armazenar produtos e, por fim, a publicação traz uma entrevista com Geraldo Gontijo, economista e gerente sênior de logística para as Américas da Embraco. Ele fala um pouco sobre sua carreira e os desafios do mercado de logística. Newsletter Logistics & Procurement - #22 Fevereiro

3 O efeito do pacote do governo O governo federal lançou em 2012 o Programa de Investimentos em Logística que prevê aplicação de R$ 133 bilhões em nove trechos de rodovias e em 12 de ferrovias. O objetivo do programa é aumentar a escala dos investimentos públicos e privados em infraestrutura de transportes e promover a integração de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, reduzindo custos e ampliando a capacidade de transporte, além de promover a eficiência e aumentar a competitividade do País. Do total de R$ 133 bilhões a serem investidos, R$ 79,5 bilhões serão aplicados nos próximos cinco anos e R$ 53,5 bilhões em até 25 anos. O pacote contempla R$ 56 bilhões para ferrovias em cinco anos e os restantes R$ 35 bilhões em 25 anos. O sistema rodoviário receberá R$ 23,5 bilhões, em cinco anos, e R$ 18,5 bilhões em 20 anos. Todo esse estímulo forma um mercado muito promissor para profissionais de engenharia que desejam atuar na área de logística. Essa área ganhará importância com a nova infraestrutura disponível, de acordo com Thiago Sebben, gerente e responsável pelo escritório de Curitiba. O principal efeito deste pacote governamental para o mercado de trabalho de logística é a formalização de uma demanda por profissionais com conhecimento multimodal e visão mais estratégica para tomada de decisões. A ideia é que os profissionais utilizem seu conhecimento para melhorar a eficiência logística e se diferenciar dos seus concorrentes, seja diminuindo prazos de entrega e custos, seja aumentando a abrangência regional de entregas da empresa e garantindo a integridade da mercadoria entregue, explica Thiago Leitão, consultor da HAYS no Rio de Janeiro. O profissional que tiver interesse em migrar para essa área poderá buscar cursos especializados de logística e administração, com ênfase em comércio exterior. E ainda há tempo para se especializar, pois, apesar do alto valor dos investimentos, os prazos de construção e entrega das obras e projetos estão distantes e, por isso, o impacto no setor ainda demorará a ser sentido. As empresas começaram a se preparar para esse cenário, mas ainda não estão adotando medidas práticas no sentido de contratação e procura de experts, esclarece Winnie Welbergen. Como o cenário ainda não tem perspectiva imediata de mudança, pois a formação de bons profissionais ainda pode demorar um pouco, os salários, nesse meio tempo, aumentarão ainda mais. A demanda por profissionais vai com certeza aumentar, e, com isso, eles ficarão ainda mais valorizados em um futuro próximo, até que o mercado se autorregule com a inclusão de novos especialistas, avalia Leitão. Outra condição para a contratação de profissionais é o surgimento de novas áreas de atuação que estão aparecendo no Brasil devido ao montante de obras e de oportunidades em logística, distribuição e setores afins. Alguns cargos são bem novos e ainda terão seu período de maturação nos próximos anos. Dessa maneira, o setor ainda não está contando com especialistas prontos no mercado de trabalho atual. Há espaço para novos profissionais, afirma Caroline Cadorin, gerente das expertises HAYS Logistic e HAYS Procurement em Campinas. Outro ponto de atenção é que o PAC Programa de Aceleração do Crescimento - deve atrair mais empresas estrangeiras para o Brasil, o que também poderá interferir no perfil do profissional de logística, que precisará se especializar ainda mais. Com o crescimento da demanda de profissionais e do mercado de logística no País, algumas posições terão um perfil menos operacional e mais estratégico. O conhecimento de inglês torna-se requisito importante para garantir uma posição de gerência, completa Winnie. O que é necessário para entrar nesse setor e quais as regiões que demandam mais profissionais O atual cenário de globalização tem exigido reestruturação das empresas e obrigado empresários a procurarem a diferenciação de seus produtos. Nos últimos dez anos, eles perceberam que os processos logísticos trazem competitividade e isso se transformou em grande potencial gerador de empregos. A logística hoje tem mais status, pois o mercado oferece uma nova situação em que tudo tem que ser feito com mais rapidez e qualidade. Assim, o papel do profissional é fundamental na condução dos projetos e pessoas, afirma Caroline Cadorin. Com isso, os especialistas no setor estão sendo cada vez mais cobrados e necessitam de conhecimentos e habilidades que, até pouco tempo atrás, não eram exigidas pelo mercado de trabalho. As empresas buscam qualidade. A demanda por profissionais com formação técnica em engenharia e especialização em logística e gestão da cadeia de abastecimento está em alta. MBA, pós-graduação e especializações nos cargos mais altos são também muito bem vistos, explica Winnie Welbergen. Outro requisito técnico é a questão do idioma. Inglês é fundamental e outro idioma é altamente recomendado, principalmente o espanhol, pois o Brasil está se tornando headquarter na América Latina de várias empresas multinacionais. Esse fator também impacta no conhecimento de legislação e comércio exterior, pois cada país tem leis próprias para transporte e armazenamento de mercadorias e produtos. No entanto, para todos esses conhecimentos serem corretamente aplicados, o profissional deverá ter as características comportamentais adequadas. No que diz respeito à logística, raciocínio rápido, visão estratégica e capacidade de gestão estão entre os mais requisitados. Os profissionais desta área precisam ter muito jogo de cintura para transitar e estabelecer alianças com todos os níveis e setores da empresa. Além disso, perfil empreendedor e independente, e visão de dono do negócio são características bastante procuradas pelas empresas, atesta Thiago Sebben. Esses profissionais vão encontrar vagas de emprego em diferentes regiões do Brasil, com destaque para a cidade de São Paulo e sua região metropolitana, a região de Campinas, a Grande Curitiba, Joinville e o Vale do Itajaí em Santa Catarina. Porto Alegre, Camaçari e Recife também têm boas oportunidades. A cidade do Rio de Janeiro também concentra muita demanda, principalmente nos setores de farma, infraestrutura, petróleo e gás e Automotivo, acrescenta o consultor Thiago Leitão. Newsletter Logistics & Procurement - #22 Fevereiro

4 Infraestrutura de logística x Extensão do Brasil Um consumidor de Quixadá, no Ceará, compra um livro em um website, que tem seu centro de distribuição principal em Porto Alegre. Após longos 15 dias de espera, o comprador recebe sua mercadoria. O exemplo é aleatório, mas mostra como os modais de logística brasileiros atuais interferem muito na vida do consumidor final. Não é novidade que a extensão do País e os problemas de infraestrutura também influenciam no cotidiano das empresas. Para que as companhias não sofram tanto com esses problemas, são necessários um intricado planejamento e um cuidadoso modelo de logística. Para todo esse programa dar certo, é importante que o gestor de logística forme uma equipe de profissionais com experiência em todos os modais selecionados e assim conseguir uma gestão eficiente dos provedores logísticos contratados. Segundo Christian Sandke, Sócio-Diretor da Frettes Logística Internacional, devemse simular as combinações possíveis de modais, analisando os impactos nos custos de transporte, armazenagem, estoque, tributos e nos prazos de atendimento aos clientes. Fundamental contar sempre com planos de contingência para cada modal, protegendose dos momentos de restrições em portos, aeroportos, rodovias ou ferrovias. Um exemplo prático disso é a operação de entrega de produtos perecíveis fabricados no Sudeste e entregues no Norte do País. Esse processo envolve os modais de transporte rodoviário e aéreo. O operador logístico selecionado deve ser capaz de coordenar todo o fluxo, planejando as janelas de embarque junto às empresas aéreas e gerenciando as transportadoras regionais na distribuição final. O operador deve ter um bom processo de tracking para garantir que o produto chegará ao destino no prazo e, caso haja atraso, ter como contingência armazéns de apoio em pontos estratégicos para acondicionamento seguro da carga, descreve Sandke. Com a complexidade dos projetos logísticos no território nacional, muitas variáveis são envolvidas e a coordenação de empresas da cadeia de suprimentos, grandes equipes, gestão de muitos riscos, além de investimento constante em novas técnicas, fazem com que as companhias especializadas em logística ampliem o foco de atuação. As empresas terceirizadas que antes faziam a armazenagem dos itens ou transporte dessas mercadorias, hoje atuam como uma empresa de soluções integradas. Elas prestam consultorias para os seus clientes, definindo os melhores modais de transporte de determinados produtos, com estruturas de gestão de indicadores dos clientes, gerindo entradas de insumos, controlando estoques, prazos de entrega, fazendo a logística reversa, comenta Thiago Leitão, consultor da HAYS no Rio de Janeiro. A descentralização da economia está motivando as principais empresas de logística a aumentarem a sua abrangência geográfica e a ampliarem o escopo de atuação dos seus negócios nas regiões em crescimento. Terminais portuários estão investindo em armazéns de apoio na retroárea, na aquisição, ampliação ou participação em licitações de portos secos e na implementação de novos centros de distribuição. Visam com estes investimentos fortalecerem suas posições nestas regiões, oferecendo a logística completa do porto até o cliente final, descreve Sandke. Os especialistas reconhecem que os investimentos significativos que vêm sendo feitos pelas grandes empresas de logística ferroviária, portuária e marítima para aumentar a capacidade operacional vão dar um novo fôlego para o setor. A construção de anéis viários e as concessões para operações de estradas melhoraram muito o transporte em importantes corredores rodoviários. São movimentos recentes, de poucas décadas e é interesse destas operadoras aumentar a capacidade quando há um excesso de demanda como o atual. Portanto, os investimentos neste sentido vão continuar. Durante este processo, o profissional de logística tem que ser criativo e paciente para lidar com as restrições e desenvolver o melhor caminho para os produtos da sua empresa com a infraestrutura disponível. A complexidade do planejamento logístico para diversos modais tem o seu lado bom, pois demanda mais sofisticação na gestão e aumenta a importância do profissional de logística, conclui o sócio-diretor da Frettes Logística Internacional. Economia Descentralizada Com a extensão territorial do Brasil, as empresas têm a oportunidade de diversificar e espalhar seus grandes centros produtores. A região Sudeste, especificamente a Grande São Paulo e o Rio de Janeiro, concentravam grande parte das indústrias. Mas, esse panorama está mudando gradativamente há cerca de duas décadas. Novos polos estão surgindo ou se consolidando, como Camaçari, na Bahia, e o interior paulista o que também contribui para uma maior distribuição econômica do País. A descentralização da economia também motiva as principais empresas de logística a aumentarem a sua abrangência geográfica e a adquirirem empresas regionais de pequeno e médio porte. Outro fenômeno que acontece é que muitas empresas ampliam o escopo de atuação dos seus negócios nessas regiões em crescimento, principalmente no interior do país. É o caso de empreendedores de Goiás e do Triângulo Mineiro, que começam a se estabelecer em Pernambuco e no Ceará para atender novas demandas logísticas, diz Winnie Welbergen, gerente das áreas de expertise Hays Logistics & Procurement. Como consequência desses movimentos, aumenta substancialmente a busca das empresas por profissionais de logística do Sul e do Sudeste para trabalharem em outras localidades. Mas as companhias contratantes estão tendo dificuldades para encontrar pessoas para atuarem em escopos tão diferenciados. Hoje em dia, as empresas precisam ser cada vez mais atrativas e criativas para que os talentos existentes no mercado vejam sentido para uma eventual mudança de cidade ou região, afirma Thiago Sebben, consultor de Logistics & Procurement da HAYS Curitiba. Outra implicação dessa descentralização são os investimentos que alguns terminais portuários estão fazendo em armazéns de apoio na retroárea, na aquisição, ampliação ou participação em licitações de portos secos e na implementação de novos centros de distribuição. A ideia é fortalecer suas posições nessas regiões, oferecendo a logística completa do porto até o cliente final. A reboque disso, surgem muitas possibilidades para a cabotagem. Isso faz da contratação de profissionais mais versáteis, com experiência em gestão de portos, navegação, armazenagem e distribuição, uma prioridade para algumas empresas. Newsletter Logistics & Procurement - #22 Fevereiro

5 Como deixar a área de Supply Chain mais eficiente Os primeiros processos em Supply Chain foram criados com o objetivo de atender à compra de bens e produtos externos, aproveitando os ganhos em escala. As atribuições da área eram basicamente a criação de pedidos de compra, planejamento e recebimento de materiais, seleção de fornecedores, negociação de condições comerciais, programação da utilização de materiais, serviços e pagamento de faturas. Hoje, a atividade de Supply Chain valoriza cada centavo gasto. O sistema antiquado foi substituído por um processo gerencial simples, que cria valor em toda compra realizada. O gerente da área conhece o mercado em que atua e tem como desafios o controle e o gerenciamento total da compra, da melhoria contínua de processos e da inovação. Nos últimos anos, as organizações, na maioria dos segmentos, passaram a dar mais importância para a área de Supply Chain, não só como gestão de custos e nível de serviço, mas como um diferencial competitivo e parte da estratégia corporativa, diz Fernando Marchesan, Head of Supply Chain na Pernod Ricard Brasil. Diante desse cenário, a estratégia de eficiência pode ser dividida em dois grandes temas principais: infraestrutura e processos. No que diz respeito à infraestrutura, o Brasil não está bem posicionado no ranking global de competitividade - segundo dados divulgados pelo Fórum Econômico Mundial, o País ocupa o 48º lugar ficando, portanto, muito longe dos portos mais modernos e eficientes do mundo, como Hong Kong e Roterdã. O segundo fator diz respeito a políticas públicas. A demanda por maior agilidade dos órgãos governamentais nos processos burocráticos é um tema recorrente. Greves e outros fatores que não podem ser gerenciados pelas organizações acabam por ser uma grande fonte de desperdício para a iniciativa privada e de arrecadação de impostos e recursos para a união. Uma gestão com visão profissional de produtividade, além de uma definição sobre incentivos são essenciais para a competitividade dos itens exportados e é o ideal para se melhorar todo o setor em nível nacional, completa. Do ponto de vista das companhias, o aprimoramento dos processos de Supply Chain obtidos por meio de novas ferramentas eletrônicas e tecnologias ajudam a aperfeiçoar os negócios com inovação, agilidade, transparência e eficiência nos resultados. Desde o controle de estoque, a gestão de fornecedores, clientes e terceiros, até o controle financeiro e o planejamento da produção (destacando o SAP APO, ainda pouco utilizado pelas empresas no Brasil) são alguns dos destaques dessa nova tecnologia que auxilia os processos de distribuição. Enquanto isso, a logística atua como o controle de fluxo em toda a cadeia de distribuição, controlando e apoiando todos esses programas, explica Thiago Leitão. Outro desafio para o setor é a integração entre as diferentes áreas da empresa. Enquanto nos EUA, por exemplo, a competição comercial é entre grandes cadeias de indústrias, no Brasil ainda há conflitos entre empresas, que não se apoiam para fazer os procedimentos acontecerem de maneira mais rápida e transparente. O desafio maior é fazer todos falarem a mesma língua, tanto pessoas, como processos e a tecnologia, e assim os profissionais enxergam a totalidade da cadeia, igualando e comparando o fluxo físico com as finanças e com a infraestrutura, explica Winnie Welbergen, gerente das áreas Hays Logistics e Hays Procurement em São Paulo. No entanto, a eficiência depende também de fatores alheios às empresas. Com a atuação do governo para diversificar os modais no futuro, os processos terão uma maior fluidez e será possível escolher mais sabiamente sobre os meios e produtos transportados. Apesar desse prognóstico animador, essas melhoras ocorrerão em um futuro ainda distante. A previsão é que nos próximos cinco anos não haja mudança significativa na atual matriz de transportes. Isso requer muita disciplina nos investimentos, o que não temos visto nos últimos anos. O fato é que caminhamos para momentos críticos, o que alguns chamam de apagão logístico, finaliza Marchesan. Newsletter Logistics & Procurement - #22 Fevereiro

6 Entrevista Geraldo Gontijo O profissional líder de logística tem cada vez mais o papel de maestro O economista e gerente sênior de logística para as Américas da Embraco, Geraldo Gontijo, começou sua carreira na indústria automobilística. No inicio da década de 90, ainda como estudante, iniciou na área de compras, passando posteriormente para Logística, onde pode desenvolver projetos em diferentes áreas tanto dentro como fora do Brasil. Fez MBA em Gestão Estratégica pelo Instituto Tecnológico de Monterrey (México) e especialização em Supply Chain pelo MIT (EUA). Em 2008, migrou para o setor Metal Mecânico/Eletromecânico em busca de um ambiente de negócios diferente e que proporcionasse novos desafios. À Newsletter, ele fala sobre sua carreira e sobre o mercado de Logística. Foto: Divulgação HAYS: Quais as principais características comportamentais dos profissionais de logística? Geraldo Gontijo: Resiliência, adaptabilidade e proatividade, além de visão global. O profissional líder de logística tem cada vez mais o papel de maestro, pois temos interface com todas as áreas da organização, e devemos dar o ritmo para que as diferentes partes funcionem de forma harmônica. HAYS: Como a descentralização da economia brasileira impacta nos investimentos e contratações do setor? Geraldo Gontijo: A descentralização é algo muito positivo, podemos ver de Norte a Sul do País a consolidação de novos polos industriais e de serviços. O problema é justamente conseguir profissionais que sustentem esse crescimento. Para a Embraco essa é uma preocupação constante, não só em atrair como em reter talentos. A empresa acredita muito no poder da diversidade e hoje na logística temos uma excelente mescla entre pessoas, com anos de casa, novos talentos egressos dos programas de estágio e trainees, além de profissionais vindos do mercado, como é o meu caso. HAYS: Com a extensão e os problemas de locomoção de mercadorias e pessoas no Brasil, o profissional de logística em algum momento se sente desmotivado? Geraldo Gontijo: A princípio este cenário poderia ser desmotivador, mas não é o que acontece, pois o profissional de logística precisa ser resiliente. As dificuldades, que não são poucas, são encaradas como oportunidades. Os profissionais brasileiros acabam desenvolvendo a capacidade de montar diferentes cenários e tem grande senso de urgência, caso contrário, não teríamos como sobreviver diante de tantas adversidades. HAYS: Como você analisa o PAC proposto pelo governo para o setor de transportes? Geraldo Gontijo: Acredito que esta é uma iniciativa fundamental para reduzir um dos nossos principais gargalos de infraestrutura, especialmente porque o Estado reconhece que não tem capacidade de operacionalizar todos os grandes projetos que o País necessita colocar em prática com urgência. Porém, o mais importante será a regulação. Existem muitos grupos nacionais e internacionais interessados em investir na infraestrutura logística do Brasil, mas para isso eles necessitam de regras muito claras sobre como as parcerias devem funcionar. HAYS: Quais foram as principais mudanças no setor de logística desde sua entrada nessa área? Geraldo Gontijo: Passamos por uma revolução nos últimos 20 anos. Antes de tudo, o Brasil era um país fechado, não se pensava em fluxos globais de mercadorias. Ferramentas como EDI, RFID, e a grande maioria dos softwares que utilizamos hoje simplesmente não existiam. A grande mudança no setor é que hoje a logística é reconhecida como uma área estratégica das empresas. A atual relevância da área pode ser observada aqui mesmo na Embraco, onde a diretoria de logística responde diretamente ao CEO, o que traz mais responsabilidade, porém, dá muito mais autonomia e agilidade para as tomadas de decisões. HAYS: Como são estruturados os projetos logísticos da Embraco, considerando que a principal fábrica no Brasil fica em Joinville, longe dos principais centros urbanos do País? Geraldo Gontijo: Os projetos são balizados pela Estratégia Global de Logística, que é desdobrada para os três times regionais (Américas, Europa e Ásia). Temos uma área de projetos corporativos, que por um lado garante que os processos globais estejam alinhados e por outro trata de disseminar as melhores práticas desenvolvidas regionalmente. O contato entre as regiões é muito estreito e, com este formato, respeitamos as características dos diferentes países, mas conseguimos manter grande sinergia e alinhamento de objetivos. HAYS: E com relação aos outros países americanos, como os processos logísticos são feitos de uma forma eficiente? Geraldo Gontijo: Nossa região de trabalho é composta pelas três plantas do Brasil, uma no México e quatro Centros de Distribuição (CDs) nos EUA. No Brasil, posso dizer que nossa localização é até privilegiada, aproximadamente 80% do nosso volume de vendas para o mercado nacional acontece em um raio de 150 quilômetros de nossa planta, sendo que um de nossos principais clientes está a menos de 500 metros de distância. Joinville também está muito bem servida por portos, o que para nós é fundamental visto que exportamos aproximadamente 65% da nossa produção. Situação muito parecida acontece no México e nos EUA onde conseguimos atender nossos clientes de forma muito rápida, diretamente pela fabrica ou por meio de um de nossos CDs. HAYS: Como você vê o futuro dos profissionais de logística? Geraldo Gontijo: Os desafios em nossa área são enormes e demandam soluções cada vez mais sofisticadas. Porém, não tenho dúvidas de que os profissionais qualificados, que buscam atualização constante, com visão global do negócio e que saibam transitar entre diferentes culturas, terão um futuro brilhante pela frente. 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