Analogia e Mediação Transversalidade na Investigação em Arte, Filosofia e Ciência

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1 Analogia e Mediação Transversalidade na Investigação em Arte, Filosofia e Ciência Coordenação de José Quaresma CIEBA-FBAUL / CFUL

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3 Índice p. 8 Introdução José Quaresma p. 11 Aristotle on Analogy Jakob Leth Fink p. 27 O problema da Analogia: da Modernidade (Hermenêutica) à Idade Média (São Boaventura) António Rocha Martins p. 49 Analogia e Conjectura no Pensamento Cosmológico do Jovem Kant Leonel Ribeiro dos Santos p. 85 Remarques sur l usage de l analogie dans le raisonnement scientifique Michel Paty p. 103 Deleuze Contra Analogy John Chilver p. 117 «O Diálogo das Diferenças»: Analogia e ainda os Hibridismos Jorge Catarino p. 137 L hypothèse Gaïa: quelle analogie de la Terre avec un organisme? Sébastien Dutreuil p. 159 Analogia e representação iconográfica Fernando Rosa Dias p. 183 Analogia, Mediação e Investigação, na Pintura de Pollock, Riopelle e Leroy António Quadros Ferreira p. 211 De la philosophie comme figurologie Michel Guérin p. 238 Resumos / Abstracts p. 242 Notas biográficas

4 8 Introdução L analogie intervient précisément au cœur de la langue, comme support opératoire du transfert métaphorique qui permet d appréhender l inconnu à partir du connu, ou d établir des relations nouvelles entre des choses connues. 1 L analogie, c est-à-dire ce qui est similitude porteuse de sens entre des éléments, souvent par delà les dissemblances matérielles, guide «le choix des faits» (comme en mathématiques, où les «faits» correspondent à des éléments de propositions), qui est susceptible, s il est fécond, de révéler des parentes insoupçonnées entre d autres faits. 2 O tema central deste conjunto de ensaios consiste na analogia enquanto dispositivo de mediação total ao nosso dispor nas mais diversas actividades do quotidiano (usada com frequência de modo intuitivo e não deliberado), assim como na actividade investigativa em geral, quer esta se ocupe de determinadas orientações filosóficas, de operações lógico- -formais, da ciência, direito, literatura, artes visuais, artes performativas, ou outras áreas da reflexão e do agir humano. Sendo consensual que a teorização desta forma relacional foi ao longo do tempo domiciliada na filosofia (por exemplo, a recorrência em Kant ao mecanismo do als ob como se ), na lógica (nomeadamente nas inferências ampliadoras da indução), nas ciências cognitivas, na literatura, e na teoria da linguagem, não podemos estar tão seguros de afirmar o mesmo em relação à investigação da analogia no âmbito da arte. Ora, a nosso ver, a produção artística e a tematização teórica da mesma, apresentam todas as condições de possibilidade para serem igualmente fecundas na reflexão sobre a analogia, na medida em que os respectivos autores sempre se posicionaram de forma a realizar aquilo que é afirmado em epígrafe por Michel Paty, isto é, em engendrar inteligibilidade e similitude insuspeitada entre ideias, factos e coisas (para além das semelhanças materiais entre estas), para nos colocarem num plano simultâneo de compreensão e fruição estética. Por isso se afirma que as analogias são duplamente referenciais e heurísticas, ou seja, que as analogias nos oferecem um vínculo a um ou mais conjuntos de referentes, e, simultaneamente, uma recriação dos mesmos, conduzindo-nos por uma espécie de rampa analógica para lá da familiaridade que a precede. É consabido que existem categorias de mediação na produção artística e na reflexão sobre a mesma que estão mais do que naturalizadas nos respectivos meios e linguagens: o hibridismo, o cross fertilization, a metáfora visual, a citação, a remediação, entre muitas outras. Pensamos, porém, que a analogia enquanto forma de mediação total, empregada e 1 AAVV, «Introduction» in L Analogie dans la démarche scientifique, coord. Durand-Richard, Marie-José, Paris, L Harmattan, 2008, p Ibidem, Michel Paty, «Les Analogies Mathematiques au sens de Poincaré et leur Fonction Physique», p.171.

5 José Quaresma 9 tematizada nos mais diversos domínios, sendo uma modalidade criativa tão exposta nos processos artísticos e nas obras daí derivadas, exige mais e novos contributos daqueles que se movem nesta esfera. Como a analogia é um dispositivo transterritorial, uma relação criativa e simbólica muito eficaz na aproximação dos mais diversos domínios da Investigação (na qual se inclui a Investigação em Arte), com uma tradição e fortuna crítica muito densas (como é sabido, o conhecimento por analogia é explorado desde a Antiguidade grega, nomeadamente por Platão, Eudoxo, Aristóteles e Euclides devido aos problemas da proporção, estando o tema presente em textos de autores fundamentais da teologia, estética, geometria, arte, álgebra, medicina, direito, teoria dos modelos matemáticos, entre outros), foi também solicitado aos autores que pertencem aos campos da filosofia, seja a especulativa seja a lógico-formal, assim como aos autores das esferas da ciência e da epistemologia, a reconsideração de algumas das teses existentes sobre este tema, contribuindo deste modo para uma interligação harmoniosa dos ensaios congregados neste livro em função de um núcleo comum: a mediação por analogia. Como testemunho epistemológico e poético desta função superior do espírito humano, disseminada por tantas áreas da experiência e do saber nas quais é exigido um conhecimento relacional, seja por via do seu vasto reportório de procedimentos pré-lógicos, seja no que concerne à sua aplicação em muitas actividades referenciais concretas, terminamos esta breve introdução com uma das quatro formas de similitude identificadas por Michel Foucault em As Palavras e as Coisas, justamente, a analogia: Terceira forma de similitude: a analogia, velho conceito familiar já à ciência grega e ao pensamento medieval, mas cujo uso se tornou provavelmente diferente. Nesta analogia sobrepõem-se convenientia e aemulatio. Tal como esta, ela assegura o maravilhoso confronto das semelhanças através do espaço; mas, tal como aquela, fala de ajustamentos, de nexos e de juntura. O seu poder é imenso porque as similitudes de que trata não são as similitudes visíveis e maciças das próprias coisas; basta-lhe que sejam as semelhanças mais subtis das relações. Assim alijada, pode urdir, a partir de um mesmo ponto, um número indefenido de parentescos. [ ] Esta reversibilidade, que é também uma polivalência, confere à analogia um campo universal de aplicação. Graças a ela, podem-se aproximar todas as figuras do Mundo. Existe, porém, neste espaço sulcado em todas as direcções um ponto privilegiado [ ] esse ponto é o homem [ ]. 3 José Quaresma 3 Michel Foucault, Les Mots et les Choses, tr. port. António Ramos Rosa, As Palavras e as Coisas, Lisboa, Edições 70, s.d., pp