TURMA RECURSAL ÚNICA J. S. Fagundes Cunha Presidente Relator

Transcrição

1 RECURSO INOMINADO nº /0, DO 1º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE LONDRINA Recorrente : ASSOCIAÇÃO DOS LOJISTAS DO S. ARMAZÉM DA MODA Recorrida : SILVIA HELENA LANGAME Relator : J. S. FAGUNDES CUNHA RESPONSABILIDADE CIVIL. ESTACIONAMENTO. FURTO DE VEÍCULO DE EMPREGADO. DEVER DE GUARDA QUE NÃO DECORRE DE RELAÇÃO DE CONSUMO. DEVER DE VIGILÂNCIA. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Inominado nº /0 do Juizado Especial Cível da Comarca de Londrina, em que é Recorrente a Associação dos Lojistas do Shopping Armazém da Moda e Recorrida Silvia Helena Langame. 01. RELATÓRIO Silvia Helena Langane interpôs pedido de cobrança por roubo de veículo em face da Associação dos Lojistas do Shopping Armazém da Moda pleiteando o recebimento do valor correspondente à moto furtada no estacionamento do Shopping Armazém da Moda 1 além da taxa cobrada para a elaboração do Boletim de Ocorrência 2. 1 R$ 4.250,00 (quatro mil, duzentos e cinqüenta reais) 2 R$ 30,36 (trinta reais e trinta e seis centavos)

2 2 A decisão do Juiz não togado, de fls. 44/45, julgou o pedido procedente, condenando o requerido ao pagamento de R$ 3.950,00 (três mil, novecentos e cinqüenta reais), acrescidos de juros de 1% a.m. e correção desde o evento danoso. Submetida a análise prevista art. 40 da Lei 9099/95 (fl. 47), a referida sentença foi homologada, em parte, tendo o juiz a quo determinando também o ressarcimento dos valores relativos à confecção do Boletim de Ocorrência e a contagem dos juros de mora, mo percentual de 1% a.m., contados a partir da citação ( ), por força do art. 405 e 406 do Código Civil. Insatisfeita com esta decisão, a recorrente interpôs o presente recurso (fls. 49/53), alegando que a recorrida não teria direito à indenização por se tratar de funcionária do shopping e não consumidora, além da ausência de prova de que o furto de fato ocorreu nas instalações da recorrente, pugnando pela reforma da sentença hostilizada. Este é o relatório. 02. FUNDAMENTAÇÃO Admissibilidade Presentes os requisitos, o recurso deve ser conhecido.

3 Mérito O recurso não merece provimento. A Recorrente fundamenta seu recurso em duas teses distintas. Na primeira, afirma que o estacionamento de seu estabelecimento funciona como um atrativo ou estímulo para atrair clientes, sendo a requerida funcionária do shopping, não teria direito de reclamar indenização pelo furto de seu veículo, pois a recorrente não tinha o dever, a obrigação ou o ônus de guardar a motocicleta supostamente furtada. Já na segunda, sustenta a inexistência de fato constitutivo do direito da requerida, qual seja, a comprovação de que o suposto furto ocorreu nas dependências do estacionamento da requerente, sendo o Boletim de Ocorrência uma declaração unilateral, não devendo ser considerada presunção de veracidade Em que pese a argumentação exposta pela Recorrente o presente recurso não merece prosperar, tendo em vista que conforme precedentes da 3ª e 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça a empresa ou estabelecimento comercial que permite aos seus empregados e clientes utilizarem seu estacionamento responde por roubo ou furto de veículos a eles pertencentes, pois assume o dever de guarda e proteção.

4 4 Neste sentido se destacam os seguintes julgados: a) DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FURTO EM ESTACIONAMENTO.VEÍCULO PERTENCENTE A EMPREGADO. EVENTO OCORRIDO DURANTE A JORNADA DE TRABALHO. EXISTÊNCIA DE VIGILÂNCIA NO LOCAL. OBRIGAÇÃO DE GUARDA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. PRINCÍPIOS DA ECONOMIA E PRESTEZA. DOUTRINA. RECURSO ESPECIAL. CIRCUNSTÂNCIAS DA CAUSA. REEXAME. VEDAÇÃO. RECURSO DESACOLHIDO. I - A empresa que permite aos seus empregados utilizarem-se do seu parqueamento, aparentemente seguro e dotado de vigilância, assume dever de guarda, tornando-se civilmente responsável por furtos de veículos a eles pertencentes ali ocorridos. II - Conclusão que se impõe diante da evidência de que a empresa, ao assim proceder, aufere, como contrapartida ao comodismo e segurança proporcionados, maior e melhor produtividade dos funcionários, notadamente por lhes retirar, na hora do trabalho, qualquer preocupação quanto à incolumidade de seus veículos. (...) (REsp /SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em , DJ p. 120) b) DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FURTO EM ESTACIONAMENTO DE SUPERMERCADO. VEICULO PERTENCENTE A EMPREGADO DO ESTABELECIMENTO. EVENTO OCORRIDO DURANTE A JORNADA DE TRABALHO. EXISTENCIA DE VIGILANCIA NO LOCAL. OBRIGAÇÃO DE GUARDA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO DESPROVIDO. I - A empresa que permite aos seus empregados utilizarem-se do seu parqueamento, aparentemente seguro e dotado de vigilância, assume dever de guarda, tornando-se civilmente responsável por furtos de automóveis a eles pertencentes ocorridos durante o período em que estacionados no referido local. II - Conclusão que se impõe diante da evidencia de que o empresário, ao assim proceder, aufere, como contrapartida ao comodismo e segurança proporcionados, maior e melhor produtividade dos funcionários, notadamente por lhes retirar, na hora do trabalho, qualquer preocupação quanto a incolumidade de seus veículos. (REsp /SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em , DJ p )

5 5 Justiça do Estado do Paraná já se manifestou: No mesmo sentido este Egrégio Tribunal de RESPONSABILIDADE CIVIL - INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS - FURTO DE VEÍCULO DE FUNCIONÁRIO NO ESTACIONAMENTO DO SUPERMERCADO - DEVER DE GUARDA QUE NÃO DECORRE DA RELAÇÃO DE CONSUMO - SÚMULA N.º 130 DO STJ - DEVER DE VIGILÂNCIA - CONDENAÇÃO MANTIDA - TERMO INICIAL DOS JUROS MORATÓRIOS - DATA DO EVENTO DANOSO - SÚMULA N.º 54/STJ - RECURSO NÃO PROVIDO. (Apelação Cível nº , 8ª Câmara Cível, Relator José Joaquim Guimarães da Costa, j. 27/10/2005) Portanto, a responsabilidade da recorrente é inafastável, tendo em vista que ao permitir a entrada do veículo da recorrida no estacionamento, dotado de vigilância, assumiu o dever de guarda sobre o mesmo. (...) A partir do momento em que o estabelecimento comercial disponibilizou um espaço para estacionamento, assumiu o controle sobre os bens deixados sob os seus cuidados, não discriminando se pertencentes a clientes, pretensos clientes, fornecedores ou empregados, donde provada a subtração da motocicleta do apelado parqueado naquele local, ficou comprovada a culpa do recorrente pela falta do dever de guarda e vigilância no estacionamento, gerando o direito à indenização pleiteada.(...) (TJPR AC , Ac 16742, 6ª Câmara Cível(extinto TA), Relatora Anny Mary Kuss, DJ: ) Relevantes também são as considerações da eminente Desembargadora Anny Mary que, no caso acima mencionado, afirmou que ao oferecer vigilância e permitir que seus empregados estacionem na área de atuação de tal vigilância, criando neles a expectativa e a confiança de que, ao retornarem da

6 6 jornada de trabalho, seus veículos estarão no mesmo lugar e no mesmo estado em que se achavam no início do expediente, a empresa assume responsabilidade e dever de guarda idênticos aos que lhe competem em relação aos automóveis dos clientes. E ainda, conclui adequadamente que... seria um disparate admitir-se o uso irrestrito ao estacionamento - por clientes, potenciais clientes, funcionários, fornecedores, etc. -, porém assegurando apenas aos comprovadamente consumidores a vigilância e guarda de seus veículos, quando esse dever é assumido em relação a todos que confiam seus veículos ao zelo do estabelecimento.... Assim sendo, se é falho o sistema adotado pela recorrente no controle dos veículos que entram e saem de seu estacionamento, aquele que foi prejudicado com o furto de seu bem, não pode ser também apenado em decorrência da desorganização desse sistema. Por outro lado, quanto à alegação de ausência de provas, observa-se que apesar do Boletim de Ocorrência não fazer prova isolada do ilícito penal, o conjunto probatório produzido nos autos está em consonância com os fatos narrados na exordial, sendo suficientes para formar um consentimento do juízo sobre a causa.

7 7 03.VOTO Assim, Voto no sentido de negar provimento ao recurso, mantendo-se a r. sentença. De conseqüência, condenar o recorrente, nos termos do artigo 55 da Lei nº 9.099/95, ao pagamento de custas e honorários advocatícios, fixados estes em 20% sobre o valor da condenação. 04. DECISÃO ACORDAM os Magistrados integrantes da Turma Recursal Única dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, J. S. FAGUNDES CUNHA Relator, Edgard Fernando Barbosa Vogal e Luciano Campos de Albuquerque Vogal, sob a Presidência de J. S. FAGUNDES CUNHA, em CONHECER e NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, por unanimidade de votos, de acordo com o Voto do Relator, conforme consta na Ata do julgamento. Curitiba, 30 de junho de J. S. FAGUNDES CUNHA Relator Juiz Substituto em Segundo Grau Presidente da Turma Recursal