ACÓRDÃO. Orlando Pistoresi RELATOR Assinatura Eletrônica

Transcrição

1 fls. 1 Apelação nº Foro de Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de, em que são apelantes PULLMANTUR CRUZEIROS DO BRASIL LTDA, C V C BRASIL OPERADORA E AGÊNCIA DE VIAGENS S/A e S V T SHEILA VIAGENS E TRURISMO LTDA, é apelado TATIANI APARECIDA SUPERSI. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos recursos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANDRADE NETO (Presidente sem voto), LINO MACHADO E MARCOS RAMOS. São Paulo, 17 de setembro de Orlando Pistoresi RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 2 Apelação nº Foro de Voto nº Apelantes: Pullmantur Cruzeiros do Brasil Ltda.; CVC Brasil Operadora e Agência de Viagens S/A; SVT Sheila Viagens e Turismo Ltda. Apelada: Tatiana Aparecida Supersi Juiz de Direito: Alex Ricardo dos Santos Tavares Prestação de serviços - Viagem turística - Cruzeiro marítimo - Extravio de bagagem - Danos materiais e morais - Indenização devida. A má prestação de serviços decorrente do extravio das bagagens já é suficiente para responsabilizar a detentora da embarcação, a empresa de transporte terrestre, a agência de viagens e a operadora do pacote turístico pelos danos materiais e morais sofridos pela autora. Recursos improvidos. Trata-se de ação de indenização por danos materiais e morais decorrente de compra e venda de pacote de cruzeiro marítimo, ajuizada por Tatiani Aparecida Suppersi contra SVT Sheila Viagens e Turismo Ltda., RR Tur Viagens e Turismo Ltda., CVC Brasil Operadora e Agência de Viagens S/A e Pullmantur Cruzeiros do Brasil Ltda. Pela sentença de fls. 214/219, de relatório adotado, a ação foi julgada procedente para condenar as rés, de forma solidária, ao pagamento de indenização por danos materiais no valor de R$ 2.149,00, corrigidos monetariamente a contar da data do desembolso e juros de mora a contar da citação e ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ ,00, com correção monetária a contar da data da sentença e juros de mora a contar da data do embarque, condenadas as rés, também de forma solidária, ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios de 20% sobre o valor da condenação. A ré Pullmantur Cruzeiros do Brasil Ltda. recorreu sustentando que o suposto dano não ocorreu por sua culpa, certo que os 2

3 fls. 3 Apelação nº Foro de serviços contratados foram prestados e usufruídos pela autora. Afirma que algumas roupas poderiam ter sido adquiridas nas lojas do navio, de modo que a indenização por danos materiais deve ser afastada. Alega que mero aborrecimento não tem o condão de abalar a esfera moral ou psíquica do lesado, devendo, ao menos ser reduzido o valor arbitrado, tudo a justificar o provimento do recurso para reforma da sentença (fls. 226/243). A CVC Brasil Operadora e Agência de Viagens S/A também recorreu alegando que se o vício que propiciou o dano experimentado pelo consumidor é intrínseco aos deveres oriundos das relações obrigacionais estabelecidas com os demais fornecedores que fazem parte do pacote turístico contratado, a aplicação da regra de solidariedade fica obstada. Aduz que não possui qualquer responsabilidade pelo transporte da bagagem da consumidora e afirma inexistir danos materiais e morais indenizáveis, pleiteando, ao menos, a redução do valor indenizatório por danos morais, tudo a justificar o provimento do recurso para reforma da sentença (fls. 245/262). A corré SVT Sheila Viagens e Turismo Ltda. apelou aduzindo que a sentença deve ser anulada em razão da ausência de julgamento da impugnação ao valor da causa. Afirma não ser parte legítima para figurar no polo passivo da demanda, pois atua como intermediária na aquisição dos serviços prestados pelas outras correqueridas, não guardando relação com o transporte terrestre e marítimo efetivados. Afirma que os serviços de intermediação não apresentaram defeitos e o dano relatado foi culpa exclusiva de terceiro. Alega que os danos ocorridos se assemelham a meros aborrecimentos e pugna pela redução do valor arbitrado para os danos morais, afirmando não comprovados os danos materiais mencionados, tudo a justificar o provimento do recurso para reforma da sentença (fls. 264/295). (fls.301/314). Recursos tempestivos, preparados e respondidos É o relatório. Ante a ausência de decisão no incidente de impugnação ao valor da causa, os autos foram remetidos ao juízo de origem para a devida prestação jurisdicional, resultando o acolhimento da impugnação para constar no valor da causa a quantia de R$ ,00 (fls. 09 dos autos em apenso). 3

4 fls. 4 Apelação nº Foro de Assim, suprida a omissão, a alegação de nulidade da sentença mencionada pela apelante SVT Sheila Viagens e Turismo Ltda. não comporta acolhida. No mais, os recursos descomportam provimento. Incontroverso nos autos que a autora adquiriu da empresa SVT Sheila Viagens e Turismo Ltda., representante da CVC Brasil Operadora e Agência de Viagens S/A, mediante o pagamento da quantia de R$ 2.149,00, um cruzeiro marítimo, através do qual teria direito a 6 dias de viagem no navio Empress (cuja detentora é a corré Pullmantur Cruzeiros do Brasil Ltda.), além de transporte terrestre entre a cidade de e o Porto de Santos, prestada pela RR Tur Viagens e Turismo Ltda.. Entretanto, sua bagagem foi extraviada, e somente lhe foi entregue no penúltimo dia de viagem, razão pela qual pleiteou a condenação das rés ao pagamento de indenização. Nesse contexto, e como definido pelo magistrado, a autora adquiriu o pacote de viagem em uma agência da primeira ré e que intermediou e contratou serviços de transportes e navio, sendo, portanto, todas as rés responsáveis por eventuais problemas ocasionados ao consumidor de seus serviços no decorrer da viagem. É que a má prestação de serviços decorrente do extravio das bagagens já é suficiente para responsabilizar a detentora da embarcação, a empresa de transporte terrestre, a agência de viagens e a operadora do pacote turístico pelos danos materiais e morais sofridos pela autora. É o princípio da responsabilidade solidária de todos os autores da ofensa. Daí porque, tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente por ela e pela reparação dos danos sofridos e previstos na norma de consumo ( único do artigo 7º do Código de Defesa do Consumidor), independente de ser a responsabilidade final ou intermediária de uma ou outra empresa. Por isso que as rés, sendo consideradas fornecedoras pelo artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor, bem como responsáveis por eventuais falhas do serviço, nos termos do artigo 14 do mesmo código, devem figurar no polo passivo da presente relação processual. 4

5 fls. 5 Apelação nº Foro de Não se pode ignorar, de outra parte, a relação jurídica estabelecida entre consumidor e agência de viagem, razão suficiente para que dela ele reclame qualidade e adequação da prestação de serviços que adquiriu no pacote turístico contratado. Nesse sentido, há precedente deste Egrégio Tribunal de Justiça a dispor que "Quando há compra de pacotes de viagem, a relação negocial efetivamente se estabelece entre o cliente e a empresa de turismo, cabendo a esta responder pela adequação de todos os serviços utilizados no mesmo. Eventual inadimplemento de um desses contratos derivados implica no descumprimento de obrigação assumida pela agência ou operadora no ajuste principal, por ela firmado com o seu cliente. Se houve má prestação de serviço por parte da empresa que a agência ou a operadora de turismo elegeu, será esta responsável pelos atos daqueles que contratou" (Ap. c/ Rev. nº ª Câm. - Rel. Des. Vieira de Moraes - J ). Desta forma, sobra certo ostentarem as rés legitimidade para figurar no polo passivo da presente ação, sendo de sua responsabilidade o ressarcimento dos danos materiais e morais suportados pela autora em razão do extravio de sua bagagem. A propósito da questão, anotam Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery que "A regra é a de que quem estiver obrigado a reparar um dano deve recompor a situação pessoal e patrimonial do lesado ao estado anterior, para torná-la como era se o evento maléfico não tivesse se verificado, evento esse que impõe ao responsável pelo dano (com ou sem culpa pela sua ocorrência - dependendo da hipótese legal de que se trata) a obrigação de repará-lo" (in "Código Civil Comentado", 5ª ed., RT, pag. 735, nota 2 ao artigo 944). E a sentença valorou corretamente as provas dos autos, dando correto desate à lide, não comportando alteração no que tange à condenação ao pagamento de indenização por danos materiais e morais. Consoante bem salientado pelo magistrado, quanto à indenização por danos materiais também merece acolhimento porque não houve a inteira fruição dos serviços prestados, devendo as rés ressarcir à autora o valor desembolsado por ela por não receber os serviços efetivamente contratados. 5

6 fls. 6 Apelação nº Foro de De outra parte, a falha na prestação de serviço, gerando pronunciado desconforto e fulminando expectativas, tudo a causar profunda frustração, justifica a imposição de sanção, a título de dano moral, a quem indevidamente causou ditos inconvenientes, representando um eficaz ressarcimento à parte atingida, devendo, o arbitramento da condenação respectiva, ser feito com moderação, guardando proporcionalidade com o grau de culpa do infrator e cujo porte empresarial haverá de ser levado em consideração. Sendo imotivadamente prejudicada pelo indevido procedimento das rés, é evidente que suportou a autora dissabores, os transtornos foram patentes e desencadeados pelo ato ilícito praticado, pressuposto do dever de reparar o dano moral causado. Como já escrevia Carlos Alberto Bittar, "Na concepção moderna da teoria da reparação dos danos morais prevalece, de início, a orientação de que a responsabilização do agente se opera por força do simples fato da violação... o dano existe no próprio fato violador, impondo a necessidade de resposta, que na reparação se efetiva. Surge ex facto ao atingir a esfera do lesado, provocando-lhe as reações negativas já apontadas. Nesse sentido é que se fala em damnum in re ipsa. Ora, trata-se de presunção absoluta ou iure et de iure, como a qualifica a doutrina. Dispensa, portanto, prova em contrário. Com efeito, corolário da orientação traçada é o entendimento de que não há que se cogitar de prova de dano moral" (Reparação Civil por Danos Morais, Editora Revista dos Tribunais, 2ª ed., p. 202/204). Assim, o valor dos danos morais, de natureza punitiva e ao mesmo tempo reparadora, deve ser estimado em termos razoáveis, não se justificando imposição que possa implicar enriquecimento ilícito e nem aquela que não exerça função reparadora. Efetivamente, 'O dano moral, se não é verdadeiramente, dano suscetível de fixação pecuniária equivalencial, temse de reparar eqüitativamente' (Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, T. 54,5.536, no. 1, p. 61). 'O importante é a par do princípio da reparabilidade, admitir o da indenizabilidade, para que, como assinalam os autores, não fique a lesão moral sem recomposição, nem impune aquele que por ela é responsável, fatores, ambos, que seriam de perpetuação de desequilíbrios sócio-jurídicos' (R. Limongi França, Reparação do Dano 6

7 fls. 7 Apelação nº Foro de Moral, in RT 631/135). De qualquer maneira, é indisputável que o dano moral resultou evidenciado nestes autos. O sofrimento descrito, a frustração e o desalento resultantes do ato consoante mencionado, gerando desconforto causado pelo extravio de bagagem, a toda evidência comporta a imposição de verba reparatória e responsabilização por danos morais, na forma estabelecida pelo douto magistrado sentenciante e que resta mantida em razão de sua adequação, inexistindo qualquer elemento ou fator objetivo que pudesse justificar a redução do quantum fixado. Pelo exposto, nega-se provimento aos recursos. Orlando Pistoresi Relator Assinatura Eletrônica 7