AVALIAÇÃO DE UMA INTERVENÇÃO NUTRICIONAL EM LUTADORES EVALUATION OF A NUTRITIONAL INTERVENTION ON WRESTLERS
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- Thereza Avelar Barata
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1 AVALIAÇÃO DE UMA INTERVENÇÃO NUTRICIONAL EM LUTADORES EVALUATION OF A NUTRITIONAL INTERVENTION ON WRESTLERS Carlos Eduardo Andrade Chagas 1 ; Sandra Maria Lima Ribeiro 2 1 Universidade de São Paulo- Faculdade de Saúde Pública- São Paulo- SP. 2 Universidade de São Paulo- Escola de Artes, Ciências e Humanidades- São Paulo- SP RESUMO INTRODUÇÃO: poucos estudos investigam a ingestão alimentar de lutadores. OBJETIVOS: avaliar o estado nutricional de atletas de modalidades de luta, e sugerir um plano alimentar específico. MÉTODOS: na avaliação inicial foram determinados: peso corporal, altura, dobras cutâneas (para determinação da composição corporal), diário alimentar (quatro dias não consecutivos), dados bioquímicos (uréia e creatinina plasmáticos e urinários, glicemia de jejum, colesterol total, LDL e HDL). Foi proposto um plano alimentar constituído basicamente pela melhor distribuição entre macronutrientes, do número de refeições e aumento da densidade de nutrientes essenciais. O plano foi acompanhado por três meses. Após esse período, os atletas foram submetidos a uma nova avaliação antropométrica. RESULTADOS: a análise dietética apontou irregularidades e adoção de estratégias rápidas para perda de peso. Na distribuição percentual entre os macronutrientes observou- se baixo consumo de carboidratos, e elevado consumo de gorduras. Houve inadequação na ingestão de micronutrientes como o cálcio em ambos os sexos e o ferro para as mulheres. O percentual de gordura corporal foi de 14,7% para os homens e 28,2% para as mulheres. Após a intervenção, observaram- se modificações significativas na composição corporal, com destaque para o percentual de gordura, que foi reduzido em - 2,5% (p<0,05) para os homens e - 1,5% (p<0,05) para as mulheres. Conclusão: pôde- se comprovar a eficiência da orientação alimentar aos atletas, o que pode ser considerado como uma estratégia saudável. Mais estudos são necessários no sentido de avaliar se, com esse tipo de intervenção, é possível evitar a prática de estratégias rápidas para perda de peso por esses atletas. Palavras- chave: hábitos alimentares, lutadores, perda de peso, composição corporal. ABSTRACT INTRODUCTION: few studies investigate the food intake of wrestlers. AIM: to evaluate the nutritional status of wrestlers, and to develop a specific food planning. METHODS: weight, height, body composition, food records (four non- consecutive days), biochemical variables (urea and creatinine, fasting glucose, total cholesterol, LDL- cholesterol and HDL- cholesterol) were evaluated at the beginning of the study. After the evaluation, a nutrition prescription was directed to each athlete, aiming an adequate distribution among macronutrients and density of essential nutrients. The plan was followed for three months. After this period, the athletes were re- evaluated. RESULTS: the initial results showed biochemical variables between normality ranges for all athletes. The diets were inadequate, and the athletes reported a recurrent adoption of strategies to accelerate weight loss. The macronutrients distribution was inappropriate, with low intake of carbohydrates and high intake of lipids. The micronutrients were below the recommendation for calcium (783.3mg for the men and 882.4mg for the women), and iron (13.8mg for women). The percentage of body fat was 14.7% for men and 28.2% for the women. After the dietetic intervention, it was observed significant modifications in the body composition, mainly regarding body fat percentage, which was - 2,5% (p<0,05) reduced in men and - 1,5%(p<0,05) reduced in women. CONCLUSION: our results reinforced the importance of nutritional counseling, aiming to improve the healthy food choices. In addition, more studies are needed in order to identify if this kind of counseling is capable of avoiding the adoption of unhealthy strategies to lose weight. Key- words: eating behavior, wrestlers, weight loss, body composition. Introdução Uma dieta balanceada é fundamental para a adequação da composição corporal e para o melhor rendimento em todas as modalidades esportivas. Em lutas, sabe- se que o peso corpóreo é fator determinante para a classificação dos atletas em competições (1). Apesar das advertências de órgãos como o American College of Sports Medicine (1) um número considerável de atletas adota condutas questionáveis para perda ponderal rápida. As estratégias geralmente consistem em restrição energética severa ou ainda em tentativas de redução da água corporal com base na ingestão de diuréticos, na longa exposição a ambientes quentes, no uso de roupas plásticas, na indução de vômitos, ou no uso de supressores de apetite. Estudos demonstram que essas práticas podem prejudicar o rendimento durante as lutas, e também trazer sérios prejuízos à saúde (2,3,4). Estudos têm relacionado inadequação na ingestão alimentar de lutadores a conseqüências como perda de rendimento, perda na potência de músculos de membros superiores e inferiores, (5) e baixo rendimento em testes cognitivos (6). Muitas vezes, restrições dietéticas severas são praticadas por períodos de tempo relativamente grandes 75
2 (7). Gunderson et al (8) detectaram maior prevalência de sobrepeso, obesidade e cardiopatias nos período de destreinamento em ex- lutadores que tinham o hábito de adotar estratégias severas para perda de peso. O processo de perda de peso deve acontecer de uma forma lenta e ajustada às características individuais. Schwarzkopf & Jensen (9) estudaram um grupo de lutadores que recebeu um plano alimentar com 60% de carboidratos e 1g de proteína por Kg de peso corporal, juntamente com uma restrição energética igual ou maior que 1200 Kcal/dia, com o intuito de alcançar o peso alvo no período de seis semanas. O grupo que recebeu orientação perdeu 2,7kg (0,4 kg de massa magra) enquanto o grupo controle reduziu apenas 0,6kg (0,6kg de massa magra), o que demonstra a importância de uma orientação alimentar adequada. Com base nesses dados, o presente estudo teve como objetivos avaliar o estado nutricional de lutadores e elaborar um plano alimentar para esses atletas. Métodos Indivíduos do estudo Foram acompanhados sete atletas de judô e seis atletas de jiu- jitsu, de ambos os sexos (sete homens e seis mulheres), com idade entre 18 e 24 anos, na cidade de Santos- SP. Na época do estudo (2001), todos os avaliados participavam de competições e praticavam esse tipo de atividade por pelo menos duas horas diárias. O tempo médio de treinamento diário era de 3,5h. Os avaliados foram informados sobre os objetivos e a metodologia do trabalho, e todos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido para a participação no estudo, seguindo a Declaração de Helsinki. Anamnese geral Todos os participantes responderam a um questionário contendo dados gerais sobre estado de saúde, condições sócio- econômicas e conhecimentos básicos sobre alimentação e nutrição. Além disso, foi solicitada ao atleta uma narrativa a respeito das estratégias adotadas para redução de peso corporal. Composição corporal A gordura corporal foi avaliada a partir da medida da espessura do tecido adiposo subcutâneo em regiões específicas do corpo, com auxílio de um adipômetro tipo compasso de Lange. Foram medidas as dobras cutâneas das regiões: coxa, supra- ilíaca, subescapular, abdominal e tricipital, com posterior cálculo da densidade corporal e percentual de gordura corporal (10,11, 12). A partir desses dados, foram calculados o peso da gordura e o peso da massa magra. Dados Bioquímicos O sangue foi coletado após um período de 8 horas de jejum e repouso, no início da manhã. No dia anterior à coleta de sangue, os atletas procederam à coleta da urina de 24 horas. A partir desses materiais biológicos, foram dosados: uréia e creatinina plasmáticos e urinários (colorimetria); glicemia, colesterol sérico total e suas frações (LDL- colesterol, HDL- colesterol, VLDL- colesterol) e triacilglicerois. (método enzimático Doles e Labtes e a partir da equação de Friedwald). Dados alimentares Os indivíduos preencheram, após as devidas orientações, quatro diários alimentares em dias não consecutivos, incluindo um dia do final de semana. Os dados dietéticos foram calculados utilizando- se o software Diet- pró versão 3.0. Para comparação com a ingestão energética, o gasto energético diário foi estimado a partir da fórmula proposta por Cunninghan (13) e o fator atividade proposto foi de sete para o tempo de treinamento do indivíduo (14).. Os valores dos macronutrientes e micronutrientes foram comparados com os padrões estabelecidos pelas Dietary Reference Intake- DRIs (15). Intervenção Alimentar Após o cálculo dos diários alimentares e das estimativas das necessidades energéticas, foi prescrito um plano alimentar individualizado aos atletas, respeitando hábitos e preferências individuais. A prescrição foi feita com foco principalmente na densidade de micronutrientes e no percentual de macronutrientes em relação ao valor energético total, e evitou- se alterar bruscamente a ingestão energética. Foi proposta uma distribuição de 60% para os carboidratos, 20% para as proteínas e 20% para os lipídios (1). Para os atletas que apresentaram sobrepeso, foi proposta uma redução de 10% relativa à energia relatada. Os atletas seguiram o plano alimentar por três meses. Nesse período, os pesquisadores procediam a ligações telefônicas semanais, para eventuais acertos alimentares necessários e/ou esclarecimentos de dúvidas. Após esse período, procedeu- se à reavaliação das variáveis antropométricas. Análise estatística Os valores pré e pós- intervenção foram comparados pelo teste t- student pareado, considerando significativos os valores de p<0,05. Para os cálculos, adotou- se o software SPSS v. 9. Resultados A Tabela 1 apresenta os cálculos nutricionais de acordo com a média dos quatro dias dos diários alimentares, as estimativas de gasto energético e os valores de referência de consumo, de acordo com as DRIs (15). Como principais constatações, para ambos os sexos a ingestão energética foi inferior às estimativas, o consumo 76
3 de carboidratos foi próximo ao limite inferior aceitável, e o consumo de lipídeos foi próximo ao limite superior aceitável. O consumo de cálcio também foi baixo para ambos os sexos, e o consumo de ferro foi baixo nas mulheres. O consumo de vitaminas do complexo B apresentou- se baixo para ambos os sexos. Ainda, foi constatado- embora não apresentado em forma de tabelas- um consumo elevado de alimentos considerados de baixa densidade em micronutrientes (açúcar simples e farinhas brancas). As Tabelas 2 e 3 apresentam os valores das análises bioquímicas do plasma e da urina dos atletas. Não foram encontrados, em nenhum dos avaliados, valores considerados fora dos limites de normalidade. A composição corporal dos atletas, ao início e ao final do programa, está descrita na Tabela 4. Ao final do programa, foi possível observar uma redução significativa na gordura corporal em ambos os sexos, e a manutenção da massa corporal magra. Tabela 1. Ingestão de macro e micronutrientes de acordo com os diários alimentares preenchidos pelos atletas (média ± desvio padrão). Atletas de Judô e Jiu- Jitsu, Santos, Nutriente Masculino Feminino Ingestão Referência 1,2 Ingestão Referência 1,2 Calorias (kcal) 3083 ± ± ± ± Carboidratos (% VET) 3 47,4 ± 5, ,2 ± 3, Proteínas (%VET) 3 17,4 ± 3, ,9 ± 3, Gorduras (%VET) 3 35,1 ± 5, ,8 ± 1, Cálcio (mg) 783,3 ± 303, ,4 ±460, Ferro (mg) 16,5 ± 3,9 8 13,8 ± 6,2 18 Vitamina C (mg) 149,7 ±103, ,2 ± 161,9 75 Folato (µg) 18,2 ±10, ,7 ± 12,3 400 Tiamina (mg) 0,5 ± 0,3 1,2 0,3 ± 0,1 1,1 Riboflavina (mg) 0,8±0,4 1,3 0,5±0,3 1,1 Piridoxina (mg) 0,5±0,3 1,3 0,2±0,1 1,3 1- Estimativa da necessidade energética, de acordo com Cunningan (ref. 12) e fator atividade de acordo com OMS (ref. 13); 2- de acordo com as referências de consumo DRIs (ref. 14); 3- VET = Valor energético total. Tabela 2. Uréia e creatinina plasmáticas e urinárias dos atletas, anteriormente à intervenção (média ± desvio padrão). Atletas de Judô e Jiu- Jitsu, Santos, Variável Masculino Feminino Uréia plasmática (mg/dl) a 35,9±8,1 32,0±4,4 Uréia urinária (mg/dl) b 30,2±9,9 19,0±7,2 Creatinina plasmática (mg/dl) c 1,2±0,2 1,0±0,2 Creatinina urinária (mg/dl d 1,4±0,2 1,2±0,2 a- normalidade= 10 a 50 mg/dl; b- normalidade= 15 a 30 mg/dl; c- normalidade= 0,6 a 1,4 mg/dl; d- normalidade= 0,9 a 1,5 mg/dl. Tabela 3. Concentrações de colesterol total, HDL- colesterol, LDL- colesterol, VLDL- colesterol, triacilglicerois e glicemia de jejum, anteriormente à intervenção (média ± desvio padrão). Atletas de Judô e Jiu- Jitsu, Santos, Masculino Feminino Colesterol total (mg/dl) a 165,6±24,3 181,0±21,9 HDL- colesterol (mg/dl) b 39,2±7,6 43,6±10,3 LDL- colesterol (mg/dl) c 109,3±25,7 122,2±16,6 VLDL- colesterol (mg/dl) d 17,3±3,7 15,1±3,1 Triacilglicerois (mg/dl) e 86,4±18,3 75,4±15,4 Glicemia (mg/dl) 87,0±6,1 84,0±3,2 a- normalidade = 2 a 19 anos: Desejável - <170mg/dL; Limítrofe a 199mg/dL; Elevado - >200mg/dL; Acima de 20 anos: Desejável - <200mg/dL; Limítrofe a 239mg/dL; Elevado - >240mg/dL; b- normalidade =Homens risco padrão - 35 a 55mg/dL; Mulheres risco padrão - 45 a 65mg/dL; Homens nível favorável - >55mg/dL; Mulheres nível favorável - >65mg/dL; Homens nível de risco - <35mg/dL; Mulheres nível de risco - <45mg/dL; c- normalidade =Desejável - <130mg/dL; Intermediário a 159mg/dL; Alto risco - >160mg/dL; d- 77
4 normalidade =Desejável - <30mg/dL; Moderado - 30 a 40mg/dL; Alto risco - >40mg/dL; e- normalidade = <10 anos: Desejavel - <100mg/dL; Elevado - >100mg/dL; 10 a 19 anos: Desejavel - <130mg/dL; Elevado - >130mg/dL; >20 anos: Desejavel - <200mg/dL; Elevado - >200mg/dL. Tabela 4. Avaliação antropométrica final dos indivíduos estudados (média ± desvio padrão) e suas respectivas variações ( ) em relação aos valores iniciais. Atletas de Judô e Jiu- Jitsu, Santos, Variáveis avaliadas Masculino Feminino Peso corporal inicial, Kg 68,9 ± 6,3 62,0 ± 8,9 Peso corporal final, Kg 69,0±4,5 62,9±8,2 * Variação do peso corporal ( ), Kg +0,1 +0,9 Peso inicial da gordura corporal, Kg 10,3 ± 4,4 17,7 ± 4,2 Peso final da gordura corporal, kg 8,4±4,0* 17,0±3,4 * Variação do peso da gordura ( ), Kg - 1,9-0,7 Peso inicial da massa magra, Kg 58,6 ± 4,6 44,3 ± 5,0 Peso final da massa magra, Kg 60,6±2,1 46,0±5,1 Variação do peso da massa magra ( ), Kg +2,6 +1,7 % de gordura inicial 14,7 ± 5,1 28,2 ± 3,1 % de gordura corporal final 12,0±4,8 * 26,7±2,7 * Variação ( ) na % de gordura corporal - 2,7-1,5 * p < 0,05. Diferença em relação aos valores iniciais, de acordo com o teste- t pareado Discussão O presente estudo avaliou alguns aspectos do estado nutricional de lutadores de judô e jiu- jitsu, propondo correções alimentares necessárias. O intuito maior foi demonstrar que, na maioria das vezes, intervenções convencionais apresentam resultados positivos, sem o uso de suplementos, medicamentos ou estratégias muitas vezes questionáveis. A distribuição inadequada dos macronutrientes na dieta dos atletas foi similar a outros estudos anteriores descritos na literatura (7). As diferentes modalidades de luta utilizam como fonte de energia predominantemente os sistemas anaeróbios: ATP- CP e glicogênio muscular (16,17), o que justifica a necessidade de se manter elevada a ingestão de carboidratos. Cabe destacar também, que os campeonatos dessas modalidades geralmente consistem em lutas sucessivas, o que torna mais intensa a utilização do glicogênio muscular, além da contribuição significativa do metabolismo aeróbio. O baixo consumo de carboidratos pode aumentar o risco de acidose metabólica pelo desvio dos ácidos graxos para a formação de corpos cetônicos (17) e pela perda de massa muscular (4). Ademais, como já é bem descrito na literatura, a ingestão elevada de lipídeos está associada ao aparecimento de uma série de doenças como diabetes, obesidade e alguns tipos de câncer. É também classicamente descrito que o corpo humano transforma facilmente esse excesso de energia em tecido adiposo, comparado ao mesmo conteúdo calórico oriundo de carboidratos ou proteínas (4). Com relação aos dados bioquímicos, embora os dados analisados de uréia e creatinina no plasma e na urina não tenham apontado alteração, deve- se estar atento para a constante mobilização das proteínas para fins energéticos que geralmente ocorre em conseqüência de dietas com baixa quantidade de carboidratos. Além disso, nas mulheres, observaram- se valores diminuídos de HDL- colesterol. Esse dado é relevante, uma vez que é conhecido o papel do HDL na remoção de lipoproteínas oxidadas (18). Um dos pontos preocupantes com relação ao acompanhamento de atletas, é que os efeitos prejudiciais de condutas inadequadas possivelmente só venham a se manifestar mais drasticamente depois de encerrada a vida esportiva do mesmo, ou seja, no período de destreinamento (19). Outro importante aspecto observado na dieta dos atletas foi a baixa ingestão de micronutrientes, conseqüentes a um baixo consumo de frutas, verduras, legumes e cereais integrais. Por exemplo, as vitaminas do complexo B apresentaram- se diminuídas em relação às recomendações estabelecidas (15). A deficiência dessas vitaminas, além do risco aumentado de doenças, pode levar a maiores dificuldades na adequação na composição corporal uma vez que as mesmas participam como co- fatores fundamentais para os processos de oxidação de carboidratos, lipídios, e proteínas. A deficiência de tiamina pode levar o indivíduo ao desenvolvimento de anorexia. A baixa ingestão de folato, além de também estar relacionada ao desenvolvimento de anorexia, aumenta o risco de anemia, perda de peso, diarréias, glossites, e alterações dermatológicas (20). 78
5 A ingestão de cálcio encontrou- se abaixo das DRIs (15) em ambos os sexos. A adequação na ingestão de cálcio é fundamental para garantir a eficiência dos processos de contração muscular e, dado o risco aumentado de osteoporose entre mulheres, nestas a deficiência é fator de especial atenção. O consumo de ferro por parte das mulheres foi menor do que o recomendado (15, 21). Após a intervenção alimentar, um relato comum dos atletas foi a falsa impressão de que estavam ingerindo uma quantidade excessiva de calorias devido ao maior fracionamento da dieta proposta no estudo. Eles temiam que a inclusão de pequenos lanches poderia aumentar o peso corporal, uma vez eles estavam acostumados a se alimentar no máximo três vezes ao dia. Entretanto, após a introdução desse novo hábito, todos relataram melhor rendimento nos treinos (melhora referida pelos atletas), o que foi um fator positivo para a continuidade da adesão ao tratamento. Quadro 1. Principais problemas alimentares encontrados nos diários alimentares dos atletas, e propostas monitoradas durante o estudo Principais problemas alimentares encontrados Baixo número de refeições diárias Baixo consumo de verduras, legumes, frutas e carboidratos. Alto consumo de proteínas e/ou gorduras Sobrepeso, alto consumo de lipídios, doces. Baixa ingestão energética Alterações dietéticas sugeridas e monitoradas durante a intervenção Aumento do número de refeições Adequação dos macro e micronutrientes, a partir da discussão do guia alimentar Redução do valor energético com paralela introdução de vegetais e alimentos integrais Aumento do valor energético, a partir do esclarecimento dos riscos à saúde e ao rendimento na atividade física Os resultados da avaliação antropométrica final mostraram que um planejamento alimentar adequado pode trazer resultados benéficos, desmistificando a idéia de que os atletas lutadores precisam adequar o seu peso corporal com atitudes drásticas e arriscadas (22, 23). Além da diminuição da porcentagem de gordura corporal, outro resultado relevante foi o aumento, embora não significativo estatisticamente, da massa magra e do peso corporal. Como conclusão, a orientação alimentar mostrou- se eficaz para a adequação da composição corporal em atletas lutadores. Pressupõe- se que um período maior de aplicação do plano alimentar pudesse trazer resultados ainda melhores. Essa estratégia seria importante não somente na perda de peso corporal, mas também na otimização da distribuição entre tecido adiposo e tecido magro. Mais estudos são necessários no sentido de avaliar se, com esse tipo de intervenção, é possível evitar a prática de estratégias rápidas para perda de peso por esses atletas. Agradecimentos Os autores agradecem a todos os atletas que colaboraram com o estudo e especial à judoca Fabiana Norberg e ao mestre de jiu- jitsu Elcio de Figueiredo. Ao acadêmico Elton Damin e ao Prof. Cezar Azevedo, da UNISANTOS, pelo auxílio durante as avaliações. Ao Professor Rubens Siqueira, da Faculdade de Farmácia e Bioquímica da UNISANTOS, pela realização dos exames bioquímicos e ao Instituto de Pesquisas Científicas (IPECI) pelo auxílio financeiro e pela bolsa de estudo concedida. Referências Bibliográficas 1. Oppliger RA, Case, H S, Horswill, CA; Landry GL, Shelter, A. ACSM Position Stand: Weight Loss in Wrestlers. Med Sci Sports Exerc 1996; 28: Applegate L. A mania das dietas e a utilização de suplementos na prática esportiva. Sports Science Exchange 1996; 4: Wagner DR. Body composition assessment and minimal weight recommendations for high school wrestlers. J Athl Train 1996; 313: McArdle, WDK, Katch F I, Victor L. Fisiologia do exercício: Energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara- Koogan, Kraemer WJ, Fry AC, Rubin MR, Triplett- Mcbrides T, Gordon SE, Koziris LP et al. Physiological and performance responses to tournament wrestling. Med Sci Sports Exerc 2001; 33: Choma CW, Sforzo GA, Keller BA. Impact of rapid weight loss on cognitive function in collegiate wrestlers. Med. Sci. Sports Exerc 1998; 30: Steen SN, McKinney S. Nutrition assessment of college wrestlers. Phys. Sportsmed 1986; 14: Gunderson HK, McIntosh MK. An increased incidence of overweight, obesity, and indicators of chronic disease among ex- collegiate wrestlers. J Am Diet Assoc 1990; 90: , Schwarzkopf R, Jensen D. The effects of dietary control on making weight in collegiate wrestlers. Med Sci Sports Exerc 1987; 19: S Jackson AS, Pollock ML. Generalized equations for predicting body density of men. Br J Nutr 1978; 40: Jackson AS, Pollock ML, Ward A. Generalized equations for predicting body density of women. Med. Sci. Sports Exerc 1980; 12:
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