A QUALIDADE DE VIDA DOS EDUCADORES NA EDUCAÇÃO FÍSICA

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1 A QUALIDADE DE VIDA DOS EDUCADORES NA EDUCAÇÃO FÍSICA RESUMO Evandra Hein Mendes¹ William José da Silva ² A qualidade de vida é um conceito que vem sendo amplamente debatido no mundo do trabalho, pois observa-se a cada dia que passa na rede pública estadual aumento de professores com problemas de saúde ou com falta de motivação para trabalhar, pela exposição a um ambiente estressante e ergonomicamente inadequado. Especialmente na Educação Física os professores são expostos a fatores climáticos como sol forte e sujeira nas quadras, além de forçar as cordas vocais por utilizar um tom de voz mais alto em virtude do espaço ampliado. Tanto as condições de trabalho quanto as condições individuais relacionadas a alimentação, níveis de atividades física habitual, comportamento preventivo e comportamento social influenciam no desenvolvimento pessoal do professor, já que o conceito de saúde e qualidade de vida são interdependentes. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi identificar os principais problemas enfrentados a partir das condições de trabalho do professor de Educação Física e elencar as suas percepções sobre a sua qualidade de vida. Para tanto, foram aplicados questionários semiestruturados a 15 professores de um colégio estadual do município de Foz do Iguaçu. Foi possível identificar que os educadores percebiam sua qualidade de vida como satisfatória. Porém a maioria apontou que as condições de trabalho eram insatisfatórias, devido ao excesso de carga horária de trabalho, turmas numerosas, condições estruturais e ambientais precárias. Os professores acreditavam que tais condições ofereciam risco para a saúde, na dimensão física (32%) devido a temperatura, ventilação, umidade, ruído e iluminação, na dimensão biológica (28%) mediante falta de higiene no local de trabalho e fisiológica (24%) causados por esforço físico demasiado do trabalhador e a permanência em pé por tempo prolongado. Entretanto, apesar de exercer suas atividades laborais em condições insatisfatórias os professores preocupavamse em desenvolver bons hábitos em outras dimensões da qualidade de vida, tais como: alimentação adequada, comportamento preventivo, atividades de lazer, e níveis adequados de atividades física habitual, que pode minimizar os danos à saúde causados pelo ambiente de trabalho por vezes inadequado. Palavras-Chaves: Qualidade de Vida Educação Educação Física INTRODUÇÃO Na educação brasileira crescem os índices de absenteísmo de educadores durante o ano letivo, fato que desperta a necessidade de analisar o

2 sistema de gestão e a avaliação da qualidade de vida dos educadores, pois repercute na própria qualidade de ensino. Na opinião de Reis et al. (2005), os afastamentos frequentes das atividades laborais de ensino estão associados às doenças do trabalho, as quais sofrem também interferência do estilo de vida individual. Da mesma forma os baixos salários, a precariedade das condições de trabalho, a insatisfação geral com a educação e o baixo prestígio da profissão docente também configuram-se como elementos de interferência na qualidade de vida.(lapo & BUENO, 2003). Em geral, os órgãos educacionais não possuem um sistema de gestão voltado para a qualidade de vida dos educadores, apresentando-se comuns situações em que os professores adoecem, apresentam falta de motivação ou permanecem expostos a ambiente estressante e ergonomicamente incompatível. Além disso, o ambiente escolar contribui em muitos casos para a desmotivação dos docentes pelas condições de trabalho, remuneração, relações instáveis entre funcionários, professores e alunos. A qualidade de vida do professor de Educação Física é estudada por Both (2007) em pesquisa desenvolvida com 580 professores da disciplina na rede pública do estado de Santa Catarina e revela que algumas dimensões referentes às condições de trabalho, remuneração e compensação, bem como interações pessoais e relação do tempo desprendido entre o trabalho e lazer, são apresentadas como fatores de descontentamento dos professores. As condições de trabalho necessitam atender as necessidades básicas do professor, como a jornada de trabalho que não pode ser excessiva e o ambiente de trabalho que deve ser seguro e saudável. Além disso, realizar atividades sob o calor do sol pode causar danos muitos sérios à saúde. (DAVID, 2005) Saúde e qualidade de vida são conceitos interdependentes, por isso a qualidade de vida no trabalho deve considerar a satisfação das necessidades e expectativas dos indivíduos. (RONCHI, 2010). A prática pedagógica do professor de Educação física envolve a habilidade de conhecimento intelectual, mas também exigências físicas, por isso a qualidade do ambiente de trabalho merecem atenção especial.

3 Sendo assim, o objetivo desse estudo foi identificar a percepção dos educadores sobre sua qualidade de vida, além de realizar um levantamento dos principais problemas enfrentados a partir das condições de trabalho do professor de Educação Física quanto à estrutura, elementos prejudiciais externos e internos ao ambiente escolar. METODOLOGIA Essa investigação apresentou caráter descritivo, pois esse tipo de pesquisa tem como objetivo a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. A amostra consistiu de 15 professores de Educação Física pertencentes a rede SEED de um colégio estadual do município de Foz do Iguaçu - PR. O instrumento para coleta de dados consistiu de questionário estruturado, que foi entregue aos professores no dia 29 de setembro de 2011 para que respondessem no local. Os dados foram analisados através das codificações das respostas, tabulação dos dados e cálculos estatísticos. Juntamente com a análise também foi efetuada a interpretação dos dados, que consistiu em estabelecer a ligação entre os resultados obtidos com outros já conhecidos, que possam ser derivados de teorias. ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA Após a coleta de dados foi possível observar que o grupo era formado na sua maioria de mulheres, com idade entre 30 anos e 40 anos, casadas, com carga horária de trabalho entre 30 e 40 horas semanais. A maioria possuía especialização e atuava em escola pública há menos de 10 anos. Em muitos casos, os professores acumulam carga horária semanal de trabalho superior a 40 horas, em dois ou mais postos de trabalho, para ter uma remuneração digna que satisfaça suas necessidades pessoais e familiares. (ANDREWS, 1993 e NILAN, 2003)

4 Após identificar as características principais dos participantes da investigação, procurou-se analisar a percepção das condições de trabalho dos professores de Educação Física. (Gráfico 1). Gráfico 1. Percepção individual das condições de trabalho dos professores Identificou-se que a maioria (54%) dos professores não estava satisfeito com as condições de trabalho, indicando regular ou ruim em sua avaliação. Já em estudo de Both et al (2010) sobre as condições de trabalho, foi possível identificar que a maioria dos docentes estava satisfeita. Entretanto, observou-se que também havia altos índices de professores indecisos e insatisfeitos. Sendo assim, pretendeu-se identificar os fatores de risco presentes no ambiente de trabalho ou na profissão exercida. (Gráfico 2) Gráfico 2. Percepção individual dos professores dos fatores de risco da profissão

5 Sobre os fatores de risco para a saúde, foram apontados pelos professores com maiores índices o risco físico (32%) devido a temperatura, ventilação, umidade, ruído e iluminação, o biológico (28%) mediante falta de higiene no local de trabalho e o fisiológico (24%) causados por esforço físico demasiado do trabalhador e a permanência em pé por tempo prolongado. É importante considerar o risco psíquico não foi apontado pelos participantes da investigação. Apesar disso, na profissão de educador podem acontecer desgastes nos aspectos emocionais e sócio afetivos com alunos, pais e até mesmo com outros professores ou equipe pedagógica. Em seguida, verificou-se aspectos relacionados a percepção dos professores sobre a sua qualidade de vida. (Gráfico 3). Gráfico 3. Percepção da qualidade de vida dos professores Analisando a percepção dos professores em relação à qualidade de vida percebem-se índices satisfatórios já que a maioria a indicou como boa (53%), ótima (27%) ou excelente (6%). De acordo com Bouchard et al. (1990) apud Both (2010); Nahas, (2003), a qualidade de vida está associada ao estilo de vida das pessoas, como: boa alimentação, ser ativo fisicamente, demonstrar comportamentos preventivos de saúde, cultivar bons relacionamentos e ter apenas estresse que estimule a pessoa a realizar as suas atividades do dia-a-dia. A alimentação é um dos indicadores da qualidade de vida. Sendo assim, os professores foram questionados sobre seus hábitos alimentares. (Quadro 1).

6 Hábitos alimentares Professores Consumo de legumes, frutas e verduras diariamente 100% Consumo de carne vermelha todos os dias 20% Ingestão de refrigerantes 00 Consumo peixes 33% Consumo de frituras 00 Ingestão de uma taça de vinho uma vez ao dia 13% Refeições somente de lanches 00 Consumo de alimentos enlatados. 00 Quadro 1. Hábitos alimentares dos professores É possível identificar que os participantes da pesquisa demonstraram preocupar-se em adotar hábitos de alimentação saudável. Uma alimentação correta aliada a atividades físicas regulares, diminui os riscos de obesidade e outras doenças crônicas, como a hipertensão arterial e diabetes mellitus (NIEMAN, 1999). Os cuidados com a saúde indicam que as pessoas se preocupam com o bem estar e desejam viver melhor, para isso é importante pelo menos pensar sobre os cuidados preventivos. Sendo assim, questionou-se os professores sobre o auto cuidado com a saúde. (Quadro 2) Cuidados com a saúde Professores Realizam exames regularmente 60% Realizam exames quando estou doente 20% Não realizam exames de medicina preventiva 20% Não consideram importante fazer exames preventivos 00 Quadro 2. Percepção dos professores sobre os cuidados com a saúde regularmente. Foi possível verificar que a maioria dos professores realizava exames Controlar alguns indicativos de saúde como a pressão arterial e os níveis de colesterol é importante para evitar que o individuo fica mais suscetível aos problemas cardiovasculares. (Nahas et al, 2003) Além disso, investigou-se as opiniões dos professores acerca das atividades que contribuem para melhorar sua qualidade de vida. (Quadro 3). Atividades Professores Caminhada 80%

7 Natação 53% Dançar 53% Quadro 3. Percepção dos professores sobre atividades que contribuem para melhoria da qualidade de vida O grupo investigado tem na atividade física o seu meio de trabalho, sabe o quanto é importante desenvolvê-la para manter o nível de saúde corporal satisfatório. Entre as atividades de preferência foram citadas a caminhada, a natação e a dança. De fato, a prática de atividade física de qualquer natureza traz benefícios tanto físicos quanto mentais (BOUCHARD, SHEPHARD & STEPHENS, 1994), pois exercício físico reduz os níveis de ansiedade, depressão e raiva. Além disso, a adoção de um estilo de vida ativo está associada à redução do risco de desenvolvimento de diversas doenças crônicas, muitas das quais causas principais de morte prematura e dependência funcional. O lazer também é um dos indicadores de qualidade de vida, pois as pessoas não vivem somente de trabalho, é necessário relaxar, descansar, socializar-se e manter boas relações com a família. Assim sendo foi solicitado que os professores indicassem suas preferências de lazer. (Quadro 4) Opções de lazer Professores Ir ao shopping 60% Passear com a família ou amigos 53% Ir a restaurantes 53% Ficar em casa 33% Assistir televisão 33% Fazer um churrasco 26% Dormir 20% Fazer passeios ecológicos 13% Ir a festas comunitárias 6% Pescar 6% Quadro 4. Preferência dos professores para os momentos de lazer Percebeu-se que as preferências de lazer mais citadas pelo grupo foram ir ao shopping, a restaurantes e passear com a família e amigos. Assim como, foram citados descansar assistindo televisão e ficar em casa, fazer churrasco, dormir, fazer passeios ecológicos e pescar e ir à festas.

8 O trabalho desenvolvido com respeito à qualidade de vida do trabalhador, na opinião de Mattos (2004) deve ser balanceado, estável e permitir que o sujeito tenha tempo para se dedicar ao lazer e à família, para tanto necessita que seus horários sejam fixos. No entanto é preciso que o trabalho apresente também uma relevância social, pois o funcionário representa a imagem da empresa, sendo valorizado pelo que produz e por suas práticas no desenvolvimento de suas atividades. CONSIDERAÇÕES FINAIS A qualidade de vida do ser humano, depende de uma busca intrínseca de cada indivíduo, pois é uma condição subjetiva que exige conhecimento, autoestima, construção de conhecimento entre outras ações que permitam aos sujeitos dessa ação educacional se tornarem autônomos na promoção de sua própria condição de vivência e convivência tanto na sociedade quanto no seu trabalho. Boa alimentação, cuidados de medicina preventiva, lazer, autocuidado, são algumas das atividades que o professor de Educação Física necessita se permitir realizar no cotidiano. É preciso perceber que em relação à vida não se pode delegar a outras pessoas a responsabilidade de se promover a qualidade, já que ela depende principalmente do indivíduo. Diante disso, cabe à escola enquanto instituição promover o compartilhamento de experiências promovendo mais conhecimento e conscientização sobre a realidade dos educadores e a sua qualidade de vida. A qualidade de vida no trabalho depende de dimensões como o reconhecimento pelo trabalho executado através de compensações e apoio de planos de carreira, além de garantia de estabilidade, equilíbrio nas condições internas e externas de contratação e de relações de trabalho. O trabalhador não age movido apenas pelo salário ou por causa de compensação, porém, esta deve ser adequada e justa a fim de evitar descontentamento e ausência de motivação. Foi possível identificar que os educadores percebiam sua qualidade de vida como satisfatória. Porém a maioria apontou que as condições de trabalho

9 eram insatisfatórias, devido ao excesso de carga horária de trabalho, turmas numerosas, condições estruturais e ambientais precárias, que ofereciam risco para a saúde, especialmente físico devido a temperatura, ventilação, umidade, ruído e iluminação, biológico mediante falta de higiene no local de trabalho e fisiológico causados por esforço físico demasiado do trabalhador e a permanência em pé por tempo prolongado. Nesse sentido, pode-se concluir que apesar de exercer suas atividades laborais em condições insatisfatórias os professores preocupavam-se com as outras dimensões da qualidade de vida, tais como: alimentação adequada, comportamento preventivo, atividades de lazer, e níveis adequados de atividades física habitual, que minimiza os danos causados pelo ambiente de trabalho por vezes inadequado. REFERÊNCIAS ANDREWS, J. C. O stress nos professores de Educação Física dos nossos dias: Uma perspectiva internacional. Boletim da Sociedade Portuguesa de Educação Física, 7/8, 13-25, BOTH, J. Percepção da qualidade de vida no trabalho ao longo da carreira docente em Educação Física. Florianópolis: UFSC, J.V. NASCIMENTO, C.N. SONOO, C.A.F. LEMOS, A.F. BORGATTO. Condições de vida do trabalhador docente: Associação entre estilo de vida e qualidade de vida no trabalho de professores de Educação Física. Revista Motricidade, vol. 6, n. 3, pp. 39-5, BOUCHARD, C.; SHEPHARD, R. J.; STEPHENS, T. Physical Activity, Fitness, and Health: International Proceedings and Consensus Statement.Champaign: Human Kinects DAVID, L. M. L. Qualidade de vida no trabalho e comprometimento organizacional: análise de suas relações em uma unidade do exército. Dissertação (Mestrado em Gestão Social e Trabalho), Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação (FACE), Universidade de Brasília, Brasília, DF, LAPO, F. R., & BUENO, B. O. Professores, desencanto com a profissão e abandono do magistério. Cadernos de Pesquisa, 118, 65-88, MATTOS, L. Práticas e processos em recursos humanos. Curitiba: IBRATE, 2004.

10 NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: Conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo (3ª ed.). Londrina: Midiograf, NIEMAN, D. C. Exercício e saúde: Como prevenir de doenças usando o exercício como seu medicamento. São Paulo: Editora Manole, REIS, E. J. F., Carvalho, F. M., Araújo, T. M., Porto, L. A., & Silvany Neto, A. M. Trabalho e distúrbios psíquicos em professores da rede municipal de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 21(5), , RONCHI, Carlos César. Sentido do trabalho: saúde e qualidade de vida. Curitiba: Juruá, Instituição: Unioeste e UEM Endereço eletrônico: evandrahmendes@hotmail.com Linha 2 Fundamentos teórico-metodológicos do processo ensinoaprendizagem e avaliação em Educação Física.