T E O R I A GER A L D O DIREITO CIVIL
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- Vera Quintão Peres
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1 ROTEIRO DE AULA Ponto 05 Capacidade da Pessoa Natural 01. Capacidade É a aptidão da pessoa para exercer direitos e assumir obrigações, ou seja, de atuar sozinha perante o complexo das relações jurídicas. O nascimento com vida gera a personalidade e não a capacidade. A capacidade pode ser dividida em: a) De direito ou de gozo É própria de todo ser humano, inerente à personalidade. Só se perde com a morte. É a capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações. Não pode ser negada ao indivíduo. b) De fato ou de exercício da capacidade de direito É a possibilidade de exercitar por si os atos da vida civil. Qualquer pessoa possui capacidade de direito ou de gozo, mas pode não ter a capacidade de fato, pois pode lhe faltar a plenitude da consciência e da vontade. Pode ser restringida. Ex. Um louco pode receber doação (capacidade de direito) mas não pode vender esse bem (capacidade de fato). Uma criança de cinco anos pode ser beneficiário de uma pensão alimentícia, mas não poderá, sozinho, utilizar o dinheiro recebido. A capacidade pode ser, igualmente: a) Plena Quando o indivíduo possui capacidade de direito e de fato. b) Limitada Quando o indivíduo possui apenas capacidade de fato. A capacidade limitada gera a incapacidade, que pode ser absoluta ou relativa. 02. Legitimação Consiste em saber se o indivíduo possui ou não a capacidade para exercer pessoalmente todos os seus direitos. Pode se dar:
2 a) Pessoalmente Quando é exercido diretamente pela pessoa detentora do direito que persegue, com capacidade de fato e de direito. b) por Representação Quando o indivíduo é absolutamente incapaz para os atos da vida civil, deverá ter um representante, com capacidade de fato, que agirá em seu nome. Se o absolutamente incapaz realizar um negócio sem ser representado, este negócio será considerado nulo. c) por Assistência Quando o indivíduo é relativamente incapaz para os atos da vida civil, deverá ter um Assistente, com capacidade de fato plena, que agirá em seu nome nos atos em que for incapaz. Se o relativamente incapaz realizar um negócio sem ser assistido, este negócio será considerado anulável. 03. Dos Absolutamente Incapazes Quando houver proibição total do exercício do direito do incapaz Em caso de violação, ocorrerá a nulidade do ato jurídico (art. 166, I do CC). Os absolutamente incapazes possuem direitos, porém não podem exercê-los pessoalmente. Há uma restrição legal ao poder de agir por si. Devem ser representados. São absolutamente incapazes, segundo o art. 3º do CC: a) Os menores de 16 anos (critério etário) Devem ser representados por seus pais ou, na falta deles, por tutores. São chamados também de menores impúberes. Justifica-se porque, devido a essa tenra idade, a pessoa ainda não atingiu o discernimento para distinguir o que pode ou não fazer. Dado o seu desenvolvimento intelectual incompleto, poderia ser facilmente influenciável por outrem. b) Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil são as pessoas que, por motivo de ordem patológica ou acidental, congênita ou adquirida, não estão em condições de reger sua própria pessoa ou administrar seus bens. Abrange pessoas que têm desequilíbrio mental (ex: demência, paranóia, psicopatas, etc.). Para que seja declarada a incapacidade absoluta neste caso, é necessário um processo de interdição.
3 OBS: Da interdição A interdição se inicia com requerimento dirigido ao Juiz feito pelos pais, pelos tutores (na ausência dos pais), pelo cônjuge, ou por qualquer parente. Até mesmo pelo Ministério Público pode propor a ação em determinadas situações. O interditando será citado e convocado para uma inspeção pessoal pelo Juiz, assistido por especialistas. O pedido poderá ser impugnado pelo interditando. Será realizada uma perícia médico-legal e posteriormente o Juiz pronuncia o decreto judicial que poderá interditar a pessoa. O decreto judicial de interdição deve ser publicado no Diário Oficial e inscrito no Registro de Pessoas Naturais, tendo, a partir daí, efeito erga omnes. A senilidade ou senectude (idade avançada, velhice), por si só, não é causa de restrição da capacidade de fato. c) Os que, mesmo por causa transitória, não puderam exprimir sua vontade Inclui o surdo-mudo que não pode manifestar sua vontade. OBS: Se o surdo-mudo puder exprimir sua vontade, pode ser considerado relativamente capaz ou até plenamente capaz, dependendo do grau de sua expressão, embora estejam impedidos de praticar atos que dependam de audição (ex: testemunha em testamento). Inclui, também, pessoas que perderam a memória, embora de forma transitória e outros casos análogos. Não inclui, necessariamente, o cego, que somente terá restrições para os atos que dependam da visão, como ser testemunha ocular, por exemplo. Não inclui o analfabeto. Não inclui o idoso. 04. Dos Relativamente Incapazes A incapacidade relativa diz respeito àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil, desde que assistidos. O efeito da violação desta norma é gerar a anulabilidade do ato jurídico, dependendo da iniciativa do lesado. Há hipóteses em que, mesmo sendo praticado sem assistência, pode o ato ser ratificado ou convalidado pelo representante legal, posteriormente. São relativamente incapazes, segundo o art. 4º do CC: a) Os maiores de 16 anos e menores de 18 anos Justifica-se porque sua pouca experiência e insuficiente desenvolvimento intelectual não lhes possibilitam a plena participação na vida civil.
4 São também chamados de menores púberes. Os menores, entre 16 e 18 anos, somente poderão praticar certos atos mediante assistência de seus representantes, sob pena de anulação. Há atos que o relativamente incapaz pode praticar mesmo sem assistência, ais como casar, necessitando apenas de autorização de seus pais; fazer testamento; servir como testemunha em atos jurídicos, inclusive em testamento; requerer registro de seu nascimento, etc. Questionamento pertinente: Se em um contrato um rapaz de 17 anos se passou por maior de 18 anos e assumiu determinada obrigação e depois, para não cumprir esta obrigação, ele alega que era menor de idade, o contrato deve ser anulado? (Ver art. 180 do CC) b) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido Deve haver também processo de interdição. Neste processo, se ficar constatado que a pessoa, em decorrência de seu problema (álcool, substâncias entorpecentes) chegou a ponto de não poder mais exprimir totalmente a sua vontade, poderá ser declarada a sua incapacidade absoluta. Se o grau de dependência atingir níveis excepcionais, essa pessoa poderá ser considerada absolutamente incapaz. No Direito Penal também há uma graduação da imputabilidade quanto à doença mental: total (inimputáveis não se aplica pena; quando muito medida de segurança); parcial (semi-imputabilidade ou responsabilidade diminuída o juiz aplica pena, embora essa possa ser reduzida). c) Excepcionais, sem desenvolvimento mental completo Abrange os mentalmente fracos, surdos-mudos e os portadores de anomalia psíquica que apresentem sinais de desenvolvimento mental incompleto. Também haverá regular processo de interdição. d) Pródigos São os que dilapidam, dissipam os seus bens ou seu patrimônio, fazendo gastos excessivos e anormais. Trata-se de um desvio de personalidade e não de alienação mental. Devem ser interditados e, em seguida, nomeia-se um curador para cuidar de seus bens. Ficam privados, exclusivamente, dos atos que possam comprometer seu patrimônio. O pródigo interditado não pode (sem assistência): emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, agir em juízo, etc. Pode exercer atos de mera administração, exercer profissão, inclusive casar-se. No entanto se antes de casar houver necessidade de pacto antenupcial haverá assistência do curador, pois o ato nupcial pode envolver disposição de bens.
5 05. Tutela OBSERVAÇÕES SOBRE OS ÍNDIOS O Código anterior utilizava a expressão silvícola. Silvícola não é obrigatoriamente o índio (silva = selva; íncola = habitante; portanto, os que moram nas selvas e não estão adaptados à nossa sociedade), embora sempre se tenha considerado apenas o índio. O atual Código Civil é mais exato. Usa a expressão índio, mas não os considerou como incapazes. Apenas afirmou que a capacidade dos índios seria regulada por meio de lei especial (art. 4º, parágrafo único do CC). A Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio) coloca o silvícola e sua comunidade, enquanto não integrado à comunhão nacional, sob o regime tutelar. O órgão que deve assisti-los é a FUNAI. A lei estabelece que os negócios praticados entre um índio e uma pessoa estranha à comunidade, sem a assistência da FUNAI é nulo (e não anulável). No entanto prevê que o negócio pode ser considerado válido se o silvícola revelar consciência do ato praticado e o mesmo não for prejudicial. Para a emancipação do índio exige-se: idade mínima de 21 anos, conhecimento da língua portuguesa, habilitação para o exercício de atividade útil, razoável conhecimento dos usos e costumes da comunhão nacional e liberação por decisão judicial. A tutela é um instituto de caráter assistencial que tem por finalidade substituir o poder familiar. Protege o menor (impúbere ou púbere) não emancipado e seus bens, se seus pais falecerem ou forem suspensos ou destituídos do poder familiar, dando-lhes representação ou assistência no plano jurídico. Pode ser oriunda de provimento voluntário, de forma testamentária, ou em decorrência da lei. O tutor pode representar o menor (se este for menor de 16 anos) ou assisti-lo (se ele for maior de 16, porém menor de 18 anos). O tutor pode realizar quase todos os atos em nome do menor, uma vez que não poderá emancipá-lo. Neste caso depende de sentença judicial. 06. Curatela Já a curatela é um encargo (munus) público previsto em lei que é dado para pessoas maiores, mas que por si sós não estão em condições de realizar os atos da vida civil pessoalmente, geralmente em razão de enfermidade ou deficiência mental. O curador deve reger e defender a pessoa e administrar seus bens. Decorre de nomeação pelo Juiz em decisão prolatada em processo de interdição. Os atos praticados depois da decisão são nulos ou anuláveis conforme o interdito seja absoluta ou relativamente incapaz. É possível invalidar ato negocial antes da interdição desde que se comprove a existência da insanidade por ocasião da efetivação daquele ato, posto que a causa
6 da incapacidade é a anomalia psíquica e não a sentença de interdição. O curador também pode representar ou assistir o incapaz, dependendo da espécie de incapacidade. 07. Da capacidade Plena A incapacidade termina, via de regra, ao desaparecerem as causas que a determinaram. Nos casos de loucura, da toxicomania, etc., cessando a enfermidade que a determinou, cessa também a incapacidade. Em relação à menoridade, a incapacidade cessa quando o menor completar 18 anos. 08. Emancipação Emancipação ou antecipação dos efeitos da maioridade é a aquisição da capacidade plena antes dos 18 anos, habilitando o indivíduo para todos os atos da vida civil. O menor de idade (menor 18 anos), se for emancipado será considerado plenamente capaz para efeitos civis (embora continue a ser menor de idade). A emancipação é irrevogável e definitiva. Adquire-se a emancipação (art. 5º do Código Civil): a) Por concessão dos pais ou de apenas um deles na falta do outro (emancipação parental ou voluntária) Neste caso não é necessária a homologação do Juiz. Deve ser concedida por ambos os pais e por instrumento público e registrada no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais. O menor deve ter, no mínimo, 16 anos completos. Admite-se a emancipação unilateral (realizada por apenas um dos pais) na hipótese de um deles ter falecido, ou foi destituído do poder familiar, etc. b) Por sentença do Juiz Basicamente temos duas hipóteses para a aplicação deste dispositivo: 1) quando um dos pais não concordar com a emancipação, contrariando a vontade do outro; há um conflito de vontade entre os pais quanto à emancipação do filho; 2) quando o menor estiver sob tutela. O tutor não pode emancipar o menor. Evita-se a emancipação destinada a livrar o tutor do encargo. A emancipação é feita pelo Juiz, se o menor tiver 16 anos, ouvido o tutor, depois de verificada a conveniência para o bem do menor.
7 c) Pelo casamento A idade nupcial (ou idade núbil) do homem e da mulher é de 16 anos. O art CC exige a autorização de ambos os pais, enquanto não atingida a maioridade. Caso os pais não consintam com o casamento, ou em havendo divergência entre eles, quando a razão para a negativa do casamento for injusta, a autorização poderá ser suprida pelo Juiz. O Código Civil (art ) ainda permite a autorização judicial do casamento do menor que ainda não atingiu a idade nupcial para evitar o cumprimento de condenação ou em caso de gravidez. O divórcio, a viuvez e a anulação do casamento não implicam o retorno à incapacidade. Apenas o casamento nulo faz com que se retorne à situação de incapaz (se o ato foi nulo, a pessoa nunca foi emancipada, posto que não produz efeitos e é retroativo), salvo se o casamento for contraído de boa-fé (nesse caso a pessoa é considerada emancipada). d) Por exercício de emprego público Deve ser efetivo. Excluem-se os diaristas, contratados e os nomeados para cargos em comissão. Há entendimento que deve ser funcionário da administração direta (excluindose, assim, os funcionários de autarquias e de entidades paraestatais). Há pouca aplicação prática, pois os concursos, como regra, exigem idade mínima de 18 anos. e) Por colação de grau em curso de ensino superior Também há pouca aplicação prática devido a nosso sistema de ensino. f) Por estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego com economia própria É necessário ter ao menos 16 anos, pois revela suficiente amadurecimento e experiência desenvolvida. No entanto, na prática, há dificuldade para se provar o que seja "economia própria". Questionamento pertinente: Uma pessoa se casa com 16 anos. Um ano depois, acaba matando seu cônjuge. Ela vai responder criminalmente?
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