Prof. Aguinaldo Pereira Alves

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1 Unidade III ÉTICA GERAL E PROFISSONAL Prof. Aguinaldo Pereira Alves

2 Relembrando... A ética é histórica. Novos conhecimentos surgem e: a) alguns valores éticos mudam de sentido; b) valores são desprezados; c) valores novos são acrescentados. Exemplos de valores alterados: a coragem e a tolerância.

3 Definição de ética Ética: procedimentos de conduta pautados em valores morais que visam o bem comum. Bem comum pode ser entendido como os objetivos que promovem um bem viver coletivo, a promoção da justiça, do respeito e do bem-estar comunitário. Bem comum: bens materiais (físicos ou imanentes); bens imateriais (metafísicos ou transcendentes).

4 Ação ética é práxis dos valores estruturais da civilização. A civilização ocidental incorporou a fidelidade, a prudência, a temperança, a coragem, a justiça, a generosidade, a compaixão, a misericórdia, a gratidão, a humildade, a simplicidade, a tolerância, a pureza, a doçura, a boa-fé, o humor e o amor como virtudes de uma vida essencialmente ética.

5 O indivíduo: o objetivo e o sujeito das práticas éticas A pessoa humana é insubstituível e livre, mesmo quando suas ações são contrárias às leis e aos costumes. As reflexões éticas permitiram ao Ocidente a promoção de constituições de direito pleno e de órgãos internacionais e nacionais de defesa dos direitos do ser humano.

6 A ética pressupõe a racionalidade Indignação ética: percepção racional da diferença entre como a sociedade funciona e como deveria funcionar para promoção do bem comum. Experiência ética fundamental: filósofos ou iluminados propõem novas normas de conduta para o retorno à ética.

7 Interatividade Uma destas afirmações define o conceito de ética: a) Princípios de conduta e ciência da moral que sempre nortearam as ações humanas dentro das comunidades, uma vez que os valores de conduta são instintivos, isto é, vêm de berço. b) É simultaneamente uma moral e os liames metafísicos do ser humano e sua razão de ser no mundo. Portanto, são valores ensinados pela religião cristã. c) Uma ciência descritiva dos costumes ou das diversas morais existentes em todas as épocas e lugares da Terra. d) É diferente de moral em seu sentido individual, uma vez que sua função é sempre coletiva. Sua natureza objetiva o bem comum. e) São regras de conduta moral derivadas da natureza humana e não da natureza da sociedade, uma vez que há uma ética geral e universal em todos os tempos e lugares.

8 As origens da ética profissional É a experiência ética fundamental para os protestantes puritanos nos séculos XVI e XVII que inaugura a ética profissional moderna. Eles perceberam que a práxis dos cristãos, nessa época, era bem diferente daquilo que os textos bíblicos preconizavam.

9 Conceitos alterados na modernidade O conceito de vocação : deixa de ser o chamado de Deus para agir fora do mundo para ser o chamado de Deus para agir no mundo. Vocação: o sentimento de amor e realização em algum tipo de trabalho, e que nos leva a um plano de vida. O trabalho deixa de ser visto como punição para se tornar salvação e um projeto coletivo de promoção do bem comum e da felicidade geral.

10 Mentalidade econômica moderna É produto da reforma religiosa protestante a mentalidade que resultará no espírito do capitalismo. É produto da Reforma a valorização do cumprimento do dever dentro das profissões, procurando fazer seu trabalho o mais perfeito possível, trabalhando dentro de uma disciplina rígida.

11 Valores religiosos construíram a noção de competência. Os valores protestantes da disciplina ascética, a poupança, a austeridade e o dever foram incorporados às crenças que estruturam nossa visão do mundo do trabalho. Tal processo histórico relacionou o conceito de competência à ética profissional no mundo capitalista até os dias atuais.

12 Profissão Os textos que orientam as diversas práticas profissionais definem profissão como trabalho que se pratica com habitualidade a serviço de terceiros, com honestidade e diligência. A profissão, além da utilidade que traz para o indivíduo, carrega uma rara expressão social e moral. A profissão é uma função social, pois viabiliza nossa inserção na sociedade, e é moral, na medida em que permite a práxis de nossa transcendência.

13 Interatividade Aponte uma afirmação relacionada à ideia de ética profissional: a) A pessoa se humaniza por meio da construção do mundo e por meio de seu trabalho. b) Tempo é dinheiro. c) O ser humano que não trabalha perde mesmo sua essência humana. É uma não pessoa. d) Faça o bem sem olhar a quem. e) Deus ajuda quem cedo madruga.

14 Mérito: dever cumprido A crença de que uma ação feita por dever supera as ações feitas por prazer construiu a ideia de mérito. Se a pessoa consegue vencer seus interesses privados e, por dever, age tendo em vista o interesse comum, ela coloca em sua atitude um sobrevalor. Este sobrevalor é o mérito: uma distinção de honra dentro da categoria profissional.

15 Competência: valor fundamental da ética profissional Ser competente é saber fazer bem o dever. Ao dever se articulam, além do saber, o querer e o poder. A competência profissional foi, durante toda a modernidade, ensinada sucessivamente pelas gerações profissionais anteriores àquelas que lhes sucederão. Os profissionais mais experientes ensinavam a o habitus ético da categoria a profissional ao novato que iria praticá-la por toda sua vida.

16 As profissões nasceram na era da certeza. Até mais ou menos a década de 80 do século XX, aprendia-se uma profissão trabalhando nela. Até a instalação do capitalismo flexível, entre as décadas de 80 e 90 do século XX, havia três possibilidades de se inserir no mundo do trabalho: 1. por uma carreira na indústria, com instrução elementar; 2. como profissional técnico burocrático, com educação de nível médio/técnico; 3. ou como profissional liberal.

17 As profissões e a estrutura de classes. Tais categorias laborais se reproduziam por influência da ideologia que permeia toda a sociedade estruturada em classes. O setor de serviços era exclusividade e dever do Estado, que era forte e regulava com rigidez as relações entre capital e trabalho.

18 Uma sociedade estruturada em valores rígidos. O iniciante era introduzido na área profissional pelos mais antigos na profissão. Os valores essenciais (competência, produtividade, sociabilidade, honestidade, fidelidade, zelo e sigilo) à ética profissional solidificavam-se pela tradição. Haviam as certezas oriundas de uma sociedade estruturada em crenças solidificadas por valores rígidos.

19 O mundo do trabalho mudou... Na era da informação e do capitalismo flexível, fragmentam-se a burocracia e a rotina do trabalho. O atual mundo do trabalho já não permite uma carreira para a vida toda. Hoje, o novo é novidade para todos, e já não se permite esperar que a experiência profissional seja uma prerrogativa apenas dos mais velhos de profissão, que ensinam suas competências.

20 Competência acima de tudo A competência é um valor ético fundamental a todas as profissões. Nela, estão relacionados os demais valores éticos: zelo, sigilo e honestidade. Não são possíveis tais valores se a prática profissional não estiver precedida de competência. Eventuais erros, decorrentes da não competência, inviabilizam o exercício de valores profissionais.

21 Competência: teoria e práxis Como hoje a inovação é cada vez mais presente no cotidiano profissional, frequentemente todos são lançados a novos desafios, que serão resolvidos ao buscar novas teorias. A competência profissional é uma relação dialética entre teoria e práxis no exercício profissional. A teoria pressupõe o saber científico. Ao aplicá-la (a práxis), evidenciam-se novos saberes, que originam novas práticas e novos desafios, e assim sucessivamente.

22 O zelo, a virtude que produz beleza O zelo consiste no cuidado amoroso com os objetivos e instrumentos do trabalho, bem como na própria execução da tarefa. Faz parte do zelo profissional o cuidado com tudo que se relaciona com o corpo e a saúde do profissional, e com sua aparência dentro dos hábitos da categoria profissional.

23 Sigilo: virtude do silêncio e da serenidade O sigilo é a capacidade de não revelar as informações que só interessam aos que delas necessitam ou são portadores e usuários. Ao sigilo, refere-se a fala reservada, direta e clara dentro da empresa, bem como evitar comentários da vida privada, tanto da nossa como a dos outros.

24 Honestidade: virtude da prática da justiça A palavra honestidade vem do latim honestus, sinônima de honoris status, e tem a ver com o homem íntegro, virtuoso e incorruptível. O exercício da honestidade independe de coação externa, exercida, por exemplo, por medo ou culpa. Comporta também o ato de sinceridade.

25 Honestidade: virtude que evita o caos Ninguém nasce honesto. A honestidade é uma construção educacional do entorno social. A prática da honestidade implica a capacidade de respeitar a propriedade p alheia. Não existe meia honestidade. A competência, o zelo, a honestidade e o sigilo se relacionam de maneira complementar e dialética.

26 Construir uma vida ética profissional factível É possível, desde que cada um possa: 1. desenvolver em si a prática de valores éticos fortes e sensibilizar os colegas de trabalho, no sentido de elevar o nível de confiança da conduta e a preocupação com o bem comum; 2. pautar a conduta pelo conjunto de valores civilizatórios, de modo a fundamentar as nossas opções entre o bem e o mal, o justo e o injusto, o certo e o errado. Entendidos em sentido coletivo.

27 Interatividade Aponte a expressão que relaciona mérito e dever com competência profissional: a) Dever é uma obrigação profissional para o mérito. b) A prática ética é um dever civilizatório, cujo mérito agrega valor tanto à cidadania quanto à vida profissional. c) É dever do profissional buscar o mérito na execução de suas tarefas para desenvolver suas competências. d) Para a competência profissional, o trabalhador tem o dever de buscar o mérito. e) A falta de mérito não é um problema para a competência profissional.

28 Liberdade e responsabilidade Liberdade gera responsabilidade por nossos atos e pelo bem viver dos outros, sobretudo os mais fracos e dependentes. Agir de acordo com os nossos deveres, assumindo nossas responsabilidades como cidadãos e profissionais nos levará a gerar laços de solidariedade.

29 Entretanto... Agimos quase automaticamente dentro daquelas normas de conduta que nos foram ensinadas pelo nosso entorno social ao longo de nossas vidas. Quase sempre sem reflexão.

30 Mas, por outro lado... Duas práticas distintas e antagônicas: a) de um lado, uma ética do capitalismo neoliberal (que inverteu a ética protestante original e colocou o poder no lugar do dever) competitivo, narcisista, individualista e centrado nas leis do mercado e regido pelo lucro; b) do outro, a ética da solidariedade, do amor ao próximo, do exercício da compaixão por toda a comunidade da vida, da tolerância para com o outro, e do bem comum.

31 É urgente que: Estejamos sempre refletindo na pertinência entre o que tenho a fazer e o que devo fazer. Examinemos constantemente as questões que se encontram em jogo nas nossas ações profissionais. Dizer não aos jeitinhos que podem levar ao prejuízo coletivo, à perda de direitos e finalmente a uma dilapidação profissional irreversível.

32 A coragem hoje consiste em: Colocar as práticas éticas em primeiro lugar permite estabelecer vínculos com o outro, com o sentido coletivo da vida. Agir no sentido de buscar soluções para as nossas preocupações políticas, sociais e econômicas. Tomar decisões éticas significa contribuir para o planejamento de nosso futuro comum.

33 Os desafios à prática da ética profissional Hoje, parafraseando Edgar Morin, a única certeza que temos é que não temos certeza. O campo de trabalho criou uma cultura do efêmero: as comunicações eletrônicas substituíram o senso de comunidade, os oportunismos substituem a confiança e a contratualidade.

34 Empregabilidade e adaptação A carreira tradicional (um único conjunto de qualificações) está fenecendo. Hoje, as organizações operam como estruturas em rede, sistêmicas e flexíveis, sem estruturação hierárquica rígida. Necessidade de desenvolver uma adaptabilidade profissional.

35 Cultura do individualismo As empresas tendem a deixar para o profissional a culpa por deslizes no campo ético. A cobrança social sobre a contabilidade e o profissional contador. É o profissional-alvo que recebe as demandas populares por ética.

36 A prática da ética profissional pressupõe saber: Os seres humanos são seres culturais por excelência. Construímos cultura, e ao mesmo tempo somos por ela construídos, graças aos recursos cognitivos da linguagem. g As práticas sociais são resultados dos simbolismos coletivos, da consciência coletiva e do universo imaginário coletivo, e diretamente influenciadas por eles.

37 Cuidados com a linguagem Ao mudarem as linguagens, mudam-se também os comportamentos. Ocorre um íntimo intercambiamento complexo entre conduta, visão de mundo e linguagens usuais. A linguagem respeitosa e ética contribui para as práticas éticas no mundo do trabalho.

38 Cuidar da linguagem: zelo profissional Devemos nos indignar eticamente quando as linguagens, aparentemente inocentes, utilizadas pelos nossos companheiros de trabalho ou por nós mesmos, denotarem um desrespeito à vida de qualquer espécie. Buscar resgatar a linguagem cordata, elegante, mansa e eficaz de nossos ancestrais na atividade profissional.

39 Desafios à ética profissional Dar respostas às angústias e aos sofrimentos da comunidade da vida na Terra em relação às incertezas e ameaças ao nosso futuro comum. Reconhece a existência do outro. A fraternidade é fruto da compaixão: só amamos quando nos reconhecemos. Reconhecer-se como parte integrante da comunidade da vida. E como diria i Renato Russo: disciplina i é liberdade, e compaixão é fortaleza.

40 Interatividade Reflita e assinale a alternativa pertinente: a) Os maiores males da relação profissional no cotidiano das empresas resultam do cooperativismo atual. b) É impossível propor uma prática da ética profissional para os tempos atuais, pois o capitalismo não permite. c) O desafio da prática ética na vida pessoal e profissional está diretamente relacionado ao futuro de toda a comunidade da vida. d) O profissional deve optar entre o sucesso econômico e o respeito à ética. e) Cabe a cada profissional desenvolver a rede de influência pessoal necessária ao seu trabalho.

41 ATÉ A PRÓXIMA!