EXMO. SR. DR. JUIZ DO TRABALHO DA VARA DE SANTA ROSA.

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1 EXMO. SR. DR. JUIZ DO TRABALHO DA VARA DE SANTA ROSA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO- Procuradoria do Trabalho do Município de Santo Ângelo, CNPJ nº / , com sede na Antunes Ribas, 1888, Centro, CEP , em Santo Ângelo, por seu órgão, Procurador do Trabalho que esta subscreve, vem perante V. Exa, nos termos dos arts. 127 e 129, inciso III, da Constituição da República, do art. 6º, inciso VII, alíneas a e d, combinado com o art. 83, incisos I e III da LC 75/93 e nas Leis 7.347/75 e 8.078/90, propor a presente, AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de antecipação dos efeitos da tutela inaudita altera parte, nos termos dos arts. 287 e 461 do CPC, dos arts. 12 e 19 da Lei 7.347/85 e art. 769 da CLT; em desfavor de DROGARIA CAPILÉ, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n.º / , estabelecida na Rua Rio Branco, 403, Centro, Santa Rosa, pelos fatos e fundamentos jurídicos que seguem: I DOS FATOS Foi remetido, pelo Ministério do Trabalho e Emprego, ofício referente a resilição de contrato de trabalho não homologada por este, sendo o empregador a ora ré, em face de constatação de fraude, com evidente simulação de despedida sem justa causa, propiciando indevidamente à empregada o saque de depósitos do FGTS e a percepção do seguro-desemprego. Conforme extrato bancário (doc. Anexo), fornecido pela própria empresa ao 1

2 MTE, verifica-se que a empregada Fabiola devolveu o valor referente a multa de 40% do FGTS que havia sacado, depositando tal valor em conta bancária da empresa. Desse modo, verifica-se que houve simulação de despedida sem justa causa. Ante a irregularidade acima noticiada, foi designada para o dia 22/11/2011 audiência administrativa com o intuito de possibilitar à investigada o ajustamento voluntário de sua conduta, à qual, requereu prazo para análise do Termo de Ajuste de Conduta. Decorrido o prazo, foi designada nova audiência a fim de firmar o referido termo, porém a empresa não concordou com a assinatura do mesmo, uma vez que a abrangência do termo se daria não somente a filial na qual ocorreu a fraude, mas sim a todas as filias que estivessem na abrangência da competência deste Órgão. Tal atitude demonstra, pela total falta de interesse da então investigada, a impossibilidade de solucionar administrativamente a questão, pelo que se impõe, por via lógica, a provocação da jurisdição como derradeira alternativa de assegurar-se, doravante, o cumprimento dos preceitos constitucionais/legais desrespeitados pela empresa ora demandada. II DO DIREITO a) DA COMPETÊNCIA. A ação proposta tem por escopo garantir o direito coletivo dos trabalhadores e a intangibilidade do ordenamento jurídico, em consonância com os preceitos constitucionais e infraconstitucionais. Por conseguinte, fixados pela norma constitucional os limites da competência trabalhista, como aquela oriunda de uma relação de trabalho, é imperioso, que no caso, a lide seja examinada pelo Judiciário Trabalhista art. 114 da Carta da República. Quanto à competência territorial desta MM. Vara, o Código de Defesa do Consumidor, aplicável ao caso por força do art. 21 da Lei da Ação Civil Pública é claro ao enunciar no seu art. 93, inciso I: I- no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano quando de âmbito local; 2

3 Logo, no presente caso a competência em razão da matéria e do foro restam delimitadas pelas normas constantes no art. 114 da Constituição Federal e no art. 93, inciso I, da Lei 8.078/90. b) DA LEGITIMIDADE. Por força da norma constitucional é dever do Ministério Público a proteção do ordenamento jurídico, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis - art. 127 da Constituição Federal. Mais adiante no seu art. 129 diz a Magna Carta: São funções institucionais do Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Na mesma esteira seguem as disposições da Lei Complementar 75/93, que disciplina a atividade do Ministério Público da União, destacando as regras dos arts. 6º e 83, ipsis litteris: Art. 6º. Compete ao Ministério Público da União: VII - promover o inquérito civil público e a ação civil pública para: a) a proteção dos direitos constitucionais; d) outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos; Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho: III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos; 3

4 No mesmo diapasão, o art. 5º da Lei no 7.347/85, ao estabelecer a titularidade ativa do Parquet para a propositura da Ação Civil Pública diz: Art. 5º. A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista que: ( ) Logo, a propositura da Ação Civil Pública, quando presente qualquer lesão a um interesse difuso ou coletivo art. 81, incisos II e III, da Lei 8.078/90, em especial, aos direitos de caráter indisponível, não se constitui em um direito, mas sim num dever do Parquet, na qualidade de defensor do interesse público e do ordenamento jurídico, uma vez que a Constituição Federal o elegeu como de essencial relevância na proteção dos interesses fundamentais e indispensáveis ao Estado Democrático de Direito. c) Da Tutela Jurisdicional Pleiteada A presente ação, à exceção do pedido de dano moral coletivo, almeja tutela jurisdicional de natureza INIBITÓRIA, de caráter preventivo e voltado para o futuro, consistente em obrigação de abster-se, podendo ser dirigida, dependendo da situação concreta, contra a prática, a continuação ou a repetição de ato contrário ao direito. No que tange à hipótese dos autos, o que se quer é que, mediante a fixação de multa cominatória a ser observada doravante pela ré - cujo cumprimento restará assegurado pela veiculação de provimento cominatório -, seja cessada a prática ilícita que vem sendo perpetrada pela demandada, ou, então, seja cessada a potencialidade de repetição do ato lesivo ao direito que vinha sendo por ela praticado. d) Das Ofensas à Ordem Jurídica Trabalhista d.1) Simulação de resilição sem justa causa Nos termos do art. 166, VI do CC, considera-se nulo o negócio jurídico quando tiver por objetivo fraudar lei imperativa, bem como haverá simulação quando contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira, conforme art. 167, 1º, II do CC. Neste sentido, o art. 9º da CLT, estabelece que serão nulos de pleno direito os atos praticados 4

5 com o objetivo de desvirtuar, ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos naquela consolidação. A empresa estabeleceu com o empregado o popular acordo em que por solicitação deste, aquela o demite sem justa causa para possibilitar o saque do FGTS e a percepção de seguro-desemprego. Assim, com base nos documentos apresentados pelo MTE, a atitude da ré é fraudulenta e representa crime contra o Fundo de Amparo ao Trabalhador FAT, respondendo pelos seus atos. Desse modo, tal conduta se enquadra nos dispositivos supra, devendo ser a demandada compelida a ajustar sua conduta. IV. DO DANO MORAL COLETIVO O dano moral coletivo visa indenizar os prejuízos ocasionados à sociedade pelo comportamento ilícito da empresa ré, tendo como objetivo principal, não a dor que sente o indivíduo lesado, mas sim a lesão imaterial que atinge toda uma coletividade. É neste contexto que surge o dano moral coletivo que, segundo Carlos Alberto Bittar Filho, in Do Dano Moral Coletivo no Atual Contexto Jurídico Brasileiro, Revista Direito do Consumidor, nº 12, out-dez/1994, (...) é a injusta lesão da esfera moral de uma dada comunidade, ou seja, é a violação antijurídica de um determinado círculo de valores coletivos. Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade (maior ou menor), idealmente considerada, foi agredido de uma maneira absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico... Como se dá na seara do dano moral individual, aqui também não há que se cogitar de prova de culpa, devendo-se responsabilizar o agente pelo simples fato da violação. A Lei da Ação Civil Pública 7347/85 - é expressa no seu art. 1, ipssis litteris, ao admitir o dano moral coletivo: Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados. A responsabilização na hipótese de dano moral coletivo não tem apenas função compensatória, ante a impossibilidade de ressarcir algo que não tem equivalência econômica, tem 5

6 também função sancionatória-punitiva anestesiar o dano. Destaque-se que tal indenização, em se tratando de lesões à ordem jurídica trabalhista, deve ser revertida para o Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT, entendendose como valor razoável, tomados como parâmetros a natureza, a extensão e a gravidade das lesões (caráter compensatório), bem como a capacidade econômica do ofensor (caráter punitivo-pedagógico), a quantia de R$ ,00 (cinquenta mil reais). V DO DEFERIMENTO LIMINAR DO PEDIDO Levando-se em conta a necessidade de se obter um provimento jurisdicional célere e efetivo, principalmente por se tratar de tutela coletiva, a Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) foi uma das primeiras a permitir a concessão liminar do pedido, ou seja, o caráter satisfativo sem o exaurimento do processo de conhecimento. A previsão está no art. 12 da aludida lei. Posteriormente, a Lei 8.952/94, que alterou a redação de diversos artigos do Código de Processo Civil, adotou procedimento semelhante, conforme se verifica dos arts. 273 e 461 (este específico para as ações que visem ao cumprimento de obrigações de fazer e não fazer), que preveem a possibilidade de antecipar os efeitos da tutela, liminarmente. No caso, a situação fática acima descrita e o relatório encaminhado pela Gerência Regional do Trabalho e Emprego, aliados ao desinteresse da investigada em ajustar sua conduta, conforme faculta o art. 5º, 6º, da Lei 7.347/85, consubstanciam prova inequívoca, hábil a comprovar os fundamentos fático e jurídico da demanda. O segundo pressuposto também está satisfeito, pois, em vir a ser dada concretização ao comando sentencial provedor do pedido apenas após o trânsito em julgado da sentença, ter-se-á o irreparável prejuízo relativamente ao período pretérito, correspondente à normalmente longa tramitação da reclamatória, em que os preceitos legais violados assim permanecerão, com potencialidade de produção de uma série de danos ao ordenamento jurídico laboral e ao FAT. Nessas circunstâncias, a concessão da antecipação dos efeitos da tutela, de forma liminar, é medida que naturalmente se impõe. 6

7 VI - DO PEDIDO A Ação Civil Pública tem por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer - art. 3º da Lei 7.347/85. No caso da presente ação, a fim de eficazmente tutelar os bens jurídicos protegidos existe uma cumulação objetiva, com pedidos de dar, fazer e não fazer. ANTE O EXPOSTO, O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PEDE: 1) EM CARÁTER PROVISÓRIO a) a concessão da tutela antecipada, mediante mandado liminar, inaudita altera pars, para determinar que a demandada: a.1) ABSTENHA-SE de promover a dissolução fraudulenta do contrato de trabalho de seus empregados, sob pena de multa cominatória de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por trabalhador envolvido, revertendo o valor ao FAT, nos termos do art. 11, V, da Lei 7998/90; a.2) ABSTENHA-SE de praticar quaisquer atos que possam colaborar para que o empregado usufrua do benefício do seguro-desemprego de forma indevida, sob pena de multa cominatória de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por trabalhador envolvido, revertendo o valor ao FAT, nos termos do art. 11, V, da Lei 7998/90. 2) EM CARÁTER DEFINITIVO: a) a confirmação da antecipação dos efeitos da tutela; b) a condenação na forma do art. 461 do CPC, c/c o art. 11 da Lei 7.347/85, a fim de que a ré abstenha-se de promover a rescisão fraudulenta do contrato de trabalho de seus empregados, sob pena de multa cominatória de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por trabalhador envolvido, revertendo o valor ao FAT, nos termos do art. 11, V, da Lei 7998/90; c) a condenação na forma do art. 461 do CPC, c/c o art. 11 da Lei 7.347/85, a fim de que a ré abstenha-se de praticar quaisquer atos que possam colaborar para que o empregado usufrua do benefício do seguro-desemprego de forma indevida, sob pena de multa cominatória de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por trabalhador envolvido, revertendo o valor ao 7

8 FAT, nos termos do art. 11, V, da Lei 7998/90; d) a condenação da ré ao pagamento de indenização no valor de R$ ,00 (cinquenta mil reais), como reparação genérica da lesão à ordem jurídica a reverter o valor ao Fundo de Amparo do Trabalhador, nos termos do art. 11, V, da Lei 7998/90. 3) REQUERIMENTOS: confissão; a) a citação da Ré para, querendo, oferecer defesa, sob pena de revelia e b) intimação pessoal do órgão do Ministério Público do Trabalho, nos autos, a teor do art. 18, II, h, da Lei n. 75/93; c) a produção de todos os meios de prova em direito admitidas, especialmente o depoimento pessoal do presentante da ré e a oitiva de testemunhas; Valor da causa: R$ ,00 (sessenta mil reais) Santo Ângelo, 12 de junho de MARCELO GOULART Procurador do Trabalho 8