AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 865. JURANDYR REIS JUNIOR RELATORA DESIGNADA : DES. DENISE KRÜGER PEREIRA

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº , DE CASCAVEL - 1ª VARA CÍVEL AGRAVANTE : UNIMED CASCAVEL COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO AGRAVADO : VALDIR BILIBIO RELATOR ORIGINÁRIO : DES. JURANDYR REIS JUNIOR RELATORA DESIGNADA : DES. DENISE KRÜGER PEREIRA AGRAVO DE INSTRUMENTO PLANO DE SAÚDE DECISÃO QUE ANTECIPOU OS EFEITOS DA TUTELA, DETERMINANDO À REQUERIDA QUE CUSTEIE A CIRURGIA ARTRODEZE POSTERIOR + DESCOMPRESSÃO MEDULAR + RETIRADA DE MATERIAL DE SÍNTESE PLEITEADA PELA PARTE AUTORA ANTECIPAÇÃO QUE PRESSUPÕE A VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES E O RISCO DE LESÃO GRAVE OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO EXEGESE DO ART. 273 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL PRESSUPOSTOS NÃO CONFIGURADOS EXISTÊNCIA DE PARECER MÉDICO DE AUDITOR QUE APONTA CONTRA-INDICAÇÃO DO PROCEDIMENTO À MOLÉSTIA DA PARTE AUTORA, COLOCANDO-A EM RISCO CONTRATO QUE, AMPARADO PELA RAZOABILIDADE, REMETE TAIS CASOS EM QUE HÁ DIVERGÊNCIA MÉDICA À UMA JUNTA MÉDICA IMPOSSIBILIDADE, POR ORA, DE SE DETERMINAR A CIRURGIA PLEITEADA, QUE PODE VIR A CAUSAR DANOS AO PRÓPRIO AGRAVANTE DADOS QUE NÃO FORAM INFORMADOS NA PETIÇÃO INICIAL, INDUZIDO O JUÍZO SINGULAR A ERRO AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO ACERCA DO PERIGO DE LESÃO GRAVE E DE DIFÍCIL REPARAÇÃO, ADEMAIS ATESTADOS MÉDICOS E DOCUMENTOS QUE COMPROVAM SOMENTE A AUSÊNCIA DE MELHORA COM O TRATAMENTO CLÍNICO DECISÃO REFORMADA Página 1 de 8

2 Agravo de Instrumento nº fls. 2 AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , de Cascavel - 1ª Vara Cível, em que é Agravante UNIMED CASCAVEL COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO e Agravado VALDIR BILIBIO. I - Trata-se de agravo de instrumento interposto por UNIMED CASCAVEL COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO, visando à reforma da decisão interlocutória (f. 165 e verso TJ) proferida em autos de ação de obrigação de fazer c/c tutela antecipada proposta por VALDIR BILIBIO, que, considerando presentes os requisitos do art. 273 do Código de Processo Civil, deferiu a antecipação pretendida, para o fim de determinar que a Requerida autorize a cirurgia solicitada. O agravante interpôs o presente recurso alegando, em síntese: (a) trata-se de uma segunda cirurgia exatamente igual a já realizada pelo agravado no ano de 2009, qual seja: artrodeze posterior + descompressão medular + retirada de material de síntese ; (b) observando a recomendação da ANS e do previsto no contrato (clausula 20.14), encaminhou o caso para a GESTÃO TÉCNICA SERVIÇOS DE SAÚDE AUDITORIA DE COLUNA para emitir um parecer favorável ou não à cirurgia; (c) o médico especialista em cirurgia da coluna, Dr. Paulo Eduardo de Carvalho Galvão, CRM , emitiu parecer no sentido de existir contra indicação na realização de novo procedimento; (d) em conformidade com a cláusula 20.14, o artigo 4º inciso V da Resolução do CONSU nº 08 de 03 de novembro de 1998 e artigo 18, 2º, inciso III, da RN nº 211 editada pela ANS, a agravante possui direito a ver instaurada uma junta médica para a emissão Página 2 de 8

3 Agravo de Instrumento nº fls. 3 de um terceiro parecer; (e) situação que se deu no presente feito, eis que a agravante teve um parecer técnico no sentido de que a cirurgia solicitada pelo agravado não é recomendada, enquanto este último teve recomendação de seu médico pessoal em sentido contrário, sendo plenamente legal a constituição de uma junta médica; (f) a agravante encaminhou ao agravado documentação necessária para que fosse instalada uma junta médica; (g) todavia, o agravado ajuizou a presente demanda, mesmo não tendo havido a recusa injustificada da Unimed; h) pleiteou a concessão do efeito suspensivo ao recurso, eis que não se trata de uma medida de urgência; i) por fim, pugna pelo provimento do recurso. foi deferido (f. 298/303 TJ). O pedido de atribuição de efeito suspensivo ao recurso às fls. 320/328. Foram apresentadas contrarrazões pela parte agravada, julgamento do mérito recursal. Por fim, os autos vieram conclusos para análise e É a breve exposição. II - VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO: Presentes os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal, conheço do recurso interposto. A controvérsia recursal está pautada na possibilidade de antecipação dos efeitos da tutela, deferida pelo Juízo Singular para o fim de determinar à requerida/agravante que custeie a cirurgia artrodese posterior + Página 3 de 8

4 Agravo de Instrumento nº fls. 4 descompreensão medular + retirada de material de síntese pleiteada pela requerente/agravada, sob pena de multa diária. Pois bem. Sobre o tema, esclarece-nos o legislador no artigo 273 do Código de Processo Civil que o juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e (...) haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação ou fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. É dizer: a tutela antecipatória pressupõe a satisfação de dois requisitos básicos, quais sejam (i) alegação verossímil, aferível a partir da existência de prova inequívoca, e (ii) fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. No entendimento de Luiz Guilherme Marinoni, a denominada prova inequívoca, capaz de convencer o juiz da verossimilhança da alegação, somente pode ser entendida como a prova suficiente para o surgimento do verossímil, entendido como o não suficiente para a declaração da existência ou da inexistência do direito 1. Nesse contexto, não custa lembrar que estamos a tratar de análise que se faz conforme o estado do processo, à qual se liga intimamente as premissas fáticas apontadas pelos litigantes. E, no caso, entendo não estarem configurados os requisitos supracitados, afastando-se a antecipação da tutela admitida pela decisão agravada. Consoante já deliberado em sede liminar, tenho que, por 1 MARINONI, Luiz Guilherme. Processo de conhecimento. 7.ed. rev e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p.211. Página 4 de 8

5 Agravo de Instrumento nº fls. 5 ora, ausente o requisito da verossimilhança das alegações da requerente/agravada. Não só pela aparência do direito extraído da cláusula nº do contrato firmado entre as partes (fundado em resoluções normativas da Agência Nacional de Saúde Suplementar), que permite que a contratada exija perícia médica em situações de divergência médica, competindo a definição do impasse por meio de junta médica eleita pelas próprias partes, mas, sobretudo, pelas questões fáticas a seguir apontadas. Refiro-me às conclusões (a) de que o agravado já realizou uma cirurgia deste tipo, causando estranheza a necessidade de nova cirurgia, mesmo que seja em partes diversas da coluna; (b) a constatação de que o médico que solicita o exame não faz parte do quadro de conveniados da requerida; e, especialmente, (c) a existência de parecer médico esclarecendo a possível piora no quadro no paciente acaso seja liberada a cirurgia pleiteada. Respeitando-se opiniões diversas, entendo por temerária a situação em que o Magistrado determine a imperativa autorização de uma cirurgia quando há notícias de que o procedimento cirúrgico pode ser danoso ao envolvido. Nesse contexto é que, até mesmo como forma de precaução, absolutamente razoável a necessidade de realização, com máxima urgência, de uma junta médica que tenha por objetivo averiguar se possível e recomendável a realização de nova cirurgia ao agravado. De se lembrar, aliás, que pelo menos desde o dia 17 de novembro de 2011 (cerca de dois meses atrás) está a parte autora ciente de seu direito de obter parecer médico de uma junta médica, conforme faz prova os s juntados às f E, não custa relembrar, tal junta seria composta pelo médico da parte autora, por um médico da requerida e por um terceiro médico escolhido em comum acordo entre os envolvidos. Tanto é assim que no documento de f. 212 há espaço para indicação de um médico de sua indicação. Página 5 de 8

6 Agravo de Instrumento nº fls. 6 Sobre o tema, o agravado frisa que não poderia esperar mais tempo ainda, para que fosse montada uma banca pelo Agravante, que iria avaliar e tomar nova decisão que poderia ser negativa e que seu médico iria sair de férias no começo de dezembro e não seria possível formar tal banca de forma rápida e obter uma resposta (f. 324). Ora, se o que prejudica o direito do autor é a necessidade de urgência no tratamento, que sequer pode esperar a junta médica em discussão, porque tal exigência por parte da requerida não foi incluída na inicial de forma clara e objetiva? Mais do que isso: se o estado de saúde da parte autora era de tamanha urgência, como pode se dar ao luxo de simplesmente negar a participar de tal procedimento, que poderia há meses ter dado fim à discussão? Aqui, aliás, forçoso lembrar que a petição inicial da ação foi protocolada em , período posterior a informação de que a cirurgia poderia causar danos à requerente, a qual motiva a não indicação do procedimento cirúrgico e o consequente encaminhamento à junta médica (informação repassada à autora em , conforme de f. 210), a qual retirou do Juízo Singular a possibilidade de conhecimento de questão imprescindível à solução da controvérsia liminar a ele apresentada. E que não se sustente que o relatório médico juntado aos autos pelo Agravante às f. 243/244 não deve ser considerado por não ser médico especialista na área e por ter se baseado unicamente em exames médicos apresentados pela agravada quando notificou o plano de saúde. Em primeiro lugar, porque o laudo foi por médico auditor competente, não se exigindo dele que seja especialista nas áreas auditadas. Em segundo lugar, porque, como esclarecido no próprio laudo, decorre seu laudo dos exames Página 6 de 8

7 Agravo de Instrumento nº fls. 7 médicos a ele apresentados pela própria agravada, quando do pedido administrativo (f. 126/130). Desta forma, diante da controvérsia acerca da necessidade e do risco da referida cirurgia, impossível, por ora, manter a decisão agravada que deferira a antecipação da tutela. Ainda, quanto ao segundo requisito, relacionada ao risco de lesão grave ou de difícil reparação, saliente-se que não há nos autos qualquer comprovação acerca da urgência na realização da cirurgia, sendo somente indicada a ausência de melhora no tratamento clinico, sem, contudo, demonstrar a necessidade imediata de cirurgia. Friso aqui, inclusive, que na própria guia de solicitação encaminhada à requerida não há indicação de que a cirurgia seja de urgência ou emergência, mas sim de natureza eletiva (f. 26, campo 22). Todavia, em havendo alegações da parte agravada quanto a dor e ao sofrimento que supostamente vem passando, de se destacar a importância da pronta realização da junta médica supracitada, a fim de apurar de maneira consistente a imprescindibilidade e os riscos da cirurgia pretendida, tutelando assim o direito à saúde da parte, previsto constitucionalmente. Ante o exposto, considerando-se que, no momento, no não se encontram configuradas a verossimilhança das alegações e o risco de lesão grave ou de difícil reparação, justificada é a reforma da decisão agravada, que antecipou os efeitos da tutela jurisdicional pretendida pela parte autora. Em face disso, o voto é pelo provimento do agravo de instrumento, reformando-se a decisão interlocutória recorrida, haja vista Página 7 de 8

8 Agravo de Instrumento nº fls. 8 o risco de lesão à saúde que o procedimento cirúrgico liberado pode vir a a causar na agravante. III - DECISÃO: Diante do exposto, acordam os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto da relatora. Presidiu o julgamento o Desembargador João Domingos Kuster Puppi, com voto, e dele participou o Desembargador Guimarães da Costa. Curitiba, 08 de março de DESª DENISE KRÜGER PEREIRA Relatora Designada Página 8 de 8