CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA
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- João Monteiro Frade
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1 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA EMENTA: RECURSO EM SINDICÂNCIA. PRELIMINARES NÃO ARGUIDAS. NÃO OCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO. ILEGITIMIDADE DO PROSUS EM RECORRER É legalmente impossível que o Ministério Público figure no pólo ativo de um procedimento ético disciplinar e, sobretudo, como capaz de recorrer das decisões, pois estaríamos admitindo-o como substituto processual, no âmbito do direito individual do cidadão, o que foge completamente de suas atribuições e que subestima a própria atribuição legal do defensor público e, em especial, a do advogado. Portanto, a Lei Complementar n. 75/93 não autoriza o PROSUS a recorrer das decisões do CRM s. Referência: Recurso em Sindicância nº. 3204/2003 Origem (0048/99) Nota Técnica RS -CFM nº 01/2004, da Assessoria Jurídica Aprovada em Reunião de Diretoria do dia 7/1/2004. I -Relatório O Senhor Corregedor encaminha os autos da Sindicância n. 3204/2003 a esta Assessoria Jurídica, para análise de juízo de admissibilidade e de possíveis preliminares levantadas pela parte recorrente ou, ainda, para examinar questões prejudiciais de mérito. Procedimento este, o que vale esclarecer, usual em todos os processos éticos e sindicâncias que são protocolizadas neste Tribunal Superior de Ética Médica. Trata-se de recurso de apelação interposto pela PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DA SAÚDE - PROSUS, nos autos da Sindicância n. 3204/2003, contra acórdão proferido pelo Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal CRM-DF, que decidiu a sua Segunda Câmara, por unanimidade de seus julgadores, pelo arquivamento dos autos, por falta de indícios de infração ética. A sindicância, fls 02., foi instaurada por reclamação formulada junto ao PROSUS, tendo como denunciante a Sra. Antonia Pereira de Souza e encaminhada ao Conselho Regional de Medicina, em 29 de março de 1999.
2 O procedimento administrativo (sindicância) transcorreu com a apuração de fatos e provas, que resultou no parecer conclusivo do Relator e julgamento pelo plenário do Conselho Regional, conforme determina o art. 7º do Código de Processo-Ético Profissional (Resolução CFM n /01). Da decisão de fls. 237 a 241, as partes denunciadas foram intimadas do arquivamento da Sindicância e da possibilidade de recorrer ao Conselho Federal de Medicina. As fls. 274, consta intimação do CRM-DF ao PROSUS notificando-o, em , da decisão e, estranhamente, da possibilidade recursal. Não consta dos autos a intimação da decisão do CRM a Sra. Antonia Pereira de Souza, então denunciante, e, tão-pouco, a protocolização do seu recurso. interposto pela PROVIDA, em As fls. 277 a 292, encontra-se recurso de apelação II Parecer Compulsando os autos, ab initio, antes mesmo de efetuar a contagem para fins de apurar a tempestividade do único recurso de apelação, este interposto pela PRÓ-VIDA, nos deparamos com um caso inédito neste Tribunal, qual seja a interposição de recurso pelo Ministério Público Federal e a não interposição pela própria parte denunciante, que não se manifestou, visto que não foi devidamente intimada por descuido do próprio CRM. Com todo o respeito que este Tribunal Superior de Ética Médica nutri pelos Órgãos de integração entre a Procuradoria-Geral de Justiça e os Promotores de Justiça do Distrito Federal, que são as Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde (Parágrafo Único, art. 221 da Portaria n. 413/03 da PGRDF), a falta de legitimidade para interpor o supramencionado recurso saltou aos olhos desta Assessoria Jurídica, que se ateve com muito zelo ao estudo da matéria, senão vejamos. Buscou-se, inicialmente, por imposição da hierarquia das normas, nas atribuições do Ministério Público relacionadas na Constituição Federal, 2
3 nos artigos 107 e 129, a legitimidade do PROSUS em interpor incomum recurso.. Das inúmeras atribuições constitucionais, apuramos que o respeitável órgão do parquet agrega para si competências fundamentais para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127). Entretanto, entre as atribuições do art. 127 e as elencadas no art. 129 não encontramos a possibilidade legal de interposição de recurso administrativo em defesa de denunciante em Processo disciplinar. Apuramos, todavia, no 5º, inciso II do art. 128 que: Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores- Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:. (grifo) Portanto, seguimos o estudo buscando nas leis complementares da União e dos Estados outras atribuições que dessem acolhida a legitimidade do Ministério Público para recorrer a este Tribunal Superior com o intuito de salvaguardar interesses da denunciante. E, a Lei Complementar n. 75, de maior de 1993, que dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União, permitiu-nos refletir a respeito da falta de legitimidade do Ministério Público, no tocante à matéria, quando o art. 1º. incumbiu-lhe a defesa dos interesses sociais e dos interesses individuais indisponíveis, mas, no entanto, o inciso III do art. 7º. limitou-o a requisitar à autoridade competente a instauração de procedimentos administrativos, ressalvados os de natureza disciplinar, podendo acompanhá-los e produzir provas. E, ainda, reforçando o entendimento da ilegitimidade, o art. 15 vedou aos órgãos de defesa dos direitos constitucionais do cidadão promover em juízo a defesa de direitos individuais lesados. Logo, temos que um dos argumentos que fortalece a posição da ilegitimidade é que o órgão do Parquet deve ser entendido, não com o objetivo de proteção e defesa de interesse individual de uma única pessoa, mas como o órgão de proteção de interesses difusos, coletivos, individuais e homogêneos, ou seja, de toda a massa de pessoas necessitadas da prestação jurisdicional. 3
4 Outro argumento apresentado para a ilegitimidade do Ministério Público, é quanto à natureza do direito tutelado, pois em matéria administrativa e, em especial, os de natureza disciplinar, não está autorizado legalmente a defender o denunciante, e, conseqüentemente, não tem capacidade para recorrer de qualquer decisão desfavorável a este. Tal raciocínio é contemplado pelo 2º, do art. 15 da mesma Lei Complementar, quando dispõe que Sempre que o titular do direito lesado não puder constituir advogado e a ação cabível não incumbir ao Ministério Público, o caso, com os elementos colhidos, será encaminhado à Defensoria Pública.. Evidente que não estamos aqui, de maneira alguma, relevando a competência do Ministério Público para a apresentação da denúncia aos Conselhos Regionais, pois essa tarefa é, inclusive, de todos os cidadãos brasileiros e entidades e órgãos públicos, sob pena de crime de omissão. Mas, considerar como legalmente possível que o Ministério Público figure no pólo ativo de um procedimento ético disciplinar e, sobretudo, como capaz de recorrer das decisões, é admiti-lo como substituto processual, no âmbito do direito individual do cidadão. O que foge completamente das suas atribuições e que subestima a própria atribuição legal do defensor público e, sobretudo, do advogado. Ademais, as atribuições constantes da Portaria n. 413/2003 que cria e reforça as atribuições constitucionais da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde PROSUS, igualmente não prevê tal possibilidade. Portanto, não vislumbramos, mesmo que sopesando a intenção benevolente do Órgão do Parquet, a sua legitimidade em ser parte nos autos da sindicância e, com maior vigor, não encontramos autorização legal para o mesmo recorrer da decisão do CRM, em nome da denunciante. Logo, no que se refere ao juízo de admissibilidade recursal, opinamos pelo não conhecimento do recurso por falta de legitimidade da parte recorrente. No entanto, nos parece, na verdade, que o grande equivoco recursal foi provocado pelo próprio CRM, o qual intimou o PROSUS dando literalmente oportunidade para tal ato. Certamente, por descuido do Setor que emite as intimações. 4
5 Mas o equívoco não autoriza em qualquer hipótese um ato sem legalidade, sem legitimidade. Portanto, não convalidaria jamais o recurso do PROSUS. Conclui-se, portanto, que os atos praticados na Sindicância encontram-se nulos desde a intimação do PROSUS, o qual deverá ser notificado do equívoco e, consequentemente, da sua ilegitimidade em recorrer. E, lógico, deverá ser apenas notificado da decisão. Outrossim, a parte denunciante deverá ser corretamente intimada pelo CRM. Por fim, por amor à boa técnica processual, mesmo pensando ser desnecessário, apreciamos a tempestividade do recurso. O recorrente foi intimado a recorrer em e protocolizou o recurso em , ou seja, dentro do prazo legal de 30 dias. Não existem preliminares na peça recursal. E, quanto à prescrição da pretensão punitiva, a mesma não ultrapassou os cinco anos previstos na Lei, prazo contado, neste caso, a partir da protocolização da defesa. III Conclusão Assim, opinamos pelo não conhecimento do recurso, visto ter sido protocolizado por parte ilegítima. E, por conseqüência, os autos devem retornar ao Conselho Regional de Medicina para que o mesmo anule todos os seus atos praticados a partir da intimação do PROSUS e intime corretamente à parte denunciada. É o parecer, S.M.J., Brasília, 05 de janeiro de Giselle Crosara Lettieri Gracindo Assessora-Chefe da Assessoria Jurídica NTRS MP Ilegitimidade PROSUS 5
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