Segunda Guerra do Golfo

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1 51 O emprego do GPS na Segunda Guerra do Golfo Valmor Dornelles Júnior* Resumo A utilização do Sistema de Posicionamento Global (GPS) Norte-Americano na Segunda guerra do Golfo: as suas possibilidades de emprego militar, um breve histórico, o funcionamento em linhas gerais e algumas hipóteses para explicar as limitações de emprego. Palavras-chave: GPS. Sistema de Posicionamento Global. Comunicações. Satélites. Guerra. Conflito. Locação. Navegação. Munição inteligente. Interferência. Interferidores. Tempestades de areia. O campo de batalha realmente inicia aqui. O espaço é criticamente importante para a segurança nacional e simplesmente não se pode lutar na guerra sem isso. Essas palavras foram ditas pelo general Greg Pavlovich, comandante do 45 o Esquadrão da Força Aérea americana ao comentar sobre o lançamento de mais um satélite da constelação do GPS, no dia 31 de março de 2003 (GPS WORLD WEBSITE, 2003). O comentário é pertinente. Afinal, entre as várias aplicações do GPS, é através dele que os militares norte-americanos realizam as seguintes atividades: definição da locação precisa no terreno; navegação no deserto; * Capitão de comunicações, Mestre em Operaçãoes Militares (EsAO), Aperfeiçoado em Comunicações pelo Exército dos Estados Unidos.

2 52 localização de radares inimigos; monitoração de submarinos; localização de minas; marcação de alvos para artilharia; defesa aérea; bombardeio de aeronaves (segundo o major-general Stanley McChrystal, vice-diretor de operações do Estado-Maior dos EUA, 3 mil bombas guiadas de precisão foram despejadas somente no período de 21 a 24 de março de 2003 em ataques aéreos sobre Bagdá) (REUTERS, 2003); orientação e controle de mísseis balísticos (navios de guerra norte-americanos dispararam mais de 700 mísseis cruzeiro Tomahawk do início da guerra até o dia 31 de março de 2003) (REUTERS, 2003). O Sistema de Posicionamento Global, ou GPS (Global Positioning System), é um sistema que oferece a possibilidade de localização em qualquer ponto da superfície terrestre com coordenadas de latitude, longitude e altitude. O GPS foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos EUA no início da década de Em 1991, durante a primeira guerra do Golfo, o sistema ainda não estava completo. Percebendo a importância do GPS, o Governo americano priorizou o projeto, tornando-o totalmente operacional em l995, após um gasto de aproximadamente U$10 bilhões. Atualmente o GPS é baseado em uma constelação de no mínimo 24 satélites que cobrem toda a superfície terrestre. Os satélites foram sendo desenvolvidos e lançados gradativamente, de acordo com as disponibilidades financeiras do projeto e acompanhando o desenvolvimen-

3 53 to tecnológico do passar dos anos. Desse modo, cada geração de satélites do GPS vem agregando maiores recursos e possibilidades. O 28 o satélite em funcionamento, conforme destacado anteriormente, foi lançado no dia 31 de março de 2003, e em duas semanas já estava ajudando no esforço de guerra americano no Iraque. O funcionamento do sistema se baseia numa cobertura mundial. Cada fatia do globo terrestre é coberta por seis a dez satélites. Na terra, o usuário possui um aparelho receptor que vai sintonizar com pelo menos quatro satélites que cobrem sua área. Figura 1 Navegação com o GPS Fonte: Freitas (2000?) O GPS calcula o posicionamento do usuário baseado no tempo que a onda de rádio leva para chegar até o aparelho receptor. O lapso de tempo entre emissão pelo satélite e recepção pelo usuário serve para calcular a distância que o usuário está do satélite e, em conseqüência, sua

4 54 localização. Como o sistema depende do parâmetro tempo, cada satélite possui um relógio atômico e todos os relógios são perfeitamente sincronizados. A precisão do sistema desde os seus primeiros anos de funcionamento já era excelente, variando no máximo em 15 metros. Preservando para uso dos militares a utilização plena do sistema, o Departamento de defesa norteamericano autorizou a criação de uma imprecisão artificial e, em 1980, os serviços do GPS foram oferecidos aos civis e a outros países (GARMIN, ). Até o ano 2000, os receptores GPS de uso militar norte-americano tinham precisão de um metro ou menos, enquanto os de uso civil, de 15 a 100 metros ou mais. A abertura ao mercado mundial rendeu e continua rendendo bilhões ao Governo americano e incrementou ainda mais o desenvolvimento do GPS. Desde 2000 foi abolida a imprecisão artificial (ESTADOS UNIDOS, 2002), sob a alegação de facilitar as ações científicas e humanitárias (por exemplo, para que uma equipe de resgate possa localizar mais facilmente pessoas acidentadas). Mesmo assim, permaneceu a possibilidade da mudança na acurácia do receptor civil, ou mesmo a obstrução de seu funcionamento, mediante o controle da constelação de satélites exercido pelos Estados Unidos (2003). Os equipamentos receptores apresentam diferentes graus de precisão, especialmente pelas diferenças de tecnologia e sujeição a fontes de interferência. Os equipamentos militares, apesar da excelente precisão obtida em condições ideais, também estão sujeitos a variações na precisão. As principais fontes de erro, nesse caso, são o erro de propagação na ionosfera, a presença de ruído próximo ao aparelho receptor, a reflexão do sinal de satélite em algum outro local e até mesmo defeitos no aparelho receptor (DANA, 1999). Para explicar as limitações na precisão dos exaustivamente propagandeados bombardeios cirúrgicos, duran-

5 55 te o conflito do corrente ano no Iraque, há várias hipóteses ao tratarmos de equipamento cujo sistema de navegação utilizado é o GPS. Além da possibilidade de falha humana ou falha intencional, é interessante destacar: 1 Tempestades de areia O tempo de propagação das ondas de rádio é fator fundamental para a determinação das coordenadas de localização. As variações na composição da ionosfera fazem com que a onda muitas vezes sofra pequenas refrações e demore mais tempo para chegar ao aparelho receptor e vice-versa. Da mesma forma, uma variação na composição da troposfera também poderia afetar a precisão do sistema. As tempestades de areia poderiam não só ter impedido o monitoramento visual da zona de ação, como também ter impossibilitado a precisão do GPS. As nuvens de areia, lançando os grãos na atmosfera ora como obstáculos, ora como refletores dos sinais de rádio para outra direção, poderiam provocar uma alteração significativa no funcionamento do sistema. 2 Campos eletromagnéticos gerados com os bombardeios Os bombardeios sobre áreas edificadas poderiam interferir momentaneamente na precisão do sistema de guiagem baseado no GPS, em face da possível geração de ruídos eletromagnéticos causados pela detonação dos artefatos sobre as redes elétrica e de telefonia em funcionamento. Com isso, num bombardeio continuado, os últimos mísseis, ou bombas, poderiam ter sua precisão diminuída em relação aos primeiros.

6 56 3 Aparelhos interferidores A utilização de aparelhos interferidores pelo Iraque, capazes de gerar freqüências UHF com a potência e o direcionamento necessários para alcançarem os mísseis, também poderia afetar o seu sistema de navegação. Essa possibilidade foi amplamente divulgada pela imprensa, especialmente depois que uma fonte anônima declarou que havia uma equipe de técnicos russos atuando em Bagdá, auxiliando no emprego de interferidores comprados da Rússia. Os norte-americanos, por outro lado, não admitiram a interferência, alegando que os mísseis possuíam uma blindagem anti interferência e um sistema de navegação próprio, para uso independente do GPS. De qualquer forma, o major-general Victor Renuarton, do exército norte-americano, declarou em entrevista no dia 25 de março de 2003 que os Estados Unidos destruíram seis sistemas de embaralhamento de informações de posicionamentos via satélite, em uso pelos iraquianos (REUTERS, 2003). 4 Ruído proveniente da malha de equipamentos eletrônicos A grande quantidade de equipamentos eletrônicos em uso pelo aliados e pela imprensa internacional poderia causar emissão de radiofreqüência (ruído) indesejável. Esse ruído poderia interferir nos sistemas de navegação baseados no GPS, do mesmo modo que os aparelhos interferidores construídos especialmente para esse fim. O GPS é uma idéia antiga que obteve ao longo de anos de experimentação a comprovação de sua eficiência e precisão. O Governo norte-americano já planeja o lançamento da quarta geração de satélites, o GPS Block III, para 2010 (GOODMAN Jr, 2002, p. 42). Tão logo as nações despertaram para a utilidade de um sistema dessa

7 57 natureza, sistemas similares entraram em desenvolvimento na Europa (Glonass russo, Galileo comunidade européia) e na Ásia (Quasi-Zenith japonês (INTERAGENCY GPS EXECUTIVE BOARD, 2002)). Os sistemas estrangeiros não têm a abrangência do GPS americano, tampouco uma validação do emprego militar tão significativa, razão pela qual buscam um emprego integrado ao GPS. Alçado à posição de destaque no conflito do Iraque, o GPS mostrou que é fundamental para a guerra moderna. Em conseqüência, aspirar por um sistema nacional e aprender sobre as possibilidades e limitações do GPS tornaram-se uma necessidade para as forças armadas de todas as nações. The use of GPS in the Second Gulf War Abstract The use of the American Global Positioning System (GPS) in the second Gulf War and its capabilities including a brief historical overview, its general employment and some hypothesis to explain its limitations. Keywords: GPS. Global posicioniting system. Sattelite. Warn. Conflit. Location. Navegation. Smart ammnition. Jamming. Comunications. Referências DANA, Peter H. Global Positioning System Overview. [Colorado]: University of Colorado: Department of Geography, Disponível em: < edu/geography/gcraft/notes/gps/gps_f.html >. Acesso em: 8 maio 2003

8 58 ESTADOS UNIDOS. Coast Navigatons Center. GPS General Information. [S.l., 2003]. Disponível em: < / Acesso em: 31 mar Department of State. U.S. Global Positioning System abd European Galileo System. [S.l.]: Bureau of Public Affairs, Disponível em: < state.gov/r/pa/prs/ps/2002/8673.htm>. Acesso em: 31 mar FREITAS, Luis da Encarnação. GPS: Sistema de Posicionamento de Alcance Global Baseado por Satélites: princípio de funcionamento e suas aplicações. [S.l., 2000?]. Disponível em: < capecanaveral/lab/9947/>. Acesso em: 31 mar GARMIN. What is GPS. [S.l., ]. Disponível em: < Acesso em: 31 mar GOODMAN Jr., Glenn W. Assured Access to Space. Armed Forces Journal, McLean, p. 42, July GPS WORLD WEBSITE. Global View: Galileo Breakthrough While Obstacles Remain. [S.l.], Disponível em: < article/articledetail.jsp?id=55383>. Acesso em: 31 mar INTERAGENCY GPS EXECUTIVE BOARD. Joint Announcement: 2 nd Japan U. S. GPS Plenary Meeting. Tóquio, Disponível em: < japan-announcement-2002.shtml>. Acesso em: 31 mar REUTERS. News. 31 mar Disponível em: < Acesso em: 31 mar