DECISÃO. É o relatório do essencial. Passo a decidir.

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1 J E S N B B PODER JUDICIÁRIO Processo n.º: ( ) Autos conclusos em 07/01/ :21 ao MM. Juiz Federal desta 2ª Vara Federal Criminal de Vitória/ES. Fls 20 DECISÃO A denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal atribui ao acusado, Johnny Cristian Lima Paulo de Souza, a prática dos delitos previstos pelos artigos 297 (falsificação de documento público), 298 (falsificação de documento particular) e 304 (uso de documento falso), em concurso formal com o crime capitulado pelo artigo 299 (falsidade ideológica) e em concurso material com o tipo penal previsto pelo artigo 171, 2º, inciso VI (estelionato), todos do Código Penal. Alega que, no dia 08 do mês de novembro do ano de 2012, o acusado teria usado documentos públicos e particulares falsificados e, assim, feito inserir informações falsas da pessoa por ele criada ( Jonis da Silva e Souza ) na Ficha de Abertura e Autógrafos de conta corrente perante a Caixa Econômica Federal e, após, teria emitido 13 (treze) cheques sem suficiente provisão de fundos. Às fls. 29/33 foi atravessada resposta à acusação, em que se alega a incompetência absoluta da Justiça Federal para o julgamento da ação, na medida em que a Caixa Econômica Federal não sofreu nenhum prejuízo, sendo os prejudicados apenas particulares. Aduz, ainda, que o crime associado ao falso está absorvido pelo estelionato, eis que teve como propósito exclusivo possibilitar a prática deste. É o relatório do essencial. Passo a decidir. Da análise dos autos, é possível perceber que assiste razão à Defensoria ao afirmar que as condutas relacionadas à falsificação e à utilização de documentos falsos, assim como à inserção de informações falsas em documentos, foram destinadas à abertura de conta corrente na Caixa Econômica Federal e, a partir daí, à aquisição de produtos e serviços pagos por meio de cheques sem suficiente provisão de fundos.

2 Entendo, com efeito, que os crimes associados ao falso estão absorvidos pelo crime de estelionato, pois os documentos falsos ou falsificados, ou ainda contendo dados inverídicos, não foram usados para finalidades além da apresentação diante da instituição bancária, mas, ao contrário, o dolo do acusado se exauriu na criação da conte corrente naquele Banco. Assim, o objetivo de sua conduta foi o de praticar o crime de estelionato, ausentes outras potencialidades lesivas. Fls 21 Assim, concluo que se está diante de meio para a prática de outro crime, que era o efetivamente pretendido pelo agente (relação crime-meio / crime-fim), razão por que penso que se aplica aqui o princípio da consunção, em conformidade com o que prevê a Súmula n.º 17 do Superior Tribunal de Justiça: Súmula 17 do STJ. Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. Em situações similares e nesse mesmo sentido: HABEAS CORPUS. TESE DE ABSORÇÃO DO CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO PELO DE SONEGAÇÃO FISCAL. CONSUMAÇÃO DO CRIME FISCAL SOMENTE COM O LANÇAMENTO DEFINITIVO DO DÉBITO. FALSIDADE PRATICADA COM FIM EXCLUSIVO DE LESAR O FISCO, VIABILIZANDO A SONEGAÇÃO DO TRIBUTO. FALSO EXAURIDO NA SONEGAÇÃO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. 1. O delito previsto no art. 1.º, inciso I, da Lei n.º 8.137/90 não se consuma com a mera inserção de informações falsas, mas com o lançamento definitivo do débito. 2. In casu, constata-se que o crime de uso de documento falso crime meio foi praticado para facilitar ou encobrir a falsa declaração, com vistas à efetivação do crime de sonegação fiscal crime fim, localizando-se na mesma linha de desdobramento causal de lesão ao bem jurídico, integrando, assim, o iter criminis do delito-fim. 3. Constatado que o uso do documento falso ocorreu com o fim único e específico de burlar o Fisco, visando, exclusivamente, à sonegação de tributos, e que lesividade da conduta não transcendeu o crime fiscal, incide, na espécie, mutatis mutandis, o comando do Enunciado n.º 17 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, ad litteram: "Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido", aplicando-se, portanto, o princípio da consunção ou da absorção. 4. Ordem concedida para determinar o trancamento da ação penal pelo crime previsto no art. 304, c.c. o art. 299, ambos do Código Penal. (STJ, HC , LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, DJE 17/11/2008)

3 RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA. VERBETES SUMULARES N.ºS 284 DO STF E 211 DO STJ. NÃO CONHECIMENTO. USO DE DOCUMENTO FALSO E SONEGAÇÃO FISCAL. CONSUMAÇÃO DO CRIME FISCAL SOMENTE COM O LANÇAMENTO DEFINITIVO DO DÉBITO. FALSIDADE PRATICADA COM FIM EXCLUSIVO DE LESAR O FISCO, VIABILIZANDO A SONEGAÇÃO DO TRIBUTO. FALSO EXAURIDO NA SONEGAÇÃO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA PARTE, DESPROVIDO. 1. Observa-se que o acórdão recorrido não se referiu ao crime do art. 299 do Código Penal (falsidade ideológica), até porque a denúncia imputa ao Réu a prática do delito do art. 304 (uso de documento falso) em combinação com o do art. 298 (falsificação de documento particular) do Código Penal. Incidem, assim, os verbetes sumulares n.ºs 282 e 284 do Supremo Tribunal Federal. 2. O delito previsto no art. 1.º, inciso IV, da Lei n.º 8.137/90 não se consuma com a mera inserção de informações falsas, mas com o lançamento definitivo do débito. 3. No caso, constata-se que o crime de uso de documento falso crime meio foi praticado para facilitar ou encobrir a falsa declaração, com vistas à efetivação do crime de sonegação fiscal crime fim, localizando-se na mesma linha de desdobramento causal de lesão ao bem jurídico, integrando, assim, o iter criminis do delito-fim. 4. Constatado que o uso do documento falso ocorreu com o fim único e específico de burlar o Fisco, visando, exclusivamente, à sonegação de tributos, e que lesividade da conduta não transcendeu o crime fiscal, incide, na espécie, mutatis mutandis, o comando do Enunciado n.º 17 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, ad litteram: "Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido", aplicando-se, portanto, o princípio da consunção ou da absorção. Precedentes. 5. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido. (STJ, RESP , LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, DJ 26/10/2009) Fls 22 Por conseguinte, e ainda dentro do raciocínio desenvolvido na resposta à acusação, a conseqüência é o declínio da competência, pois os prejudicados pelo estelionato foram os particulares que receberam os cheques sem suficiente provisão de fundos. Em Ofício encartado nos autos do Inquérito Policial, a Caixa Econômica Federal foi categórica ao asseverar que não houve prejuízo sofrido na CAIXA ECONÔMICA FEDERAL em virtude da abertura da conta , em nome de JONIS DA SILVA E SOUZA. (fl. 105).

4 Como se sabe, a competência criminal da Justiça Federal, prevista pelo artigo 109, inciso IV, da Constituição Federal exige que exista direta e imediata lesão a interesse, serviço ou bem da União, suas entidades autárquicas ou empresas públicas. O interesse tutelado, apto a atrair a competência da Justiça Federal, não pode ser genérico ou remoto, mas sim específico e direto, ou seja, que afete direta e imediatamente bem, serviço, ou interesse federal, causando-lhe dano ou interferindo negativamente nos serviços prestados por esses entes, o que não ocorreu in casu. Fls 23 Colaciono os seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça: PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE ESTELIONATO, FALSIFICAÇÃO E USO DE DOCUMENTO PÚBLICO. ACUSADO QUE SE PASSA POR AGENTE PÚBLICO FEDERAL PARA OBTER VANTAGEM DE TERCEIROS. INTERESSE GENÉRICO E REFLEXO DA UNIÃO. PREJUÍZO SUPORTADO PELOS PARTICULARES. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DO EFETIVO PREJUÍZO PARA A UNIÃO. NÃO- OCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. Quando as pessoas enganadas, e efetivamente lesadas, pelas eventuais práticas dos crimes de estelionato e falsificação são os particulares, ainda que tenha a União o interesse na punição do agente, tal seria genérico e reflexo, pois não há ofensa a seus bens, serviços ou interesses. (...) (STJ, CC 94374, ARNALDO ESTEVES, TERCEIRA SEÇÃO, DJE 03/08/2009) AGRAVO REGIMENTAL EM CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. ESTELIONATO. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO DA AUTARQUIA PREVIDENCIÁRIA. CONEXÃO.INEXISTÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. PRECEDENTES. 1. Se da alegada prática delituosa resultou tão-somente prejuízo a particular, inexistindo, em princípio, qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União, de suas autarquias ou empresa pública, é de se reconhecer a competência da Justiça Comum Estadual para processar e julgar o feito. 2. A Egrégia 3ª Seção desta Corte Superior de Justiça, em hipóteses idênticas à dos presentes autos, tem afastado a ocorrência de conexão com crime em apuração na Justiça Federal (CC nº /RS, CC nº /RS, CC nº /RS e CC nº /RS). 3. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no CC 37487, HAMILTON CARVALHIDO, TERCEIRA SEÇÃO, DJ 10/10/2003).

5 Pelo exposto, RECONHEÇO A INCOMPETÊNCIA DA e, por conseguinte, determino a baixa e a remessa dos autos desta ação penal à Justiça Estadual Comum Comarca da Capital/ES, em conjunto com o Inquérito Policial em apenso. Fls 24 Dê-se ciência ao Ministério Público Federal. Destarte, considerando que o acusado afirmou, ao ser citado, que possuía condição de constituir advogado, mas, não obstante, por não ter efetivado essa providência nos autos, a resposta à acusação foi apresentada pela Defensoria Pública da União, em atuação atípica, arbitro em favor dela honorários fixados no mínimo da tabela da Resolução do Conselho da Justiça Federal n.º 305/2014 (R$ 212,49), a serem revertidos em prol do Fundo de Aparelhamento da Defensoria Pública da União. Dê-se ciência à Defensoria Pública da União, inclusive para informar os dados para depósito. Após, intime-se, pessoalmente, o réu para pagar os honorários arbitrados, dentro do prazo de 10 (dez) dias, anexando aos autos o comprovante de pagamento. Transcorrido o prazo sem pagamento, convém consignar que caberá à Defensoria Pública da União adotar as providências pertinentes para promover a cobrança na esfera cabível. Por fim, remetam-se os autos à Justiça Estadual. Vitória/ES, 16/03/2015. (assinado eletronicamente, nos termos da Lei n.º /2006) AMÉRICO BEDÊ FREIRE JÚNIOR JUIZ FEDERAL