SEXTA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 71313/ CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL

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1 AGRAVANTE: BANCO BRADESCO S. A. AGRAVADA: R. D. L. COMÉRCIO, EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO LTDA - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL Número do Protocolo: 71313/2011 Data de Julgamento: EMENTA RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECUPERAÇÃO JUDICIAL - HOMOLOGAÇÃO - ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES - NULIDADE - ANÁLISE QUE SE RESTRINGE A IRREGULARIDADES PROCEDIMENTAIS - SIMULAÇÃO NA OUTORGA DE PODERES - NÃ0- VERIFICADO - CLASSE DE CREDORES REPRESENTADA - INSTRUMENTO PROCURATÓRIO - ART. 37, 4º, LEI /05 - POSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE COAÇÃO OU INTERFERÊNCIA DA EMPRESA RECUPERANDA - RECURSO DESPROVIDO. Uma vez aprovado o plano de recuperação judicial pela assembleia de credores, nos termos do art. 35, I, a, da Lei nº /2005, não cabe ao Judiciário analisar o seu mérito, mas sim, apenas irregularidades procedimentais. O art. 37, 4º, da Lei /05, não faz qualquer objeção, quanto à possibilidade de participação do credor representado por mandatário ou representante legal, somente condiciona a apresentação da procuração ao Administrador Judicial com antecedência de 24 (vinte e quatro) horas. Fl. 1 de 8

2 Não há que se falar em nulidade da assembleia ou do ato de outorga se não verificado ou expressado qualquer ato de coação ou interferência da empresa recuperanda na votação. Fl. 2 de 8

3 AGRAVANTE: BANCO BRADESCO S. A. AGRAVADA: R. D. L. COMÉRCIO, EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO LTDA - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL RELATÓRIO EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES Egrégia Câmara: Cuida-se de Recurso de Agravo de Instrumento interposto por Banco Bradesco S.A., de decisão que na Recuperação Judicial promovida por R.D.L. Comércio, Exportação e Importação Ltda., indeferiu o pedido de nulidade da assembleia de credores e homologou o plano de recuperação apresentado pela empresa recuperanda, ora agravada. Explica que a agravada teve deferido o pedido de processamento de sua recuperação judicial. Complementa que, em segunda assembleia, ocorrida em , foi aprovado o plano de recuperação judicial, com aprovação por maioria na classe de credores quirografários. Alega que a aprovação se deu mediante ato simulado, porque parte significativa dos credores quirografários foi representada por funcionário da própria agravada, de maneira a favorecer a empresa recuperanda. Sustenta, assim, que com a transmissão de poderes por parte de alguns credores, por meio de mandato outorgado a funcionário subordinado, a empresa recuperanda traduz clara manipulação e abuso de direito, que se refletiu na imposição do plano originalmente confeccionado as demais credores presentes na assembléia. Pugna pelo provimento do recurso a fim de declarar a nulidade da Assembleia Geral de Credores, ou alternativamente, desconstituir os instrumentos procuratórios outorgados ao Sr. Álvaro Antonio Martinello, desconsiderar os votos das Fl. 3 de 8

4 empresas outorgantes e determinar que o administrador judicial profira nova declaração de resultado. Liminar negada (fls. 78/80). Em contraminuta (fls. 84/102) a empresa recuperanda alega que não ficou comprovada a tempestividade dos embargos de declaração e da interrupção do prazo para a interposição do agravo de instrumento. No mais, rebate as razões do recurso e pugna pelo seu desprovimento. A d. Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer (fls. 123/126) manifesta-se pelo desprovimento do recurso. É o relatório. PARECER (ORAL) A SRA. DRA. MARIA ÂNGELA V. GADELHA SOUZA Ratifico o parecer escrito. Fl. 4 de 8

5 VOTO EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (RELATOR) Egrégia Câmara: Cinge-se a controvérsia em saber se a Assembleia Geral de Credores promovida por conta da recuperação judicial da empresa R.D.L. Comércio, Exportação e Importação Ltda., padece ou não de nulidade. De início, pretende a agravada que se observe se os Embargos de Declaração, opostos contra a decisão agravada, foram tempestivos. Sucede que a tempestividade dos Embargos de Declaração foi observada pelo Juízo singular e, dessa decisão, não houve recurso. Com efeito, constata-se que na Assembleia Geral de Credores realizada em (fls. 39/44), foi aprovado o plano de recuperação judicial pelas três classes de credores, como consignado em ata: O resultado da votação em relação ao percentual de créditos presentes à assembléia foi de 58,13% (cinqüenta e oito, treze por cento) a favor e 41,87 % (quarenta e um, oitenta e sete por cento) contra. Em relação à votação por cabeça 30 (trinta) credores votaram a favor e 03 (três) contra. Pois bem. Questão que se levanta diz respeito à suposta simulação na votação, em razão da outorga de poderes por alguns credores ao Sr. Álvaro Martinello, dito funcionário da própria empresa recuperanda, por 100% (cem por cento) da classe de credores trabalhistas, e na proporção de 30,89% (trinta, oitenta e nove por cento) da classe de credores quirografários. De início, cumpre ressaltar que uma vez aprovado o plano de recuperação judicial pela assembleia de credores, nos termos do art. 35, I, a, da Lei nº /2005, não cabe ao Judiciário analisar o seu mérito, mas sim, apenas irregularidades procedimentais. Sobre o tema, Fábio Ulhoa Coelho esclarece: Contra a decisão concessiva caberá recurso de agravo, sem efeito Fl. 5 de 8

6 suspensivo, ao qual se legitima qualquer credor e o Ministério Público. O objeto do recurso só pode dizer respeito ao desatendimento das normas legais sobre convocação e instalação da Assembléia ou quórum de deliberação. Nenhuma outra matéria pode ser questionada nesse recurso, nem mesmo o mérito do plano de recuperação aprovado. (in Comentários a Nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas, 6ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 169) (grifo nosso) Assim, uma vez aprovado o plano de recuperação judicial, todos os credores devem a ela se submeter, inclusive aqueles que votaram pela sua rejeição. Por sua vez, quanto à possibilidade de participação do credor representado por mandatário ou representante legal, o art. 37, 4º, da Lei /05, não faz qualquer objeção, somente condiciona a apresentação da procuração ao Administrador Judicial com antecedência de 24 (vinte e quatro) horas. Nesse sentido: Art. 37, 4º. O credor poderá ser representado na assembléia-geral por mandatário ou representante legal, desde que entregue ao administrador judicial, até 24 (vinte e quatro) horas antes da data prevista no aviso de convocação, documento hábil que comprove seus poderes ou a indicação das folhas dos autos do processo em que se encontre o documento. Na hipótese, verifica-se, de um lado, que a assembleia foi aprovada por quorum suficiente, e de outro, que, embora os credores trabalhistas e parte dos quirografários tenham sido representados pelo Sr. Álvaro Martinello, por meio de instrumento procuratório, certo é que não consta na ata qualquer menção de que tal ato tenha sido cometido sob pressão ou coação por parte da empresa recuperanda, a título de interferir na votação do plano. Aliás, como registrado na manifestação do administrador judicial (fls. 104/108): Na hipótese de concordarmos com a tese defendida pela instituição financeira, seríamos obrigados a acreditar que os credores, outorgantes dos instrumentos procuratórios, também estariam compactuando com tal ilícito, uma vez que haveria um desígnio de interesses entre os outorgantes das procurações e a própria recuperanda no intuito de prejudicar os interesses dos demais credores. Fl. 6 de 8

7 Diante desses fatos, acreditamos que não existem subsídios concretos que levam a conclusão de que a recuperanda de alguma forma tenha manipulado a intenção de voto dos outorgantes das procurações. Vale ressaltar novamente que os créditos dos outorgantes não foram impugnados e constam nos documentos contábeis da recuperanda, além do fato de que todos os procedimentos elencados na LRE foram seguidos, principalmente no que tange a publicação do ato contendo a ordem do dia da assembléia geral de credores onde os credores outorgantes das procurações foram representados pelo Sr. Álvaro Martinello. Não se pode perder de vista que a assembleia de credores não é um ato judicial, mas, sim, um ato negocial, onde os credores podem e devem buscar em assembleia negociar, para melhorar as condições de pagamento do seu crédito. Não há ilegalidade nisso, ao contrário, é da própria essência da assembleia. Ademais, as propostas, se aceitas pela recuperanda são submetidas aos demais credores, como aconteceu na assembleia que se quer anular. Portanto, não se justifica a irresignação apresentada pelo banco agravante. Não há falar-se, ainda, em nulidade da assembleia ou do ato de outorga conferido pela classe de trabalhadores e quirografários. Primeiro, porque a recuperação judicial tem por princípio norteador o de buscar a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica (art. 47, da Lei nº /2005). Segundo, porque não se pode perder de vista que o plano foi aprovado pela maioria dos credores na assembleia, nos termos do art. 58 e parágrafos, da Lei nº /2005, de modo que as decisões sobre o plano de recuperação, do ponto de vista da sua viabilidade econômica, são soberanas, respeitados, por óbvio, os limites legais. Posto isso, nega-se provimento ao recurso. É como voto. Fl. 7 de 8

8 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEXTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. JOSÉ FERREIRA LEITE, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (Relator), DES. JOSÉ FERREIRA LEITE (1º Vogal) e DR. MARCELO SOUZA DE BARROS (2º Vogal), proferiu a seguinte decisão: RECURSO DESPROVIDO, À UNANIMIDADE. Cuiabá, 14 de março de DESEMBARGADOR JOSÉ FERREIRA LEITE - PRESIDENTE DA SEXTA CÂMARA CÍVEL DESEMBARGADOR GUIOMAR TEODORO BORGES - RELATOR PROCURADOR DE JUSTIÇA GEACOR Fl. 8 de 8