A economia polí-ca da tributação no Brasil. Sérgio Wulff Gobe=, IPEA

Transcrição

1 A economia polí-ca da tributação no Brasil Sérgio Wulff Gobe=, IPEA

2 Introdução O Brasil tem a maior carga tributária da AL, equivalente à média dos países da OCDE, mas 1. tributa pouco e de modo pouco progressivo a renda e os lucros; 2. concentra a função distribu-va da polí-ca fiscal no gasto público; 3. e passou a controlar o crescimento da carga tributária desde 2005.

3 Carga tributária no Brasil Polí-ca de desonerações pós estabilizou a carga tributária. Carga Tributária no Brasil (% PIB) 33,56% 33,32% 33,70% 33,62% 33,40% 33,22% 33,73% 33,40% 32,36% 32,36% 32,49% 32,01% 31,33%

4 Carga tributária no mundo Nossa carga tributária equivale à média da OCDE, mas a média da OCDE é puxada para baixo por países do Leste Europeu.

5 Carga tributária na AL Nossa carga é mais alta, mas também somos o país que mais gasta em transferências/subsídios e juros.

6 Nosso welfare state O crescimento da nossa carga tributária financiou, nas úl-mas décadas, a consolidação do estado de bem- estar social, que hoje custa cerca de 10% do PIB. Mas esse financiamento se deu por impostos predominantemente regressivos.

7 Composição da carga tributária

8 Tributação e desigualdade Nosso sistema tributário foi moldado nas úl-mas décadas de acordo com a prescrição do mainstream econômico, de que a polí-ca tributária seja neutra e não se preocupe com a questão distribu-va. Baixa progressividade do imposto de renda. Baixa tributação da renda e dos lucros (isenção de lucros e dividendos distribuídos a acionistas).

9 O que mostram os dados do IRPF? Os muito ricos pagam menos imposto do que a classe média alta por causa da renda isenta.

10 A concentração de renda no topo e a baixa progressividade do imposto.

11 Brasil vs. mundo Qual % da renda está concentrada no topo? 25,0 20,0 8,5 5,4 15,0 2,0 2,0 3,3 1,5 3,3 10,0 5,0 7,3 7,8 6,6 1,3 5,3 3,4 3,3 1,2 1,1 4,7 4,3 1,7 0,8 3,8 2,3 0,9 3,4 1,9 0,6 2,7 1,7 0,7 3,0 1,3 0,6 2,5 0,0 Brasil Colômbia África do Sul Uruguai Reino Unido Coréia Japão Austrália Suécia Noruega Dinamarca De 99.95% a 100% De 99.9% a 99.95% De 99.5% a 99.9% De 99% a 99.5%

12 Um pouco de história O que Pikeuy nos mostra? A tributação da renda foi altamente progressiva (e, em alguns momentos, confiscatória) durante boa parte do século XX. Nos EUA, alíquota marginal máxima chegou a 94% em 1944; no Brasil a 65% em A revolução conservadora liderada por Reagan -nha dois obje-vos: reduzir a progressividade e isentar os lucros. Entre 1981 e 1988, Reagan reduziu a alíquota máxima de 70% para 50% e depois 33%. Em 2003, Bush tentou isentar os dividendos, mas só conseguiu reduzi- los para 15% (com prazo até 2013).

13 Um pouco de história O Brasil seguiu à risca as prescrições do liberalismo conservador. Em 1988, governo Sarney reduziu alíquota máxima do IRPF de 50% para 25%. Em 1995, governo FHC isentou os lucros e dividendos (até então tributados em 15%). Em 12 anos, o governo de centro- esquerda do PT nada fez para reverter esse quadro. A crise atual recolocou essa questão no debate, mas governo tem preferido outras alterna-vas.

14 Lucros e dividendos Dupla tributação? No Brasil a tributação da PJ pode chegar a 34%, mas o lucro distribuído à pessoa zsica está isento. Apenas Estônia e Brasil isentam totalmente os lucros e dividendos distribuídos. Além disso, Brasil concede o benezcio de juros sobre capital próprio às grandes empresas e regimes especiais (como Simples) para as pequenas. Na prá-ca, tributação total do lucro fica abaixo de 30% nas grandes e de 10% nas pequenas. Na OCDE, média de tributação é de 48%.

15

16 Simulação de mudanças Qual seria o efeito da revogação da isenção de lucros e dividendos ou de criação de novas alíquotas do IRPF? O restabelecimento da alíquota de 15% na fonte geraria ganho de R$ 43 bi e reduziria Gini em mais 0,9%. A tributação dos lucros e dividendos na tabela do IRPF geraria ganho de R$ 58 bi e reduziria Gini em mais 1,25%. Para gerar um ganho equivalente à primeira alterna-va, sem tributar dividendos, seria preciso criar alíquota de 35%, 40% e 45% a par-r de rendas superiores a R$ 60 mil, mas isso ampliaria o es mulo à pejo-zação. A alterna-va da CPMF pode ampliar a desigualdade pelo seu efeito regressivo.

17 Uma proposta de reforma É possível conjugar a proposta de retomada da tributação de dividendos com uma proposta de reforma tributária mais ampla, que amplie a carga tributária no curto prazo, mas retorne ao patamar atual em seis anos. Essa reforma passaria pela redução do IRPJ das empresas e uniformização do PIS/Cofins com base em uma alíquota mais reduzida do que a atual, melhorando subtancialmente o perfil da tributação no Brasil, seu potencial distribu-vo e seus efeitos para o crescimento econômico.

18 FIM Obrigado