AVALIAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS E RENDIMENTO DA CULTURA DE TRIGO EM TRÊS DIFERENTES REGIÕES DO ESTADO DO PARANÁ

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1 1 AVALIAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS E RENDIMENTO DA CULTURA DE TRIGO EM TRÊS DIFERENTES REGIÕES DO ESTADO DO PARANÁ Mary Helen Ribeiro dos Santos (UTFPR) mary_hrs@hotmail.com Juliana Vitória Messias Bittencourt (UTFPR) juvitoria@hotmail.com RESUMO O trigo é a segunda cultura de grãos em nível mundial em termos de produção, sendo superado apenas pelo milho. A estrutura de plantas, o número de grãos por espigueta, o acamamento, a resistência a doenças e a produtividade são apenas alguns dos caracteres de grande importância em cereais. No Brasil, os estudos sobre a fixação biológica de nitrogênio iniciaram-se em Estima-se que a adoção dessa tecnologia gere uma economia de 3 bilhões de dólares a cada safra no Brasil. A bactéria Azospirillum brasilense é fixadora de nitrogênio, capaz de promover o crescimento vegetal, aumentando significativamente a produtividade de culturas agronômicas como milho, arroz, cana de açúcar e trigo. O objetivo deste estudo foi avaliar a altura da planta, o comprimento da espiga e o rendimento dos grãos em três diferentes regiões do Paraná, utilizando-se 4 tratamentos, sendo um deles, somente adubação com inoculante. De posse dos dados obtidos, pode-se concluir que os resultados não diferiram entre tratamentos e regiões para a altura da planta e comprimento da espiga. Havendo somente uma diferença em um dos tratamentos na região III, no que se refere à produtividade dos grãos. Palavras-chave: Trigo; Azospirillum brasilense; Adubação. 1. INTRODUÇÃO A estrutura de plantas, o número de grãos por espigueta, o acamamento, a resistência a doenças e a produtividade são apenas alguns dos caracteres de grande importância em cereais. Diversos estudos tem sido realizados para diferentes características. Em trigo, a estatura da planta é um dos aspectos mais estudados, especialmente em populações com genes de nanismo. Estes genes

2 2 foram introduzidos em diversos programas de melhoramento durante a Revolução Verde (CAVASSIM; BORÉM, 2008). O trigo é uma gramínea do gênero Triticum, com cerca de 30 tipos geneticamente diferenciados, entre os quais apenas três são produzidos comercialmente: o T. Aevestivum, o T. turgidum durum e o T. compactum. O T. durum é utilizado na produção de macarrão e outras massas, o T. compactum de baixo teor de glúten, produzido em pequena proporção, utilizado para fabricar biscoitos suaves, enquanto que o T. aevestivum é responsável por mais de 4/5 da produção mundial, por ser adequado à panificação (EMBRAPA, 2009). Considerado o rei dos cereais, o trigo fornece cerca de 20% das calorias provenientes dos alimentos consumidos pelo homem. Seu grande trunfo é possuir um tipo de proteína com certa elasticidade, chamada glúten, não encontrada em outros grãos. O glúten representa um conjunto de proteínas insolúveis, responsável pelo crescimento da massa quando a farinha de trigo é misturada à água (SILVA et al., 1996). O trigo é a segunda cultura de grãos em nível mundial em termos de produção, sendo superado apenas pelo milho. A China é o maior produtor mundial de trigo, com cerca de 14,5% do total, seguido pelos países da União Européia, Índia e Estados Unidos (BISOTTO, 2004). As regiões Sul e Centro-Sul, representam cerca de 98% da área atualmente cultivada. A Região Central, embora ainda pouco cultivada com trigo, em sua maioria, representa um enorme potencial para a produção da cultura, tanto no regime de sequeiro, quanto no regime irrigado (EMBRAPA, 2001). A adubação nitrogenada em trigo é recomendada por especialistas para aumentar a produtividade. Dentre as fontes de nitrogênio, a uréia é o fertilizante de maior produção e consumo no Brasil (CAMPOS, THEISEN e GNATTA, 1999). Além de sua importância biológica, o nitrogênio é o nutriente mais difícil de ser manejado nos solos de regiões tropicais e subtropicais, em virtude do grande número de reações a que está sujeito e a sua alta instabilidade no solo (ERNANI, 2003). O nitrogênio é um dos elementos mais frequentemente associados ao manejo inadequado e poluição ambiental. As taxas de fertilizantes nitrogenados quase sempre excedem os requerimentos em função das limitadas práticas de manejo de solo e das culturas, possibilitam o escoamento da água superficial em direção aos

3 3 mananciais, promovendo eutrofização, contaminando as águas subterrâneas (PATAFÓS, 1998; SAINJU et al, 1999). O suprimento de nutrientes minerais afeta fortemente o crescimento, a morfologia e a distribuição do sistema radicular no substrato ou no perfil do solo. Este efeito é bastante claro com o nitrogênio. Desta forma, uma quantidade adequada de nitrogênio é essencial para incrementar a produtividade. No período compreendido entre a fase de emergência das plântulas até à diferenciação do primórdio floral, a falta de N reduz o número de espigas por área, a formação de espiguetas por espiga e a massa de 1000 grãos de trigo. Sabe-se que para a produção de 1 t de grãos de trigo, são exportados em torno de 25 kg de N via colheita (SOUSA; LOBATO, 2004). Segundo Carvalho et al. (2003), a carência de nitrogênio é observada em quase todos os solos, constituindo o critério de identificação da deficiência no aparecimento de uma clorose generalizada das folhas, iniciando-se pelas folhas mais velhas, que está relacionada com a participação do N na estrutura da molécula de clorofila. Para Amado et al. (2002) e Figueiredo et al. (2005), a dinâmica do N no sistema solo-planta, com a conseqüente eficiência da utilização de N pela planta, é influenciada principalmente pelo sistema de cultivo, tipo de fertilizante, formas de manejo e condições edafoclimáticas. No Brasil, os estudos sobre a fixação biológica de nitrogênio iniciaram-se em Estima-se que a adoção dessa tecnologia gere uma economia de 3 bilhões de dólares a cada safra no Brasil. A fixação biológica do nitrogênio é um processo de quebra por meio de um complexo enzimático, denominado nitrogenase (DOBEREINER, 1992; HUNGRIA et al, 1997). A bactéria Azospirillum brasilense é fixadora de nitrogênio, capaz de promover o crescimento vegetal, aumentando significativamente a produtividade de culturas agronômicas como milho, arroz, cana de açúcar e trigo. Descoberta no início dos anos 70 por Johanna Dobereiner e pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, Azospirillum brasilense é encontrada no interior dos tecidos vegetais e naturalmente associada às raízes. Essa bactéria tem sido extensamente estudada no Brasil e no exterior como inoculante para culturas. Resultados de mais de trinta anos de pesquisa demonstraram que a inoculação com tal bactéria tem uma taxa de

4 4 sucesso entre 60 e 70%, com aumentos significativos na produtividade de grãos entre 5 e 30% (OKON e LABANDERA-GONZALES, 1994). O objetivo deste estudo foi avaliar a altura da planta, o comprimento da espiga e o rendimento dos grãos em três diferentes regiões do Paraná, utilizando-se 4 tratamentos, sendo um deles, somente adubação com inoculante. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os ensaios foram implantados em três regiões distintas do Estado do Paraná, ambos na safra agrícola do ano de As datas de semeadura foram adaptadas de acordo com a região, sendo os experimentos implantados na data recomendada às três distintas regiões edafoclimáticas. A cultivar BRS 220 foi utilizado nas três regiões por ser a cultivar de maior expressão no cultivo de trigo. O delineamento experimental empregado foi o de blocos completos casualizados com seis repetições. As parcelas experimentais encerram a área de 4,0 x 6,0 m, distanciadas em 1,0 m entre os tratamentos e espaçadas em 0,15 m entre linhas. A colheita foi realizada nas quatro linhas centrais e desprezou-se 1,0 m de cada cabeceira. Na Tabela 2 estão sumarizados os tratamentos utilizados no experimento. Tratamento 1 Tratamento 2 Tratamento 3 Tratamento 4 TABELA 2: Descrição dos tratamentos utilizados. Testemunha (sem adubo e sem inoculante) Metade da dose de nitrogênio mineral recomendada para trigo e adição de 200mL/há do inoculante Dose completa de nitrogênio mineral recomendada para trigo e adição de 200mL/há do inoculante Inoculação com aplicação de 200mL/há do inoculante em primeiro ano de utilização do Azospirillum brasiliense. Foram avaliados no experimento a altura das plantas, o comprimento da espiga e o rendimento de grãos. Altura das plantas: A altura de plantas foi medida no estádio de maturação das plantas com o auxílio de uma régua graduada, e foi definida como sendo à distância (cm) do nível do solo ao ápice das espigas, excluindo-se as aristas, medindo-se 10 plantas ao acaso e representativas da área útil de cada parcela;

5 5 Comprimento da espiga: considerando o comprimento médio, em centímetros, de 10 espigas tomadas ao acaso de cada parcela, com exclusão das aristas; Produtividade de grãos: peso total dos grãos de cada parcela. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Altura de plantas A tabela 2 apresenta as médias das alturas média das plantas nos 4 tratamentos, nas 3 diferentes regiões. Pode-se observar que a região I obteve, no geral, melhor rendimento entre as regiões, as regiões II e III obtiveram resultados semelhantes. Quanto aos tratamentos, não houve diferença entre si. Tabela 2: Alturas média das plantas nos 4 tratamentos, nas 3 diferentes regiões Tratamento Médias (cm) Região I Região II Região III Tratamento 1 81,0 73,7 61,0 Tratamento 2 80,9 69,0 70,6 Tratamento 3 77,4 72,0 62,6 Tratamento 4 67,1 65,4 67,1 Fonte: autora As fontes de nitrogênio, Entec, sulfato de amônio e uréia não proporcionaram diferença significativa para produtividades de grãos, assim como para o teor de clorofila, altura de plantas, números de espigas por m2, de espiguetas não desenvolvidas, de espiguetas por espiga, de grãos por espiga, de grãos por espigueta e massa de 100 grãos (TEIXEIRA FILHO, 2008). 3.2 Comprimento da espiga A tabela 3 apresenta o comprimento médio das espigas nos 4 tratamentos, nas 3 diferentes regiões. No que tange o comprimento das espigas, pode-se observar que as 3 regiões apresentam resultados diferentes, não diferindo também quanto aos diferentes tratamentos. Tabela 3: Comprimento médio das espigas nos 4 tratamentos, nas 3 diferentes regiões Tratamento Médias (cm) Região I Região II Região III Tratamento 1 8,0 7,3 6,8

6 6 Tratamento 2 8,0 6,7 7,1 Tratamento 3 7,4 7,2 7,5 Tratamento 4 6,8 6,9 7,6 Fonte: autora Camargo et al. (1998) estudaram o tamanho da planta e da espiga em cinco diferentes linhagens de trigo e observaram que existe diferença entre regiões de plantio e também de diferentes variedades e adubação. Espindula et al. (2010) avaliaram o efeito de doses e épocas de aplicação de três reguladores de crescimento na elongação do colmo de plantas de trigo. O experimento, conduzido em Viçosa, Estado de Minas Gerais, de maio a setembro de 2005 foi instalado com tratamentos em esquema fatorial e hierárquico com uma testemunha, no delineamento em blocos casualizados com quatro repetições. O aumento das doses de clormequat e trinexapac-etil promoveu redução do comprimento do colmo e das partes que o formam. O aumento das doses de paclobutrazol promoveu respostas pouco expressivas no colmo e seus componentes. 3.3 Produtividade de grãos A tabela 4 apresenta o rendimento médio dos grãos nos 4 tratamentos, nas 3 diferentes regiões. Pode- se observar que a Região III apresenta melhores resultados se comparada com as demais regiões, quanto ao rendimento dos grãos e existe uma diferença significativa no tratamento 2 para esta região. Tabela 4: Rendimento médio dos grãos nos 4 tratamentos, nas 3 diferentes regiões Tratamento Rendimento (g) Região I Região II Região III Tratamento 1 0,774 0,078 0,808 Tratamento 2 0,747 0,069 1,116 Tratamento 3 0,701 0,109 0,988 Tratamento 4 0,823 0,105 0,903 Fonte: autora Didonet; Rodrigues; Kenner (1996), observaram que a produção de grãos de trigo inoculado com A. brasilense e complementado com nitrogênio, não diferiu estatisticamente com o tratamento controle. Nesse caso, a redução de custos e os menores danos causados ao meio ambiente mostram que a utilização do inoculante pode mostrar-se eficaz. Os resultados apresentados nas figuras 5 e 6 concordam

7 7 com os trabalhos citados demonstrando que não é uma tendência e sim um fato a utilização de inoculante de a base de A. brasilense. 4. CONCLUSÃO De posse dos dados obtidos, pode-se concluir que os resultados não diferiram entre tratamentos e regiões para a altura da planta e comprimento da espiga. Havendo somente uma diferença em um dos tratamentos na região III, no que se refere à produtividade dos grãos. Referencias AMADO, T. J. C.; MELNICZUK, J.; AITA, C. Recomendação de adubação nitrogenada para o milho no RS e SC adaptada ao uso de culturas de cobertura do solo, sob sistema plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.26, p , BISSOTO, V. Algumas considerações sobre a cultura do trigo. In: REUNIÃO DA COMISSÃO SUL BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO, 36., Passo Fundo. Anais... Passo Fundo: Embrapa Trigo, CAMARGO, C. E. O.; FELÍCIO, J. C.; FERREIRA FILHO, A. W. P.; FREITAS, J. G.; BARROS, B. C.; CASTRO, J. L.; PETTINELLI JUNIOR, A.; ROCHA JUNIOR, L. S. Melhoramento do trigo: Comportamento de linhagens em cinco regiões Paulistas. Bragantia, Campinas, nº 47, v. 2, p , CAMPOS, B.H.C.; THEISEN, S.; GNATTA, V. Inoculante graminante nas culturas de trigo e aveia. Revista Ciência Rural, Santa Maria, v. 23, p , CARVALHO, M. A. C.; FURLANI JÚNIOR, E.; ARF, O.; SÁ, M. E.; PAULINO, H. B.; BUZETTI, S. Doses e épocas de aplicação de nitrogênio e teores foliares deste nutriente e de clorofila em feijoeiro. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.27, n.3, p , CAVASSIM, Joé Elzevir; BORÉM, Aluizio. Correlação em seis populações de trigo (Triticum aestivum L.) Revista Ceres, nº. 45, v. 262, p , DIDONET, A.D.; RODRIGUES, O.; KENNER, M.H. Acúmulo de nitrogênio e de massa seca em plantas de trigo inoculadas com Azospirillum brasilense. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 31, Brasília, DÖBEREINER, J. Fixação de nitrogênio em associação com gramíneas. In: CARDOSO, E.J.B.N., TSAI, S.M., NEVES, M.C.P. Microbiologia do solo. Campinas: SBCS, 1992.

8 8 EMBRAPA. Um pouco de história e política do trigo e Triticultura no Brasil. Disponível em < Acesso em 17-out EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. O melhoramento e os trigos da Embrapa em cultivo no Brasil. Passo Fundo: p. (Comunicado Técnico, 81). ERNANI, P. R. Disponibilidade de nitrogênio e adubação nitrogenada para macieira. Lages: Graphel, ESPINDULA, M. C.; ROCHA, V. S.; SOUZA, L. T.; SOUZA, M. A.; GROSSI, J. A. S. Efeitos de reguladores de crescimento na elongação do colmo de trigo. Acta Scientiarum Agronomy. Maringá, v. 32, n. 1, p , FIGUEIREDO, C. C.; RESCK, D. V. S.; GOMES, A. C.; URQUIAGA, S. Sistemas de manejo na absorção de nitrogênio pelo milho em um Latossolo Vermelho no Cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.40, n.3, p , HUNGRIA, M.; VARGAS, M.A.T.; CAMPOS, T.J.A. A inoculação da soja. Londrina: Embrapa-CNPSo. (Embrapa-CNPSo. Circular Técnica, 17; Embrapa_CPAC. Circular Técnica, 34), OKON, Y.; LABANDERA-GONZALEZ, C.A. Agronomic applications of Azospirillum: an evaluation of 20 years worldwide field inoculation. Soil Biology and Biothemistry 26: , PATAFÓS, INSTITUTO DA POTASSA & FOSFATO. Manual internacional de fertilidade do solo, Piracicaba, SAINJU, U.M.; SINGH, B.P.; REDDY, V.R. Soil nitrate-nitrogen under tomato following tillage, cover cropping, and nitrogen fertilization. Journal of Environmental Quality, Madison, v. 28, n. 6, p , SILVA, D. B. ; GUERRA, A. F.; REIN, T. A.; ANJOS, J. R. ; ALVES, R. T.; RODRIGUES, G. C.; SILVA, I. A. C. Trigo para o abastecimento familiar, do plantio à mesa. Brasília: Embrapa - SPI; Planaltina: Embrapa - CPAC, SOUSA, D. M. G.; LOBATO, E. Cerrado: correção do solo e adubação. 2.ed. Brasília, Embrapa Informação Tecnológica, TEIXEIRA FILHO, Marcelo Carvalho Minhoto. Doses, fontes e épocas de aplicação do nitrogênio em cultivares de trigo sob plantio direto no cerrado. Ilha Solteira, Ára temática: Gestão (tecnologia)