Resenha. Narrativas, crenças e experiências de aprender inglês
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- Milton de Abreu Assunção
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1 Universidade Federal de Uberlândia - Mestrado em Estudos Linguísticos Disciplina: Tópicos em Linguística Aplicada 1: Crenças no ensino/aprendizagem de línguas: interfaces afetivas e contextuais Docente: Profa. Dra. Fernanda Costa Ribas Discente: Camila Belmonte Martinelli Gomes Resenha Narrativas, crenças e experiências de aprender inglês Camila Belmonte Martinelli Gomes 1 BARCELOS, A.M.F. Narrativas, crenças e experiências de aprender inglês. Linguagem e ensino, v. 9, n. 2, p , Ana Maria Ferreira Barcelos é graduada em Letras Português Inglês pela Universidade Federal de Viçosa (1989), possui mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (1995), doutorado em Teaching English As a Second Language - The University Of Alabama (2000) e pós-doutorado em Linguística Aplicada pela Universidade de Carleton, Ottawa, Canada (2009). Atualmente, como professora Associada III, tem experiência na área de Linguística Aplicada, com ênfase em Crenças Sobre Aprendizagem e Ensino de Línguas Estrangeiras, atuando principalmente nos seguintes temas: crenças sobre aprendizagem de línguas estrangeiras, formação de professores, crenças de alunos sobre aprendizagem de inglês, ensino e aprendizagem de inglês e ensino de língua inglesa, crenças e emoções. 2 Em seu artigo Narrativas, crenças e experiências de aprender inglês, Ana Maria Ferreira Barcelos apresenta os resultados de uma pesquisa realizada com universitários com o objetivo de investigar as experiências e as crenças desses aprendizes no que tange aos locais onde se pode aprender línguas estrangeiras no Brasil. 1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Uberlândia UFU. 2 Dados provenientes do currículo Lattes de Ana Maria Ferreira Barcelos. Disponível em: < 5.jb_buscacv_220-1> Acesso em: 09 nov.2014.
2 Na seção introdutória do artigo, a autora apresenta um panorama sobre o desenvolvimento de pesquisas narrativas, enfatizando que, apesar de só recentemente as narrativas e histórias de aprendizagem terem ganhado espaço no meio acadêmico, a pesquisa narrativa já há muito tempo tem sido utilizada, principalmente no contexto educacional norte-americano. Ao tratar sobre a utilização das narrativas como abordagem de pesquisas sobre o processo de ensino e aprendizagem de línguas na Linguística Aplicada, a autora ressalta que tal enfoque não apenas na perspectiva dos professores, mas também na perspectiva do aluno, representa a volta de interesse pelo aprendiz, que é assumido com toda a carga emocional, afetiva e experiencial que carrega. Ainda nesta seção, Barcelos cita os estudos de Telles (2000, 2002, 2004) sobre como, no Brasil, a abordagem narrativa se faz adequada para a investigação das experiências dos professores e dos alunos. Aos professores, proporciona a reconstrução de seus conhecimentos e representações, fazendo deles profissionais mais conscientes de sua prática. Em relação aos aprendizes, o interesse sobre suas experiências refere-se à investigação de suas crenças. Intitulada Narrativas, a segunda seção do artigo traz considerações sobre a conceituação do termo citado. Baseada em autores como Bruner (1986), Beattie (2000) e Clandinin e Connelly (2000), Barcelos apresenta a narrativa, em linhas gerais, como instrumento ou método por excelência que captura a essência da experiência humana e, consequentemente, da aprendizagem e mudança humana. (p.18). A seção seguinte é dedicada a considerações sobre Experiências e narrativas, que seriam conceitos interrelacionados, visto que a observação e a análise da experiência configuram ponto essencial para a pesquisa narrativa. Dessa maneira, segundo Clandinin and Connelly (2000, p.20), a narrativa pode ser concebida como uma forma de compreender a experiência. No que concerne à delimitação conceitual do que seria experiência, os autores acima citados utilizam-se das considerações de Dewey (1938), de que a experiência não se relaciona a uma condição mental. Para ele, dois princípios denominados princípio da continuidade e princípio da interação descrevem a experiência, sendo o primeiro referente ao vínculo que as experiências já vividas têm com acontecimentos futuros e, o segundo alusivo à relação estabelecida entre o indivíduo e o ambiente. Partindo destes princípios, Barcelos enfatiza que a experiência
3 é uma questão de ajustamentos e reajustamentos de coordenações de atividades (p.150) e, nesse contexto, as crenças apresentam papel basilar. Posteriormente, a autora apresenta sua concepção de crenças, que seriam maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, co-construídas em nossas experiências resultantes de um processo interativo de interpretação e (re)significação. (p.151). Dessa maneira, Barcelos ressalta a estreita ligação entre crenças e experiência, justificando-se, assim, a utilização de narrativas para o estudo adequado de crenças, visto que as narrativas nos proporcionam um olhar mais detalhado sobre crenças e experiência. É relevante destacar que o artigo em questão é apenas um recorte de um projeto realizado pela autora e que contempla 53 narrativas de alunos de inglês do 3 ano dos cursos de Letras e Secretariado Executivo, coletadas em 2004 e Visando responder às perguntas de pesquisa que foram: 1. Quais crenças subjazem às experiências desses alunos em relação ao lugar de se estudar Inglês no Brasil? 2. Como essas experiências moldam suas crenças? 3. Como elas caracterizam sua experiência de aprender línguas? as narrativas foram analisadas respeitando parâmetros da pesquisa naturalística e tal análise apresentou dois temas relativos às repostas: a distância entre as experiências de aprendizagem vivenciadas na escola pública e no curso de idiomas e a influência dessas experiências nas crenças dos alunos sobre aprendizagem de línguas. Dessarte, Barcelos destaca que, partindo das narrativas dos alunos, pode-se perceber que eles assumem a escola pública e o curso de idioma como espaços dicotômicos, sendo que, de maneira geral, a escola pública é vista como local no qual aprender uma língua estrangeira não é possível enquanto o curso de idiomas é considerado sinônimo de aprendizagem bem sucedida. No que diz respeito aos problemas citados pelos alunos sobre o ensino ofertado pela escola pública, a autora evidencia alguns aspectos aos quais os alunos dedicam o fracasso do ensino de língua estrangeira na escola pública, tais como a denominada incompetência dos professores, ensino focado na gramática e que exclui formas alternativas de ensinar e, finalmente, o desejo que os alunos tem por falar a língua estrangeira, o que não é contemplado devido às lacunas do ensino deficiente a eles ofertado.
4 Em contrapartida, Barcelos apresenta a concepção, proveniente das narrativas dos alunos, de que o curso de idiomas é lugar de investimento, de recompensa ofertada a quem é merecedor e que irá garantir a esse indivíduo maiores possibilidades de sucesso profissional e acadêmico. Nesse contexto, a competência do professor não é questionada e o que é e como é ensinado no curso de idiomas torna-se, para os alunos, parâmetros e modelos de correção em relação ao que é aprendido em outros ambientes como a escola regular, por exemplo. Após as análises, a autora apresenta as considerações finais sobre o trabalho e ressalta alguns pontos relevantes provenientes da análise das narrativas dos alunos e sua relação com as crenças e experiências deles. O primeiro aspecto destacado é que os alunos que participaram da pesquisa não acreditam que é possível aprender inglês no ambiente da escola pública, além de referendarem outros estudos, como os de Coelho (2005) e Paiva (2005) que também demonstram o desejo latente e não satisfeito que os alunos têm de falar a língua estrangeira que estudam na escola. O segundo aspecto mencionado pela autora se refere à crença apresentada pelos alunos de que a escola de idiomas se constitui lugar ideal para a aprendizagem de línguas, o que faz parecer, para alguns, que o curso de idiomas garante uma aprendizagem eficaz e bem sucedida, além de ser visto como investimento para um futuro melhor. Ainda neste contexto, Barcelos argumenta que é justamente tal investimento que precisa ser feito na escola pública para que o cenário de fracasso apresentado pelas narrativas dos alunos possa mudar. É posto que há inúmeros problemas no contexto educacional brasileiro, mas o que a autora conjectura é não podemos ficar acomodados ao fato de que há escolas de idiomas para se aprender inglês, visto que há inúmeros estudantes que não têm condição de financiar esse tipo de ensino. Isto é, não podemos nos eximir da responsabilidade de cobrar investimentos para que o ambiente de escola pública possa de desenvolver e, eventualmente, configurar-se como espaço em que aprender línguas seja, de fato, possível. No tocante às implicações de tais resultados para professores, principalmente, Barcelos salienta que, ao fazerem uso das histórias de aprendizagem de seus alunos, os educadores têm a oportunidade de conhecer melhor seus alunos, suas crenças e experiências, o que pode contribuir para um ensino mais consciente e reflexivo por parte
5 dos professores. Aos pesquisadores, a pesquisa se faz pertinente, pois ao analisar as narrativas dos alunos, a eles foi concedida voz. Isto é, o olhar dos pesquisados sobre os fatores que influenciam o processo de ensino e aprendizagem de línguas foi contemplado, o que contribui para a configuração de uma pesquisa mais coesa. Finalmente, a autora apresenta sua expectativa e esperança de que, com a observação e reflexão de histórias de aprendizagem como as estudadas contribuam para que, em situações futuras, outras histórias possam ser contadas para relatar contextos mais satisfatórios. Acredito que o texto de Barcelos retrata de maneira adequada a dicotomia espacial que existe em relação ao ensino e aprendizagem de línguas no Brasil, que se refere a escola regular visto que os problemas abordados pela autora muitas vezes também se repetem nas escolas privadas e a escola de idiomas. Por fim, faz-se necessário ressaltar que pesquisas como a de Barcelos (2006) são de extrema valia pois colaboram para a formação de professores mais críticos e cientes de toda a complexidade envolvida no processo de ensino e aprendizagem de línguas. Referências: BARCELOS, A.M.F. Narrativas, crenças e experiências de aprender inglês. Linguagem e ensino, v. 9, n. 2, p , 2006.
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