Nº COMARCA DE SANTA ROSA APELANTE/RECORRIDO ADESIVO. Vistos, relatados e discutidos os autos.

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1 APELAÇÃO CÍVEL E RECUO ADESIVO. SEGURO. PLANO DE SAÚDE. REEMBOLSO DAS DESPESAS MÉDICO-HOSPITALARES. PRESCRIÇÃO ANUAL DA PRETENSÃO DO DIREITO DE AÇÃO. NEGATIVA SECURITÁTIA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRESCRIÇÃO TRIENAL. PRAZOS IMPLEMENTADOS. 1. No tocante ao pedido de reembolso das despesas médico-hospitalares despendidas pela segurada, releva destacar que o prazo prescricional para esta espécie de relação jurídica era de um ano, conforme alude o art. 178, 6º, inc. II, do Código Civil de No entanto, este é o mesmo lapso prescricional previsto no regramento atual quanto à matéria, estabelecido no art. 206, 1º, inciso II, da legislação civil vigente. 2. De outro lado, no que se refere ao pedido de indenização por danos morais, o lapso prescricional aplicável é o trienal, consoante o disposto no art. 206, 3º, inciso V, do Código Civil. 3. Assim, como a negativa ocorreu antes de 26/10/2005 e a presente demanda foi ajuizada em 26/08/2009, conhecer da prescrição do direito de ação da parte autora é a medida que se impõe. Prescrição reconhecida. Feito extinto. APELAÇÃO CÍVEL QUINTA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE SANTA ROSA UNIMED LEDA FATIMA ALMEIDA DOS SANTOS APELANTE/RECORRIDO ADESIVO RECORRENTE ADESIVO/APELADO A CÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. 1

2 Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em, de ofício, reconhecer a prescrição e extinguir o feito. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES. GELSON ROLIM STOCKER E DES.ª ISABEL DIAS ALMEIDA. Porto Alegre, 29 de junho de DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO, Relator. I - R E LATÓRIO DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO (RELATOR) UNIMED SANTA ROSA SOCIEDADE COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO LTDA interpôs apelação contra a decisão proferida nos autos da ação de cobrança movida por LÊDA FÁTIMA ALMEIDA DOS SANTOS. Na decisão atacada (fls. 103/108), foram julgados parcialmente procedentes os pedidos, condenando a ré a restituir, na forma simples, os valores despendidos pela autora. Em suas razões recursais às fls. 110/117 dos autos, a ré sustentou que a autora tinha ciência do prazo carencial, o qual estava expressamente previsto no ajuste. Asseverou que, por ter optado por realizar o procedimento de forma particular a autora deve arcar com todos os ônus. Requereu o provimento do recurso. A autora apresentou contra-razões (fls. 121/124) e, na seqüência, recurso adesivo (fls. 125/128), no qual postulou a condenação da 2

3 ré ao pagamento de uma indenização a título de danos morais, bem como à repetição, em dobro, do indébito. Contra-arrazoado o recurso adesivo (fls.132/138), os autos foram remetidos a esta Colenda Corte de Justiça. Registro que foi observado o disposto nos artigos 549, 551 e 552 do CPC, tendo em vista a adoção do sistema informatizado. É o relatório. I I - VOTOS DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO (RELATOR) Admissibilidade e objeto dos recursos Eminentes colegas, o recurso intentado objetiva a reforma da sentença de primeiro grau, versando a causa sobre o reembolso das despesas com tratamento de saúde e indenização por danos morais. Os pressupostos processuais foram atendidos, utilizados os recursos cabíveis, há interesse e legitimidade para recorrerem, são tempestivos e foi devidamente preparado o da ré (fl. 118), estando dispensado de preparo o da autora devido à gratuidade deferida (fl.16), inexistindo fato impeditivo do direito recursal noticiado nos autos. Assim, verificados os pressupostos legais, conheço do recurso intentado para a análise das questões suscitadas. Da prescrição do direito de ação da parte autora Preambularmente, no tocante ao pedido de reembolso das despesas médico-hospitalares despendidas pela segurada, releva destacar que o prazo prescricional para esta espécie de relação jurídica era de um ano, conforme alude o art. 178, 6º, inc. II, do Código Civil de Ressalte-se que este é o mesmo lapso prescricional previsto no regramento atual quanto à matéria, estabelecido no art. 206, 1º, inciso II, da legislação civil vigente. 3

4 Sobre a aplicação do prazo anual nas relações jurídicas decorrentes de contrato de plano de saúde é o aresto do Superior Tribunal de Justiça a seguir transcrito: INDENIZAÇÃO. SEGURO SAÚDE. DESPESAS HOSPITALARES. COBERTURA RECUSADA PELA SEGURADORA. PRESCRIÇÃO ÂNUA. Em caso de recusa da seguradora ao pagamento da indenização contratada, o prazo prescricional da ação que a reclama é de um ano, nos termos do art. 178, 6º, II, do Código Civil de Inaplicável o lapso prescricional de cinco anos, por não se enquadrar a espécie no conceito de danos causados por fato do produto ou serviço (acidente de consumo). Precedentes do STJ. Recurso especial conhecido, em parte, e provido. (REsp /RJ, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 11/10/2005, DJ 05/06/2006 p. 292) No mesmo sentido já se pronunciou este Tribunal de Justiça: APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO-SAÚDE. PRESCRIÇÃO ACOLHIDA. EXTINÇÃO DO FEITO. A ação de indenização securitária movida pelo segurado contra a seguradora prescreve em um ano, contado da data em que houve a negativa formal da seguradora em ressarcir os gastos com o procedimento cirúrgico realizado pelo autor. DERAM PROVIMENTO AO AGRAVO RETIDO, PARA RECONHECER A OCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO E EXTINGÜIR O FEITO, COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO, NOS TERMOS DO ART. 269, IV, DO CPC, PREJUDICADA A ANÁLISE DOS DEMAIS RECUOS. (Apelação Cível Nº , Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do, Relator: Artur Arnildo Ludwig, Julgado em 28/06/2007) De outro lado, no que se refere ao pedido de indenização por danos morais, o lapso prescricional aplicável é o trienal, consoante o disposto no art. 206, 3º, inciso V do Código Civil. Nessa seara, cumpre salientar que é inaplicável ao caso em tela o prazo prescricional previsto no art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, porquanto não se trata de responsabilidade por fato do produto ou do serviço. Roberto Senise Lisboa 1, ao comentar este dispositivo, é claro ao asseverar que: 1 LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p

5 Responsabilidade pelo fato do produto e serviço é aquela que advém de um acidente de consumo, ou seja, de um evento que acarreta, ao menos, danos morais ao consumidor. No acidente de consumo, o produto ou serviço apresenta um vício exógeno ou extrínseco, isto é, um defeito que extrapola a própria substância do bem e ofende a vida, a saúde (higidez física e psíquica) ou a segurança do consumidor (art. 6º, I, da Lei 8.078/90). O defeito extrínseco ou exógeno não é uma simples inadequação econômica do produto ou do serviço, porém uma inadequação que gera efeitos sobre a personalidade humana, tanto do consumidor como das pessoas a ele equiparadas, dada a situação de vítima do evento. Nesse rumo são os ensinamentos de Sergio Cavalieri Filho 2 : Depreende-se desse dispositivo que o fato do produto é um acontecimento externo, que ocorre no mundo exterior, que causa dano material ou moral ao consumidor (ou ambos), mas que decorre de um defeito do produto. Seu fato gerador será sempre um defeito do produto; daí termos enfatizado que a palavra-chave é defeito. Destarte, como a negativa ocorreu antes de 26/10/2005 (fls. 14/15) e a presente demanda foi ajuizada em 26/08/2009, conhecer da prescrição do direito de ação da parte autora no tocante a ambos os pedidos é a medida que se impõe. Consigna-se, ainda, que a prescrição é matéria de ordem pública e, como tal, pode ser conhecida até mesmo de ofício, sem ser atingida pela preclusão. A Lei nº /2006 deu a nova redação ao parágrafo 5º do art. 219, determinando que a prescrição seja pronunciada até mesmo sem argüição pela parte que a ela beneficia. Nesse sentido são os ensinamentos de Nelson Nery: Decadência e prescrição podem ser alegadas a qualquer tempo e grau ordinário de jurisdição. A decadência pode ser alegada a qualquer tempo porque é matéria de ordem pública e não está sujeita à preclusão, inclusive a decadência convencional (CC 211). A prescrição, que hoje é de ordem pública, ainda que pudesse ser entendida como matéria de direito dispositivo, pode ser alegada a qualquer tempo porque existe autorização expressa da lei nesse sentido. 2 5

6 Note-se que a questão precitada é de ordem pública, portanto, passível de ser conhecida em qualquer grau de jurisdição, aliado ao fato de que inexiste preclusão pro judicata, assim definido o tema que diz respeito à prescrição do direito de ação, entendendo que esta deva ser objeto de análise mesmo de ofício, na forma do art. 267, 3º, do CPC combinado com art. 219, 5º do CPC. Nesse sentido são os ensinamentos do jurista precitado: A preclusão envolve as partes, mas pode ocorrer, também, relativamente ao juiz, no sentido de que ao magistrado é imposto impedimento com a finalidade de que não possa mais julgar questão dispositiva por ele já decidida anteriormente. A doutrina faz referência a esse fenômeno denominando-o de preclusão pro iudicato (Nery, Recursos, n , p.94). Quanto às questões de ordem pública, como não estão sujeitas à preclusão, o juiz pode (deve) redecidi-las a qualquer momento, antes de proferir sentença, fazendo-o de ofício ou a requerimento da parte ou interessado. O STJ já se manifestou no sentido de inexistir preclusão pro judicata em matéria de ordem pública, conforme aresto a seguir transcrito: PROCESSO CIVIL - RECUO ESPECIAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO: ILEGITIMIDADE ATIVA E PRESCRIÇÃO. 1. Inexistência de preclusão pro judicata quando houver matéria de interesse público, mesmo quando há formal despacho saneador. 2. O CPC, no art. 267, 3º, exclui a hipótese. A Súmula n. 424 do STF, embora ainda válida, não enfrenta para abrigá-la a exceção do art. 267, 3º do CPC. 3. Prescrição que se consumou 20 (vinte) anos antes dos fatos que poderiam levar à interrupção. 4. Recurso não conhecido. (REsp /GO, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em , DJ p. 217). Assim sendo, deve ser extinto o presente feito com base no reconhecimento da prescrição do exercício do direito de ação, a teor do que estabelece o art. 206, 1º, II e 3º, V do Código Civil de 2002, combinado com o art. 269, inciso IV, do Código de Processo Civil, tendo em vista que decorreu in albis o prazo para exercitar a pretensão a que faria jus a parte autora. 6

7 I I I - D I S P O S I T I V O Ante o exposto, voto no sentido de reconhecer a prescrição do exercício do direito de ação da parte demandante, extinguindo o feito com o julgamento do mérito, nos termos do art. 269, inciso IV, do Código de Processo Civil. Ainda, condenando a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios em favor do patrono da demandada, fixados em R$ 1.000,00 (mil reais), tendo em vista a natureza da causa e o trabalho desenvolvido pelo procurador que atuou no feito, nos termos do art. 20, 4º, do CPC. Ficando suspensa a exigibilidade do ônus da sucumbência, em razão de a parte autora litigar sob o pálio da assistência judiciária (fl.16). DES. GELSON ROLIM STOCKER (REVISOR) Acompanho tendo em vista as peculiaridades do caso concreto que autorizam as conclusões do voto do E. Relator. DES.ª ISABEL DIAS ALMEIDA - De acordo com o(a) Relator(a). DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO - Presidente - Apelação Cível nº , Comarca de Santa Rosa: "DE OFÍCIO, RECONHECERAM A PRESCRIÇÃO E EXTINGUIRAM O FEITO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: MIROSLAVA DO CARMO MENDONCA 7