escura. Havia ruas bem largas e de paredes negras, onde se viam grandes bocas abertas. O que é isso? São as entradas para os pátios.

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Andreia Franca Terra
7 Há anos
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1 O palácio A primeira vez que Chao viu a Casa Pintada, ele estava viajando dentro de um cesto que balançava pendurado na ponta de uma longa vara de bambu. Do lado oposto, na outra ponta do bambu, havia mais um cesto pendurado, cheio de verduras, e todo o peso da vara estava equilibrado na nuca e nos ombros do Avô. Já no começo do longo caminho, primeiro por estradas de terra e depois pelo Caminho Imperial, que levava à cidade, Chao adormeceu encolhido no fundo do cesto, embalado pelo balanço. Ao entrar em Pequim, o Avô o acordou: Olhe! disse, chacoalhando o bambu. Chao despertou imediatamente e levantou- -se para ver a cidade. Era muito grande e muito

2 escura. Havia ruas bem largas e de paredes negras, onde se viam grandes bocas abertas. O que é isso? São as entradas para os pátios. Dentro há portas e janelas das casas de várias famílias respondeu o Avô. Ao passar por ali, ouviam-se conversas, risos e canções. Nos pátios, havia alegria, vida e movimento, mas nas ruas as pessoas caminhavam rápido e silenciosamente. Depois de terem caminhado bastante por entre paredes enegrecidas, chegaram a uma praça. Do outro lado, surgiu de repente uma labareda vermelho vivo. Fogo! gritou Chao. O Avô começou a rir e Chao esfregou os olhos deslumbrados. Ergueu-se até ficar com o nariz na borda do cesto e poder ver que o que o tinha assustado tanto era apenas um grande muro pintado de vermelho de cima a baixo. Brilhava como fogo ou sol à luz da manhã. E isso não era tudo. De trecho em trecho, o muro era reforçado com pequenas torres vermelhas, e, 14

3 por trás delas, erguiam-se as paredes e as vigas de uma casa enfeitada com desenhos em azul, verde, vermelho, branco e amarelo. Uma Casa Pintada! exclamou Chao, surpreso. Destacava-se vivamente da escuridão do resto da cidade. O muro, mais alto que todas as outras casas, era rodeado por um fosso cheio de água e, acima dele, havia, ainda mais alta, a Casa Pintada. Quem mora aí? O imperador respondeu o Avô, apressando o passo. A Casa Pintada era grande e tinha o telhado pontudo. Dragões dourados subiam pelos quatro cantos como por uma colina de telhas verdes. O declive era acentuado e, sem dúvida, os dragões escorregavam, mesmo que parecessem estar sempre no mesmo lugar. Gostou? Eu também. Mas temos de nos conformar em admirar o palácio apenas pelo lado de fora, pois, mesmo que quiséssemos, os guardas não nos deixariam entrar. 15

4 Para ver melhor a Casa Pintada, Chao se virou no cesto, fazendo desequilibrar a carga. O cesto que estava na outra ponta da vara de bambu escorregou um pouco, e o Avô reclamou: Fique quieto! Mas Chao estava encantado com a Casa Pintada e não conseguia deixar de olhar para ela. Agarrou a borda do cesto e, apoiando-se nos braços, se levantou ainda mais. O Avô caminhava rapidamente pelo centro da praça. Agora passavam em frente da porta. Era enorme e estava fechada, mas, mesmo que estivesse aberta, não poderiam ultrapassá-la, pois uma cerrada fileira de homens armados, que estavam lado a lado, vestindo armaduras, fazia a guarda. São os soldados do imperador. Sua guarda pessoal disse o Avô. Imóveis e brilhantes como os dragões do telhado, os soldados pareciam ainda mais ameaçadores e ferozes. Chao ficou olhando para eles, atemorizado, mas não conseguiu ficar quieto por muito tempo agarrado à borda do cesto. Suas mãos escorrega- 16

5 ram e ele caiu de uma vez, fazendo tudo balançar. O fundo do cesto raspou nas pedras das ruas e a carga se desequilibrou, fazendo o Avô tropeçar. Não me ouviu, não? gritou, irritado, o Avô. Se ficar se mexendo assim, as alfaces, os tomates e as cebolas vão rolar pelo chão. O que é que vamos vender se perdermos nossa mercadoria pelo caminho? Com outro, isso certamente teria acontecido, mas o Avô era hábil e carregava com destreza a balança de bambu. Sem parar totalmente, ajeitou a vara com esforço e a moveu de um lado para o outro até recuperar o equilíbrio dos cestos. Depois retomou a caminhada, passos rápidos e curtos. Com muito cuidado, Chao levantou-se no - vamente. Já tinham passado pela porta e, depois de ter contornado o muro, encontravam-se na esquina da muralha. Ela foi ficando para trás e, à medida que se afastavam, Chao pôde ver toda a Casa Pintada. Observou que o fosso era bastante largo e que no alto das pequenas torres também havia soldados em guarda. 17

6 Por trás das muralhas, não havia nenhuma casa, como ele tinha pensado inicialmente, e sim várias tendas e muitas barracas de diversos tamanhos. Por cima das muralhas, espalhados nas suaves colinas e rodeados de jardins, apareciam lagos e cascatas, que se uniam por caminhos serpenteantes de areia branca. As paredes e vigas eram pintadas de várias cores e os telhados eram verdes, com dragões dourados nos cantos. Todo o conjunto dominava a cidade, que se estendia a seus pés, negra e plana. Da praça partiam as ruazinhas do bairro velho. Para lá se dirigia o Avô. Mas, adivinhando o desejo de seu neto, antes de entrar por uma das vielas mais estreitas, disse-lhe: À tarde, quando estivermos voltando, poderemos parar para você olhar o palácio por quanto tempo quiser. Sabendo que o Avô sempre cumpria as promessas que fazia, Chao concordou em se afastar da Casa Pintada sem protestar, mas manteve os olhos cravados nela até perdê-la completamente de vista. 18

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