PSICOPEDAGOGIA: A INTERDISCIPLINARIEDADE COMO VAI?

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1 PSICOPEDAGOGIA: A INTERDISCIPLINARIEDADE COMO VAI? Ana Lucia Santos * Vanessa Aparecida Barbieri * RESUMO: As dificuldades de aprendizagens tem sido foco de preocupações não só das escolas e famílias, mas também de muitos estudiosos que tem realizados estudos trazendo propostas e questões que ampliam a visão nesta área. A queixa de que a criança não aprende, não tem atenção tem sido uma constante, tanto quanto as perguntas que não calam e povoam as mentes de pais e professores -O que fazer? Como fazer? Estas perguntas e queixas estão no cotidiano nas acadêmicas do curso de Pedagogia e Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná que realizam o atendimento de psicopedagogia da clinica de Psicologia da PUCPR. O presente trabalho de pesquisa nos trás um referencial sobre a psicopedagogia tendo como base alguns autores como VISCA (1991), ALVAREZ(1998) BOSSA(2000) RUBINSTEIN(2002) e como esta vem discutindo as questões da dificuldades de aprendizagem, trazendo também a experiência do trabalho da psicopedagogia na visão da Epistemologia Convergente. Acredita-se no trabalho interdisciplinar tanto descrito nos livros mas pouco visto na pratica, a partir do momento que a família, escola e profissionais possuam a mesma linguagem no sentido de resgatar o desejo da criança pela aprendizagem. Palavras chaves: psicopedagogia, aprendizagem, compromisso, interdisciplinaridade. * Pedagoga e Professora de Educação Especial da rede Estadual do Paraná Ex aluna do curso de Pedagogia PUCPR, a qual realizou estagio voluntário na Clinica de Psicologia, na área de Psicopedagogia em 2004,portadora do CPF * Psicóloga Ex aluna do curso de Psicologia PUCPR, a qual realizou estagio voluntário na Clinica de Psicologia, na área de Psicopedagogia de 2003 à 2005,portadora do CPF

2 188 Sabe-se que dentre as dificuldades políticas, sociais e culturais que a escola enfrenta, a dificuldade frente a aprendizagem tem preocupado os educadores, principalmente por saberem que as necessidades individuais de aprendizagem não pode ser definidas por apenas um fator. E é com isso que a Psicopedagogia vem cada vez mais se ocupando pois, como ressalta FERREIRA(2002), devido a complexidade dos problemas de aprendizagem, a Psicopedagogia se apresenta com um caráter multidisciplinar, que busca conhecimento em diversas outras áreas de conhecimento, além da psicologia e da pedagogia, pois apenas uma área de conhecimento não seria capaz de abarcar a complexidade de um processo de aprendizagem, pois cada indivíduo possui uma modalidade de aprendizagem, um jeito particular de aprender, assim a Psicopedagogia aliada a outras áreas de conhecimento, está comprometida em resolver os problemas e melhorar as condições de aprendizagem. Conforme BOSSA(2000), as primeiras tentativas de articulação entre a Medicina, a Psicologia, a Psicanálise e a Pedagogia deram-se na França. Onde há documentos de Janine Mery, apresentando considerações sobre o termo Psicopedagogia Curativa, termo utilizado para definição da ação terapêutica sobre as crianças que experimentavam dificuldade ou lentidão, em relação aos colegas e às aquisições escolares. As idéias francesas influenciaram a ação psicopedagógica argentina, de grandes nomes como Sara Paín, Alícia Fernandez e Jorge Visca. Foi a Psicopedagogia argentina, que influenciou a práxis brasileira, o qual já possui uma história de aproximadamente 30 anos, inicialmente dedicados à pesquisa - em forma de grupos de estudos, que refletiam sobre a prática educacional. Junto com seu histórico, varias habilidades foram sendo desenvolvidas dentro da Psicopedagogia, o que aumentou suas áreas de atuação além da clinica, como, hospitais, instituições escolares, organizacionais...

3 189 Quanto a Psicopedagogia clínica, RUBINSTEIN(2002) comenta que a intervenção psicopedagógica não se limita mais a utilização dos recursos técnicos em si mesmo, mas leva em conta a relação transferencial que se estabelece entre o psicopedagogo e o sujeito da aprendizagem. É especialmente a partir do manejo da transferência e da posição do que o psicopedagogo nela assume, os recursos oferecidos ao paciente podem ter efeitos terapêuticos no sentido da mudança de sua posição tanto frente o saber como frente ao conhecer e suas questões com a escolaridade. Desta forma, deve-se pensar num estilo de intervenção psicopedagógica que possa olhar para o todo, isto é, para o discurso social escolar amplo e para as partes simultaneamente, para os conflitos existenciais mais amplos, sem deixar de lado os conflitos focais inerentes à escolaridade e à singularidade do sujeito. É necessário ter noção de lingüística, para explicar como se dá o desenvolvimento da linguagem humana e sobre os processos de aquisição da linguagem oral e escrita. Também se precisa de conhecimento sobre o desenvolvimento neurológico, sobre suas disfunções que acabam dificultando a aprendizagem; de conhecimentos fisiológicos e sociológicos, que nos oferecem e o entendimento sobre a visão de homem, seus relacionamentos a cada momento histórico e sua correspondente concepção de aprendizagem.pois, conhecendo melhor a capacidade de abstração, organização, flexibilidade e aceitação do pensamento do sujeito, o Psicopedagogo tem condições para observar e levantar hipóteses acerca das dificuldades e potencialidades do mesmo, tentando conhecer quem é o sujeito que esta ali na sua frente e entender em que contexto se situa a sua relação com a aprendizagem (ALVAREZ, 1998). O psicopedagogo argentino VISCA (1987) aborda a Psicopedagogia segundo o que chama de epistemologia convergente, uma conceituação da aprendizagem e suas dificuldades em função da integração das contribuições das escolas psicanalítica, piagetiana e da psicologia social de Enrique Pichón-Rivière. Esta visão, inicia a partir do momento em que cientistas abandonam sua linha de pensamento, como a única possibilidade de compreender o mundo e penetrar no

4 190 conhecimento de outras linhas, percebendo a relatividade das descrições e explicações de distintas correntes e pensamentos (VISCA,1991). Jorge Visca, concebeu o estudo da aprendizagem a partir da convergência de correntes distintas do pensamento psicológico e construiu a matriz de pensamento de uma psicopedagogia embasada nesta epistemologia convergente, a partir da qual concebeu uma proposta de diagnóstico e uma proposta de processo interventor (BARBOSA,1998). A Epistemologia Convergente vem superara as visões inatistas e ambientalistas, que tem caracetristica integradora do conhecimento que permite analisar as dificuldades de aprendizagem como decorrentes de múltiplas causas, cada uma estudada e aprofundada por uma determinada vertente(visca,1991). A clínica psicopedagógica, seguindo a linha da epistemologia convergente de VISCA (1987), trabalha com o diagnóstico dos problemas de aprendizagem, ou seja, do movimento de aprender que se encontra obstaculizado, bem como com a sua intervenção. Vale ressaltar que o sujeito que chega à clínica nem sempre é o detentor de um obstáculo na sua aprendizagem. Quem chega à clínica psicopedagógica detém o sintoma de algo que não vai bem no processo de aprendizagem. O sintoma comunica por meio do não aprender que existe um obstáculo, porém, a causa do não aprender, que é objeto de investigação no processo diagnóstico, está inserida no contexto em que o sujeito detentor do sintoma vive. Afinal, concebe-se a aprendizagem como um fenômeno biopsicossocial, portanto, um processo que ocorre por meio das características biológicas do ser humano em interação com o meio onde vive, gerando desta relação às estruturas afetivas e cognitivas. Se o obstáculo da aprendizagem não está na pessoa, mas sim em um contexto, a intervenção psicopedagógica também não pode limitar-se ao sujeito que vai à clínica, devendo estender-se às suas relações, como a escola e a família. RUBINSTEIN(2002) enfatiza que, o aluno constrói seu estilo de aprendizagem a partir de suas experiências de vida no contexto onde se insere. Seu estilo de aprender relaciona-se com seu modo de viver. Não basta analisar as dificuldades que o aprendiz apresenta para ultrapassar os desafios da

5 191 escolaridade. É preciso compreender o sentido do estilo de aprender/viver e como este estilo poderia explicar a queixa escolar Essa perspectiva novamente impulsiona um outro movimento para a Psicopedagogia. Não é suficiente analisar isoladamente o fenômeno da dificuldade e o sujeito da aprendizagem a partir das diferentes disciplinas, a queixa escolar ou dificuldade de aprendizagem deve ser compreendida juntamente com o sujeito da aprendizagem no contexto sócio cultural. Observa-se desta forma, que o psicopedagogo é um profissional envolvido com a aprendizagem humana, que congrega conhecimentos de diversas áreas intervindo neste processo, seja para potencializá-lo ou para amenizar dificuldades, atendendo as necessidades individuais de aprendizagem. E não podemos mais afirmar que temos uma única Psicopedagogia,pois ela surgiu como uma prática, de uma necessidade específica, atender crianças que por diferentes razões não conseguiam acompanhar a escolaridade. E nesta perspectiva que acontece o trabalho na Clinica de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), onde acadêmicas do curso de Pedagogia e do Curso de Psicologia realizam em conjunto a avaliação na proposta da epistemologia convergente que inicia-se pela EOCA (entrevista operativa centrada na aprendizagem), o processo diagnostico que segue com sessões exploratórias nos âmbitos afetivo, cognitivo e funcional, e por fim realizase a anamnese dando continuidade, se necessário, ao processo corretor. Intervenções realizadas tanto pela pedagoga quanto pela psicóloga onde constatamos a importância desse olhar que não é único que envolve não só os profissionais mas a família e a escola. Necessitamos ir além do espaço da clinica, pois o paciente não vive este espaço, mas sim uma rotina diária que envolve suas relações com a família e a escola, neste sentido conseguimos um trabalho com qualidade e consciente atingindo resultados favoráveis. A discussão dos casos sob a orientação dos professores é outro fator fundamental para o crescimento das acadêmicas, pois neste momento que realiza-se a ponte ente teoria e pratica, acontecendo uma reflexão sobre sua ação.

6 192 Dentre os casos acompanhados vamos citar o de A.O.W uma menina de 09 anos que venho com a queixa de dificuldade de aprendizagem, no decorrer da avaliação percebeu-se que mesmo a menina tendo todas as possibilidades para superar tais dificuldades, ficava evidente o não ter o desejo do aprender. Durante o processo corretor AOW foi deixando claro a dificuldade que sua de dificuldade aprendizagem era decorrente da super proteção e da super valorização dos bens materiais, onde eu posso e tenho tudo, onde o ter é mais importante com o ser, realizou-se uma intervenção trabalhando com questões como a responsabilidade com os seus pertences e suas atitudes, suas frustrações, com a aceitação das suas dificuldades e possibilidade de mudança etc. Mas todo este trabalho que iniciou-se na avaliação só foi possível pois teve o compromisso dos profissionais envolvidos e o trabalho em conjunto com a escola e a família, que neste caso não foi um trabalho só com os pais mas envolveu os tios e avôs. AOW partiu de um trabalho com a sua potencialidade, com o seu gostar e derrepente viu se trabalhando com suas dificuldades e percebendo a importância do aprender, com o desejo de realizar algo. Acreditamos neste trabalho pois o que é descritos nos livros é possível de ser realizado, deste que tenhamos o compromisso de fazê-lo com responsabilidade. REFERÊNCIAS ALVAREZ, R. Especificidade da abordagem.in: OLIVEIRA,V;BOSSA,N. Avaliação psicopedagógica do adolescente. Petrópolis: Vozes,1998. p.73-90

7 193 BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: Contribuição a partir da prática. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, FERREIRA, R. A importância da psicopedagogia no ensino fundamental- 1 a 4 séries. Disponível em Publicado em 25 de junho de Acesso em: 22 de janeiro de RUBINSTEIN,E. O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o conhecer, Dissertação de mestrado, UNIMARCO, 2002 VISCA,J. Clinica psicopedagógica: A epistemologia convergente. Porto alegre: artes médicas,1987; VISCA,J. Psicopedagogia: novas contribuições. Rio de janeiro: Nova Fronteira,1991.