A R G U M E N T A Ç ÃO. João Bosco Medeiros
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- Thomaz Zagalo Domingos
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1 A R G U M E N T A Ç ÃO João Bosco Medeiros
2 Argumentação é um procedimento que se utiliza para tornar uma tese aceitável. Argumentos e provas motivam o convencimento, levam à persuasão. A marca do texto argumentativo é convencer ou persuadir por meio de um conjunto de recursos oferecidos pela língua. O autor de textos argumentativos elabora um elenco de hipóteses de trabalho, afirmações sobre o assunto:
3 Tema: O Sistema Prisional Brasileiro 1ª) O sistema prisional brasileiro é inadequado para os criminosos que há na sociedade atual, porque as leis penais são antigas; 2ª) O sistema prisional brasileiro precisa de reformas, porque se apóia exclusivamente em retirar o criminoso da sociedade e não em reeducá-lo;
4 3ª) O tratamento desrespeitoso com relação aos direitos humanos, a tortura que ocorre nos presídios brasileiros, principalmente, devido à ação de agentes penitenciários, está a exigir uma reforma do sistema prisional brasileiro; 4ª) A sociedade brasileira precisa ocupar-se sobretudo com a educação dos jovens, se quiser eliminar parte dos problemas oriundos de seu ultrapassado sistema prisional.
5 Elaborada a tese a ser defendida, é preciso reunir argumentos e provas que ajudem a demonstrar a validade das ideias, das afirmações apresentadas. A defesa de uma tese exige pesquisa sobre o assunto em jornais, revistas, livros de referência ou livros especializados. Tais procedimentos auxiliam a tornar o texto coerente e capaz de persuadir o destinatário.
6 Para a construção de um texto argumentativo, faz-se uso dos operadores argumentativos, que unem as diferentes partes de um texto, contribuindo para a articulação das ideias e maior discursividade. Todo texto argumentativo tem uma tese. A tese consiste na posição ideológica ou na conclusão geral a que se chega quando se defende uma questão. É uma afirmação que o sujeito apresenta para a aprovação do interlocutor.
7 Uma argumentação compõe-se de argumentos, que têm a finalidade de fundamentar o ponto de vista, e de raciocínios, que relacionam os argumentos com o ponto de vista e encadeiam os argumentos entre si. Uma argumentação é considerada: - clara, se essas relações ficam evidentes; - coerente, se não apresenta contradições entre o ponto de vista e os argumentos; - consecutiva, se a ordem de encadeamento dos argumentos é a mais adequada para conduzir a discussão, de modo a deixar o leitor perceber relações de maior ou menor relevância entre esses argumentos.
8 Como um texto se desenvolve de modo linear, palavra após palavra, frase após frase, parágrafo após parágrafo, o encadeamento tem de ser concatenado de tal forma que cada parte ocupe o lugar mais adequado em uma sequência em que a argumentação progrida sem repetição ou circularidade. Para uma boa argumentação, o produtor de um texto pode se servir de diferentes tipos de argumentos. Entre os argumentos mais importantes estão:
9 1. Argumento de autoridade Consiste em um recurso linguístico que utiliza a citação de autores renomados (escritores célebres) e de autoridades de um certo domínio do saber (juristas, educadores, filósofos, membros da Igreja etc.) para fundamentar uma ideia, uma tese, um ponto de vista. Desse modo, quanto maior a autoridade, maior será o respaldo a respeito do que se afirma.
10 Por exemplo, quando se discute um assunto na área de educação e se faz uma citação valendo-se dos argumentos de Paulo Freire, cuja autoridade é reconhecida, tem-se um respaldo sobre o que está sendo discutido. Exemplo: Segundo Paulo Freire (2001, p.24), ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou sua construção. O emprego desse tipo de argumento, portanto, torna o discurso mais consistente, pois outras vozes reforçam o que o produtor do texto quer defender.
11 2. Argumento baseado no consenso Consiste no uso de proposições evidentes por si mesmas ou universalmente aceitas como válidas, para efeitos de argumentação. Não se deve confundir argumento baseado no consenso com lugares comuns carentes de base científica e de validade discutível. Por exemplo, quando se diz que a educação é o alicerce do futuro, fazemos referência a uma ideia aceita como verdade.
12 Por outro lado, quando se afirma que o brasileiro é preguiçoso, parte-se de um preconceito, e não de um consenso geral. 3. Argumento baseado em provas concretas Esse tipo de argumento apoia-se em evidências dos fatos que corroboram a validade do que se diz. Ao se afirmar, por exemplo, que uma determinada instituição é séria, obtém-se maior aprovação do que é dito quando fatos concretos confirmarem tal afirmação
13 Não de devem fazer afirmações sem apoio em dados consistentes, fidedignos, suficientes, adequados e pertinentes. As provas concretas constituem-se, principalmente, de relatos de fatos, dados estatísticos, exemplos e ilustrações. Os fatos são elementos muito importantes na argumentação, visto que eles dão concretude ao discurso e, por isso, convencem. Os dados estatísticos, por sua vez, são informações específicas que também têm grande poder de convenvimento.
14 Já os exemplos são relatos de fatos ou condutas de pessoas que representam uma determinada situação. As ilustrações referem-se a exemplos alongados, entremeados de detalhes e descrições, que tornam mais concreta a argumentação sobre temas abstratos. Exemplo de argumento baseado em provas concretas
15 Pesquisas do Banco Mundial mostram que a jornada escolar é curta e uma baixa proporção do tempo é gasta em tarefas propriamente escolares. Há intervalos sem professor em sala de aula e professores que cuidam de um ou outro aluno e deixam os demais sem ter o que fazer. Erro grave é o tempo excessivo que o professor gasta escrevendo no quadro, os alunos copiando e respondendo a perguntas desinteressantes 25% a 47% do tempo. (CASTRO, Cláudio de Moura. A hora na sala de aula. Veja, 8 mai. 2002, p.20)
16 4. Argumento com base no raciocínio lógico É o argumento baseado nas relações lógicas entre proposições e provas (causa e consequência, explicação ou justificativa, conclusão etc.). Observemos o exemplo a seguir:
17 No Brasil, toda vez que o Estado depara com uma grave crise política, motivada pela violência, lança-se uma lei para, de forma demagógica, acalmar a sociedade. Exemplo disso ocorreu com a Lei de Crimes Hediondos, com a Lei da Prisão Temporária, com o estatuto da Criança e do Adolescente, com a Lei de Tortura e, há pouco tempo, com o estatuto do Idoso, incentivado em novela no horário nobre. É o caso da Lei , de 23 de dezembro de 2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento, e o decreto que a regulamentou, nº 5.123, que passou a ter vigência em 2 de julho de 2004.
18 Ora, se as autoridades brasileiras não conseguem garantir um mínimo de segurança ao brasileiro comum, papel que incumbe, legitimamente, ao Estado garantir,(então) não pode querer deixá-lo indefeso frente à violência, coibindo-lhe o direito de ter uma arma, para impedir, por exemplo, que sua casa espaço privado inviolável que todo ser humano tem direito de preservar seja violada por um assaltante, papel efetivamente não realizado por quem deveria realizá-lo: o poder público.
19 5. Argumento da competência linguística Consiste no uso da linguagem adequada à situação de interlocução. A busca dos efeitos argumentativos envolve uma conduta quanto à escolha das palavras, locuções e formas verbais. Optar por um termo em detrimento de outro significa o cruzamento dos planos estilísticos e ideológicos na direção dos discursos persuasivos.
20 Por exemplo, um advogado expressarse-á utilizando a norma culta e a terminologia pertinente à sua área, ao defender uma causa perante um juiz.
21 Estrutura do texto argumentativo Esse tipo de texto é muito comum na vida cotidiana: aparece nos textos jurídicos, nos artigos jornalísticos, na publicidade, nos comentários políticos e econômicos, literários, sobre música, teatro, artes plásticas. Em todas as manifestações há ideias, pontos de vista, debates, discussões. Formamos nosso ponto de vista com base no cruzamento de várias formações discursivas; i.é, o discurso é marcado por outros discursos, leituras, convivência, informações de que tomamos conhecimento, enfim, a nossa trajetória cultural.
22 Por isso, no estudo de textos argumentativos convém conhecer os elementos formadores do ponto de vista. Vejamos como exemplo, na p. 169, o texto Um novo sistema penal, de Helio Bicudo, publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 16 de setembro de 2003:
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