A atuação do psicólogo na rede pública de educação do Paraná: contribuições da Psicologia Histórico-Cultural para a educação

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1 A atuação do psicólogo na rede pública de educação do Paraná: contribuições da Psicologia Histórico-Cultural para a educação Resumo: Patrícia Vaz de Lessa- UEM e Fundação Araucária 1 O presente trabalho tem como objetivo discutir acerca das contribuições da Psicologia Histórico-Cultural no campo da Psicologia Escolar e apresentar dados coletados na pesquisa em andamento, sobre a atuação do psicólogo escolar no Estado do Paraná. Finalmente, pautados nesta linha teórica, apresenta-se a defesa de que a educação é condição fundamental para a humanização dos seres humanos e que a atuação da Psicologia Escolar deve trabalhar em prol de uma educação emancipatória. Palavras-chave: Psicologia Histórico-Cultural Psicologia Escolar Humanização Introdução: Atualmente, a educação de qualidade é um dos temas mais discutidos e almejados pelas pessoas em nossa sociedade. Muitas são as propostas políticas para a melhoria das condições educacionais, visto que a escola é um ambiente no qual as relações se estabelecem, muitas coisas acontecem e algumas queixas escolares emergem como, por exemplo: os alunos não aprendem; a família não ajuda e deixa a responsabilidade para a escola; os alunos são violentos, não obedecem, são indisciplinados e os professores por sua vez, não dão conta das situações conflituosas. Nesse sentido, os estudos realizados por Souza (2000, 2002) apresentam considerações muito importantes para a análise da queixa escolar, entendida pelos psicólogos, como problemas escolares ou distúrbios de comportamento e de aprendizagem. Neste trabalho, abordamos questões referentes ao contexto escolar e as contribuições da Psicologia Histórico-Cultural no campo da Psicologia Escolar apresentando alguns dados coletados na pesquisa sobre a atuação do psicólogo escolar no Estado do Paraná. A ATUAÇAO DO PSICÓLOGO ESCOLAR E PSICOLOGIA HISTÓRICO- CULTURAL Uma forma crítica de compreender o homem, considerando o historicismo de todos os fenômenos pode ser amparada pela visão marxista, utilizando o método do materialismo histórico e dialético, conforme anunciam Facci (2004), Tanamachi (2007), Meira (2000). Neste aspecto, o homem é compreendido como síntese das relações sociais. 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UEM e Docente do Departamento de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia UniFil. patrícia.lessa@unifil.br

2 Por meio da apropriação do conhecimento científico, de acordo com Vigotski (2000), a criança desenvolve suas funções psicológicas superiores, tais como memória, atenção voluntária, capacidade de abstração, entre outras funções. O novo conteúdo apropriado, conforme propõe Saviani (2003), passa a fazer parte de sua natureza, torna-se parte da sua individualidade. Para Vygotski (1995) o homem está sempre criando formas de regular o seu comportamento, ou seja, cria formas de organizar seu pensamento e neste sentido, a escola e o professor podem auxiliar e ajudar a criança a criar mediadores que auxiliem na aprendizagem. Para o autor russo, a aprendizagem, desta forma, provoca o desenvolvimento (Vigotski, 2000). O professor, conforme explica Facci (2007, p. 147), nesse processo educacional, constitui-se como mediador entre os conteúdos curriculares e os alunos, ou seja, o professor faz a mediação entre os conteúdos curriculares com o objetivo de provocar o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. O aluno, quanto mais se apropria dos saberes elaborados pelas várias ciências, mais se torna humanizado e o professor tem um papel importante na apropriação do conhecimento do mesmo, visto que estabelece uma relação dialética de superação daquilo que já se dominava, a inclusão de novos conhecimentos científicos para assim conhecer a realidade em que está inserido (Facci, 2009, p. 113). O professor é o elo que auxilia na superação do imediato, portanto seu trabalho deve ser valorizado. Essas idéias, apresentadas brevemente, constituem alguns dos pilares para a compreensão de uma Psicologia Escolar crítica. No entanto, essa visão não é predominante, haja vista que a vertente tradicional, clínica e individualizante da Psicologia estão presentes em muitas ações e produções teóricas. Pesquisas sobre a realidade da Psicologia Escolar sob uma perspectiva crítica têm sido realizadas, dentre as quais podemos citar: Souza (2000, 2002), Tanamachi (2007), Meira (1997, 2000), Bock (2000), Facci (2004), Patto (1984, 1990), Machado (2000), entre outros estudos. Nesta direção busca-se, negar as aparências ideológicas, apreender a totalidade do concreto em suas multideterminações e compreender a sociedade como um movimento de vir-a-ser (Meira, 2003, p. 17). As queixas escolares, desta forma, devem ser analisadas e encaminhadas sob este prisma. Em uma visão crítica, com base marxista, de acordo com Meira (1997), é necessário incluir alguns elementos considerados como indicativos do pensamento crítico voltado para uma prática de Psicologia Escolar compromissada com propostas consistentes e pertinentes com a finalidade transformadora., que seriam: como o psicólogo compreende o fracasso escolar?; quais as áreas de intervenção escolhidas; qual o modelo de atuação no qual

3 o trabalho se assenta?; como são utilizados os processos de avaliação das queixas escolares?; quais os vínculos que o profissional estabelece com a comunidade escolar? Esses questionamentos deram origem à pesquisa, que será relatada a seguir. A PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO Estamos realizando uma pesquisa acerca da atuação do Psicólogo escolar no Estado do Paraná. O objetivo geral é identificar e analisar concepções e práticas desenvolvidas pelos psicólogos da rede pública do Estado do Paraná, frente às queixas escolares, oriundas do sistema educacional, visando compreender em que medida apresenta elementos inovadores e pertinentes às discussões recentes na área de Psicologia Escolar e Educacional em busca de um ensino que realmente contribua para a socialização dos conhecimentos científicos. Dentre os procedimentos adotados para a pesquisa estão: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, envolvendo 395 cidades do Estado do Paraná. Até o momento, a realização da pesquisa de campo está sendo desenvolvida por meio de contato telefônico, das quais 277 cidades foram consultadas, e pelo envio de 135 questionários para psicólogos que atuam na rede pública de ensino do Estado do Paraná. Destas cidades, localizamos 247 psicólogos que atuam em escolas. Foi estabelecido contato com os profissionais e enviados questionários, no qual estão inclusas questões sobre o tempo de trabalho do profissional na equipe, seu cargo, formação e, de modo amplo, sua filiação teórica e modalidades de atuação de que se utiliza para responder às demandas escolares. No momento estamos recebendo os questionários respondidos e entrando em contato com as demais cidades e psicólogos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Facci (2007) ao trabalhar a vinculação entre a atuação da Psicologia na escola em prol da finalidade de humanização desta, levanta algumas questões: como levar ao conhecimento dos professores que os indivíduos, mesmo com suas dificuldades, podem se desenvolver e que os professores podem auxiliar os alunos no processo de aprendizagem? Como levar o professor a enxergar o aluno para além da situação de pobreza que enfrenta em sua vida? Como incluir todos os alunos no processo de apropriação do conhecimento? Consideramos, nessa pesquisa, que o grande desafio que o psicólogo se defronta, na atualidade, é contribuir, com todos os participantes da escola, na busca de um ideal comum, ou seja, a socialização dos conhecimentos produzidos pela humanidade.

4 Concordamos com Barroco (2007, p. 160) quando a autora afirma que [...] o empenho da psicologia e da pedagogia, sob uma perspectiva crítica, é a luta para que a primeira forma de participação, de apropriação, fruição e usufruto sejam acessíveis a todos. Reafirmamos que o ser humano é resultado de sua história e das condições histórico-sociais em que está inserido. Ele se desenvolve em um processo educativo, primeiramente na vida cotidiana e depois por meio da educação formal. Por isso, os profissionais da Psicologia, ao desenvolverem uma prática profissional calcada em uma visão marxista de homem, têm o privilégio de estar inserido em um dos processos mais vitais e fundamentais da humanização do homem: o movimento em que ele pode apropriar-se do conhecimento e fazer dele um instrumento de desenvolvimento de suas potencialidades (MEIRA, 2000, p. 67). A Psicologia, portanto, contribui com a educação quando desenvolve ações em busca de uma educação emancipatória. REFERÊNCIAS: BARROCO, S. M. S. Psicologia e educação: da inclusão e exclusão ou da exceção e da regra? In: MEIRA, M. E. M; FACCI, M. G D. Psicologia histórico-cultural: contribuições para o encontro entre a subjetividade e a educação. São Paulo: Casa do Psicólogo, p BOCK, A. M. B. As influências do Barão de Münchausen na Psicologia da Educação. In: TANAMACHI, E. R; ROCHA, M. L. & PROENÇA, M. P. R. (Orgs.). Psicologia e Educação: desafios teórico-práticos. São Paulo: Casa do Psicólogo, p FACCI, M. G. D. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo críticocomparativo da teoria do professor reflexivo, do construtivismo e da psicologia vigotskiana. Campinas, SP: Autores Associados, FACCI, M. G. D. Professora é verdade que ler e escrever é uma coisa fácil? Reflexões em torno do processo ensino-aprendizagem na perspectiva vigotskiana. In: MEIRA, E. M.; FACCI, M. G. D; (Orgs.). Psicologia histórico-cultural: Contribuições para o encontro entre a subjetividade e a educação. São Paulo: Casa do Psicólogo, p FACCI, M. G. D. A intervenção do Psicólogo na formação de professores: Contribuições da Psicologia Histórico-Cultural. In: ARAÚJO, C. M. M. (Org). Psicologia Escolar: Novos cenários e Contextos de Pesquisa, Formação e Prática. Campinas, SP: Editora Alínea, 2009 p MACHADO, A. M. Avaliação psicológica na educação: mudanças necessárias. In: TANAMACHI, E. R.; ROCHA, M. L. & PROENÇA, M. P. R. (Orgs.). Psicologia e Educação: desafios teórico-práticos. São Paulo: Casa do Psicólogo, p

5 MEIRA, E. M. Psicologia Escolar: pensamento crítico e práticas profissionais. São Paulo, Tese (Doutorado em Psicologia) Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, MEIRA, E. M. Psicologia Escolar: Pensamento Crítico e Práticas Profissionais. In: TANAMACHI. E. R; PROENÇA. M; ROCHA. M. L. (Orgs.). Psicologia e Educação: desafios teórico-práticos. São Paulo: casa do psicólogo, MEIRA, E. M. Construindo uma concepção crítica de Psicologia Escolar: contribuições da pedagogia histórico-crítica e da psicologia sócio histórica. In: MEIRA, M. E. M. e ANTUNES, M. A. M. Psicologia Escolar: teorias críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, PATTO, M.H.S. Psicologia e Ideologia: uma introdução crítica à psicologia escolar. São Paulo: T.A. Queiroz, SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações. 8. ed. Campinas: Autores Associados, SOUZA, M.P.R. A queixa escolar na formação de psicólogos: desafios e perspectivas. In: TANAMACHI, E. R.; ROCHA, Marisa Lopes & SOUZA, M.P.R. (Orgs.). Psicologia e Educação: desafios teórico-práticos. São Paulo: Casa do Psicólogo, p SOUZA, M.P.R. Problemas de aprendizagem ou problemas de escolarização? Repensando o cotidiano escolar á luz da perspectiva histórico-crítica em Psicologia. In: OLIVEIRA, M. K.; REGO, T. C. e SOUZA, D. T. R. (orgs.). Psicologia, Educação e as temáticas da vida contemporânea. São Paulo: Moderna, p TANAMACHI, E.R. A Psicologia no contexto do Materialismo Histórico Dialético: Elementos para compreender a Psicologia Histórico-Cultural. In: FACCI, M.G. D; MEIRA, E.M. (Orgs). Psicologia Histórico-Cultural: Contribuições para o encontro entre a subjetividade e a educação. São Paulo: Casa do Psicólogo, VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas III. Madrid: Centro de Publicaciones del M.E.C.y Visor Distribuciones, 1995.