Recorrente: Manuel.., representado pelo advogado J. Recorrida: Conservatória do Registo Comercial de.

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1 Proc.º n.º R. Co. 25/2010 SJC-CT Sumário: Início oficioso do procedimento administrativo de dissolução de sociedade comercial por quotas. Despacho de suspensão. Inadmissibilidade de interposição de recurso hierárquico. Recorrente: Manuel.., representado pelo advogado J. Recorrida: Conservatória do Registo Comercial de. Relatório 1 A situação jurídica reflectida nas tábuas com eventual pertinência para a apreciação dos autos, no que respeita à sociedade «V. & V., Lda.», matriculada sob o n.º., é a seguinte: Ap. 3/ Contrato de sociedade - capital social: $00, dividido em 4 quotas do valor nominal de $00 cada, pertencendo duas a cada um dos sócios João. e Manuel, ora recorrente. Dep. 1057/ Acção Pedido: que a acção seja julgada procedente e provada e, em consequência, seja proferida sentença que decrete a exclusão do sócio Manuel, de molde a permitir à autora proceder em Assembleia Geral à aprovação do aumento de capital e sua redenominação em euros, assim se conformando com o disposto no artigo 201.º do CSC. Dep. 3700/ Acção de exclusão de sócio Pedido: que a acção seja julgada procedente e provada e, em consequência, seja proferida sentença que decrete a exclusão do sócio Manuel..., de molde a permitir à autora (a sociedade V. & V., Lda.) proceder em Assembleia Geral à aprovação do aumento de capital e à redenominação deste em euros, assim se conformando com o disposto no artigo 201.º do CSC. Ap. 4/ Av. 2 Pendente de dissolução administrativa. 2 A senhora conservadora iniciou oficiosamente o procedimento administrativo de dissolução e liquidação da sociedade «V. & V., Lda.» (sob o n.º 2/2010), ao abrigo do disposto no artigo 5.º do Regime Jurídico dos Procedimentos Administrativos de Dissolução e de Liquidação de Entidades Comerciais (RJPADLEC), e procedeu à notificação devida dos interessados nos termos do disposto no n.ºs 4 e 5 do artigo 8.º do aludido Regime e no n.º 1 do artigo 167.º do CSC. 1

2 3 O sócio gerente João. vem, ao abrigo do disposto na alínea a) do artigo 9.º do RJPADLEC, informar a conservatória da existência do património da sociedade composto, inclusive, por quatro bens imóveis, diversos créditos e um débito. Mais informa que se encontra pendente uma acção em que é pedida a exclusão do sócio Manuel. e que, se aquela for julgada procedente, é dado, de imediato, cumprimento à disposição violada no que concerne ao aumento do capital e redenominação do mesmo. A viabilidade da sociedade é absoluta, pelo que considera a dissolução uma medida demasiado gravosa para a sociedade e de todo desnecessária se a acção vier a ser julgada procedente já que está na disposição de regularizar a situação tão breve quanto possível 1. 4 Nesta sequência a senhora conservadora, apoiando-se no prescrito no artigo 279.º do CPC, determinou, em 22 de Outubro de 2010, a suspensão do procedimento administrativo de dissolução e liquidação até ao trânsito em julgado da sentença que vier a ser proferida na referida acção. 5 É contra este despacho que o sócio Manuel. interpôs, em 11 de Novembro de 2010, o presente recurso hierárquico nos termos e com os fundamentos que aqui damos por integralmente reproduzidos, dos quais destacamos, em síntese, os seguintes: 5.1 O recorrente, que é titular de 50% do capital social, já em 2002 deu conhecimento à conservatória da desactualização do capital social, para efeitos de dissolução, tanto mais que a sociedade está também há cinco anos, aproximadamente, impossibilitada de cumprir o objecto para o qual foi criada limitando-se a vender garrafas de gás. 5.2 O prazo para a regularização da situação da sociedade já há muito foi ultrapassado, devendo, por isso, ser dado rápido cumprimento à lei determinando-se a dissolução da sociedade, uma vez que não é, de modo algum, legítimo extrair qualquer impedimento para tal da existência da acção referente à sua exclusão de sócio a qual até pode ser julgada improcedente. 1 A intenção aqui manifestada pelo sócio gerente remonta já, pelo menos, a 26 de Outubro de 2001, data em que convocou o outro sócio para uma reunião em assembleia geral a realizar em 26 de Novembro, precisamente com vista ao aumento do capital social para o mínimo legal euros e subsequente redenominação do referido capital. 2

3 Assim, o despacho impugnado deve ser revogado por desrespeitar, pelo menos, o disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 9.º e o n.º 3 do artigo 11.º do RJPADLEC, e, em consequência, declarar-se dissolvida a sociedade «V. & V., Lda.». 6 Os argumentos expendidos pelo recorrente não foram de molde a convencer a senhora conservadora da justeza dos mesmos pelo que, além de suscitar como questão prévia a impropriedade do meio utilizado para a impugnação, sustentou a decisão proferida no aludido procedimento administrativo de dissolução da sociedade por entender que a decisão judicial pode destruir a razão de ser do procedimento 2. 7 Descrito o quadro factual pertinente e sumariadas as posições em confronto cumpre verificar, antes de mais, se a decisão prolatada pela senhora conservadora admite recurso hierárquico. II Pronúncia 1 O Regime Jurídico dos Procedimentos Administrativos de Dissolução e de Liquidação de Entidades Comerciais (RJPADLEC) 3, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 76- A/2006, de 29 de Março, prevê no seu artigo 5.º o início oficioso do procedimento de dissolução de sociedades, designadamente, nos casos em que as sociedades não tenham procedido ao aumento do capital e à liberação deste, nos termos previstos nos n.ºs 1 a 3 e 6 do artigo 533.º do Código das Sociedades Comerciais. Tanto as sociedades que não tenham actualizado o seu capital nos termos impostos pelos n.ºs 1 a 3 do citado artigo 533.º quanto as sociedades que não tenham procedido ao aumento de capital até ao montante mínimo fixado nos artigos 201.º 4 e 276.º, n.º 3, ambos do CSC, devem ser objecto de procedimento oficioso administrativo de dissolução 2 Com efeito, foi junto aos autos a decisão judicial proferida na Comarca do B.. Juízo do Comércio, ainda não transitada, que decretou a exclusão do sócio Manuel.. 3 A aprovação deste regime, como ressalta do preâmbulo do Decreto-Lei n.º 76-A/2006, teve em vista subtrair aos tribunais a competência para a dissolução e liquidação das sociedades comerciais transferindo-a para as conservatórias, sempre com garantia do direito de impugnação judicial. Não obstante o legislador tenha pretendido tornar, tanto quanto possível, desnecessário o recurso à via judicial, o certo é que o regime judicial permanece com aptidão para a dissolução, ainda que em termos residuais (veja-se, em conformidade, o que dispõe, designadamente, a alínea c) do n.º 2 do artigo 292.º do CSC), e com exclusividade em sede impugnatória (cfr. o preceituado no artigo 12.º do aludido Regime). 4 Na redacção anterior à introduzida pelo Decreto-Lei n.º 33/2011, de 7 de Março, o artigo 201.º fixava como capital mínimo a quantia de euros. Com a publicação deste decreto-lei fixou-se, com vista ao fomento do empreendorismo, como se proclama no seu exórdio, o capital mínimo das sociedades por quotas e das unipessoais por quotas por indexação ao número de quotas sociais sendo que o valor nominal de cada uma delas não pode ser inferior a um euro cfr., em conformidade, o disposto nos artigos 201.º e 219.º, n.º 3, do CSC, na sua redacção actualizada. 3

4 como decorre da remissão feita pelo n.º 4 do artigo 533.º (cuja vigência adiante analisaremos) para o artigo 143.º do CSC, estatuição normativa, aliás, repetida no enunciado linguístico da citada alínea d) do artigo 5.º do RJPADLEC Segundo o entendimento de Paula Costa e Silva 6, não há dúvidas de que no referido artigo 5.º se trata de fundamentos da dissolução 7, de função claramente sancionatória, que apenas competem ao conservador dada a sua exclusão do artigo 4.º e a sua inclusão no artigo 5.º do RJPADLEC. Com efeito, no auto, cuja abertura constitui nestes casos um dever funcional do conservador, devem ser especificadas, inter alia, as circunstâncias que determinaram a instauração do procedimento e a causa de dissolução da sociedade visada. Iniciado o procedimento, deve proceder-se, na ficha de registo da sociedade em causa, ao averbamento da pendência da dissolução (com indicação da data do recebimento do pedido, se for o caso, ou da data em que o auto foi exarado) onde se manterá até que haja decisão definitiva que indefira o pedido de dissolução ou declare findo o procedimento (artigo 6.º do RLPADLEC). 2 Apesar do silêncio que emana do referido diploma, a decisão deve apresentar, de harmonia com os ensinamentos de Paula Costa e Silva 8, «uma estrutura e um conteúdo adequados à funcionalidade que prossegue e aos princípios processuais constitucionais gerais». Deste modo, torna-se inevitável, segundo a Autora, estabelecer alguma semelhança com o que estatuem os artigos 659.º a 661.º do CPC. Por conseguinte, a decisão do conservador deve ser estruturada nos seguintes termos: a) intróito, moldado sobre o requerimento ou o auto, consoante o caso; b) fundamentos de facto e de direito pertinentes para a decisão; e c) conclusões ou decisão propriamente dita. legais. A decisão proferida é sempre notificada a todos os interessados no prazo e termos 5 Tem-se defendido que às três causas de dissolução oficiosa expressamente consignadas no artigo 143.º do CSC deve acrescentar-se uma outra a prevista na alínea d) do artigo 5.º do RJPADLEC vd, entre outros, CASSIANO DOS SANTOS, in ob. cit., págs. 153 e segs. 6 In Código das Sociedades Comerciais, coordenado por MENESES CORDEIRO, 2009, págs e segs. 7 Cfr., em sentido diverso, CASSIANO DOS SANTOS, in Dissolução e Liquidação, págs.155 e segs., que refere que apenas na norma em apreço (isto é, na alínea d) do artigo 5.º), pressuposto e causa são coincidentes, o que já não acontece nas demais alíneas do aludido preceito visto respeitarem a «circunstâncias». 8 In ob. cit. págs e segs. 4

5 3 Por seu turno, a tutela dos direitos dos interessados é garantida mediante a admissibilidade de impugnação judicial da decisão proferida pelo conservador no procedimento de dissolução, nos termos prescritos no artigo 12.º do RJPADLEC 9. A propositura da acção judicial considera-se feita com a apresentação da petição no serviço de registo detentor do procedimento respectivo, no prazo de 10 dias, a contar da notificação da decisão. Como corolário lógico do exposto, forçoso é concluir que só o tribunal judicial tem competência material para apreciar a decisão prolatada pelo conservador em sede de procedimentos administrativos de dissolução e liquidação das entidades comerciais. 4 Em face do regime jurídico consagrado no artigo 12.º do RJPADLEC, o despacho da senhora conservadora não é susceptível de recurso hierárquico para o Presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, I.P., devendo o mesmo ser rejeitado ao abrigo do disposto na alínea b) do artigo 173.º do CPA. III Proposta de decisão Em consonância com o exposto, o Conselho propõe a rejeição do presente recurso hierárquico, firmando as seguintes Conclusões I A decisão proferida pelo conservador no âmbito do procedimento administrativo de dissolução e de liquidação de entidades comerciais é impugnável judicialmente ao abrigo do prescrito no artigo 12.º do Regime Jurídico dos Procedimentos Administrativos de Dissolução e de Liquidação de Entidades Comerciais, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março. 9 Veja-se, adrede, CASSIANO DOS SANTOS, in ob. e págs. cit., onde salienta que a sociedade ou os outros interessados quando discordem das decisões tomadas no procedimento só podem lançar «mão da faculdade de impugnação judicial da decisão tomada no procedimento administrativo de dissolução conferida pelo artigo 12.º do Anexo III ao Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março». 5

6 II Assim, a decisão do conservador proferida no âmbito do procedimento administrativo de dissolução da sociedade só pode ser impugnada judicialmente pelos interessados, observando-se o prazo de dez dias a contar da sua notificação. III Em face do que precede, o recurso hierárquico interposto contra a decisão do conservador de suspender o referido procedimento de dissolução da sociedade deve ser rejeitado nos termos do disposto na alínea b) do artigo 173.º do Código do Procedimento Administrativo. Lisboa, 27 de Julho de Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 27 de Julho de Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora, João Guimarães Gomes Bastos, Luís Manuel Nunes Martins, Ana Viriato Sommer Ribeiro, Carlos Manuel Santana Vidigal. Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em

7 FICHA Proc.º n.º R. Co. 25/2011 SJC-CT Súmula das questões abordadas Impugnação judicial da decisão proferida no procedimento de dissolução de sociedade comercial artigo 12.º do RJPADLEC Rejeição da recurso hierárquico artigo 173.º do CPA. Interpretação das normas do artigo 533.º do CSC à luz do disposto no Decreto- Lei n.º 33/2011, de 7 de Março, no que concerne ao capital mínimo das sociedades comerciais por quotas e às sociedades unipessoais por quotas e subsequente dissolução Revogação tácita. ***** 7