Os profetas do Antigo Testamento já tinham anunciado que chegaria um dia no qual os sacrifícios de sangue seriam substituídos pelos sacrifícios

Transcrição

1 Os profetas do Antigo Testamento já tinham anunciado que chegaria um dia no qual os sacrifícios de sangue seriam substituídos pelos sacrifícios espirituais, no qual a Lei escrita, exterior, cederia o lugar a uma lei interior escrita nos corações, (Ez 36,26-27) por meio da qual ninguém mais precisará ensinar ao seu irmão a reconhecer o Senhor, porque todos os conhecerão, uma vez que todos terão se tornados discípulos de Deus (Is 54,13). Doravante é esta a condição para conhecer e acolher verdadeiramente Jesus, e ao mesmo tempo, esta é a razão pela qual os Judeus que escutam o seu ensinamento, não conseguem crer nele. Eles julgam Jesus ainda a partir da velha teologia, há muito superada, bitolados como estão pelas minúcias das prescrições de uma Lei que há muito não se assemelha mais á Palavra 1

2 de Deus, uma lei que se degenerou até tornar-se pura casuística humana. Enquanto que como Jesus acabou de lembrar os profetas tinham anunciado que chegaria um dia em que todos seriam instruídos diretamente por Deus. Por isso não podem compreender como aquele homem, de quem conhecem bem os pais e o estado civil, possa ter descido do céu, como também não podem compreender que pão já dado por Moisés no deserto indicava já aquele que Jesus agora trás a eles, a sua carne para a vida do mundo. Aos que escutam ao filho de José, resta um passo ainda para darem se quiserem verdadeiramente conhecer Jesus. Um passo apenas, ou seja, precisam abandonar seus raciocínios e suas sutis reflexões sobre Deus, e inclinar o ouvido 2

3 do coração para escutar um outro ensinamento. Um ensinamento que não venha mais do externo, mas que deságüe no mais profundo do coração deles, minando na presença de Jesus. Jesus disse: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não atrair. E logo depois acrescenta: Quem escuta o ensinamento do Pai e dele aprende vem a mim. A atração interior, o fascínio exercido pelo Pai no recôndito mais secreto do coração, quase imperceptível, e o seu ensinamento, impetrado no mais íntimo do homem, como um sopro ou como um murmúrio apenas audível, eis o critério absolutamente novo que a presença de Jesus suscita em todo discípulo seu, o único meio capaz de levá-lo a reconhecer verdadeiramente Jesus. 3

4 Ninguém pode vir a mim, se o Pai não o atrair (Jo 6,44). Estas palavras de Jesus significam o fim de toda teologia ou de toda catequese, ou fim de muitos debates, apologias que se esforçam em justificar Deus à luz da razão? Não é bem isso. Mas estas palavras nos sugerem os limites das nossas tentativas de evangelizar o mundo, e nos aponta a única fonte a partir da qual um ensinamento ministrado do externo pode frutificar, ou seja, a partir do fascínio secreto que o pai exercita no íntimo dos nossos corações. Fora desta fonte, todo ensinamento seria uma vã construção intelectual e ideológica. Os ouvintes de Jesus tiveram alguma dificuldade em reconhecer esta atração do Pai que, todavia, estava presente no filho do carpinteiro. Mas não é dito que hoje nós somos mais favorecidos pela sorte. De 4

5 fato, esta atração permanece sempre secreta, no sentido que age a uma profundidade do nosso ser à qual geralmente não temos acesso. E quantas vezes simplesmente mantemos o acesso bloqueado, fria e ansiosamente! Por qual o obscura razão? Por temor de qual vertigem desestabilizadora? Na maior parte dos casos não sabemos responder. E todavia, algumas vezes basta silenciar, prestar atenção, com paciência, ao que se passa no íntimo do nosso coração. O Pai ali está e não cessa nunca de atrair-nos a Jesus. Ele espera tanto que nós baixemos as armas, que nos rendamos, que cedamos a esta atração, mesmo ignorando onde ele poderia nos conduzir. Por que ter medo? O Pai nos conduzirá sempre a Jesus, cada vez mais a Jesus. Confiar na 5

6 atração do pai, com todo o coração, significa crer. AMÉM. 6