APLICAÇÕES DOS ALFA HIDROXIÁCIDOS NA COSMÉTICA DERMATOLÓGICA

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1 APLICAÇÕES DOS ALFA HIDROXIÁCIDOS NA COSMÉTICA DERMATOLÓGICA Maria Cristina Mansur Reis Roberto Pereira Neto Sandra Medeiro Bryan Hudson Hossy RESUMO Nos últimos anos, a preocupação das pessoas com o cuidado, tratamento e a estética da pele vem crescendo, e assim, cada vez mais têm sido utilizadas formulações dermatocosméticas e cosméticas que, contém Alfa-hidroxiácidos na sua composição. Estes produtos quando preparados e utilizados de forma correta, podem atuar em diferentes aspectos da pele, atuando principalmente em casos de acne, em pele desvitalizada, estrias, ictiose e hiperqueratose, com melhora significativa em peles fotoenvelhecidas. Este trabalho aborda aspectos químicos, mecanismo de ação, indicações e eficácia terapêutica, bem como os efeitos adversos dos alfa-hidroxiácidos quando utilizado em tratamentos estéticos. PALAVRAS-CHAVE: Alfa-hidroxiácidos; Cosmética; Dermatocosmética.

2 INTRODUÇÃO Nos últimos anos surgiram produtos no mercado de cosméticos que têm funções mais complexas do que limpeza e embelezamento da pele. Esses vem sendo definidos pelos fabricantes de dermatocosméticos, cosmético funcional ou ainda cosmético de desempenho, mas essas palavras não são usadas ou mesmo aceitas por unaminidade. Trata-se de formulações de uso pessoal que atuam beneficamente sobre o organismo, causando modificações positivas e duráveis na saúde da pele. Utilizam diversos tipos de substâncias químicas como matérias-primas nas formulações de diferentes produtos (Galembeck e Csordas, 2011). A cosmética é um setor em nítido crescimento, que é incentivado não só pela pesquisa científica, mas também por demonstrar reais ações terapêuticas. Também, devido a grande importância que as pessoas dão aos cuidados estéticos, essa área torna-se amplamente aceita e praticada. Sendo assim, um verdadeiro mundo de novas formulações esta surgindo, devido a estudos e o resgate de substâncias milenares, juntamente, com uso de tecnologias avançadas, resultando desta maneira, em produtos cada vez mais seguros e eficazes. As substâncias que vem sendo mais estudadas nos últimos anos, são os Alfa-hidroxiácidos (AHAS), vem sendo utilizados desde 1974, no tratamento tópico de Ictiose. Atualmente há muitos produtos no mercado que contém um ou mais Alfa-hidroxiácidos na suas formulações, sendo sempre os seus principais componentes. A preocupação das pessoas em receber mais informações sobre o AHA é grande, devido aos benefícios e marketing de mercado que vem sendo apresentando (NARDIN e GUTERRES, 1999). Os Alfa-hidroxiácidos são de origem orgânica e são extraídos de frutas, da cana-de-açúcar e do iogurte, sendo que, fazem parte desses produtos, os ácidos glicólico, láctico, málico, tartárico e cítrico, assim como também existem o ácido glicérico (ácido di-hidróxi- propiônico), ácido tartrônico (ácido hidróxi-propanodióico), ácido ascórbico, ácido glucônico, ácido mandélico e ácido benzílico. Dentre estes os mais utilizados nas formulações cosmecêuticas são o ácido glicólico e o ácido láctico (NARDIN e GUTERRES, 1999).

3 Os Alfa-hidroxiácidos são um grupo de ácidos carboxílicos que entram na composição cosmecêutica de vários produtos de tratamento estético e dermatológico, em procedimentos para reduzir rugas, amaciar a pele e promover esfoliação química (peeling), agindo na descamação na pele e emoliência da pele. Apesar da grande capacidade de esfoliação para a pele, a pouco tempo, a cosmecêutica descobriu sua capacidade de penetração com eficácia na pele, ou seja, não atua apenas superficialmente. Por isso, vem sendo utilizado no tratamento da pele, com muita frequência, principalmente em casos de acne, verrugas vulgares, melasma, queratoses faciais, envelhecimento cutâneo e estrias. Pode ser observado que o desenvolvimento dos cosmecêuticos só tende aumentar e crescer cada dia mais. O desejo da indústria cosmecêutica de melhorar a aparência da pele e de atender a demanda de consumidores, que se demonstram extremamente interessados nos resultados eficazes desses produtos. A preocupação da população com a saúde e a aparência física tem impulsionado esses desenvolvimentos tecnológicos na cosmecêutica. Observa-se que os avanços tecnológicos em tratamentos de revitalização da pele, cada dia obtém resultados mais eficazes. A química dos cosmecêuticos favoreceu esse progresso, após o surgimento do Àcido Retinóico, que foi a primeira substância com ação comprovada contra as rugas. Esse ácido foi inicialmente empregado no tratamento da acne, mas com tempo, foi observado pelos pacientes que, a pele apresentava melhora na firmeza. Logo depois do surgimento do Ácido Retinóico, foi descoberto o Ácido Glicólico, a Vitamina C (Ácido Ascórbico) e outros princípios ativos, como o Ácido Hialurônico, também se destacaram. A partir dai essas substâncias, começaram a ser utilizadas em formulações, devido a suas propriedades de regeneração celular, estímulo da produção de colágeno e elastina. Atualmente, tratamentos com ácidos são feitos em consultórios dermatológicos, clínicas e centros de estética e encontrados em cremes de uso domiciliar, sendo que, este último possui ácidos em concentrações menores e deverá ser indicado por um profissional, de acordo com, a necessidade do cliente.a utilização indevida e sem indicação dos os alfa-hidroxiacidos poderá provocar Sendo que efeitos adversos, como irritação, ardência, sensibilidade a exposição solar, formação de bolhas, sangramento, erupções, coceira e até

4 mudança da coloração da pele podem ocorrer. Levando-se em consideração, estes efeitos adversos, observa-se a importância desse trabalho em abordar os aspectos químicos, mecanismo de ação, indicações, eficácia terapêutica, e os efeitos adversos dos Alfa-hidroxiacidos, para o melhor entendimento e utilização dos mesmos em tratamentos estéticos. METODOLOGIA Para escrever esse artigo foi realizado um estudo bibliográfico comparativo, tendo-se como instrumentos de apoio livros, artigos e sites inerentes ao tema abordado. O estudo foi qualitativo, do tipo descritivo e exploratório e utilizado com objetivo de obter maiores informações a respeito dos Alfa-hidroxiacidos, muito utilizados atualmente, em produtos cosméticos voltados para tratamentos estéticos e dermatologicos. REVISÃO DE LITERATURA Alfa-hidroxiácidos (AHAS) Os Alfa-hidroxiácidos são substâncias bioquimicamente elementares, já estudados em profundidade em todos os aspectos e usados nas formulações, em grande quantidade, em numerosos produtos industriais e nos tratamentos dermatológicos e estéticos. Sendo que as principais fontes naturais de obtenção são: Ácido lático: amora preta,abacaxi, alcachofra e leite; Ácido cítrico: limão, laranja, cássia e sambuca; Ácido glicólico: cana-de-açúcar, uva verde, beterraba e abacaxi; Ácido málico: maçã e pêra; Ácido tartárico: uva, tamarindo, abacaxi, amora e no mosto; Ácido glicérico: açúcar; Ácido ascórbico: presente em diversas frutas e legumes; Ácido glucônico: derivam da oxidação da glucose, encontra-se nas frutas, mel e vinho;

5 Atividade biológica dos AHAS Os Alfa-hidróxiácidos (AHAS) agem diminuindo as forças de coesão, existentes entre os grupos portadores de carga positiva e de carga negativa, localizados na camada externa dos queratinócitos dos níveis inferiores do estrato córneo, resultando em descamação do mesmo. Os alfa-hidróxiácidos (AHAS) também aumentam a irrigação da camada basal, estimulam a renovação celular, promovem aumento do conteúdo hídrico e aumenta a plasticidade do estrato córneo (CUNHA, et al). Segundo Kaminsky (1990), baixas concentrações de Alfa-hidróxiácidos (AHAS) reduzem a coesão dos corneócitos no estrato córneo ou interferem nas ligações iônicas intercelulares, visto que, um tratamento com Alfa-hidroxiácidos (AHAS) durante várias horas, pode romper estruturas que mantêm as células epidérmicas unidas ou, ainda, por inibição enzimática de reações da sulfato transferase, fosfotransferase e quinases, levar pouquíssimos grupamentos fosfato e sulfato eletronegativos para a camada externa dos corneócitos, resultando assim, na diminuição das forças de coesão entre eles que provocam, com isso, um afinamento na camada do estrato córneo (Van Scott, 1989). Também, possui efeito plastificante tornando a pele mais flexível e menos vulnerável, e provoca um aumento da hidratação do estrato córneo através das propriedades umectantes. SMITH (1995), afirma que em concentrações elevadas de AHA ocorre maior permeação, que pode alterar diretamente a fisiologia da pele onde, a ação de enzimas com funções críticas, associadas à proliferação da pele, diferenciação ou reações inflamatórias, podem ser diretamente manipuladas através de mudanças no ph. Aplicação dos AHAS na Cosmética Inicialmente os alfa-hidróxiácidos (AHA), particularmente o Ácido Lático e o Cítrico, foram usados como hidratantes e esfoliantes, sendo que atualmente, são muito empregados em preparações cosméticas para prevenir

6 o envelhecimento da pele. Considera-se que essa capacidade de inibir os processos de envelhecimento, deriva da sua ação sobre o estrato córneo, controlando a sua formação e inibindo a hiperqueratinização. Esses Alfahidróxiácidos são utilizados em tratamentos estéticos em cabine ou domiciliar com indicação do profissional habilitado, em tratamentos dermatológicos com a indicação da dermatologista. Outro ácido muito usado é o Glicólico, em peeling facial, os dermatologistas usam uma solução de 50 a 70%. Essa solução provoca uma descamação branda e superficial da pele. Sua ação consiste em queimar as células mortas e acelerar a divisão e multiplicação de novas células para renovar a pele (Usberco e Salvador). Na aplicação domiciliar em concentrações inferiores de 2 a 12%. O ph é um fator importante para determinar a potencial de ação. Em um peeling médico pode ser utilizado o ph de até 0,6, assim poderá queratolizar a epiderme. Já nas loções tônicas aquosas ou hidroalcoólicas (adstringentes) são adicionados também ácidos orgânicos fracos para ajustar o ph do produto ao ph da pele. Os ácidos mais utilizados para promover esse ajuste são o cítrico e o lático (Borges). Indicação Estética e Eficácia dos AHAS Segundo Kede (2003), entre os ácidos mais utilizados estão, o Ácido Glicólico que possui ação despigmentante, hidratante e queratolítico. É indicado em tratamento de queratoses actínicas, melasma, cicatrizes de acne, estrias, rugas finas e lesões de fotoenvelhecimento. Já o Ácido Mandélico, age como renovador celular, clareador, e é usado para tratamento de acne inflamatória não-cística. Além disso, prepara a pele para o peeling a laser e auxilia a cicatrização e prevenção de infecções causadas bactérias gram-negativas após este procedimento. Sendo que, durante o processo infeccioso, age combatendo as bactérias e prevenindo a formação de novas lesões, além de trabalhar na cicatrização, colaborando com o tratamento de eventuais sequelas (Borges, 2006). No caso de hiperpigmentação, o Ácido Mandélico, atua na inibição da síntese de melanina e na melanina já depositada na superfície da epiderme,

7 ajudando a promover uma eficaz remoção dos pigmentos hipercrômicos. Pode ser usado para estimular o turnover celular e na remoção da capa córnea fotoenvelhecida (Borges, 2006). Dentre outras opções para tratamentos estéticos o Ácido Lático possui ação emoliente e refrescante sobre a pele, conhecido há algum tempo e bastante documentado. Utilizado em concentrações mais altas para promover a ação queratolítica, remove o excesso de queratina, utilizado no tratamento de calosidades, verrugas e peles espessas e o Ácido Cítrico tem propriedades adstringentes e clareadoras. Para tanto, em ordem de eficácia estão o ácido glicólico, ácido láctico, ácido mandélico, ácido benzílico e ácido málico (Kaminsky, 1990). Os AHAS demonstram normalizar o processo de queratinização levando a um estrato mais normal, mais fino e compacto por penetrar no mesmo e diminuir a coesão dos corneócitos com redução nos sintomas da pele seca. Apesar disto, os sintomas de pele seca incluindo xerose e ictiose, ainda não são suficientemente controlados (NARDIN e GUTERRES, 1999). Os AHAS são utilizados nos tratamentos de verrugas vulgares, aplica-se normalmente concentrações elevadas de ácido glicólico ou de ácido pirúvico. Essas aplicações devem ser feitas somente nas lesões (verrugas) e não na pele circundante o que promoveria efeitos indesejáveis. Também são utilizados em associação de ácido glicólico 10% e hidroquinona 2%, é mais eficiente do que este último isoladamente em tratamentos de melasma, hiperpigmentação, (NARDIN e GUTERRES, 1999). Para NARDIN e GUTERRES(1999), os AHAS são empregados no tratamento de queratoses seborreica, facial e actínica e mancha senis (queratoses e lentigos) e, estão sendo amplamente utilizados na pele fotoenvelhecida. Sendo que, em baixas concentrações (5% a 10%) parecem ser relativamente efetivas na redução de danos resultantes da exposição solar e de outros fatores ambientais. Podem ser aplicados em casa, enquanto que, concentrações mais elevadas (70%) devem ser aplicadas no consultório médico em associação a um fator de proteção. A aplicação tópica pode causar melhoras significativas nos componentes dérmicos e epidérmicos. Também, diminuem a espessura do estrato córneo hiperqueratinizado por reduzir a coesão dos corneócitos, induzem à síntese de mucopolissacarídeos e colágeno

8 na pele fotodanificada, impedem, parcialmente, a atrofia epidérmica, mudanças citológicas e diminuição na síntese de glicosaminoglicanas. De uma maneira geral, os AHA melhoram o aspecto da pele envelhecida como rugas, aspereza ao toque e manchas hiperpigmentadas. Cuidados no uso dos AHAS A profundidade do peeling químico será variável de acordo com a concentração, o tipo e o seu ph do ácido utilizado. O risco de lesões será tanto maior quanto mais profundo for o peeling (Borges, 2006). É importante ressaltar que somente é permitido pela ANVISA, que Esteticistas usem em cabine o Ácido Glicólico na concentração máxima de 10% e ph 3, sendo as que, concentrações maiores e ph mais ácidos(inferior a 3), são de competência médica. NARDIN e GUTERRES (1999), dizem que reações indesejáveis, causadas pelos AHA incluem eritema severo, inchaço (especialmente na região dos olhos), queimação, formação de bolhas, sangramento, erupções, coceira e descoloração da pele. Sendo que, o uso em concentrações mais altas consequentemente proporcionam complicações mais elevadas. Várias características podem contribuir nessas complicações, como por exemplo, pele jovem e fina, exposição solar antes e depois de peelings, uso concomitante de ácido retinóico e medicações fotossensibilizantes. Também, produtos contendo AHA podem tornar usuários mais sensíveis à luz do sol e, principalmente, à radiação ultravioleta. Desse modo se faz de extrema importante a utilização de um protetor ou bloqueador solar (NARDIN e GUTERRES, 1999). CONCLUSÃO Através das pesquisas realizadas para elaboração deste artigo, observou-se, a importância da inserção dos ativos Alfahidroxiácidos (AHA) nas composições de produtos cosméticos para a utilização estética e dermatológica, e que o uso dos peelings deve obedecer a indicação de um profissional (dermatologista, esteticista ou médico) habilitado, de acordo com as suas concentrações e ph, para obter um resultado desejado e não sofrer qualquer tipo de reação indesejada que cause danos á pele. Os clientes que

9 estão fazendo o uso dessas substâncias devem seguir as orientações dos profissionais que estão fazendo o acompanhamento do tratamento, a fim de evitar possíveis complicações. É importante evitar ao máximo a exposição solar e que utilizar protetor ou bloqueador adequadamente. Pode-se concluir que, tratamentos de pele com AHAS promovem regeneração celular, melhora da textura, e redução de problemas causados pela acne, como manchas e cicatrizes. Além disso, tratam estrias, queratoses, e promovem a revitalização da pele, com isso, pode-se comprovar a efetiva eficácia da utilização dos alfa-hidroxiácidos (AHA).

10 REFERÊNCIAS 1- BORGES, F. S.; Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas, Dermato-funcional, editora Phorte, p , CUNHA, A.P.; SILVA, A.P.; ROQUE, O.R; et al. Plantas e Produtos Vegetais em Cosmética e Dermatologia, edição da Fundação Calouste Gulbenkian, p.47-62, GALEMBECK, F.; CSORDAS, Y. Cosméticos: a química da beleza, Museu digital de ciências e sala virtual de leitura, p. 1-6, HERMITTE, R. Aged skin, retinoids, and alphahydroxy acids. Cosmet. Toiletries, w.107, p.63-67, KEDE, M.P.V. Peelings químicos surperficiais e médios. Sabatovich, Dermatologia estética. São Paulo: Atheneu, KAMINSKY, C. A. Alfa-hidroxiácidos. Acta Terap. Dermatol. v.13, p , SMITH, W. P. Hidróxi-ácidos e o envelhecimento cutâneo. Cosmet. Toiletries, v.7, p.72-78, VAN SCOTT, E. J.; YU, R. J. Alpha hydroxyacids: therapeutic potentials. Can. J. Dermatol., v.1, p , Biodisponibilidade de alfa-hidroxiácidos em Formulações Tópicas. Cosméticos On Line, n.104, p.38-44, 1997.