PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA

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1 ACÓRDÃO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA APELAÇÃO - CÍVELN /001. ORIGEM : 2' Vara da Comarca de Monteiro. RELATOR : Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira: APELANTE : Companhia de Seguros Aliança do Brasil. ADVOGADO : Carlos Antônio Haden Filho e outros. APELADO : Espólio de Silton Feitosa Ferreira, representado por Maria das Graças Ferreira Remígio. ADVOGADO : Luiz Sérgio de Oliveira e outros. EMENTA: APELAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA E ACIDENTES PESSOAIS. MORTE DO SEGURADO. ALEGAÇÃO DE NÃO RECEBIMENTO DA COBERTURA SECURITÁRIA. PAGAMENTO ADMINISTRATIVO INFERIOR AO DEVIDO. COMPLEMENTAÇÃO DO CAPITAL SEGURADO. PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO. RECURSO. PAGAMENTO INTEGRAL DA INDENIZAÇÃO - DEVIDA AOS BENEFICIÁRIOS. INEXISTÊNCIA DE SALDO REMANESCENTE. DEVOLUÇÃO EM DOBRO DO VALOR COBRADO INDEVIDAMENTE. IMPOSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO ART DO CC/1916 (ART. 940 DO CC/2002). LITIGÂNCIA MÁ-FÉ. INOCORRÊNCIA. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE. "Já estabeleceu a jurisprudência desta Corte que a indenização prevista no art do Código Civil de 1916 exige que o credor tenha agido de má-fé ao demandar o devedor por dívida já paga, total ou parcialmente, sem ressalvar valores recebidos. Incidência da súmula 159/STF" (STJ, REsp /PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 30/11/2009). Não se vislumbra a litigancia de má-fé no ajuizamento de demanda para tutelar direito que entende cabível, constituindo mero exercício do direito constitucional, e ninguém pode obstar outrem do direito de ação, art. 5 0, inciso XXXV, da Constituição Federal. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível, processo n /001, em que figuram como Apelante Companhia de Seguros Aliança do Brasil e Apelado Espólio de Silton Feitosa Ferreira, representado por Maria das Graças Ferreira Remígio. ACORDAM os eminentes Desembargadores integrantes da Egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, acompanhando o voto do Relator, conhecer do Recurso para, afastadas as preliminares, no mérito, dar-lhe provimento parcial para reformar a Sentença, afastando a condenação da Apelante ao pagamento da diferença da cobertura do seguro decorrente de morte acidental relacionada à apólice n , custas pro rata e honorários advocaticios que se compensam, em razão da sucumbência reciproca. VOTO. O Espólio de Silton F erreira, representado por Maria das Graças \ r B. Rotàro tivixcel.o d Fons.-4 Oke» Des.gb,bé:,, dor

2 Ferreira Refulgi ajuizou, perante o Juízo da 2' Vara da Comarca de Monteiro, Ação Ordinária de Cobrança, processo n , em face de BRASILSEG Seguradora do Brasil S/A e/ou Companhia de Seguros Aliança do Brasil. Alegou que (1) Silton Feitosa Ferreira, em 18/05/1999, celebrou contrato denominado "seguro ouro vida" com a Ré, segurando o valor de R$ ,00 para o caso de morte natural, invalidez permanente total ou parcial por acidente ou por doença. e de R$ ,00, em caso de morte acidental, informando como beneficiários a esposa e três filhos, na proporção de 25% para cada um; (2) em 30/12/2000, o Contratante morreu, vítima de acidente automobilístico; (3) em 16/01/2001, a esposa do falecido, Maria das Graças Ferreira Remígio, foi até a agência do Banco do Brasil na cidade de Monteiro, onde comunicou o fato e assinou alguns documentos, não sabendo do que se tratava; e (4) a Ré se recusa a pagar o quantum indenizatório aos legítimos beneficiários do seguro. Requereu a antecipação da tutela no sentido de se determinar que a Ré pagasse imediatamente o valor do capital segurado correspondente ao evento morte acidental. Pediu a concessão de assistência judiciária gratuita e reiterou o pedido de condenação da Ré ao pagamento do quctntum indenizatório, acrescido de correção monetária e juros de mora, deduzidos os valores dos recibos que porventura os beneficiários do seguro tenham assinado. O Juízo indeferiu o pedido de gratuidade de justiça, f. 38, sob o fundamento de que o Espólio tinha condições financeiras para suportar as despesas inerentes às custas : processuais, determinando a expedição da guia para o respectivo pagamento. A parte autora requereu a emenda da inicial para proceder à substituição voluntária pelos legítimos beneficiários do Segurado no polo ativo da demanda, no entanto, o Juízo silenciou quanto ao pedido e impulsionou o feito, f. 54. Na Contestação, f. 65/85, a Ré arguiu, preliminarmente, a extinção do processo com resolução de mérito, por carência de ação, por já ter efetuado o pagamento da indenização relativa ao sinistro em questão, tendo cada um dos beneficiários do seguro recebido o valor de R$ ,66, totalizando o montante de R$ ,64, já atualizado monetariamente, pelo qual deram plena e geral quitação. No mérito, alegou que (1) responde tão somente pelos riscos assinalados na apólice e dentro dos limites da indenização ajustada; (2) as limitações e condições gerais dos seguros que comercializa foram regulamentadas e aprovadas pela Superintendência de Seguros Privados SUSEP, entidade autárquica vinculada ao Ministério da Fazenda e responsável pela fiscalização dos seguros oferecidos no mercado; (3) efetuou o pagamento do quantum indenizatório considerando o evento morte acidental do segurado, restando correta e integralmente adimplida sua obrigação contratual; e (4) a parte autora incorreu em litigância de má-fé, por alterar a verdade dos fatos e deduzir pretensão contra fato incontroverso. Em seguida, a Ré apresentou Reconvenç'ão, f. 122/133, alegando (1) ser credora do valor de R$ ,78, cobrado indevidamente pelo Reconvindo, nos termos do art. 940 do CC (art do CC/1916), urna vez que, comprovadamente, a dívida já foi paga sem qualquer ressalva; e (2) má-fé do Rec vindo por pleitear dívida inexistente. O Juízo chamou o feito, f. 187, e determinou à Contadoria Judicial que Des'eri.baliáGc:r

3 procedesse a atualização dos cálculos das custas processuais para o devido pagamento pela parte Autora. Contra essa Decisão, a parte Autora interpôs Agravo de Instrumento, f. 190/199, improvido pelo Acórdão de f. 311/313, em face do reconhecimento da preclusão da pretensão autoral. Em seguida, a.parte Autora, f. 308, apresentou o comprovante de pagamento referente às custas processuais, e Contestação à Reconvenção, f. 322/327, arguindo a prejudicial de mérito concernente à prescrição trienal (CC, art. 206). No mérito, alegou que os beneficiários do seguro não receberam os valores descritos nos recibos de indenização de sinistros de f. 114/121, ficando referidos valores retidos no Banco do Brasil, agência de Monteiro-PB, para pagamento de dívidas do de cujus, como pessoa física e jurídica. Requereu que (1) fosse oficiado ao Banco Central para que remetesse cópia das microfilmagens dos cheques consignados nos documentos de f. 114/121, e o Banco do Brasil, agência de Monteiro-PB, para que informe a quantia que teria sido retida à época da "pré-falada" quitação da apólice do seguro; (2) fosse realizada perícia contábil nas contas bancárias do de cujus; e (3) o funcionário Pedro Leôncio de C. Neto e o Gerente à época, da agência Monteiro-PB, do Banco do Brasil S/A, prestassem depoimentos pessoais nos autos. Na Sentença de f. 422/432, o Juízo julgou parcialmente procedente o pedido, condenando a Companhia de Seguros Aliança do Brasil a pagar ao Espólio de Silton Feitosa Ferreira, neste ato representado pela inventariante Maria das Graças Ferreira Remígio, o valor de R$ ,68 (sessenta e quatro mil quinhentos e cinquenta e quatro reais e sessenta e oito centavos), a título de diferença da cobertura securitária, decorrente da morte acidental relacionada à apólice de n , que substituiu a anterior de n (documento de f. 113), acrescido de correção monetária, a partir da data do sinistro (30/12/2000), e juros de mora no percentual de 1% ao mês a contar da citação, custas pro rata e honorários advocatícios que se compensam, em razão da sucumbência recíproca. Em relação à Reconvenção, indeferiu a petição por inépcia, ato contínuo, extinguiu sem resolução de mérito, nos termos do art. 295, I, parágrafo único, c/c art. 267, I, ambos do CPC, condenando a Ré/Reconvinte ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% do valor atribuído à causa na Reconvenção. Inconformada, a Companhia de Seguros Aliança do Brasil interpôs Apelação, f. 435/444, alegando que (1) os recibos de indenização de sinistro às f. 114/121 mostram-se como prova inequívoca da quitação da cobertura securitária por morte acidental, respeitada a proporção de 25% do capital segurado, e que cada beneficiário recebeu a quantia de R$ ,64, já devidamente atualizada monetariamente, inexistindo qualquer saldo remanescente a ser satisfeito; (2) faz jus à restituição em dobro da quantia indevidamente cobrada, conforme descrito no art. 940 do CC (art do CC/1916). por se tratar de dívida já paga; e (3) ocorreu inequívoca má-fé do Apelado, por alterar a verdade dos fatos e pleitear dívida inexistente. Nas Contrarrazões, f. 453/468, o 1 sn. o, por sua inventariante, arguiu, preliminarmente (1) a intempestividade d lação; e (2) a irregularidade de ed. Ra: f,a 2 :).91ydd O r

4 representação processual, em razão do prazo de validade estabelecido na procuração ter expirado. No mérito, alegou que (1) requereu a microfilmagem dos cheques consignados nos recibos de indenização de sinistros, f. 114/121, mas não lhe foi apresentado; (2) faz jus à complementaçã.o da indenização securitária, no valor de R$ ,68; e, ao final, pugnou pela manutenção da Sentença. Instada a se manifestar, a Procuradoria de Justiça opinou às f. 481 pelo regular processamento do Recurso, por ausência de interesse público primário. Em Decisão Monocrática, de Relatoria do Juiz Convocado, Dr. Tércio Chaves de Moura, f. 483/484, foi negado seguimento ao Recurso, nos termos do art. 557, caput, do CPC, pela ausência do comprovante eletrônico expedido pela agência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, apto a comprovai - a tempestividade da interposição da Apelação. Contra essa Decisão, a Seguradora interpôs Agravo Interno, f. 486/503, demonstrando a tempestividade da Apelação, por meio do protocolo de postagem, chancelado pela agência da EBCT, em 08/04/2011, f. 511, o qual foi provido, conforme Acórdão de f. 513/514, para dar seguimento à Apelação. Recurso tempestivo e devidamente preparado. É o relatório. Presentes os requisitos de admissibilidade recursal, conheço da Apelação. O Apelado suscitou em Contrarrazões as preliminares de intempestividade do Recurso apresentado pela Seguradora e de irregularidade de representação processual. Quanto à intempestividade da Apelação não cabe rediscutir a matéria já apreciada e decidida em sede de Agravo Interno, f. 513/514. Em relação à segunda preliminar, concernente à irregularidade de representação processual, esta já foi suprida com o instrumento de mandado juntado às f. 520/526 No mérito, partindo-se da análise do extrato da proposta de n do seguro ouro vida, f. 112, infere-se a previsão de cobertura nas seguintes modalidades e valores: (I) morte natural e invalidez permanente total por doença: R$ ,89; (II) invalidez permanente total ou parcial por acidente: até R$ ,89; (III) morte acidental: R$ ,78(0 dobro do capital básico segurado R$ ,89). Após o falecimento do segurado Silton Feitosa Ferreira, sua esposa e beneficiária, ora Inventariante, solicitou administrativamente o recebimento do beneficio relativo à apólice n , proposta n , do seguro contratado, f. 110, tendo a Seguradora/Apelante efetuado os seguintes pagamentos: (1) R$ ,64, cheques n " / X, para Glaucia Fernanda F. Remígio Nóbrega, em 20/04/2001 (f. 114/115); (2) R$ ,64, cheques n." / , para Tony.Péricles Ferreira Remigio, em 20/04/2001 (f. 116/117); (3 r';z$ ,66, cheques n." / , para Maria das Graças Ferreira igio, em 19/04/2001 (f. 118/119); e (4) R$ ,64, cheques n." /5r7. 83I4-j, para Lygia Sibelle Ferreira Remigio Torres, r W:lulcrtís, bese7,,tiatior

5 em 20/04/2001 (f. 120/121). Ressalte-se que todos os pagamentos foram efetuados sob a rubrica "indenização por morte acidental". Do conjunto fálico-probatório dos autos não se verifica nenhuma prova produzida pelo Apelado que importe na conclusão em contrário, quedando-se no campo da mera alegação do não recebimento dos valores acima mencionados, não sendo devida a complementação pleiteada. Assim sendo, não há porque desconsiderar os valores pagos administrativamente pela Apelante, devendo a Sentença ser reformada neste ponto, uma vez que não se verifica a existência de saldo remanescente a ser pago ao Apelado, porquanto satisfeita integralmente a obrigação. Quanto à segunda alegação, concernente ao pagamento em dobro da quantia indevidamente cobrada pelo Apelado, não merece prosperar. É entendimento sumulado no Supremo Tribunal Federal (Súmula 159) que para a condenação ao ressarcimento descrito no art. 940 do Código Civil (art do CC/1916), se faz indispensável a demonstração de ocorrência de inequívoca má-fé, dolo, ou malícia da parte credora quanto a cobrança indevida da dívida ou exige a maior. No caso em comento, não existe comprovação da conduta maliciosa do Apelado, no sentido de cobrar a dívida referente à cobertura securitária, o que afasta a condenação da restituição em dobro das quantias indevidamente cobradas, tampouco na forma simples. No tocante a terceira alegação, relativa à condenação do Apelado por litigância de má-fé, por alterar a verdade dos fatos e pleitear dívida inexistente, melhor sorte não assiste à Apelante. Na hipótese dos autos, o Apelado apenas ajuizou a demanda buscando tutelar direito que entendia cabível, sem utilizar-se de procedimentos escusos com o objetivo de vencer ou prolongar deliberadamente o andamento do processo.. Trata-se de exercício regular do direito de ação, assegurado constitucionalmente, sendo certo que *nosso ordenamento jurídico não aplica a teoria concreta do direito de ação. Alterar a verdade dos fatos significa afirmar fato inexistente, negar fato existente ou dar versão mentirosa para fato verdadeiro, o que não se vislumbra na hipótese. A condenação do Apelado nas penas de litigância de má-fé, portanto, deve ser afastada. Posto isto, conheço do Recurso e dou-lhe parcial provimento para reformar a Sentença, afastando a condenação da Apelante ao pagamento da diferença da cobertura do seguro decorrente de morte acidental relacionada à apólice n , custas pro rata e honorários advocaticios que se compensam, em razão da sucumbência rec roca. É o VO Case.;,,bat isuor

6 J e Presidi a Sessão Ordinária desta Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, com voto, no dia 24 de abril de 2012, conforme certidão de julgamento, dela participando, além deste Relator, a Dra. Vanda Elizabeth Marinho (Juíza Convocada para substituir o Des. João Alves da Silva) e a Dra. Maria das Graças de Morais Guedes (Juíza Convocada para substituir o Des. Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho). Presente à sessão a Exma. Sra. Dra. Marilene Campos de Carvalho, Procuradora de Justiça. Gabinete no TJ/PB oão Pes 8 de maio de i2 7., 4~ z Des. goinero Marcelo da Fonseca Oliveira Relator 014)

7 DE JUSTIÇA illustuhal WetOTIZI Judiciária Registrado em Érick,/,-