Investigação sobre o currículo Síntese da discussão do grupo temático
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- Fábio Castro Vilanova
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1 Grupo temático Investigação sobre o currículo Investigação sobre o currículo Síntese da discussão do grupo temático Cristina Loureiro Escola Superior de Educação de Lisboa Irene Segurado Escola B2,3 Rui Grácio, Montelavar A discussão realizada no grupo temático Investigação sobre o currículo foi alimentada por duas intervenções de fundo de Luísa Alonso e Teresa Assude, e por uma comunicação de Filomena Cardoso. Esta síntese procura dar conta dos principais aspectos das apresentações e da discussão. A intervenção de Luísa Alonso centrou-se na perspectiva do currículo como conteúdo da profissão docente, assumindo a inovação como a melhoria das condições de trabalho em que esse currículo se processa. Identificou alguns problemas-chave ligados à concepção actual de currículo enunciado ou oficial: (i) falta de um projecto claro e global de educação; (ii) divisão da cultura em partes, sendo o currículo visto como uma tijoleira de cultura; (iii) concepção da aprendizagem e da avaliação como acumulação e somatório de conteúdos; (iv) prioridade aos conteúdos conceituais e factuais, em detrimento dos procedimentais e atitudinais; (v) separação entre as aprendizagens do quotidiano e as aprendizagens escolares; (vi) o currículo como algo prescritivo e uniforme conducente a práticas uniformizadoras e homogeneizadoras. 29
2 Loureiro e Segurado Referindo investigações realizadas no âmbito de projectos de desenvolvimento curricular a que tem estado ligada, esta professora realçou a necessidade da investigação trabalhar ao nível do desenvolvimento curricular micro, investindo no estudo de inovações locais, de pequenos processos situados que vão dando experiência e fundamento para o desenvolvimento curricular. Teresa Assude evidenciou as perspectivas que considera para os grandes objectivos curriculares da disciplina de Matemática: (i) outra relação com a Matemática; (ii) relação com a investigação matemática; (iii) espaços e funções da Matemática na sociedade e na cultura; (iv) conteúdos matemáticos. Esta professora registou e confrontou dois níveis de análise curricular, cada um deles com duas perspectivas: oficial, implementado e adquirido versus oficial e real; global, local e individual versus macro e micro. Para ela, o professor sempre foi um criador de currículo a nível micro, não tendo legitimidade na escola para criar um currículo macro. No entanto, a nível macro o professor pode intervir, participando em encontros e em projectos, contribuindo para a mudança. São as mudanças micro que vão originar as mudanças macro e, assim, é criada uma distância suportável entre os dois currículos. Filomena Cardoso centrou a sua comunicação na discussão dos desempenhos dos alunos do 4º ano de escolaridade, a partir da observação de tarefas práticas de Matemática do tipo laboratorial, no âmbito do projecto TIMSS, com especial atenção à análise dos erros dos alunos. O TIMSS pretendeu investigar o currículo pretendido (ou enunciado), implementado e adquirido, em Matemática. O texto Currículo e Desenvolvimento Curricular em Matemática, correspondente ao capítulo 2 do trabalho de síntese, foi considerado como pano de fundo na discussão. Discussão esta que não foi polémica, tendo sido centrada, principalmente, no esclarecimento de ideias e no levantamento de algumas necessidades. As perspectivas de investigação sobre currículo apresentadas, tanto pelas oradoras como pelo texto, bem como as intervenções 30
3 Grupo temático Investigação sobre o currículo de outros participantes, foram convergentes e permite-nos registar algumas conclusões. Ponto 1. A investigação sobre o currículo realizada em Portugal sugere que o desenvolvimento curricular não deve ser considerado isoladamente, mas sim articulado com o desenvolvimento profissional dos professores e o desenvolvimento organizacional das escolas. O que tem como consequência que a investigação sobre o currículo deve considerar estas relações, não as estudando isoladamente. Sente-se que a investigação sobre o currículo precisa de dar maior visibilidade ao currículo micro. Há experiências de inovação e projectos que produzem desenvolvimento curricular e dos quais pouco ou nada se sabe. Quanto mais se conhecer ao nível micro, melhor será o nível macro. Uma das consequências poderá ser conseguirmos caminhar para um currículo oficial mais aberto e menos prescritivo. Ponto 2. A investigação sobre o currículo realizada em Portugal, embora já em número considerável, assenta mais em estudos de natureza local ou individual, isto é, micro. Destes, não é legítimo fazer generalizações para um currículo macro. Porém, sabemos que pequenos processos situados vão dando experiência e fundamento para se ir alargando lentamente o currículo, mas com passos seguros e sólidos. Por isso, torna-se necessária a realização de mais estudos sobre desenvolvimento curricular micro, dando mais atenção às situações que permitem um certo tipo de sucesso. A investigação pode caminhar no sentido de produzir ideias clarificadoras, não no sentido de se obterem ideias prescritivas. Ponto 3. Na lógica dos dois pontos anteriores, o reconhecimento do professor como criador de currículo e de materiais curriculares vai sendo ampliado. É importante clarificar como é que os manuais escolares são utilizados pelos professores inovadores e também em projectos de inovação. Como fruto da evolução das tecnologias multimedia é natural que o conceito de manual escolar venha também a evoluir. Parece pois necessário saber mais 31
4 Loureiro e Segurado sobre os modos como os materiais de diversos tipos manuais, materiais manipuláveis e novas tecnologias podem ser utilizados tanto pelos professores como pelos alunos. Este conhecimento trará certamente contributos úteis para a elaboração de novos materiais consonantes com a mudança curricular. Ponto 4. Deve haver determinadas precauções na construção dos instrumentos de avaliação do currículo adquirido. Estas precauções devem considerar os instrumentos que os professores utilizam na avaliação, a nível local, e a sua articulação com instrumentos utilizáveis a nível nacional ou em grande escala. Os exames para avaliação dos alunos, a avaliação aferida e estudos internacionais devem ser feitos com o devido cuidado para que não se criem falsas ideias e não sejam estas provas e os seus resultados a determinar o currículo implementado. Ponto 5. Há novas necessidades sociais para a resolução das quais a investigação em educação matemática em Portugal ainda não deu contributos significativos. Por um lado, temos a escolaridade básica obrigatória, igual para todos, com a integração de alunos com necessidades educativas especiais; os currículos alternativos; a multiculturalidade nas escolas. Por outro lado, temos as necessidades de prosseguimento de estudos e de ensino profissionalizante que exigem a diversificação dos currículos de Matemática no ensino secundário. A investigação não tem dado respostas que ajudem avançar a nível macro. Abrem-se, assim, vários caminhos à investigação. Ponto 6. Não há investigação sobre desenvolvimento curricular no ensino superior. Esta investigação surge como necessária por duas razões. Uma delas é a da continuidade, isto é, faz todo o sentido conhecer as implicações no ensino superior da mudança curricular no ensino não superior. Outra razão decorre da multiplicidade e diversidade de currículos no ensino superior que fazem deles um campo riquíssimo para a investigação e, consequentemente, para o conhecimento. Em particular, no que respeita aos currículos de 32
5 Grupo temático Investigação sobre o currículo Matemática dos cursos de formação de professores, torna-se urgente produzir investigação clarificadora sobre o currículo matemático, o currículo didáctico e as suas interligações. Em conclusão, a investigação sobre o currículo é uma área viva e em que há muito a investir. Por um lado, a tradição da cultura curricular oficial é muito forte e é preciso encontrar maneiras de a romper, pois somos obrigados a lidar com a mudança mesmo que não queiramos. Por outro lado, não são conhecidos os efeitos da mudança curricular oficial no currículo real e sabe-se pouco dos efeitos que as necessidades sociais e locais, as condições de trabalho e de desenvolvimento profissional têm nesse currículo. 33
6 Loureiro e Segurado 34
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