Estudos com moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) na Região de Ponta Grossa PR.

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1 Estudos com moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) na Região de Ponta Grossa PR. Daniel Sedorko Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG Patricia Elizabeth Husch Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG Julianne Milléo Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG Ricardo Antonio Ayub Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG Domingos Sávio Nunes Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG - dsnunex@gmail.com Resumo As moscas-das-frutas representam uma das maiores pragas à fruticultura brasileira, dentre ela, fruteiras de clima temperado. Devido a carência de informações sobre os tefritídeos em Ponta Grossa - PR, realizou-se um levantamento populacional das espécies encontradas na região e avaliou-se a eficiência de oito óleos essencias comerciais como atrativos para estes insetos. Os tefritídeos foram coletados em quatro pomares da região de Ponta Grossa-PR, utilizandose armadilhas tipo McPhail ou de garrafa PET, e proteína hidrolizada a 5% ou suco de uva a 25% como atrativos. De outubro a dezembro de 2009, avaliaram-se oito óleos essencias (copaíba, eucalipto citriodora, menta arvensis, erva cidreira, laranja, eucalipto globulus, pinho e citronela) como atrativos para tefritídeos em três pomares de pêssego, e em três concentrações (0,1%, 0,5% e 1,0%). Este é o inédito registro de sete espécies de moscas-dasfrutas na região: Anastrepha fraterculus, Anastrepha sororcula, Anastrepha montei, Anastrepha pseudoparallela, Ceratitis capitata, Hexachaeta sp. e Tomoplagia sp. Quanto aos testes com óleos essenciais, erva cidreira atraiu dípteros da família Drosophilidae, citronela foi eficiente a Diabrotica speciosa, e os óleos a base de eucalipto globulus e laranja mostraram-se como potenciais atrativos aos tefritídeos, requerendo-se novos testes. Palavras-chave: Fruticultura; Campos Gerais do Paraná, Biodiversidade. 1. Introdução O termo mosca-das-frutas é a designação comum a certas espécies de dípteros da família Tephritidae, cujas larvas são conhecidas pelo ataque à polpa de diversos frutos, sendo de grande importância para fruticultura. No Brasil, as principais espécies estão distribuídas em quatro gêneros Bactrocera, Rhagoletis, Ceratitis e Anastrepha (ZUCCHI, 2000). O método mais prático de confirmar a ocorrência da mosca-da-fruta no pomar é através do monitoramento com o uso de armadilhas que contenham atrativos alimentares (SALLES, 2003), fornecendo informações sobre o momento adequado para adoção de medidas de controle (NASCIMENTO et al., 2000). Na região sul do Brasil, os principais trabalhos sobre os tefritídeos são: Rio Grande do Sul: Fofonka (2007) realizou levantamento populacional em Caraá, Silva et al. (2007) avaliaram diferentes métodos de controle à mosca-da-fruta; Paraná: Malgarim & Mendes (2007) avaliaram a eficiência do método de ensacamento em Morretes, Luckmann et al.

2 (2009) realizaram um levantamento populacional em Dois Vizinhos e Monteiro et al. (2007) analisaram alguns atrativos alimentares para mosca-da-fruta na Lapa. Existe uma carência de informações a respeito das moscas-das-frutas na região dos Campos Gerais do Paraná. Portanto, este projeto teve como objetivos conhecer a diversidade de tefritídeos em pomares localizados na região de Ponta Grossa-PR. e avaliar a eficiência de oito compostos elaborados a partir de óleos essenciais como atrativos para as moscas-dasfrutas, em pomares de pêssego. 2. Material e Métodos Levantamento de tefritídeos Foram realizadas coletas semanais, durante quatro meses, agosto a dezembro de 2009, período de desenvolvimento à maturação dos frutos de pêssego, totalizando 13 coletas. Foram instaladas 16 armadilhas distribuídas em quatro pomares da região de Ponta Grossa-PR. Ponto 1 Propriedade Santo Antônio. Localização: Roxo Rois, distrito de Guaragi. Coordenadas S; W. Ponto 2 Propriedade Cinto Verde. Localização: Rua Manuel Santana, 333, bairro de Uvaranas. Coordenadas S; W. Ponto 3 Pomar da Estação Experimental de Ponta Grossa / IAPAR. Localização: Avenida Presidente Kennedy, s/nº, Rodovia do Café, km 496. Coordenadas S; W. Ponto 4 Pomar do Colégio Agrícola Augusto Ribas. Localização: Alameda Nabuco de Araújo, 469, bairro de Uvaranas. Coordenadas 25 5'44 S; W. As armadilhas foram fixadas a uma altura de aproximadamente dois metros do solo. No ponto 1, foram usadas armadilhas modelo McPhail e, nos pontos 2, 3 e 4, armadilhas confeccionadas com garrafas PET (AGUIAR-MENEZES et al., 2006). Nos pontos 1 e 2 o atrativo utilizado foi proteína hidrolisada a 5% e, nos pontos 3 e 4, suco de uva diluído a 25%. Os Tephritidae foram separados do restante do material coletado nas armadilhas e a identificação das espécies foi baseada em Zucchi (2000) e Uramoto (2002). Como para diferenciação das espécies do gênero Anastrepha é necessário avaliar características presentes no acúleo das fêmeas, os exemplares machos não foram incluídos nas análises dos índices faunísticos. Após identificação, os tefritídeos foram contabilizados e os resultados registrados em planilhas do Excell para análises. Os índices avaliados foram: freqüência, constância, abundância relativa e riqueza de espécies. Óleos essencias como atrativos para as moscas-das-frutas As coletas foram realizadas de outubro a dezembro de 2009 nos pontos 1, 2 e 3. Os oito compostos de óleos essenciais comerciais avaliados foram: copaíba, eucalipto citriodora, menta arvensis, erva cidreira, laranja, eucalipto globulus, pinho e citronela, diluídos em água e em três concentrações distintas 0,1%, 0,5% e 1,0%. Em cada pomar foram montadas três armadilhas, McPhail (ponto 1) ou garrafa PET (pontos 2 e 3), uma para cada concentração ficando expostas por sete dias. Cada óleo foi testado simultaneamente nos três pomares (20 a 27/10 - copaíba; 27/10 a 3/11 - eucalipto citriodora; 3 a 10/11 menta arvensis; 10 a 17/11 - erva cidreira; 17 a 24/11 - laranja; 24/11 a

3 1/12 eucalipto globulus; 1 a 8/12 - pinho; e 8 a 15/12 citronela). Os insetos foram identificados a nível de família utilizando-se Buzzi (2010) e Triplehorn & Johnson (2005). 3. Resultados e Discussões Levantamento de tefritídeos Durante o período amostrado, foram coletados nos quatro pontos um total de 2428 tefritídeos, distribuídos em sete espécies: Anastrepha fraterculus (Wiedemann, 1830); Anastrepha sororcula (Zucchi, 1979); Anastrepha montei (Lima, 1934); Anastrepha pseudoparallela (Loew, 1873); Ceratitis capitata (Wiedemann, 1824); Hexachaeta sp. (Wiedemann, 1830) e Tomoplagia sp. (Say, 1830). Analisando o item abundância relativa nos locais de coleta, a seqüência em ordem descrescente foi: ponto 3 (46%), ponto 1 (27%), ponto 2 (19%) e ponto 4 (8%). No ponto 3 (Pomar da Estação Experimental de Ponta Grossa IAPAR) obteve-se o maior número de tefritídeos, possivelmente por ser a maior área se comparada aos outros pontos, e por não ter sido aplicado controle químico para pragas durante a maior parte das coletas. A maior riqueza taxonômica foi encontrada nos pontos 1, 2 e 3 (quatro espécies), seguida do ponto 4 (duas espécies). A espécie A. fraterculus foi comum aos quatro pontos amostrados, mais abundante (95,86%), única freqüente em todos os locais e presente em 12 das 13 coletas; A. sororcula e C. capitata foram encontradas nos pontos 1, 2 e 3, representando 2,06% e 1,47%, respectivamente; A. montei foi exclusiva ao ponto 3 (0,13%); A. pseudoparallela ao ponto 4 (0,34%); Hexachaeta sp. ao ponto 2 (0,07%); e Tomoplagia sp. ao ponto 1 (0,07 %) (Tabela 1). Uramoto (2002) comenta que além de C. Capitata, apenas sete das espécies de Anastrepha são economicamente importantes para o país, neste levantamento foram encontradas quatro destas espécies (C. capitata, A. fraterculus, A. sororcula e A. pseudoparallela). Os resultados aqui encontrados corroboram a afirmativa de Malavasi et al. (2000) que destacam a espécie A. fraterculus como praga primária de maior importância na Argentina, Uruguai e nos estados do sul e sudeste do Brasil. Tabela 01 Espécies de Tephritidae amostradas em quatro pomares do município de Ponta Grossa - PR, de agosto a dezembro de 2009 Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 N F C N F C N F C N F C Total A. fraterculus 361 F x 273 f x 689 F x 113 f x 1436 A. sororcula 5 pf z 19 pf y 7 Pf y A. montei Pf z A. pseudoparallela pf y 5 Ceratitis capitata 5 pf z 13 pf y 4 Pf z Hexachaeta sp pf z Tomoplagia sp. 1 pf z Total N: número total de insetos coletados; F: freqüência (onde freqüente (f) - sp cuja porcentagem se manteve acima da média; pouco freqüente (pf) sp cuja porcentagem se manteve abaixo da média); C: Constância (onde espécies constantes (x) presentes em mais de 50% das coletas; espécies acessórias (y) presentes entre 25 e 50% das coletas; espécies acidentais (z) presentes em menos de 25% das coletas). A maioria dos espécimes coletados foram fêmeas (61,7 %), fato que pode ser justificado pelos atrativos utilizados no levantamento, pois, segundo Raga et al. (2006) para

4 atingir a maturidade sexual, as fêmeas necessitam de uma maior ingestão de nutrientes durante o período de pós-emergência, principalmente compostos protéicos, como os utilizados nas armadilhas. Óleos essencias como atrativos para as moscas-das-frutas Nas amostragens dos óleos essenciais foram capturados 422 insetos, distribuídos em quatro ordens principais: Diptera, Coleoptera, Hymenoptera e Lepidoptera. Analisando-se a abundância de insetos capturados por tipo de óleo obteve-se a seguinte seqüência, em ordem decrescente: citronela (159) > erva cidreira (127) > pinho (38) > laranja (33) > menta arvensis e eucalipto globulus (23) > copaíba (12) > eucalipto citriodora (7). Sendo que as maiores concentrações capturaram um maior número de insetos: 1,0% (63%), 0,5% (31%) e 0,1% (6%). Dois óleos essenciais destacaram-se como atrativos, onde o óleo a base de erva cidreira atraiu um alto número de dípteros da família Drosophilidae (95,7% dos dípteros coletados com erva cidreira) e a citronela, atraiu um grande número de coleópteros da família Chrysomelidae, identificados como Diabrotica speciosa (Germar, 1824) (89,1% dos coleópteros coletados com citronela). A espécie D. speciosa é considerada praga importante de curcubitáceas, solanáceas e feijoeiro (GALLO et al., 2002). Em relação aos tefritídeos, apenas quatro exemplares de Anastrepha sp. foram atraídos, sendo que duas fêmeas foram identificadas como A. fraterculus. Destes quatro, três foram capturadas na armadilha com óleo de laranja e uma pelo óleo de eucalipto globulus. Provavelmente devido às baixas concentrações utilizadas, os óleos essenciais não foram tão eficientes na captura de moscas-das-frutas, mas os dois óleos que demonstram algum potencial serão testados novamente com concentrações maiores. 4. Conclusão Fica registrado a ocorrência de sete espécies de moscas-das-frutas na região dos Campos Gerais do Paraná: Anastrepha fraterculus, Anastrepha sororcula, Anastrepha montei, Anastrepha pseudoparallela, Ceratitis capitata, Hexachaeta sp. e Tomoplagia sp. A. fraterculus foi comum aos quatro pontos amostrados, a espécie mais abundante e teve presença constante nas coletas. Quanto aos testes com óleos essenciais: o óleo de erva cidreira atraiu dípteros da família Drosophilidae; identificou-se a alta especificidade do óleo citronela, para captura de Diabrotica speciosa, o que merece estudos mais aprofundados, pois este inseto é considerado uma praga agrícola relevante no país; e em relação aos tefritídeos, identificou-se certa potencialidade nos óleos essenciais à base de laranja e de eucalipto globulus, requerendo-se novos testes, com maiores concentrações. 5. Referências AGUIAR-MENEZES, E. L.; SOUZA, J. F.; SOUZA, S. A. S.; LEAL, M. R.; COSTA, J. R.; MENEZES, E. B. Armadilha PET para Captura de Adultos de Moscas-das-Frutas em Pomares Comerciais e Domésticos. Embrapa Agrobiologia - Circular Técnica n o 16. Dez Disponível em: < Acesso em: 17 ago BUZZI, Z. J. Entomologia didática. 5 a. ed. Curitiba: Editora UFPR, 2010, 536 p.

5 FOFONKA, L. Incidência e manejo de mosca-das-frutas (Diptera, Tephritidae) em pomares de laranja do município de Caraá, Rio Grande do Sul. Rev. Bras. de Agroecologia, v. 2, n. 2, p , GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R. P. L.; BAPTISTA, G. C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; ALVES, S. B.; VENDRAMIM, J. D.; MARCHINI, L. C.; LOPES, J. R. S.; OMOTO, C. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002, 920 p. LUCKMANN, D.; PIZZATTO, M.; VELLOSO, R.; ZANOTTI, J.; GOUVEA, A. Incidência de moscas-das-frutas em frutas de plantas nativas em Dois Vizinhos PR. III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária Agronomia, Disponível em < Acesso em: 28 abr MALAVASI, A.; ZUCCHI, R. A.; SUGAYAMA, R. L. Biogeografia, p In: MALAVASI, A. & ZUCCHI, R. A. (eds.). Mosca-das-frutas de importância econômica no Brasil: conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos-FAPESP p. MALGARIM, B. M. & MENDES, C. D. P. Ensacamento de goiabas visando o manejo ecológico de moscas-das-frutas. Rev. Bras. de Agroecologia, v. 2, n. 2, p , MONTEIRO, L. B.; DE MIO, L. L. M.; MOTTA, A. C. V.; SERRAT, B. M.; CUQUEL, F. L. Avaliação de atrativos alimentares utilizados no monitoramento de mosca-das-frutas em pessegueiro na Lapa- PR. Rev. Bras. Fruticultura v. 29, n. 1, p , Disponível em < Acesso em: 28 abr NASCIMENTO, A. S.; CARVALHO, R. S.; MALAVASI, A. Monitoramento Populacional, p In: MALAVASI, A. & ZUCCHI, R.A. (eds.). Mosca-das-frutas de importância econômica no Brasil: conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos-FAPESP p. RAGA, A.; MACHADO, R. A.; DINARDO, W. ; STRIKIS, P. C. Eficácia de Atrativos Alimentares na Captura de Moscas-das-frutas em pomares de Citros. Bragantia v. 65, n. 2, p , SALLES, L. A. B. de. Principais pragas e seu controle, p In: MEDEIROS, C. A. B.; RASEIRA, M. do C. A cultura do pessegueiro. Brasília: EMBRAPA- CPACT, SILVA, F. F.; MEIRELLES, R. N.; DAL SOGLIO, F. H.; REDAELLI, L.R. Comparação de métodos de controle de moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) na produção orgânica de citros. Revista da FZVA. v. 14, n. 1, p , TRIPLEHORN, C.A. & JOHNSON, N. F. Borror and Delong s introduction to the study of insects. 7ª ed. Thomson Brooks/Cole, 2005, 864 p. URAMOTO. K. Biodiversidade de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha (Diptera, Tephritidae) no Campus Luiz de Queiroz, Piracicaba, São Paulo p. Dissertação (Mestrado) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, ZUCCHI, R. A. Taxonomia, p In: A. MALAVASI & ZUCCHI, R. A. (eds.). Moscadas-frutas de importância econômica no Brasil: conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos-FAPESP p.