Análise da Balança Comercial Brasileira de 2011

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1 Análise da Balança Comercial Brasileira de 2011 Saldo comercial aumenta em função das altas cotações das commodities No ano de 2011, as exportações em valor cresceram 26,8%, em relação ao ano de Esse desempenho levou a um aumento inclusive sobre os valores pré-crise, com expansão de 29,4% sobre Pelo lado da importação o crescimento foi de 24,6 %. Em relação ao ano de 2008 o aumento foi ainda mais expressivo, de 30,8%. A corrente de comércio foi recorde e apresentou expansão de 25,8% quando comparados os desempenhos de 2011 relativamente a O superávit comercial atingiu a significativa cifra de US$ 29,8 bilhões, representando uma expansão de 46,9% ante ao ano anterior, o maior no último quadriênio, refletindo a melhora dos termos de troca em função das altas cotações das principais commodities exportadas pelo Brasil. Gráfico 1: Balança Comercial Brasileira EXP IMP SALDO CORRENTE Ao contrário do ocorrido no ano passado, quando as importações se expandiram a um ritmo mais acentuado do que as exportações, 42,3% e 31,9% respectivamente, em 2011 as vendas ao exterior voltaram a crescer de forma mais intensa, sendo ambos os valores recordes históricos. No tocante às médias diárias, as de exportação cresceram até agosto e depois apresentaram ligeira queda em setembro, outubro e novembro, e redução mais acentuada em dezembro. Já as médias diárias de importação foram ascendentes até novembro para em seguida se reduzir dramaticamente em dezembro. Ainda que esses valores observem o padrão marcado pelo desempenho das commodities, caso da exportação, e da economia doméstica, caso da 1

2 importação, foi notável a queda da média de importação em dezembro, especificamente na última semana do ano. Ambas as curvas atingiram valores recordes no ano: exportação em agosto (US$ 1.137,3) e importação em novembro (US$ 1.059,6) Gráfico 2: Exportação e Importação pela média mensal US$ milhões FOB EXPORTAÇÃO jan/07 mar/07 mai/07 jul/07 set/07 nov/07 Exportações brasileiras jan/08 mar/08 mai/08 jul/08 set/08 nov/08 jan/09 mar/09 mai/09 jul/09 set/09 nov/09 IMPORTAÇÃO jan/10 mar/10 mai/10 jul/10 set/10 nov/10 jan/11 mar/11 mai/11 jul/11 set/11 nov/11 Quando avaliada em termos de fator agregado, a pauta brasileira de exportações manteve a tendência observada nos anos anteriores de ampliação do peso dos produtos básicos em detrimento dos industrializados. Os produtos básicos atingiram participação de 47,8%, o que não era observado desde os anos 70 do século passado. Fundamentalmente isso se deve ao elevado nível das cotações das commodities e à perda de dinamismo das exportações de produtos industrializados (manufaturados e semimanufaturados), motivada especialmente pela apreciação do real, que não foi compensada por ganhos de competitividade que poderia ocorrer se fossem implementadas as anunciadas medidas governamentais de desoneração da produção e da exportação, investimentos para a melhoria da infraestrutura, redução da burocracia, dentre outros elementos do custo Brasil. 2

3 Gráfico 3: Exportação Brasileira por Fator Agregado Participação % Manufaturado Básico 20 Sem im anufat Em vista disso, consolidou-se o quadro de reversão da salutar diversificação das exportações brasileiras, levando o seu perfil a ser fortemente formado pelos produtos de menor valor agregado, caracterizando a reprimarização da pauta exportadora. Embora não se possa deixar de considerar que os termos de troca têm sido favoráveis aos produtos agrícolas e minerais, também se não pode olvidar que nossa pauta de importações é em sua ampla maioria composta por produtos manufaturados produzidos com as matérias-primas que exportamos e que são beneficiadas no exterior, onde geram empregos. Em 2011, as vendas de produtos industrializados ao exterior cresceram 19,1% (semimanufaturados, 27,7%; e manufaturados, 16,0%), ao passo que as de produtos básicos aumentaram 36,1%, particularmente em razão da elevação das cotações das commodities, em particular do minério de ferro, que sozinho contribui com 23,8% do aumento geral das exportações brasileiras. Ao analisarmos a composição da pauta exportadora brasileira (vide Tabela 1), fica confirmado fato já apontado anteriormente por esta AEB que é a contínua concentração também em termos de produtos. Em 2011, a receita com exportações do Brasil elevou-se 26,8%. Mas apenas alguns poucos produtos elevaram sua participação na pauta de exportações, como é o caso do minério de ferro que cresceu 44,6%, ampliando sua participação de 14,3% para 16,3%. Outros que aumentaram sua participação foram: petróleo (de 8,0% para 8,4%), soja em grão (de 5,5% para 6,4%), café (de 2,6% para 3,1%), açúcar em bruto (de 4,3% para 4,5%), produtos semimanufaturadas de ferro e aço (de 1,3% para 1,8%) e óleos combustíveis (de 1,3% para 1,5%). Ou seja, só as commodities tiveram ganhos de participação expressivos. 3

4 Principais produtos exportados Tabela 1: Exportação brasileira por fator agregado e principais produtos US$ milhões FOB Janeiro/Dezembro Variação Part.% Produto % Básicos ,1 47,8 44,6 Minério de ferro ,6 16,3 14,3 Petróleo em bruto ,7 8,4 8,0 Soja em grão ,8 6,4 5,5 Café em grão ,3 3,1 2,6 Carne de frango ,9 2,8 2,9 Farelo de soja ,6 2,2 2,3 Carne bovina ,8 1,6 1,9 Fumo em folhas ,2 1,1 1,3 Milho em grão ,5 1,1 1,1 Demais básicos ,6 4,8 4,7 Semimanufaturados ,7 14,1 14,0 Açúcar em bruto ,1 4,5 4,3 Celulose ,8 1,9 2,4 Produtos semimanuf. de ferro ou aço ,7 1,8 1,3 Ferro-ligas ,2 1,0 1,0 Ouro semimanufaturado ,1 0,9 0,9 Demais semimanufaturados ,3 4,0 4,2 Manufaturados ,0 36,1 39,4 Automóveis de passageiros ,1 1,7 2,2 Autopeças ,4 1,5 1,7 Aviões ,4 1,5 2,0 Óleos combustíveis ,1 1,5 1,3 Açúcar refinado ,0 1,3 1,7 Motores e geradores elétricos ,2 1,2 1,2 Polímeros plásticos ,9 0,9 0,8 Óxidos e hidróxidos de alumínio ,4 0,9 0,9 Máq.s e apars.p/terraplanagem ,4 0,9 0,7 Veículos de carga ,7 0,9 0,8 Laminados planos de ferro/aço ,5 0,8 0,9 Demais manufaturados ,6 23,0 25,2 Operações Especiais ,9 2,1 2,1 Total ,8 100,0 100,0 Importações brasileiras Em 2011, o valor das importações brasileiras cresceu expressivos 24,6%, refletindo o aquecimento da economia doméstica e a maior competitividade dos produtos importados em face da apreciação do real (vide Tabela 2), bem como o aumento de preços das commodities importadas pelo País. 4

5 Analisando a pauta importadora em termos de categoria de uso, o grupo que mais se expandiu foi o de combustíveis e lubrificantes (42,7%), em virtude da elevação das cotações do petróleo. Em seguida, o maior aumento foi de bens de consumo (27,5%), que representam produtos acabados que entram diretamente no mercado doméstico para competir com os produtos nacionais. Nesse grupo o destaque, mais uma vez, foi para as compras de automóveis que cresceram 39,2%. O grupo das matérias-primas e produtos intermediários, que é formado por materiais, insumos e componentes utilizados pela indústria de transformação nacional, registrou elevação de 21,6%. Já o segmento bens de capital, composto por máquinas e equipamentos para renovação do parque industrial brasileiro, teve a menor taxa de expansão (16,8%). Tabela 2: Importação brasileira por categoria de uso US$ milhões FOB Janeiro/Dezembro Variação Part.% Categoria / Produto % Bens de Capital ,8 21,2 22,6 Matérias Primas e Intermediários ,6 45,1 46,2 Bens de Consumo ,5 17,7 17,3 - Não-duráveis ,4 7,1 7,1 - Duráveis ,9 10,6 10,2 - Automóveis ,2 5,3 4,7 Combustíveis e Lubrificantes ,7 16,0 13,9 - Petróleo ,4 6,2 5,6 - Demais ,9 9,8 8,4 Total ,5 100,0 100,0 Intercâmbio comercial brasileiro por principais regiões e países Em termos de regiões, o comércio exterior brasileiro definitivamente voltou-se para o Pacífico. A Ásia passou a representar 30,4% da nossa corrente de comércio em A região lidera também como destino de nossas exportações (30,0%) e como origem de nossas importações (31,0%). A região que aparece em segundo lugar é a União Européia, com 20,6% de participação no intercâmbio comercial do Brasil com o exterior, um pouco a frente da América Latina e Caribe, cuja participação é de 19,7%. Quanto ao de destino das exportações, no entanto, o mercado latino-americano está à frente do europeu (vide tabela 4). 5

6 Tabela 4: Exportações Brasileiras por Regiões (US$ milhões) Janeiro/Dezembro Variação Part.% PAÍS % Ásia ,3 30,0 27,9 América Latina e Caribe ,1 22,3 23,8 União Européia ,7 20,7 21,4 EUA ,3 10,1 9,6 Oriente Médio ,6 4,8 5,2 África ,0 4,8 4,6 Demais ,2 7,3 7,6 Total ,8 100,0 100,0 O quarto maior mercado para nossas transações comerciais são os Estados Unidos, com 12,5% de participação. Os EUA absorvem 10,1% de nossas exportações e fornece 15,1% de nossas compras do exterior. Tabela 5: Importações Brasileiras por Regiões (US$ milhões) Janeiro/Dezembro Variação Part.% PAÍS % Ásia ,8 31,0 30,9 América Latina e Caribe ,4 16,7 17,0 União Européia ,6 20,5 21,5 EUA ,6 15,1 15,0 Oriente Médio ,2 2,7 2,6 África ,6 6,8 6,2 Demais ,8 7,1 6,8 Total ,5 100,0 100,0 O continente africano vem em quinto lugar como parceiro comercial (5,7%), seguido pelo Oriente Médio (3,8%), ficando as demais regiões com participação de 8,7%. 6

7 China se consolida como maior parceira comercial do Brasil Confirmando situação observada nos últimos anos, em 2011 a China ampliou sua participação nas transações comerciais com o Brasil, passando a responder por 16,0% do total da corrente de comercio do País com o mundo. Em segundo lugar ficaram os Estados Unidos, com participação de 12,5%, seguidos por Argentina com 8,2%. Em termos de mercado de destino das exportações brasileiras, a China teve taxa de expansão de 43,8% e absorveu 17,3%, em comparação com o percentual de 15,3% de Os EUA, em segundo lugar, com participação de 10,1%, tiveram uma menor taxa de incremento (32,8%). Em terceiro lugar aparece a Argentina, com expansão de 22,7% e participação de 8,9%. No lado das importações, os Estados Unidos mantiveram a condição de maiores fornecedores ao mercado brasileiro, respondendo por 15,1%, apenas 0,1 ponto percentual a mais que em 2010 e com taxa de incremento de 25,7%. Em segundo lugar, mas com taxa de crescimento maior (28,1%), está a China, que passou a ter participação de 14,5%, ante 14,1% em Em terceiro lugar ficou a Argentina com participação de 7,5% (era 7,9% em 2010) e taxa de expansão de 17,4%. Com temos frisados em nossas análises, aliado à excessiva concentração do intercâmbio comercial brasileiro com a China, observa-se que, pelo lado das exportações, há também uma perigosa concentração em poucos produtos, basicamente commodities. Até novembro (último dado disponível), minério de ferro, soja em grão, petróleo em bruto, açúcar em bruto e celulose representavam 86,2% do total exportado pelo Brasil para o mercado chinês, fato que não se observa nas importações, cuja pauta é composta por uma ampla e diversificada gama de produtos industrializados. Balança comercial e Balanço de pagamento Cresce saldo negativo em Transações Correntes Agravou-se o quadro de persistente ampliação do déficit em transações correntes. Em Janeiro Novembro de 2011 (último dado disponível), se por um lado o superávit na balança comercial cresceu 74,5% ou US$ 11,1 bilhões, por outro o déficit na conta serviços e rendas aumentou US$ 13,4 bilhões, agravando ainda mais o saldo negativo que é observado desde

8 Tabela 6: Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (US$ bilhões) Saldo Balança comercial Transferências unilaterais correntes Serviços e Rendas Transações correntes Período (a) (b) (c) (a+b+c+d) ,9 2,9-23,5 4, ,8 3,2-25,2 11, ,9 3,6-34,3 14, ,5 4,3-37,1 13, ,0 4,0-42,5 1, ,7 4,2-57,3-28, ,3 3,3-52,9-24, ,2 2,8-70,4-47,4 jan/nov ,9 2,6-61,0-43,5 jan/nov ,0 2,6-74,4-45,8 Fonte: BACEN É reconhecido que, por enquanto, o Brasil não tem encontrado dificuldades em financiar esse déficit, em razão do forte ingresso de investimentos diretos estrangeiros (R$ 71 bilhões de janeiro a novembro), mas a sua continuada elevação pode trazer riscos para a estabilidade das contas externas, conquistada em razão dos sucessivos superávits obtidos na balança comercial no período 2002 a AEB 03/01/2012 8