HISTÓ RIA NA SALA DE AULA: AS PO SSIBILIDADES DA HISTÓ RIA LOC AL E REGIO NAL C OMO ARTIC ULADORA NUMA PROPOSTA INTERDISC IPLINAR 1
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1 HISTÓ RIA NA SALA DE AULA: AS PO SSIBILIDADES DA HISTÓ RIA LOC AL E REGIO NAL C OMO ARTIC ULADORA NUMA PROPOSTA INTERDISC IPLINAR 1 Resumo Lurdes Grolli Ardenghi 2 A temática proposta visa analisar as possibilidades do trabalho interdisciplinar tendo como foco estudos da história local e regional, articulados com os demais componentes curriculares. Partindo de experiências individuais e coletivas do aluno, as atividades podem contribuir para a formação da consciência crítica e despertar o interesse para o conhecimento dos processos históricos mais amplos. Pretende-se, assim, discutir aspectos da história local e as possibilidades pedagógicas a serem construídas no processo de ensino-aprendizagem, articulando os diversos componentes curriculares, em especial nas séries iniciais do ensino fundamental. Introdução Os estudos historiográficos têm buscado recuperar a história das sociedades, em especial das pessoas comuns, tendo preocupação com os esquecidos da história, com vistas à formação de indivíduos críticos e conscientes de seu papel social. Nessa perspectiva, a recuperação de experiências individuais e coletivas do aluno, fazendo-o participante da produção do conhecimento, contribui para a formação da consciência histórica e enriquece seu universo cultural com a possibilidade de novas leituras do mundo no qual está inserido. A proposta de atividades partindo do conhecimento histórico próximo pode ser vivenciada em todos os níveis de ensino, quando trabalhada adequadamente. No entanto, é importante observar que a realidade local não contém em si mesma a explicação de todos os aspectos da formação histórica, pois os problemas culturais, políticos, sociais e econômicos de uma localidade explicam-se, também, pela relação com outros espaços: localidades, 1 Texto apresentado pelas autoras, Professora da rede Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, no XIX Seminário Nacional de Educação: Educação Crítica: pesquisa emancipatória e diálogo problematizador, em Palmeira das Missões, entre os dias 12 e 14 de julho e 14 e 15 de setembro de Mestre em História pela UPF. Professora do Ensino Médio no Instituto Estadual de Educação Borges do Canto. Texto apresentado no XIX Seminário Nacional de Educação: Educação Crítica: pesquisa emancipatório e diálogo problematizador, em Palmeira das Missões, entre os dias 12 e 14 de julho e 14 e 15 de setembro de
2 municípios, regiões, países ou processos históricos mais amplos. Todo ensino tende a ser uma abertura e convida a conhecer ainda mais. É universalista e, por essa razão, transcende a função de conferir identidade. Contribui para situar cada um de nós relativamente aos demais. (ANDRÉ, Yves, 1998, p.233) A proposta deste tema será dividida em duas partes. No primeiro momento uma fundamentação teórica, embasada em obras publicadas voltadas para estudos historiográficos e propostas pedagógicas. No segundo momento, explorar possibilidades para estudos de história a partir de aspectos do espaço local e regional. O ensino da História Um dos grandes desafios que se apresentam para o professor é incorporar as inovações das mudanças historiográficas nas atividades do cotidiano escolar. Faz-se necessário conceber a história como o estudo da experiência humana no tempo, buscando entender as experiências individuais e coletivas de todos os homens e mulheres e não apenas de grupos de poder ou da história dos livros didáticos, mas também em outros e diferentes espaços. Ao estudar história os alunos realizam uma leitura do mundo onde vivem e, assim, o tempo presente se torna o laboratório para a aprendizagem da história, pois é nesse tempo, com as memórias que foram preservadas que o passado se faz presente nas praças, nos monumentos, nas festas cívicas, nos nomes das ruas e escolas. A história local pode ser vista como uma estratégia pedagógica para transposição do saber histórico para o saber escolar de desenvolver atividades diretamente vinculadas à vida cotidiana. Trata-se de uma forma de abordar a aprendizagem, a construção e a compreensão do conhecimento histórico com proposições que podem ser articuladas com os interesses do aluno, suas aproximações cognitivas, suas experiências culturais e com a possibilidade de desenvolver atividades diretamente vinculadas à vida cotidiana. (SCHMIDT e CAINELLI, 2009, p. 139) Eis algumas possibilidades de acordo com as autoras citadas acima para os estudos de história local e regional: - Podem produzir a inserção do aluno na comunidade da qual faz parte, criar a historicidade e identidade dele. 209
3 - Geram atitudes investigativas, criadas com base no cotidiano do aluno, além de ajudá-lo a refletir acerca do sentido da realidade social. - Ajudam os alunos na análise dos diferentes níveis da realidade: econômico, político, social e cultural. - O trabalho com espaços menores facilita o estabelecimento de continuidades e diferenças com as evidências de mudanças, conflitos e permanências. - Contribuem para a construção de uma história mais plural, menos homogênea, que não silencie a multiplicidade de vozes dos diferentes sujeitos da História. O estudo da história na perspectiva local e regional contribui para que o aluno conheça e aprenda a valorizar o patrimônio histórico de sua localidade e por extensão do país e do mundo. Cabe destacar o significado atribuído, atualmente, à expressão patrimônio. Em 1972, a UNESCO consolidou a designação de Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, agrupando nesse conceito o conjunto de monumentos, agrupamentos arquitetônicos, sítios naturais e bens culturais móveis com valor local, nacional e mundial. Exemplo de bem cultural regional é o Carijo da Canção Gaúcha que está na 26ª edição, realizado anualmente em Palmeira das Missões. O termo patrimônio histórico surgiu na segunda metade do século XIX, na Europa de onde se difundiu para o mundo, gestado nas transformações da Revolução Industrial. A industrialização, com seu constante movimento transformador, tornou necessário o guardar o passado que se esvaía rapidamente. Daí a proteção ao patrimônio histórico como forma de guardar memória a social. No Brasil, a Constituição de 1988 estabelece que: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I- as formas de expressão; II- os modos de criar, fazer e viver; III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV- as obras, os objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. 210
4 Estes documentos não podem apenas ser vistos como guardiões de memória, mas como provocadores de história e formadores de consciência histórica. A noção moderna de patrimônio destaca a valorização da natureza como patrimônio natural, valorizando os ecomuseus, em que vegetação, solo, água, rochas se constituem em valores a serem preservados, ou seja, o chão da nossa história... O trabalho com o patrimônio poderá ser desenvolvido através de edifícios históricos, dos monum entos e/ou estatutária e da toponímia. A preservação desses lugares de memória, na terminologia de Michel de Certeau, ou seja, um lugar de relação do indivíduo com o passado local, o seu próprio passado e da humanidade pode contribuir para atividades atraentes no desenvolvimento de temas do currículo escolar. Isso vale para todas as disciplinas, mas em especial para a História, pois uma marca importante da disciplina é a preocupação com o lembrar. Nesse sentido, o estudo de história não pode prescindir de pensar o mundo além da sala de aula e os alunos possam trabalhar com indícios do passado, exercitando a capacidade de observação. Deve-se ter presente a importância da valorização desses espaços de memória e a preocupação em formar cidadãos capazes de valorizar seu passado e o da comunidade, como forma de garantir a preservação de vínculos culturais que criam laços de identidade entre os sujeitos de um determinado espaço. Ensinar história é sem pre ensinar a fazer história Somos sempre objetos e sujeitos da história. Se o programa de história só fala de episódios acontecidos em lugares distantes e só enumera heróis homens e brancos, o aluno aprende que a história acontece sem a sua participação. Daí a importância de aproximar os conteúdos das vivências dos alunos. Nesse processo, ao mesmo tempo em que o aluno aprende, ele constrói a história da sua comunidade e se torna participante dos eventos pesquisados e/ou vivenciados. Várias atividades podem ser desenvolvidas: As narrativas da história local e regional colaboram para que os alunos desenvolvam um processo de construção de identidades. Implica em evitar a permanência no passado, mas dialogar com o presente. Saber que a história se faz. 211
5 Boas atividades implicam em narrar experiências pessoais e sociais, pensar a singularidade da história de cada um, perceber a sabedoria dos que nos cercam. Sugerem-se entrevistas com pessoas da comunidade, avós, pais... Construção de biografias de personagens da história local que dão nomes a monumentos, ruas, praças, etc Programas televisivos e programas de rádio dedicados ao tradicionalismo e ao regionalismo; Passeios pelas vias públicas, verificando e pesquisando o nome dos personagens de ruas, praças, prédios, etc. Uma alternativa viável para o ensino da história local e regional em todos os níveis é trabalhar de forma interdisciplinar. Destaca-se a importância do uso de jornais e outras publicações locais. Na falta de textos sobre a localidade a fonte oral se apresenta como uma alternativa, pois é capaz de ampliar a compreensão do contexto, de revelar os silêncios e as omissões, registrar e preservar a memória viva. A entrevista com pessoas da comunidade torna-se uma atividade que permite a investigação dos agentes históricos do espaço local e recurso para a construção da história dos sujeitos esquecidos como: migrantes, negros, mulheres, trabalhadores, etc. Bibliografia ANDRÉ, Yves. Em El território:la historia y La geografia pa aprender a convivir. IN.: SCHMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, Marlene. Ensinar História, São Paulo: Scipione, CATELI JUNIOR, Roberto. Temas e linguagens da história: ferramentas para a sala de aula no ensino médio. São Paulo, Scipione, FERREIRA, Marieta de Moraes e FRANCO, Renato. Aprendendo História: reflexão e ensino. São Paulo: Editora do Brasil, KARNAL, Leandro (Org). História na Sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 6ª Ed. São Paulo: Contexto, NORA, Pierre. Entre memória e história. A problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo, v. 10, dez PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. SCHMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, Marlene. Ensinar História, São Paulo: Scipione,
6 SEFFNER, Fernando. Explorando caminhos no ensino de história local e regional. In: RECKZIEGEL, Ana Luiza e FÉLIX, Loiva Otero (Org.). RS 200 Anos definindo espaços na história nacional. Passo Fundo: UPF,
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