PROCESSO nº (RO) RECORRENTE: PAMELA ALVES DA SILVA RECORRIDO: ITAU UNIBANCO S.A. RELATOR: IVAN DA COSTA ALEMAO FERREIRA

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1 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO 9ª Turma PROCESSO nº (RO) RECORRENTE: PAMELA ALVES DA SILVA RECORRIDO: ITAU UNIBANCO S.A. RELATOR: IVAN DA COSTA ALEMAO FERREIRA EMENTA HORAS EXTRAS. BANCÁRIO. PARÁGRAFO 2º DO ARTIGO 224 DA CLT. FUNÇÃO DE CONFIANÇA. Entendo que se o banco empregador, por meio de prova documental, comprova a função de confiança e o pagamento de gratificação de função acima de 1/3 do salário efetivo do funcionário, se desincumbe do ônus de provar a alegada função de confiança, cabendo ao empregado comprovar eventual fraude. Para o enquadramento no cargo de confiança não é preciso ser gestor. Tem-se, assim, que a autora recebia salário compatível com sua função. RELATÓRIO Visto, relatado e discutido o presente apelo de RECURSO ORDINÁRIO interposto da sentença deid nº 16c349b, proferida pelo MM. Juízo da 13ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, na pessoa do Juiz Ricardo Georges Affonso Miguel, em que figuram como partes: PAMELA ALVES DA SILVA, como recorrente, e ITAU UNIBANCO S.A., como recorrido. Pedidos julgados improcedentes. Custas pela autora de R$ 100,00, calculadas sobre R$ 5.000,00, valor arbitrado à condenação.

2 Inconformada com a sentença que julgou improcedentes os formulados na petição inicial, recorre a autora requerendo a reforma da sentença para que lhe sejam deferidas a sétima e a oitava hora como extras, intervalo do artigo 384 da CLT, aplicação do divisor 150, reflexos do repouso semanal remunerado, multa do artigo 477 da CLT, honorários advocatícios e indenização do imposto de renda. Contrarrazões do réu - id nº 42512f8. Custas recolhidas - id nº f27d478. Não houve remessa dos autos ao douto Ministério Público do Trabalho, por não se vislumbrar qualquer das hipóteses previstas no anexo ao Ofício PRT/1ª Reg. Nº 27/08-GAB, de É o relatório. CONHECIMENTO admissibilidade recursal. Conheço do recurso, por preenchidos os pressupostos de HORAS EXTRAS - 7ª E 8ª HORAS - ARTIGO 224, 2º DA CLT A autora narra na inicial que foi admitida pelo réu em 6/12/2011 e dispensada sem justa causa em 19/6/2013, ocasião na qual exercia a função de "Gerente Relacionamento", percebendo como última remuneração a quantia de R$ 3.245,00. Informa que cumpria jornada de trabalho, de segunda a sexta-feira, das 8h30min/9 horas às 18h30min/19 horas, com intervalo de 30 minutos para repouso e alimentação. Aduz que nos dias de pico (20º ao 31º de cada mês) estendia a sua jornada até as 19h30min/20 horas. Postula o pagamento de horas extras trabalhadas após a sexta hora, na forma do caputdo artigo 224 da CLT, com adicional de 50% sobre as duas primeiras horas e

3 de 100% sobre as subsequentes. O réu, na contestação, alega que a autora exerceu função de confiança, nos termos do parágrafo 2º do artigo 224 da CLT, com jornada contratual de 8 horas, usufruindo de uma hora do intervalo intrajornada. Assevera que a autora recebia gratificação de função de confiança acima de 1/3 do salário-base ou 55% do ordenado. autora e a oitiva de uma testemunha. Foram produzidas as provas documental e oral, com o depoimento da seguintes fundamentos, in verbis: O MM. Juízo de primeiro grau julgou improcedente o pedido, sob os " A autora, em depoimento pessoal, de forma límpida e convincente, asseverou que podia fazer todos os trabalhos inerentes a um gerente. A asserção da obreira, emoldurada pelo uso do quantificador universal-todos-, torna incontrastável a contradição com a tese articulada na inicial de negativa do exercício de função de confiança bancária. Somando-se à confissão da autora o fato de que percebia gratificação de função da ordem de 80% do salário do cargo efetivo e considerando as demais atividades descritas no depoimento, conclui-se que a obreira detinha fidúcia nos moldes do art.224, 2º, da CLT. Verifica-se às fls.350 que a autora firmou com a ré acordo de compensação de jornada, o qual é válido segundo a súmula 85 do TST e no caso vertente, com mais razão ainda há que se lhe atribuir validade ante a confissão da obreira de que efetivamente usufruiu da dita compensação. No mesmo depoimento pessoal restou objetiva e claramente consignado que os horários constantes dos controles de frequência são os realmente trabalhados, à exceção da saída no período de 18 a 30 de cada mês. Nestes termos, torna-se insustentável a tese pugnada na inicial de que somente havia gozo de 30 min de intervalo intrajornada. Ao revés, confirmada pela obreira a correção das marcações, exceto saída no período já referido em cada mês, impende concluir que a pausa para refeição era regularmente gozada pelo lapso de uma hora, conforme registram os controles. Cumpre, ainda, frisar que o depoimento pessoal da autora consigna jornada bem discrepante da expendida na inicial e tal divergência, pela gravidade, é suficiente para tornar improcedente a tese de labor extraordinário articulada na inicial. No caso concreto, ainda há que se acrescer que milita em desfavor da autora a admissão de compensação em depoimento pessoal e o pagamento de horas extras que há nos contracheques juntados. Quanto ao depoimento da testemunha indicada pela autora, não merece crédito pois alinha-se com as teses da inicial, em franca contradição com o que o depôs a autora tanto em relação aos afazeres quanto em relação a jornada, negando compensação que a autora afirmou existir. Portanto, o depoimento da testemunha indicada pela autora serviu para reforçar a convicção em sentido contrário à pretensão da obreira. Verifica-se da análise dos cartões de ponto e do cotejo com os contracheques que as horas apuradas de excesso de jornada estão quitadas com divisor 220 e apuradas aquelas acima da oitava diária de efetivo labor." Inconformada com a decisão, recorre a autora ao argumento de que o que se discute nos autos é a comprovação da fidúcia, e não o cargo de gerente exercido. Sustenta que não há prova de que a recorrente tivesse empregados sob sua supervisão ou

4 qualquer poder de fidúcia, a enquadrá-la no parágrafo 2º do artigo 224 da CLT. Aduz que a simples nomenclatura de "gerente personalité" e o recebimento de gratificação de função superior a 1/3 de seu salário não tem o condão de imputar à recorrentecondição de fidúcia capaz de lhe retirar o direito de recebimentos das 7ª e 8ª horas como. Analisa-se. Embora tenha a autora impugnado os controles de ponto, na oportunidade dada em audiência de se manifestar sobre a defesa e documentos do réu, em depoimento declarou "que o controle de ponto era feito por login e logout efetivamente no início e no fim da jornada, bem como no horário de almoço; que as folhas de ponto contém o real horário trabalhado".portanto, a autora é confessa quanto a regularidade dos registros de ponto. Em relação ao enquadramento, ainda em depoimento, disse a autora "que era gerente de relacionamento do uniclass; que cuidava de uma carteira de clientes pessoa física; que uniclass é um segmento diferenciado dentro do banco de clientes com maior poder aquisitivo; que acima da depoente dentro da agência só havia a gerente geral; que podia fazer todos os trabalhos inerentes a um gerente". (grifei) Não há dúvida de que a autora detinha certo grau de fidúcia, ao gerenciar clientes com alto poder aquisitivo, cujo tratamento é diferenciado dentro banco. Verifica-se que a autora recebia gratificação de função superior ao seu salário efetivo. A título de exemplo, cita-se o mês de dezembro de 2011 (id f150140), no qual se vê o salário de R$ 1.649,51 e a gratificação de função no valor de R$ 1.369,10. Neste caso, entendo que se o banco empregador, por meio de prova documental, comprova a função de confiança e o pagamento de gratificação de função acima de 1/3 do salário efetivo do funcionário, se desincumbe do ônus de provar a alegada função de confiança, cabendo ao empregado comprovar eventual fraude. Para o enquadramento no cargo de confiança não é preciso ser gestor. Tem-se, assim, que a autora recebia salário compatível com sua função. Considera-se assim a autora enquadrada na jornada de 8 horas, em consonância com a Súmula 102 do TST, tendo direito apenas as horas extras laboradas após a 8ª hora. No entanto, em alguns recibos de pagamento constam o pagamento

5 de horas extras, não tendo a autora apresentado demonstrativos. No caso, não restou comprovada a jornada de trabalho indicada na peça inicial, e sim a do réu por meio de seus controles de frequência. INTERVALO QUE ANTECEDE A JORNADA EXTRAORDINÁRIA - ARTIGO 384, DA CLT A reclamante entende fazer jus ao recebimento de pagamento referente a quinze minutos diários de intervalo que antecede a jornada suplementar suprimido, nos termos do art. 384 da CLT. Analisa-se. para as mulheres, em caso de prorrogação de jornada. O artigo 384 da CLT prevê a concessão de intervalo de 15 minutos O não cumprimento do art. 384 da CLT não gera direito a horas extras, pois não se tratam dos intervalos previstos no art. 71 da CLT, não se aplicando o 4º deste artigo. DIVISOR 150 E SÁBADO BANCÁRIO A autora pretende a reforma da sentença para que sejam consideradas devidas as horas extraordinárias após a 6ª hora diária, devendo, portanto, ser aplicado o divisor de 150, inclusive para fins de cálculo do intervalo intrajornada. Sustenta que ser observada previsão expressa na convenção coletiva de que o sábado do bancário não é considerado simplesmente dia útil não trabalhado, mas efetivamente de repouso. Sucessivamente, requer seja aplicado o divisor 200.

6 Analisa-se. Entendo prejudicado este pedido em função do que restou decidido no tópico acima, ressaltando que nem mesmo em relação às horas extras eventualmente pagas pelo réu se aplica o divisor, já que a cláusula normativa só reconhece o sábado para efeito de divisor quando a hora extra é praticada durante toda a semana. A cláusula 8ª da convenção coletiva da categoria dos bancários FENABAN, dispõe, que as "horas extraordinárias serão pagas com adicional de 50%" e no parágrafo primeiro, estabelece que quando "prestadas durante toda a semana anterior, os bancos pagarão, também, o valor correspondente ao repouso semanal remunerado, inclusive sábados e feriados". Por consequência, também não se aplica a Súmula 124 neste caso. REFLEXOS DO DESCANSO SEMANAL REMUNERADO Prejudicado, diante da improcedência do pedido de horas extras. MULTA DO ARTIGO 477 DA CLT A autora alega que a homologação da rescisão com a entrega do TRCT e das guias do seguro-desemprego se deu após decorrido o prazo previsto no 6º do artigo 477 da CLT. Postula o pagamento do parágrafo 8º do artigo 477 da CLT. Em sua defesa, o réu alega que não houve mora no pagamento das verbas rescisórias, que foram depositadas na conta-corrente da autora no dia 28/6/213, exatos três dias após a rescisão contratual. fundamentos, in verbis: O juízo a quo lugou improcedente o pedido, sob os seguintes

7 " A ré comprova que efetuou o pagamento de verbas rescisórias em 28/06/2013 (documento de fls.624), discriminadas às fls.944 e no valor de R$555,15. Considerando que a data do afastamento do autor foi 25/06/2013, o pagamento ocorreu tempestivamente. O fato gerador da multa do art. 477 da CLT é a mora no pagamento; atraso de homologação de resilição contratual é matéria afeta à administração do sindicato da categoria da autora e não se pode imputar à ré multa por fato a que não deu causa. Ademais, é notória a incapacidade dos entes sindicais em agendar tempestivamente a homologação de extinção de contrato de trabalho. Improcede a multa do art.477, 8º, da CLT." Analisa-se. Data vênia, o meu posicionamento é no sentido de que o mero pagamento dentro do prazo não elide a multa, pois na forma do 4º do artigo 477 da CLT, o pagamento deve ser feito no ato da homologação. Portanto, o depósito em conta-corrente, sequer previsto em lei para o caso de verba rescisória (apenas salário), não exclui o empregador da condição de mora. a rescisão foi homologada em 16/7/2013. Conforme TRCT (id ee306b7), o autor foi dispensado em 25/6/2013 e a homologação que o pagamento se complementa. Vê-se que o pagamento foi feito de forma errada, uma vez que é com para liberar o FGTS da autora e entregar documentos. título da multa do parágrafo 8º do artigo 477 da CLT. Dou provimento para condenar o réu a pagar um salário à autora a HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS do TST. Indevidos por não estarem preenchidos os requisitos da Súmula 219 INDENIZAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA

8 Requer a autora seja o réu condenado no pagamento do imposto de renda que vier a ser retido quando do recebimento de eventual crédito deferido ou, sucessivamente, indenização equivalente, os termos do artigo 46 da Lei 8.541/92. Analisa-se. não há incidência de imposto de renda. O único título deferido foi a multa do artigo 477 da CLT, sobre o qual, Ainda que houvesse, a autora é quem deve arcar com as cotas fiscais que lhe cabem, consoante entendimento consagrado na Súmula 368 do Colendo TST. Pelo exposto, CONHEÇO o apelo e DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO, para condenar o réu a pagar um salário à autora a título da multa do parágrafo 8º do artigo 477 da CLT. Inverto o ônus da sucumbência. Fixo novo valor da condenação de R$ 2.000,00 e custas pela Ré de R$ 40,00. ACÓRDÃO ACORDAM os Desembargadores que compõem a 9ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, nos termos da fundamentação do voto do Exmo. Sr. Relator, CONHECER o apelo e, no mérito, por maioria, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO para condenar o réu a pagar um salário à autora a título da multa do parágrafo 8º do artigo 477 da CLT. Invertido o ônus da sucumbência. Fixado novo valor da condenação de R$ 2.000,00 e custas pela Ré de R$ 40,00. O Exmo. Juiz Eduardo Adamovich acompanhou o Relator, no que tange ao tópico "intervalo que antecede a jornada extraordinária - artigo 384 da CLT", por fundamento diverso. Restou vencida a Presidência que dava provimento para deferir o pagamento do intervalo previsto do art. 384 da CLT como hora extra e as diferenças de horas extras pela aplicação do divisor 200. Sustentou oralmente a Dra. Ana Beatriz Steinacher, representando o recorrente.

9 Rio de Janeiro, 10 de Novembro de 2015 IVAN DA COSTA ALEMAO FERREIRA Relator Votos