São Paulo, 25 de maio de /2004

Transcrição

1 São Paulo, 25 de maio de /2004 Dr. Girabis Evangelista Ramos Diretor do Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal Secretaria da Defesa Agropecuária Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Prezado Dr. Girabis, Encaminho, a seguir, relatório feito pela ABCSEM, referente ao plantio ilegal de sementes F2 de melão, na região do Vale do São Francisco. Trata-se de um assunto bastante importante e, devido a esta importância solicito ao DDIV que as devidas providência sejam tomadas para que esta prática possa ser coibida e a qualidade desta espécie, assim como das áreas de plantio, sejam preservadas. Agradeço sua atenção e aguardo retorno. Atenciosamente, Célio Espíndola Presidente

2 Relatório sobre a produção e comercialização de sementes segunda geração (F2), na região do Vale do São Francisco O Vale do São Francisco é uma região tradicional na produção de Cucurbitáceas, principalmente no que se refere as culturas do melão (Cucumis melo) e da melancia (Citrullus lanatus). Atualmente, estima-se um plantio anual de ha de melão, sendo Amarelo, Orange Flesh e Pele de Sapo os tipos principais; e aproximadamente ha de melancia. Por questões de custos, utilização de baixa tecnologia, e instabilidade financeira, os agricultores passaram a utilizar, nesta região, sementes de segunda geração (F2), vulgarmente conhecidas como semente tirada. Esta prática vem sendo realizada de forma constante, promovendo uma segregação genética, a qual influencia consideravelmente a qualidade dos frutos descaracterizando os tipos e, conseqüentemente prejudicando a comercialização. Outra conseqüência grave desta prática é a proliferação de doenças, uma vez que as condições fitossanitárias destes campos de produção, não são adequadas e as sementes por serem de segunda geração, perdem as resistências incorporadas nas cultivares originais. Dentre as doenças observadas, na Região do Vale do São Francisco, a que apresenta uma grande evolução a cada ano, é a mancha aquosa, causada pela bactéria Acidovorax avenae, que possui um grande poder destrutivo, apresentando, inicialmente, uma pequena lesão na casca, que evolui para um escurecimento da polpa tornando o fruto impróprio para comercialização. Vale ressaltar que esta bactéria pode ser transmissível via semente. Quando os campos de produção são Inscritos no Ministério da Agricultura, os mesmos passam pelo crivo da fiscalização, antes da comercialização das sementes. Já os campos de produção de sementes F2, provavelmente não são inscritos e as sementes comercializadas também não apresentam inscrição no RNC, o que as tornam totalmente ilegais no país., Outro ponto importante na utilização de sementes de segunda geração (F2), refere-se ao prejuízo para os agricultores no momento da comercialização. De maneira geral, observa-se uma redução no rendimento em torno de 30 a 40%, além da perda de uniformidade dos frutos, o que reflete diretamente nos valores pagos pela produção. Observa-se a seguir, fotos comparando-se frutos de melão advindos de sementes F1 e de sementes F2.

3 Figura 1.: Comparativo entre os refugos de melões F1 (esquerda) e melões F2 (direita), Figura 2.: Comparação dos aspectos da parte interna dos melões F1 (esquerda) e F2 (direita), salientamos a presença de bactéria em alguns frutos do F2.

4 Percebendo a fragilidade do processo, oportunistas passaram a comercializar sementes de segunda geração (F2), em embalagens de 1Kg, com etiquetas totalmente fora dos padrões legais. Vide fotos ilustrativas. Embalagem vendida de sementes F2 (Tipo 682), tratadas e embaladas em sacos de 1Kg, De acordo com informações obtidas através de técnicos de Empresas Associadas à ABCSEM, a produção de sementes F2, nesta região, pode chegar a 90% da área plantada. Em virtude do exposto acima, a ABCSEM, Associação que congrega mais de 85% das Empresas que comercializam sementes de hortaliças, vem solicitar ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a fiscalização da produção e comercialização destas sementes F2, bem como a fiscalização fitossanitária destes campos de produção de sementes e de frutos advindos destas sementes. Acreditamos ser este assunto bastante sério pois, esta prática ilegal que vem ocorrendo nesta região do Vale do São Francisco, poderá trazer conseqüências bastante graves como: - elevação do nível de inoculo de A. avenae em todo o país, uma vez que estes frutos são comercializados em vários Estados; - possibilidade de inviabilização desta potencial região de produção, principalmente nos períodos mais críticos (chuvosos), devido a A. avenae ;

5 - possibilidade de introdução de A. avenae em outros países, em caso de exportação de frutos, o que poderá afetar sensivelmente as relações comerciais com o Brasil; - Descrédito do público consumidor, uma vez que trata-se de frutos de baixa qualidade; o que poderá afetar todo o segmento de melão, que assume hoje a 2ª posição do ranking de exportação de frutas frescas do país.