ANEXO I. Princípios de Contratos de Unitização
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- Cíntia Bayer Antas
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1 ANEXO I Princípios de Contratos de Unitização 1. Quando da delimitação dos campos a serem ofertados em processos licitatórios, é comum que não haja informações suficientes acerca da distribuição dos reservatórios no subsolo. Logo, pode haver jazidas que perpassam por entre as delimitações das áreas. Somente em etapa posterior é possível identificar estes reservatórios que se estendem além dos limites demarcados, ocasionalmente atingindo áreas onde atuam concessionários distintos. 2. Na ausência de regulação, haveria incentivos para que cada uma das partes envolvidas provocasse uma maior produção na área sob seu controle, utilizando-se de métodos como manipulação na pressão dos poços ou perfuração intensiva, o que levaria a uma maior produção em menor tempo na área desejada, entretanto reduziria o fator de recuperação da jazida como um todo. Ocorreria uma exploração predatória devido à competição entre os envolvidos, resultante da regra da captura : princípio ( common law ) do direito norte-americano no início da exploração petrolífera, sob o qual a titularidade do petróleo pertencia àquele que o houvesse extraído em poço de sua propriedade, independente da localização do óleo no subsolo. 3. A fim de se evitar o desperdício gerado por este comportamento, tiveram início os processos de unitização nos Estados Unidos: Um contrato entre os respectivos exploradores, para disciplinar a exploração conjunta da jazida, determinando direitos e obrigações de cada parte decorrentes da exploração do reservatório como uma unidade sob operação de apenas uma das partes, independente dos limites de cada área contratada e seus respectivos termos contratuais (Duval et al 2009). Em adição ao principal objetivo de elevar a recuperação de petróleo, a unitização minimiza disputas, ao estabelecer os percentuais de participação de cada um dos envolvidos conforme a distribuição da jazida sob suas respectivas áreas.
2 4. Segundo Asmus e Weaver (2006), a unitização é reconhecida como o melhor método de se produzir petróleo e gás de forma justa e eficiente em casos de jazidas compartilhadas por mais de um produtor, pelas razões a seguir: a. evita o desperdício econômico de perfurações desnecessárias e construção de instalações que ocorreria sob a regra da captura ; b. propicia a divisão do desenvolvimento de infraestrutura, reduzindo os custos de produção através de economias de escala e eficiências operacionais; c. maximiza o fator de recuperação de petróleo da jazida; d. aloca a cada parte uma fração justa da produção total (proteger direitos correlatos ); e. minimiza a superfície da área exploratória e os danos correspondentes ao evitar perfurações e infraestrutura desnecessárias. 5. Em síntese, Asmus e Weaver (2006) identificam as três principais motivações que justificam o contrato em questão: a. evitar o desperdício físico; f. evitar o desperdício econômico; g. proteger direitos correlatos. 6. Ainda segundo os mesmos autores, embora alguns contratos incluam os três itens acima como motivadores, em geral as comissões norte-americanas não podem justificar uma unitização com o intuito único da proteção aos direitos correlatos. A aprovação do procedimento sempre requer que se atinja uma taxa de recuperação de óleo e gás mais elevada sob a vigência do plano. Adicionalmente, a jurisprudência norte-americana tem reiterado que a prevenção ao desperdício (elevar a produção total) é um propósito de superior importância em comparação à proteção aos direitos correlatos (divisão de direitos e obrigações entre concessionários) em casos onde há que se optar entre um dos objetivos. 7. Em nenhum país a proteção aos direitos correlatos é o propósito da unitização, embora muitos requeiram que os acordos sejam justos e equitativos. Não é surpresa que em países onde o governo detenha a propriedade do óleo (ao contrário do caso dos Estados
3 Unidos) e consequentemente receba sua parcela de royalties, participações e impostos independente da fatia alocada a cada produtor (exceto por diferenças em contratos de cada área), este rateio seja de importância secundária (Asmus e Weaver, 2006) 8. No Reino Unido a regulação se dá de forma similar: A unitização só é autorizada se for de interesse nacional, ao assegurar a maximização da recuperação do óleo e evitar perfurações desnecessárias. 9. Há então diversos benefícios decorrentes da unitização, os quais atingem todos os envolvidos. Os operadores têm sua renda estabilizada, prolongada e protegida pelo seu percentual de participação em relação à jazida, ao invés de depender da produção dos poços localizados em sua propriedade. Mas o maior beneficiário da conservação do óleo e gás ao se evitar o desperdício de recursos naturais é o Estado (IOGCC, 1999). 10. Acerca da questão das participações governamentais e tributos incidentes sobre uma jazida compartilhada, a literatura e casos de referência (campo de Frigg, por exemplo) indicam que cada parte será responsável pelas obrigações de sua área, apropriando-se da produção e custos provenientes da jazida de acordo com o coeficiente de participação definido no acordo de unitização. Não foram encontrados casos de alteração no cálculo de participações governamentais devido a estes acordos, ou de influência da produção alocada a uma área sobre obrigações de outra. 11. Considerando-se o caso brasileiro especificamente, no qual há convivência de diferentes regimes e contratos, só se encontram paralelos nas unitizações transfronteiriças (cross-boundary unitizations, quando a jazida estende-se além da fronteira de um país), que envolvem duas ou mais regulamentações nacionais, em geral com regimes fiscais distintos (Braga, 2012). Segundo a autora, a existência de mais de um regime na área a ser individualizada, contida inteiramente em uma mesma nação, não encontra referência em nenhum outro país. 12. E nos casos de cross-boundary unitizations, em relação a participações governamentais e tributos, primeiramente distribui-se o volume total entre os envolvidos, e em cada área é tributada a produção correspondente.
4 13. Como exemplo, observa-se o acordo de Frigg 1, entre Reino Unido e Irlanda do Norte, apontado por Duval et al (2009) como o mais completo e compreensível conjunto de disposições que balizaram uma individualização transfronteiriça: Artigo 9 (1) Cada governo poderá cobrar impostos de acordo com sua legislação, sobre a totalidade das receitas decorrentes de suas respectivas licenças sobre a exploração do reservatório de Frigg, de acordo com os princípios estabelecidos no parágrafo a seguir, independente da produção ocorrer na plataforma continental ou em outro Estado, mas não deverá tributar nenhum lucro resultante das licenças de outro governo. (2) A tributação de lucros derivados da exploração do reservatório no campo de Frigg deve ser baseada no princípio de que durante a vida produtiva do campo as licenças de cada governo devem ser tributadas com relação à renda equivalente à sua parcela da produção de petróleo e gás, definida neste Acordo, conforme lhes será atribuída no rateamento final do Reservatório do Campo de Frigg, de acordo com o Artigo 3º. (...) (3) Royalties, obrigações e taxas, calculados em relação à quantidade ou valor da produção, devem ser calculados em relação a cada Governo de acordo com os princípios estabelecidos nos parágrafos (1) e (2) deste Artigo. (grifos nossos) 14. Ao elencar o conteúdo de um acordo de unitização, Duval et al (2009) citam entre os principais itens a questão tributária: Cada participante pagará seus impostos e royalties de acordo com os termos de seu respectivo contrato, como se o petróleo sobre o qual tais impostos e royalties incidem houvesse sido produzido sob sua licença e em sua área contratada. 15. Em geral, o mesmo entendimento válido para os casos internacionais é estendido para aqueles intranacionais e normalmente sequer se considera a possibilidade de alteração no cálculo de participações governamentais devido a acordos de unitização. 1 Acordo relativo à exploração do reservatório do Campo de Frigg e transmissão de gás a partir do Reino Unido: Reino Unido e Irlanda do Norte, Londres, 1976
5 16. Como exemplo de um caso nacional, há a análise de Jacqueline Weaver 2, em relação a conflitos em participações governamentais devido a diferenças nas alíquotas de royalties nos Estados Unidos. A autora posiciona-se no sentido de que cada alíquota deve ser aplicada ao volume de produção apropriado por cada parte envolvida; ou seja, primeiramente, segrega-se a produção e depois se calculam as participações de acordo com o estabelecido nos respectivos contratos. 2 WEAVER, Jacqueline Lang. Palestra sobre Direito do Petróleo nos EUA proferida no International Short Course Novos Desafios Jurídicos do Upstream da Ind. do Petróleo no Brasil, promovido pelo Instituto Brasileiro do Petróleo IBP apud AZEVEDO, Fernanda Porto de; PEDROSO JUNIOR, Jorge Antonio. Breve análise dos reflexos dos acordos de unitização nos royalties do petróleo. Riode Janeiro, 12 de fevereiro de 2004, apresentado à Faculdade de Direito da UERJ.
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