Capítulo 1 Transformando derrotas em aprendizado

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Leonardo Vilalobos Corte-Real
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2 Capítulo 1 Transformando derrotas em aprendizado Enfrentando as tribulações Para avançar no caminho que nos propusemos seguir, sugiro que você reflita um pouco mais sobre a história desses dois grandes santos: São Francisco de Assis e Santo Antônio de Pádua. Como tudo isso se aplica à sua vida? Você é capaz de enxergar-se nas águas agitadas ou não? Em outras palavras, você tem fé suficiente para sentir a presença de Deus em meio às adversidades da vida? É fundamental refletir sobre essa questão, pois, se você ainda não alcançou a tão desejada felicidade, a chave do problema pode estar aí. Talvez você esteja tão sufocado pelos problemas e pelas contrariedades da vida que não mais seja capaz de sentir a presença de Deus a seu lado. Se esse é o seu caso, é importante que adote uma postura diferente diante do sofrimento. Com isso, não quero dizer que a dor não existe, que é possível não senti-la, tampouco pretendo que você fuja dela. A solução é mais uma vez entendê-la à luz da fé. Tribulação ou sofrimento são situações que vivemos em nosso dia a dia, contrárias à nossa vontade. Algumas delas como a doença, a falta de recursos para uma vida digna, o desemprego, a dependência química, a morte de um ente querido, por exemplo são especialmente dolorosas. Contudo, o sofrimento também está presente em momentos mais corriqueiros da vida, como a nossa socialização, a vida acadêmica e profissional, as relações afetivas e a sexualidade. O ser humano é muito vulnerável ao sofrimento. Por vezes, as tribulações deixam nele uma ferida incurável. Nessas horas, é muito comum duvidar da presença de Deus em nossa vida ou do Seu amor por nós. É por isso que muitas pessoas afirmam ter perdido a fé em Deus depois de viver ou presenciar uma situação de grande sofrimento. Da mesma forma, ocasiões de grande provação para a humanidade como as guerras, a fome, a miséria, as doenças, a injustiça, a opressão levam muitas pessoas a duvidar da existência de Deus. Quantos de nós, ao nos deparar com situações como as descritas, não nos perguntamos: Por que Deus permite essa situação? Por que Deus não resolve isso?. Essas perguntas revelam uma compreensão errônea a respeito do sofrimento e da nossa vida. Em primeiro lugar, porque grande parte do sofrimento presente no mundo é causada pelo próprio ser humano as guerras, a violência e a pobreza, entre tantas outras situações. Nada disso é culpa de Deus. Não é por omissão que Deus não resolve os problemas, mas porque quer que nós o façamos. Deus acredita no ser humano. A maior prova disso é a Encarnação de Jesus. Ele acredita tanto que espera pacientemente que cada pessoa faça a opção pelo Reino de Deus. Quando isso, enfim, acontecer, a vontade de Deus estará plenamente satisfeita, e a humanidade livre das guerras, da pobreza e da injustiça será feliz de modo pleno. Em segundo lugar, Deus permite que passemos por momentos dolorosos, pelos quais Jesus Cristo também passou como a morte, por exemplo, para que possamos amadurecer. Esses momentos não devem ser encarados como um impedimento para a felicidade, mas como oportunidade de crescimento e de superação. O sofrimento nos faz amadurecer somente quando o entendemos à luz da fé. Pela fé, sentimo-nos amparados por Deus e, assim, adquirimos força para suportar até as situações mais adversas. Em outras palavras, quem tem 2 3

3 fé enfrenta as horas mais difíceis da vida inclusive aquelas que nos deixam uma dor eterna, como a saudade, ou a dor de ter sofrido alguma violência, um crime, uma injustiça, sem perder a felicidade e a alegria de viver. Isso é um milagre. Somente em Deus o ser humano é capaz de consegui-lo. É por isso que mais uma vez repito: somente a fé em Deus pode nos tornar plenamente felizes. A resposta dos fortes é a persistência Não é do dia para a noite que adquirimos a consciência e o sentimento de que Deus está sempre conosco, especialmente nos momentos mais atribulados. Muitos daqueles que hoje consideramos santos, entre eles os discípulos, duvidaram da presença de Deus em sua vida na hora da incerteza e da tribulação. Um episódio que ilustra muito bem esse fato é narrado no Evangelho de Lucas. Vejamos: Num daqueles dias ele subiu com os seus discípulos a uma barca. Disse ele: Passemos à outra margem do lago. E eles partiram. Durante a travessia, Jesus adormeceu. Desabou então uma tempestade de vento sobre o lago. A barca enchia-se de água, e eles se achavam em perigo. Aproximaram-se dele então e o despertaram com este grito: Mestre, Mestre! Nós estamos perecendo! Levantou-se ele e ordenou aos ventos e à fúria da água que se acalmassem; e se acalmaram. E logo veio a bonança. Perguntou-lhes, então: Onde está a vossa fé?. Eles, cheios de respeito e de profunda admiração, diziam uns aos outros: Quem é este, a quem os ventos e o mar obedecem? (Lucas 8,22-25) Os discípulos pensaram que Jesus estava dormindo, e nós, muitas vezes, temos a mesma impressão: quando nosso problema parece insuportável, achamos que Jesus dorme, que Deus não nos ouve. Então, caímos em desespero. O desespero é a reação de quem se sente abandonado. Ao ver que Jesus dormia, os discípulos sentiram-se abandonados e ficaram desesperados. E qual foi a causa de todo esse desespero? Foi a fé inconsistente que eles tinham. Os discípulos acreditavam em Jesus, mas a fé deles era muito frágil, muito infantil. Era uma fé semelhante ao sentimento daquela criança insegura que, quando não vê a mãe por perto, apavora-se. Os discípulos estavam no mesmo nível: precisavam sentir Jesus para manejar o barco. Em um primeiro momento, isso foi fácil; os discípulos nem precisavam ter fé: sabiam que Jesus estava ali; bastava olhar para Ele. A presença de Jesus era um fato, e os fatos não carecem de fé, pois são evidentes para nós. No entanto, quando Jesus adormeceu, os discípulos deixaram de senti-lo e se apavoraram. A fé deles não era madura o suficiente para que continuassem acreditando no Mestre mesmo quando Ele parecia ausente. Por isso, depois de acalmar a tempestade, Jesus os repreende, mostrando a eles que precisavam amadurecer na fé. Muitas vezes, nossa fé também é imatura e frágil. Acreditamos apenas quando tudo está bem em nossa vida. Ou então o que é pior ainda achamos que, por sermos religiosos, estaremos isentos de provações. A passagem da barca mostra justamente o contrário. Estar com Jesus Cristo não é garantia de uma vida perfeita, sem problemas, sem sofrimento. Jesus nunca prometeu isso a ninguém. Em Seu amor, Ele nos proporciona uma vida feliz, mas com provações. Como isso é possível? É possível porque, embora o sofrimento seja doloroso, ele não nos impede de ser felizes. Esse é o nível da verdadeira fé, que os discípulos ainda não tinham alcançado. À luz de uma fé madura, o sofrimento ganha sentido. Deixa de ser uma 4 5

4 dor inútil, descabida, e torna-se oportunidade de aprendizado, desapego, humildade, redenção. A fé é a única coisa que pode dar sentido à nossa vida, porque nos torna convictos de que Deus está sempre conosco, mesmo quando não O sentimos. Muitos de nós buscamos a religião como uma espécie de anestésico para nossas dores. No entanto, quando as águas se agitam, perdemos a fé. Quem busca Deus apenas com o desejo de nunca mais sentir dor está no mesmo nível de fé imatura dos discípulos. Então, volto a insistir: somente a fé pode nos fazer felizes. À luz da fé, encaramos os sofrimentos de forma diferente, e eles deixam de ser empecilho para nossa felicidade, até porque felicidade não é ausência de dor. Quando seu coração está tomado por uma fé verdadeira, você sabe que Deus está presente em sua vida, mesmo quando não O sente, mesmo quando não consegue enxergá-lo nas águas agitadas. O que fazer, porém, para conseguir uma fé madura? A fé, como tudo na vida, é fruto do exercício. Ela é um dom que deve ser cultivado. Por isso, precisa ser trabalhada, todos os dias, em nossos atos, desde os mais simples até os mais complexos. Tente reconhecer a presença generosa de Deus no seu trabalho, na sua família, no seu estudo, na casa que o abriga, na graça de estar vivo. Amadureça sua fé também por meio de orações diárias ter uma vida de relacionamento pessoal com Deus é essencial, e somente a oração pode proporcionar isso. Converse com Deus. Procure sentir-se à vontade para falar com Ele. Não é preciso que sua oração seja longa, mas simples e sincera. Peça a Deus que lhe conceda o dom de uma fé madura. Assim, na hora do sofrimento, você não se sentirá abandonado e saberá como agir. Caso tenha dificuldade para formular uma oração, eu lhe sugiro esta prece simples mas profunda e belíssima de São Francisco de Assis, em que ele pede ao Crucificado fé, esperança e amor: Altíssimo, glorioso Deus, ilumina as trevas do meu coração. Dá-me uma fé direita, uma esperança certa, uma caridade perfeita, senso e conhecimento para que faça o teu santo e veraz mandato. Amém. 6 7

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