QUEM É O PROFESSOR QUE ALFABETIZA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE BELO HORIZONTE? Maria do Socorro Macedo (FAE/UFMG)
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- João Henrique Bardini Tomé
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1 1 QUEM É O PROFESSOR QUE ALFABETIZA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE BELO HORIZONTE? Maria do Socorro Macedo (FAE/UFMG) Este trabalho tem por objetivo traçar um perfil dos professores alfabetizadores da rede municipal de Belo Horizonte. Ele é parte de uma pesquisa de doutorado, em andamento, que tem como objeto a relação entre as diferentes formas de interação na sala de aula e a aprendizagem da leitura e da escrita. Os dados estão sendo coletados no primeiro ciclo do ensino fundamental. A primeira etapa da coleta, concluída em dezembro de 2000, foi feita por meio da aplicação de um questionário para caracterizar o perfil dos professores. Esses dados têm também o objetivo de indicar critérios para escolha de alguns professores que terão suas aulas filmadas na segunda fase da pesquisa. Os dados que ora apresentamos são o resultado da aplicação desse questionário a 527 professores de 41 escolas. Foram agrupados em quatro categorias: 1)Formação inicial; 2) Tempo de atuação no magistério; 3)Formas de organização da interação em sala de aula; 4) Uso do livro didático e outros materiais. 1. Formação inicial Os dados revelam que 84,25% (444) das professoras são formadas em nível superior. Desse total 43,46% têm curso de pós-graduação latu sensu como podemos observar na tabela a seguir. GRAU DE ESCOLARIDADE QUANTIDADE PROF. PORCENTAGEM 2 º grau 80 15,81 3 º grau ,25 Pós-graduação ,46 Não indicaram 03 0,56 Pedagogia é o curso predominante, com 64,18%. Letras é o segundo mais escolhido, com 9,23%. Em terceiro lugar está o curso de Psicologia, com 4,50%. Filosofia, Enfermagem, Biblioteconomia e Educação física contam com apenas um professor cada. Veja a seguir os dados sobre a diversidade de cursos e a representatividade de cada um na formação do professor:
2 2 CURSO QUANT. PROFESSORES PORCENTAGEM Pedagogia ,18 Letras 41 9,23 Psicologia 20 4,50 História 16 3,60 Educ. Artística e Belas Artes 15 3,37 Serviço Social 13 2,92 Ciências Físicas e Biológicas 7 1,57 Matemática 5 1,12 Geografia 5 1,12 Direito 4 0,90 Normal Superior 2 0,44 Filosofia 1 0,22 Enfermagem 1 0,22 Educação Física 1 0,22 Biblioteconomia 1 0,22 Não indicaram 26 5,85 2.Tempo de atuação no magistério e na alfabetização A análise dos dados mostra que 81,40% têm mais de 10 anos de experiência. 48,76% têm mais de 10 anos de experiência com alfabetização de crianças. Apenas 14,80% têm entre um e três anos de experiência nessa área. Isso significa que a maior parte dos professores não é iniciante nem na profissão e nem no trabalho com crianças em fase de alfabetização. Os gráficos abaixo mostram o tempo de experiência com o magistério e com alfabetização.
3 Experiência com magistério 1% 4% 1 a 3 anos 3 14% 3 a 6 anos 6 a 10 anos 81% acima de 10 anos Experiência com alfabetização 1 a 3 anos 4% 3% 28% 3 a 6 anos 65% 6 a 10 anos acima de 10 anos Comparando essas informações, percebemos que o tempo de experiência tanto no magistério quanto na alfabetização está concentrado em mais de seis anos, o que significa que os professores têm um tempo de experiência significativo, não são iniciantes. 3. Formas de organização da interação em sala de aula O levantamento foi feito a partir de quatro perguntas específicas do questionário. Na primeira, de cunho mais geral, o professor deveria escolher os itens ou estratégias de organização que utiliza em seu trabalho: aula expositiva; se dirige à turma como um todo através de debates; organiza os alunos em duplas; organiza os alunos em pequenos grupos; propõe atividades individuais; outros. Na segunda, o professor deveria escolher, dentre os itens assinalados na questão anterior, aqueles que são predominantes. A terceira e quarta perguntas tratavam da freqüência da organização em grupos e duplas (todos os dias; semanalmente; ocasionalmente; raramente). Os resultados apontam que a freqüência do trabalho em pequenos grupos varia em relação ao trabalho com duplas, como podemos observar nos gráficos a seguir:
4 4 Dupla 4% 4% 28% 30% 34% Todos os dias semanalmente ocasionalmente raramente não indicou Grupos 2% 32% 3% 21% Todos os dias Semanalmente Ocasionalmente Raramente 42% Não indicou Comparando os indicadores dessas duas formas de interação podemos observar que diariamente há mais atividades em duplas que em grupos, embora a diferença seja pequena. As atividades em grupos são usadas com mais freqüência semanalmente. Apenas 15 (2,96%) professores raramente propõem atividades em pequenos grupos. 21 (4,15%) raramente propõem atividades em duplas, uma quantidade pouco significativa se comparada com a freqüência diária e semanal dessas duas formas de organização. Esses dados evidenciam que a maior parte dos professores de primeiro ciclo da Rede Municipal de Belo Horizonte, afirma diversificar as formas de interação em sala de aula, rompendo com a predominância das carteiras enfileiradas e o trabalho individualizado como forma de organização. Entretanto, somente a pesquisa empírica na sala de aula poderá evidenciar como essas formas de organização estão funcionando, como são propostas pelos professores, como os alunos lidam com elas e quais tipos de
5 5 atividades são propostas nessas situações. Essas são algumas das questões que estão norteando a segunda fase da pesquisa. 4.Uso do livro didático e outros materiais A maioria dos professores afirma usar o livro didático como um recurso na sua prática de alfabetização. Dos total de participantes da pesquisa, apenas 126 não usam livro didático, o que corresponde a 23,9%. 398 professores afirmam usar o livro, ou seja, 75,54%. Desse total, apenas 17 afirma usá-lo diariamente. Veja a seguir, o percentual relativo à freqüência de uso: Freqüência de uso do livro didático 1% 25% 10% 4% 8% Todos os dias Uma vez na semana Raramente 52% Alguns dias na semana Ocasionalmente Não indicaram Os dados do gráfico evidenciam que a maior parte dos professores prefere usar o livro alguns dias na semana, rompendo com a demanda de uso diário, tradicionalmente proposta para o livro didático. Os dados do questionário também indicam que 491 dos 527 professores admite usar outros tipos de materiais, sejam eles escritos ou não, elaborados pelo professor ou de circulação social, como veremos na tabela a seguir. Apenas 36 não responderam à essa questão, mas não podemos afirmar que isso indica a não utilização de materiais diversificados. Muitos professores acrescentaram em sua resposta informações significativas, como por exemplo a de que usam vários livros como fonte de pesquisa, não optando por um único livro a ser seguido. Os dados sobre outros materiais usados para alfabetizar, variam desde a indicação daqueles para leitura até os elaborados em aulas de artes plásticas. Organizamos as respostas em três grupos: 1) textos que circulam socialmente; 2) materiais elaborados pelo professor e produções de alunos; 3) atividades com outras linguagens.
6 6 Textos que circulam socialmente revistas; encartes; jornais; rótulos; parlendas; livros; folhetos de supermercado; bulas de remédio; embalagens; história em quadrinho; propagandas; textos variados; diversos portadores de texto; livros de literatura; poesia; Gurilândia (Jornal E.M); trava-língua; panfletos; charadas, adivinhações, receitas, manual de eletrodoméstico, anúncios;notícia de jornal; conversas; contação de histórias; cantigas; reportagens; letreiros; correspondências; catálogo; textos informativos; narrativos; livro paradidáticos. Materiais elaborados pelo professor e produções de alunos textos mimeografados; alfabeto ilustrado; cartazes; gravuras; cruzadinha; cartazes de acordo com sílabas trabalhadas; quebra-cabeça de sílabas; fichas; dominó de sílabas; caça-palavras; atividades xerocadas; nome dos alunos; revistas para recortar; várias cartilhas; bingo; cartazes contendo textos que falam sobre a vida dos alunos; textos coletivos; ditado; auto-ditado; exercícios; painéis; exposição de trabalhos dos alunos; brincadeiras com frases, palavras; atividades relacionadas a projetos; ditado visual; fichas com dificuldades [ortográficas];quadro de pregas; atividades pesquisadas em vários livros; produção de livros. Atividades com outras linguagens jogos diversos; brincadeiras, música; artes; danças; jogos de memória; teatro; fantoches; vídeos; gravuras; sucatas; dramatização de contos; slides; corporeidade dos alunos; desenho. Observando a tabela, percebemos um contraste entre os tipos de materiais de cada coluna. Ao que parece, os recursos citados na segunda coluna, diferentemente da primeira, estão mais direcionados para o trabalho com o código escrito. Entretanto, esses recursos não foram citados isoladamente pelo professor. Todos os professores apontam o uso conjunto dos recursos citados nas três colunas. Portanto, é significativo que nenhum professor indique o uso do livro didático isoladamente. Além de não salo diariamente, está sendo usado articulado a outros textos e a outras linguagens no processo de alfabetização. O que o conjunto dos dados aqui apresentados nos sugerem? Que o livro didático não está sendo usado de forma seqüencial e linear, como previsto? Que os professores têm alterado a função do livro didático em sua prática pedagógica? Que o discurso sobre o trabalho pedagógico com a leitura e a escrita tem avançado na perspectiva do letramento?
7 7 Algumas tendências podem ser apontadas a partir desses resultados. Podemos afirmar que o discurso do professor sobre a sua prática está avançando, tanto em relação ao trabalho com a leitura e a escrita quanto à forma de organização das interações em sala de aula. Algumas pesquisas realizadas em escolas municipais nesta última década (ver por ex. Frade, 1994) indicam o movimento de mudança dos professores alfabetizadores no sentido da incorporação de referenciais construtivistas, com ênfase nas teorias de Ferreiro e Teberosky(1991) sobre a gênese da escrita na criança. Consideramos a hipótese de que o discurso do professor continua avançando no sentido da incorporação das discussões mais recentes sobre letramento, materializadas, principalmente, no trabalho de Soares (1998). Os cursos de formação continuada implementados pelo CAPE (Centro de Aperfeiçoamento dos Professores da Rede Municipal) têm discutido o conceito de letramento utilizando como uma das referências básicas um texto escrito por essa autora para a Revista Escola e Escrita (1999), uma publicação da Secretaria Municipal de Educação. São esses cursos os mais citados pelos professores ao responderem à pergunta do questionário sobre participação em processos de formação continuada. Outra tendência diz respeito à ênfase em formas diferentes de organização das interações. É provável que esse discurso reflita um diálogo com novos referenciais que discutem a natureza dos processos de aprendizagem e apontam a interação como um fator fundamental para a apropriação do conhecimento. Dentre esses referenciais, podemos citar aqueles ligados à abordagem sociocultural que tem Vygotsky(1991) como o principal representante.
8 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERREIRO E. e TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. 4 A. edição. Porto Alegre: Artes Médicas, FRADE, Isabel, C. Mudança e resistência à mudança. Dissertação de mestrado. Faculdade de Educação, UFMG, SOARES, M. B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE BELO HORIZONTE. Revista Escola e Escrita. n.1.belo Horizonte, 1999 VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 4 A. Edição. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
9 9 ESQUEMA DO PÔSTER TÍTULO AUTOR INSTITUIÇÃO TEXTO GRÁFICOS/TABELAS TEXTO GRÁFICOS/TABELAS TEXTO GRÁFICOS/TABELAS TEXTO
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