MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO AUDITORIA INTERNA SECRETARIA DE ORIENTAÇÃO E AVALIAÇÃO PARECER SEORI/AUDIN MPU Nº 41/2016

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1 MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO AUDITORIA INTERNA SECRETARIA DE ORIENTAÇÃO E AVALIAÇÃO PARECER SEORI/AUDIN MPU Nº 41/2016 Referência : Ofício PR/SP nº /2015, de 27/10/2015. Protocolo PR-SP nº 77145/2015. Assunto : Administrativo. Reembolso de valor. Penalidade de multa por não indicação de condutor. Interessado : Secretaria Estadual. Procuradoria da República em São Paulo. A Senhora Secretária Estadual da Procuradoria da República em São Paulo - PR/SP consulta esta Auditoria Interna do MPU sobre a possibilidade de se efetuar reembolso a servidor que utilizou recursos próprios para quitar dívida de multa imposta à Administração pelo Departamento de Estradas e Rodagem DER. 2. No expediente em epígrafe, a Consulente apresenta os seguintes fatos acerca da situação em tela e expõe questionamento: Em 28/08/2013 no município de Sertãozinho/SP, a viatura pertencente à Procuradoria da República no Município de Ribeirão Preto foi multada (AIT nº 1B ) por transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20%. O prazo limite para indicação do condutor do veículo estava previsto para 05/10/2013. No dia 02/10/2013 foi efetuada tal indicação, conforme o Protocolo nº em anexo. Ocorre que após todo o procedimento adotado, esta Procuradoria da República no Estado de São Paulo recebeu uma notificação de imposição de penalidade de multa por não indicação do condutor (AIT nº 1A ) no valor de R$ 84,80 (oitenta e quatro reais e oitenta centavos). Este Órgão Ministerial interpôs recurso na tentativa de anular a multa, conforme às fls. 06 a 11, todavia o mesmo foi indeferido pelo Departamento de Estradas e Rodagens DER/SP (fl.12). Diante dessa situação e na iminente necessidade de se efetuar o Licenciamento do veículo relativo aos anos de 2014/2015, a Coordenadora de Administração da Unidade quitou a dívida com recursos próprios para possibilitar o Licenciamento do veículo. 1/6

2 Pelo exposto, consulto a Vossa Senhoria de como proceder em relação à possibilidade do reembolso solicitado, tendo em vista o artigo 17 da Portaria PGR nº 513/2003, conforme o Parecer da Assessoria Jurídica da Secretaria Estadual da PR/SP anexo. 3. Além dos esclarecimentos supra, também foi juntada à presente consulta cópia do Procedimento de Gestão Administrativa PGEA nº / , relativo ao pedido de reembolso vertente, do qual constam os documentos mencionados pela Consulente, bem como a Comunicação Interna nº 968/2015, de 17/8/2015, exarada pelo Chefe do Setor de Transporte SETRAN, na qual este solicita o reembolso do valor pago pela Coordenadora da PRM Ribeirão Preto, por considerar que os servidores envolvidos no caso não concorreram para a lavratura da multa por não identificação de condutor. 4. Vale destacar que o Parecer emitido pela Assessoria Jurídica da Secretaria Estadual da PR/SP, de 17/9/2015, à fl. 23, fundamentou-se no art. 17 da Portaria PGR nº 513/2003, que atribui a responsabilidade pelo pagamento de multa ao motorista infrator, para dar o entendimento de não ser cabível o reembolso em causa, ainda que o recolhimento do valor tenha sido feito por outro servidor. 5. Em exame, preliminarmente, cabe consignar que a Portaria PGR nº 513/2003 foi revogada pela Portaria PGR nº 70, de 29/9/2015, cuja entrada em vigor iniciouse trinta dias após a data de sua publicação. Apesar da alteração da norma, a regra específica da responsabilidade sobre o pagamento da multa continua similar, conforme se verifica do cotejo dos artigos transcritos abaixo: PORTARIA PGR Nº 513/2003 (REVOGADA) Art. 17 Aos motoristas será atribuída a responsabilidade pelo cometimento de infração de trânsito e implicará no pagamento da multa por parte do motorista infrator, independentemente de qualquer outra penalidade cabível, devendo ser obedecido o procedimento estabelecido em ordem de serviço própria. PORTARIA PGR Nº 70/2015 Art. 14. Os condutores responsabilizar-se-ão pelos prejuízos decorrentes de conduta dolosa ou culposa na condução dos veículos oficiais, ficando sujeitos às penalidades cabíveis, inclusive às multas relativas à infração de regras de trânsito, sem prejuízo de eventual responsabilidade disciplinar. 2/6

3 6. Do disposto acima, observa-se que a responsabilidade atribuída aos motoristas deriva da condução dos veículos, ou seja, os condutores são responsáveis pelas infrações de trânsito cometidas no ato de conduzir os veículos. 7. No caso em foco, no entanto, a multa, a qual se pleiteia reembolso, originouse em razão da não indicação do motorista infrator (NIC), estabelecida nos 7º e 8º do art. 257 da Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro CTB) e na forma disposta no art. 4º da Resolução CONTRAN nº 404/2012, abaixo transcritos: LEI Nº 9.503/97 - CTB Art As penalidades serão impostas ao condutor, ao proprietário do veículo, ao embarcador e ao transportador, salvo os casos de descumprimento de obrigações e deveres impostos a pessoas físicas ou jurídicas expressamente mencionados neste Código. ( ) 7º Não sendo imediata a identificação do infrator, o proprietário do veículo terá quinze dias de prazo, após a notificação da autuação, para apresentá-lo, na forma em que dispuser o CONTRAN, ao fim do qual, não o fazendo, será considerado responsável pela infração. 8º Após o prazo previsto no parágrafo anterior, não havendo identificação do infrator e sendo o veículo de propriedade de pessoa jurídica, será lavrada nova multa ao proprietário do veículo, mantida a originada pela infração, cujo valor é o da multa multiplicada pelo número de infrações iguais cometidas no período de doze meses. RESOLUÇÃO CONTRAN Nº 404/2012 Art. 4º. Sendo a infração de responsabilidade do condutor, e este não for identificado no ato do cometimento da infração, a Notificação da Autuação deverá ser acompanhada do Formulário de Identificação do Condutor Infrator, que deverá conter, no mínimo: I - identificação do órgão ou entidade de trânsito responsável pela autuação; II - campos para o preenchimento da identificação do condutor infrator: nome e números de registro dos documentos de habilitação, identificação e CPF; 3/6

4 III - campo para a assinatura do proprietário do veículo; IV - campo para a assinatura do condutor infrator; V - placa do veículo e número do Auto de Infração; VI - data do término do prazo para a identificação do condutor infrator e interposição da defesa da autuação; VII - esclarecimento das consequências da não identificação do condutor infrator, nos termos dos 7º e 8º do art. 257 do CTB; VIII - instrução para que o Formulário de Identificação do Condutor Infrator seja acompanhado de cópia reprográfica legível do documento de habilitação do condutor infrator e do documento de identificação do proprietário do veículo ou seu representante legal, o qual, neste caso, deverá juntar documento que comprove a representação; IX - esclarecimento de que a indicação do condutor infrator somente será acatada e produzirá efeitos legais se o formulário de identificação do condutor estiver corretamente preenchido, sem rasuras, com assinaturas originais do condutor e do proprietário do veículo e acompanhado de cópia reprográfica legível dos documentos relacionados no inciso anterior; X - endereço para entrega do Formulário de Identificação do Condutor Infrator; e XI - esclarecimento sobre a responsabilidade nas esferas penal, cível e administrativa, pela veracidade das informações e dos documentos fornecidos. ( ) (Grifo não consta do documento original) 8. Da leitura, infere-se ser obrigação do proprietário do veículo, no caso a PR/SP, a indicação do condutor, no prazo de 15 dias do recebimento da notificação, com todos os documentos e assinaturas necessários, ou seja, é possível deduzir que a multa foi aplicada por falta de cumprimento pelo proprietário do veículo de formalidade legal, não tendo sido originada, assim, por infração do motorista na condução do veículo. 9. Portanto, essa multa não pode ser classificada como infração de trânsito, para efeitos do disposto no art. 14 da Portaria PGR nº 70/2015, muito embora, em sentido amplo, trate-se de uma infração de trânsito, já que esta é conceituada como inobservância de qualquer preceito do CTB, da legislação complementar ou das Resoluções CONTRAN. 4/6

5 10. Afastada a aplicação do art. 14 da Portaria PGR nº 70/2015, é possível concluir que, em primeira instância, o pagamento da multa é obrigação da PR/SP, podendo, porém, serem apuradas as responsabilidades pelo seu recebimento e providenciado, se for o caso, o ressarcimento pelos eventuais responsáveis. 11. Quanto ao cerne da consulta, qual seja, possibilidade de reembolso, é importante lembrar que o artigo 60 da Lei nº 4.320/1964 veda expressamente a realização de despesa sem prévio empenho e no mesmo sentido tem se pronunciado o Tribunal de Contas da União (TCU), a exemplo dos Acórdãos nºs 251/2005 e 599/2007, ambos do Plenário daquela Corte, que transcrevemos a seguir: ACÓRDÃO TCU Nº 251/2005 PLENÁRIO 9.5. determinar ao Governo do Estado do Rio de Janeiro que: cumpra o art. 60 da Lei nº 4.320/64 e o parágrafo único do art. 60, c/c o art. 62, da Lei nº 8.666/93, deixando de realizar despesa sem a prévia emissão de empenho, conforme ocorreu nos processos E08/ /2004 e E08/ /2004; (grifou-se). ACÓRDÃO TCU Nº 599/2007 PLENÁRIO 9.2. determinar à Nuclebras Equipamentos Pesados SA - Nuclep que: não realize despesa sem prévio empenho, por contrariar o disposto no art. 60 da Lei n /1964; 12. Nada obstante, segundo relatado, a Coordenadora de Administração pagou a multa para evitar que a Unidade ficasse impossibilitada de fazer o licenciamento do veículo, ou seja, a realização da despesa foi efetuada para que o interesse público fosse atendido. 13. Assim, somos de parecer que a PR/SP poderá, excepcionalmente, mediante as devidas justificativas, reconhecer a dívida e reembolsar a Coordenadora de Administração pelo gasto efetuado com o pagamento da multa. 5/6

6 14. A propósito, sugerimos que seja recomendado à Unidade observar, em casos futuros, as normas pertinentes de forma a evitar a assunção de compromissos, sem o prévio empenho da despesa, revestindo assim de regularidade e transparência a gestão dos recursos públicos, com o fim de afastar a possibilidade de questionamentos por parte dos órgãos de controle interno e/ou externo. À consideração superior. Brasília, janeiro de TAISSE AYRES DA SILVA Analista do MPU/Finanças e Controle De acordo. À consideração do Senhor Auditor-Chefe. ROGÉRIO DE CASTRO SOARES Coordenador de Orientação de Atos de Gestão Substituto Aprovo. Encaminhe-se à PR/SP e à SEAUD. Em / 1 / MARA SANDRA DE OLIVEIRA Secretária de Orientação e Avaliação SEBASTIÃO GONÇALVES DE AMORIM Auditor-Chefe 6/6