TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL HABEAS CORPUS Nº IMPETRANTE: DR. WILLIAM AKERMAN GOMES (DP ) PACIENTE: IGOR MENDES BATISTA AUTORIDADE COATORA: JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES (Ação nº ) RELATOR DESIGNADO: DES. PAULO DE OLIVEIRA LANZELLOTTI BALDEZ PRESIDENTE COM VOTO VENCIDO: DES. ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO VOTO VENCIDO Divergi da douta maioria, a quem rendo as homenagens de estilo, por que a leitura mais pormenorizada do feito, levou-me a convicção da necessidade de se manter a custódia. O paciente não foi preso com único radiotransmissor, o relatório da autoridade policial retrata a situação peculiar de prisão: Trata-se da prisão do nacional IGOR MENDES BATISTA e apreensão do adolescente-infrator PATRICK DA SILVA COUTINHO, em tese pela prática de colaboração com o tráfico, ocorrida nesta data, por volta das dez horas, onde os policiais militares, já qualificados nestes autos, em frente ao numeral 89, Casinhas II/Pq Aldeia II, lograram êxito em prendê-los na posse de rádios comunicadores. Conforme se colhe das declarações do policial militar José dos Santos Pereira Junior a prisão do suspeito se deu da seguinte forma, vejamos: (...); Que foram em direção que o elemento (IGOR) tinha jogado e arrecadaram um rádio transmissor Motorola cor azul; Que depois foi encontrado outro rádio idêntico ao primeiro; Que depois foi encontrado outro rádio idêntico ao primeiro; Que procederam a 146ª DP, sendo que PATRICK na frente do Inspetor Horário falou que os rádios seriam

2 usados para monitorar a entrada da polícia na comunidade e que foi ele quem jogou fora o segundo rádio (...). A materialidade do ilícito está consubstanciada pela apreensão de equipamentos de rádio encontrado na posse dos suspeitos, indicando que estes exerciam a tarefa de informar da ação de policiais que atuavam na repressão ao tráfico de entorpecentes naquela área. O local onde se deu a prisão é de notório tráfico de entorpecentes, sendo palco de inúmeras prisões e apreensões conforme rotina desta delegacia e informação da polícia militar, reforçando os indícios da participação dos suspeitos na estrutura e organização do tráfico local, na modalidade de colaboradores para o tráfico. Desta forma os acusados laboraram na prática de informante para o tráfico local, comumente chamada de atividade ou radinho, avisando da chegada dos policiais militares, colaborando para a efetividade do tráfico de drogas naquela localidade. (doc anexo 1) Logo, quando o magistrado fundamenta sua decisão na periculosidade do paciente, não faz data vênia, afirmação genérica. O possível envolvimento com o grupo criminoso da localidade e com inimputáveis vedaria, em princípio, a concessão da pena restritiva ou a pena mínima. Por outro lado, é de salientar que todos os envolvidos indicaram como endereço o local da prisão. Basta a leitura da ocorrência para se chegar a esta conclusão. Aliás, tais endereços não são localizados pela autoridade policial. Compare-se na ocorrência o local do fato 89, Bairro Casinhas II Parque Aldeia aqueles dos inimputáveis (diferença apenas na numeração das ruas). Todos residem na mesma localidade da Boca de Fumo. Área de notório tráfico, conhecida pela autoridade policial.

3 Compare-se o endereço do paciente na ocorrência (Bairro Casinhas II) com aquele do documento eletrônico (Anexo 1- nº Bairro Cohab). São diversos. A declaração trazida serviria, aliás, para os inimputáveis, pela vacuidade. Onde e quando o paciente trabalhou como jardineiro? O Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento do cabimento da prisão provisória nestas circunstâncias: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL EM RAZÃO DA NATUREZA E DA QUANTIDADE DA DROGA. ART. 42 DA LEI N /06. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DO ART. 33, 4º, DA LEI DE DROGAS. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. QUANTIDADE DE DROGA QUE NÃO RECOMENDA A SUBSTITUIÇÃO DA PENA. CUSTÓDIA CAUTELAR DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. RÉ PRESA EM FLAGRANTE E PERMANECIDO NESSA CONDIÇÃO DURANTE TODO O PROCESSO. AUSÊNCIA DE VINCULAÇÃO COM O DISTRITO DA CULPA. 1. O réu não tem direito à uma pena mínima ou à determinada pena, nos aspectos quantitativos ou qualitativos, mas sim direito à pena aplicada de forma fundamentada pelo julgador, no exercício de sua discricionariedade motivada prevista na legislação, tarefa da atribuição exclusiva das instâncias ordinárias, não cabendo a esta Corte - cujo papel é de uniformização da interpretação do direito federal -, imiscuir-se em tais questões, salvo nos casos de evidente violação à norma infraconstitucional. 2. A pena-base da recorrente foi elevada acima do mínimo legal, especialmente devido à natureza e à quantidade da droga apreendida g (quatrocentos e noventa e um gramas) de cocaína -, fator que, de acordo com o art. 42 da Lei /2006, é preponderante para a fixação das penas no tráfico de entorpecentes, inclusive para a aplicação da causa de diminuição do art. 33, 4º, da Lei de Drogas. Não se trata de violação ao princípio do ne bis in idem, mas apenas da utilização da mesma regra em finalidades e momentos distintos. Do mesmo modo, a natureza e a quantidade de droga apreendida não recomenda a substituição da pena privativa de liberdade. 3. A ré que foi presa em flagrante por crime de tráfico internacional de drogas, mantida custodiada cautelarmente durante toda a instrução processual, deve assim permanecer notadamente em

4 razão da gravidade concreta do delito, além de não ter nenhum vínculo com o distrito da culpa. (grifos nossos) 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp /SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 25/06/2013, DJe 01/08/2013) CRIMINAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. RÉU CONDENADO POR DELITO DE MESMA NATUREZA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA DE DOMICÍLIO NO DISTRITO DA CULPA E DE DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO. APLICAÇÃO DA LEI PENAL. RECURSO DESPROVIDO. - Encontra-se concretamente fundamentada prisão preventiva com base na existência de condenação anterior transitada em julgado por delito de mesma natureza, o que denota a propensão do recorrente ao crime, sendo devida sua segregação para garantir a ordem pública. - A ausência de vinculação com o distrito da culpa, assim como de documento de identificação, demonstram a necessidade da prisão para garantir a aplicação da lei penal. Recurso desprovido. (RHC /DF, Rel. Ministra MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/SE), QUINTA TURMA, julgado em 21/02/2013, DJe 28/02/2013) HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. TRÁFICO DE DROGAS. PACIENTE PRESO EM FLAGRANTE, EM , COM PEDRAS DE ECSTASY. LIBERDADE PROVISÓRIA. DESCABIMENTO. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL. PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA. GARANTIA DE APLICAÇÃO DA LEI PENAL. APREENSÃO DE ELEVADO MONTANTE DE ENTORPECENTES. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE RESIDÊNCIA NO DISTRITO DA CULPA. SEGREGAÇÃO CAUTELAR JUSTIFICADA. EXCESSO DE PRAZO. QUESTÃO NÃO SUBMETIDA À APRECIAÇÃO DO TRIBUNAL A QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. WRIT PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA PARTE, DENEGADO. 1. A vedação de concessão de liberdade provisória, com ou sem fiança, na hipótese de crime de tráfico de drogas, encontra amparo no art. 5o. LXVI da CF, que prevê a inafiançabilidade de tal infração; assim, a mudança do art. 2o. da Lei 8.072/90, operada pela Lei /07, não viabiliza tal benesse, conforme entendimento sufragado pelo Pretório Excelso e acompanhado por esta Corte. Em relação ao crime de tráfico ilícito de entorpecentes,

5 referido óbice apresenta-se reforçado pelo disposto no art. 44 da Lei /06 (nova Lei de Tóxicos), que proíbe expressamente o benefício. 2. A circunstância da prisão em flagrante, de o crime materializarse na elevada quantidade de drogas apreendidas (1.168 pedras de ecstasy), além do fato de o paciente não ter comprovado residência no distrito da culpa, constituem motivação idônea, capaz de justificar o decreto constritivo, para resguardar a ordem pública e a aplicação da lei penal. 3. Quanto à assertiva de excesso de prazo, como revela a própria inicial do presente mandamus e ressai da petição de interposição do writ originário, juntada às fls. 89/101, a questão não foi sequer submetida à apreciação do Tribunal a quo; assim sendo, não pode ser analisada por esta Corte, sob pena de indevida supressão de instância. 4. Das informações prestadas pela autoridade apontada como coatora, não se constata excesso passível de causar constrangimento ilegal ao paciente, sendo certo que a ação penal vem se desenvolvendo em ritmo compatível com a sua complexidade. De se observar, ainda, que foi pedido pela defesa o exame de dependência toxicológica, o que, inevitavelmente, provoca certo adiamento na conclusão do feito. 5. Parecer do MPF pela denegação da ordem. 6. Habeas Corpus parcialmente conhecido e, nessa parte, denegado. (HC /SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 17/04/2008, DJe 19/05/2008) Como se aplicar uma das medidas cautelares a quem não sabe onde reside? Como lhe impor a permanência na Comarca? Assim, na ausência de endereço localizável, votei pela denegação da ordem, ficando, no entanto, vencido. Sessão realizada em 01 de outubro de Autos conclusos em 09 de janeiro de Rio de Janeiro, 22 de janeiro de DES. ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO Presidente com Voto Vencido