: MIN. DIAS TOFFOLI GERAIS MINAS GERAIS
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1 RECLAMAÇÃO MINAS GERAIS RELATOR RECLTE.(S) ADV.(A/S) RECLDO.(A/S) INTDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. DIAS TOFFOLI :MARCOS LOPES ROCHA : WANDER PAULO BRASIL PINTO E OUTRO(A/S) :RELATOR DO AI Nº DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS :MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS :PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS DECISÃO: Vistos. Cuida-se de reclamação constitucional, com pedido de liminar, ajuizada por MARCOS LOPES ROCHA em face do RELATOR DO AI Nº DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, cuja decisão teria afrontado a autoridade do Supremo Tribunal Federal e a eficácia da Súmula Vinculante nº 10. As razões expressas na peça vestibular podem ser assim sintetizadas: a) o reclamante permaneceu no VI concurso público para ingresso no cargo de Defensor Público substituto do Estado de Minas Gerais por força de decisão judicial, tendo logrado aprovação na 81ª colocação; b) o referido certame está sendo impugnado pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais em sede de ação civil pública, razão pela qual o trâmite do mandado de segurança em que obteve decisão judicial favorável à reserva de sua vaga está suspenso; c) impetrou novo mandado de segurança com o objetivo de ver respeitada a ordem classificatória do certame, vez que o Reclamante é
2 candidato aprovado a título sub judice em concurso público que tem sua própria validade impugnada no âmbito judicial, tendo obtido decisão liminar favorável à sua nomeação, posteriormente cassada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais; d) no mérito, foi concedida a segurança para determinar a imediata nomeação do ora reclamante, o que deu ensejo à execução provisória da ordem deferida, com fundamento no procedimento especial estabelecido pelo 3º do art. 14 da L Nesse tocante, argumenta: Ocorre que a mesma foi extinta sem resolução de mérito art. 267, VI do CPC ao fundamento de impossibilidade jurídica do pedido, já que o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais revogou a liminar dantes concedida. O reclamante, então, passou a impugnar a r. Decisão singular que extinguiu, sem resolução de mérito, a segurança concedida por meio de: a) Recurso de Apelação, (Documento:I) recebido no efeito devolutivo e suspensivo (Documento K); b) Recurso de Agravo de Instrumento, (Documento C), com fundamento na parte final do art. 522 do Código de Processo Civil, CPC, onde se pleiteia a concessão de efeito suspensivo ativo a fim de conferir vigência total ao 3º do art. 14 da L /09, vez que no procedimento especial do Mandado de Segurança a execução provisória tem cabimento por decorrência ex lege. e) a execução provisória da segurança concedida encontra autorização normativa IMEDIATA no 3º do art. 14 da L /09, havendo pronunciamento plenário do STF em sede reclamatória no sentido de que não há falar em vedação de liminar em face do Poder Público quando a decisão judicial procura fazer respeitar a ordem de classificação em concurso público f) o Juízo Reclamado, ao negar a concessão de efeito suspensivo ativo no Agravo de Instrumento aviado, substituiu a r. decisão do Juízo singular, 2
3 afastando, por si, a incidência total do regramento estabelecido pelo 3º do art. 14 da L , em ofensa ao enunciado pela Súmula Vinculante nº 10 do Excelso Supremo tribunal Federal. Requer seja deferido pedido liminar para cassar a decisão reclamada e determinar ao Juízo reclamado que profira, com urgência, outra decisão no sentido de receber o Recurso de Agravo de Instrumento no efeito suspensivo ativo, fazendo com que a Apelação interposta seja recebida apenas no efeito devolutivo, viabilizando, assim, a execução provisória da segurança concedida. Ao final, postula seja julgada procedente a presente reclamação para tornar definitivo o provimento liminar. Requer seja deferido o benefício da assistência judiciária gratuita. É o relatório. I. A MOLDURA FÁTICO-JURÍDICA DO OBJETO DA RECLAMAÇÃO O reclamante juntou documentos por meio eletrônico, de entre eles cópia das decisões proferidas no Agravo de Instrumento nº /001, as quais estariam afrontando a autoridades desta Suprema Corte e a eficácia da Súmula Vinculante nº 10. Transcrevo a ementa da decisão no recurso acima referido: Agravo de Instrumento. Mandado de Segurança. Sentença. Concessão da ordem. Execução provisória da decisão. Extinção do processo. Apelação. Efeitos devolutivo e suspensivo. Requerimento de efeito ativo ao recurso. A falta de demonstração dos requisitos previstos nos arts. 527, III, e 558, caput, do Código de Processo Civil inviabiliza a atribuição de efeito ativo ao recurso. 3
4 O reclamante alega que o entendimento que nega efeito suspensivo ativo ao recurso, a fim de que a apelação interposta contra a decisão concessiva da segurança seja recebida apenas no efeito devolutivo e, assim, seja possível a execução provisória de sua nomeação, viola a eficácia da Súmula Vinculante nº 10, uma vez que nega vigência à norma inscrita no 3º do art. 14 da Lei nº /2009. II. O CABIMENTO DA RECLAMAÇÃO O perfil constitucional da reclamação é o que a ela confere a função de preservar a competência e garantir a autoridade das decisões deste Tribunal (art. 102, inciso I, alínea l, CF/88), bem como resguardar a correta aplicação das súmulas vinculantes (art. 103-A, 3º, CF/88). Em torno desses conceitos, a jurisprudência desta Corte desenvolveu parâmetros para a utilização dessa figura jurídica, entre os quais se destacam: 1. Reclamação não pode se confundir com sucedâneo recursal, ação rescisória ou emprestar efeito suspensivo a RE. O instituto da Reclamação não se presta para substituir recurso específico que a legislação tenha posto à disposição do jurisdicionado irresignado com a decisão judicial proferida pelo juízo a quo (Rcl nº 5.703/SP-AgR, Tribunal Pleno, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe-195 de 16/10/09). Precedentes: Rcl nº 5.926/SC-AgR, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe-213 de 13/11/09; Rcl nº 5.684/PE-AgR, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe-152 de 15/8/ Impossibilidade do uso da reclamação como meio de saltar graus jurisdicionais. O remédio constitucional da reclamação não pode ser utilizado como um (inadmissível) atalho processual destinado a permitir, por razões de caráter meramente pragmático, a submissão imediata do litígio ao exame direto do Supremo Tribunal Federal. Precedentes (Rcl nº 5.926/SC-AgR, Tribunal 4
5 Pleno, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe-213 de 13/11/09). Nesse sentido, a Rcl nº 5.684/PE-AgR, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe-152 de 15/8/ Caráter estrito da competência do STF no conhecimento das reclamações. A competência originária do Supremo Tribunal Federal não comporta a possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os limites fixados pelo rol exaustivo inscrito no art. 102, I, da Constituição. Precedentes (Rcl nº 5.411/GO-AgR, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe-152 de 15/8/08). III. O PARADIGMA O reclamante aponta como paradigma de confronto na presente reclamação a Súmula Vinculante nº 10, assim redigida: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte. IV O CASO DOS AUTOS A questão em debate na presente reclamação consiste em saber se a decisão que nega provimento a agravo de instrumento interposto contra o recebimento de apelação nos efeitos devolutivo e suspensivo, obstando a produção de efeitos da sentença concessiva de segurança, afronta a eficácia da Súmula Vinculante nº 10. Exponho o contexto jurisprudencial que deu ensejo à edição da Súmula Vinculante nº 10 por esta Suprema Corte. 5
6 O Plenário desta Corte, em 18/6/08, no julgamento do RE nº /SP, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, interposto contra acórdão de Turma do Superior Tribunal de Justiça, que afastou a incidência da Lei Complementar nº 118/05, sem a observância da cláusula de reserva de plenário, firmou entendimento no sentido de que se reputa declaratório de inconstitucionalidade o acórdão que embora sem o explicitar afasta a incidência da norma ordinária pertinente à lide para decidi-la sob critérios diversos alegadamente extraídos da Constituição (grifei). Concluiu o Plenário pelo provimento do recurso para reformar o acórdão atacado e determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem para que fosse observada a norma do artigo 97 da Constituição Federal. Ressaltou-se, também, que essa orientação se aplicava aos casos nos quais, após a prolação do acórdão recorrido, o Tribunal de origem, por meio de seu Pleno ou de sua Corte Especial, haja declarado a inconstitucionalidade da norma legal impugnada. Nessa hipótese, incidiria a norma do artigo 481, parágrafo único, do Código de Processo Civil. Nessa mesma sessão foi aprovada a Súmula Vinculante nº 10 deste Tribunal, com a seguinte redação: Viola a cláusula de reserva de Plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência no todo ou em parte. Nessa perspectiva, tem-se que há afronta à SV nº 10 quando, por fundamento constitucional, órgão fracionário de Tribunal afasta a incidência de lei ou ato normativo sem que o Plenário ou Órgão Especial da respectiva Corte ou do STF tenha se manifestado sobre a matéria. No caso dos autos, a decisão reclamada está fundamentada na 6
7 ausência de perigo atual de dano irreparável ou de difícil reparação que justifique a concessão de efeito suspensivo ativo ao agravo de instrumento interposto pelo ora reclamante nos autos originários a fim de afastar o efeito suspensivo do recurso de apelação interposto pela parte contrária e, assim, possibilitar sua nomeação no cargo de Defensor Público do Estado de Minas Gerais a título de execução provisória de sentença concessiva de segurança. Transcrevo, em parte, os fundamentos adotados pela autoridade reclamada: Os arts. 527, III, e 558, caput, do Código de Processo Civil estabelecem, como regra geral aplicável ao processo civil, a possibilidade de o Relator conceder efeito ativo a agravo de instrumento, em qualquer caso que possa resultar lesão grave e de difícil reparação ao recorrente. No caso, não verifico perigo atual de dano irreparável ou de difícil reparação ao agravante com a falta da liminar pretendida. Ressalto que a decisão reclamada está amparada em dispositivos da Lei nº 5.869/73, in verbis: Art Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: ( ) III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; Art O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil, adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em outros casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo relevante a fundamentação, suspender o cumprimento 7
8 da decisão até o pronunciamento definitivo da turma ou câmara. Assim delineada a moldura fático-jurídica sobre a qual recai a apreciação da presente ação, tenho que o autor quer fazer prevalecer a pretensão de afastar o efeito suspensivo do recurso de apelação interposto contra a decisão que concedeu a ordem para determinar sua nomeação como Defensor Público do Estado de Minas Gerais. Das razões adotadas pela autoridade reclamada, não é possível extrair qualquer fundamento constitucional por que se teria negado aplicação ao art. 14, 3º, da Lei nº /2009, motivo pelo qual entendo que não há identidade entre o debate travado na presente reclamação e o entendimento consubstanciado na Súmula Vinculante nº 10 apta a instaurar o exercício da jurisdição, em sede reclamatória, pelo Supremo Tribunal Federal. Tenho afirmado que a reclamação é meio excepcional. Deve ser utilizada subsidiariamente, à míngua de instrumentos recursais, pois não se apresenta como sucedâneo dessa espécie. Em antigas e ainda úteis - lições da doutrina autorizada de Egas Dirceu Moniz de Aragão (A correição parcial. São Paulo: J. Bushatsky, p. 108/109), encontra-se a assertiva no sentido de que, na reclamação, não se visa a compor um conflito de interesse mas, unicamente, preservar a competência do Supremo Tribunal, posto que, como ficou destacado, todos os casos de reclamação se contêm nesse único.. Adiante, o autor ainda escreve, com igual acerto, que: No estudo de seu cabimento sobressai o caráter supletivo da reclamação. O acesso ao Supremo Tribunal é discriminado nem só pela própria Constituição Federal, que disciplina os casos de sua competência, originária e de recursos, como pelas leis processuais, que dispõem sobre os remédios de que podem socorrer-se os interessados para obviar aos males oriundos de 8
9 conflitos judiciais. Desde a ação, que é o mais amplo de todos os meios processuais, até os mais restritos, destinados a resolver situações ou incidentes que afetem o transcorrer da relação processual, a lei contém todo o procedimento.... Segue-se que a reclamação é, indisfarçavelmente, uma medida singular, cujo cabimento é condicionado pela ausência de outra qualquer fórmula normal de submeter um dado tema ao Supremo Tribunal (MONIZ DE ARAGÃO, Egas Dirceu. Op. cit. p. 113) A existência de direito líquido e certo à nomeação de candidato sub judice aprovado em concurso público, bem assim a execução provisória de eventual decisão favorável a fim de evitar perigo atual de dano irreparável ou de difícil reparação deve ser suscitada e comprovada pelos meios processuais colocados à disposição do reclamante perante a autoridade judiciária competente para conhecer do caso concreto, não podendo o autor valer-se da reclamação constitucional para saltar graus jurisdicionais, fazendo subir, per saltum, a matéria à apreciação do STF (vide item 2 do capítulo II desta decisão) o que é vedado pela jurisprudência desta Corte. Não se concebe a conexão entre o enunciado vinculante desta Suprema Corte (SV nº 10) e o direito que o autor pretende ver resguardado com a presente reclamação. V. DISPOSITIVO Ante o exposto, nego seguimento à reclamação, nos termos do artigo 21, 1º, do RISTF, prejudicada a apreciação do pedido liminar. Publique-se. Int.. 9
10 Brasília, 28 de junho de Ministro DIAS TOFFOLI Relator Documento assinado digitalmente 10
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