A poética das paisagens ambulantes
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- Bianca Bento do Amaral
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1 A poética das paisagens ambulantes Luís Marques Martinelli Artista Plástico RESUMO: A partir daquilo que não mais interessa, produção feita com objetos coletados, exploro paisagens ambulantes em que formas, cores, texturas, fragmentos se entrelaçam em um fazer artístico. Trago para o Conexões fotografias de algumas de minhas instalações, explorando a estética das coisas. Nas composições dos fragmentos e dos objetos que coletei os espaços se rearranjam em um outras paisagens, ambulantes. Palavras-chave: coleta, paisagens, fotografia. Apresentar aspectos do meu trabalho e discutir a arte e o fazer artístico do ponto de vista da paisagem representada no horizonte local e das coisas coletadas. Parto, com Kátia Canton (2009), do conceito de land art e, na perspectiva de arte in situ, penso os objetos em sua relação com o espaço, atravessado pela coleta, para outras reorganizações espaciais. A coleta é componente essencial em trabalho. Em tudo o que faço existe algo de captura. A realidade me atravessa. Este trabalho é uma apresentação de composição de fotos de instalações minhas, que serviram de base para o meu Trabalho de Conclusão de Curso em Artes Visuais (MARTINELLI, 2012), em que busquei formas, cores, texturas, fragmentos para mostrar aquilo que não mais interessa. Explorei, na semelhança, a estética das coisas, um processo de memória, de experiência de vida, um processo de identificação. Os objetos coletados, em meu fazer artístico, recuperam os espaços de onde foram retirados e levam a novas potencialidades artísticas nas próprias coisas e para além delas [...]. Reverencio, assim, as pequenas partes a fim de chegar a uma produção poética. (MARTINELLI, 2012, p.03). Quando penso nos fragmentos e nos objetos que coletei e que apresento em instalações, penso que os espaços se rearranjam em um outras paisagens. Os espaços são paisagens ambulantes. Há uma certa consciência de uso de um lugar-espaço-mundo que vem para mim enraizada em elementos: são coisas que fazem e trazem pessoas. Cada coisa está carregada de memória, de lembranças, de múltiplos lugares. Em uma instalação suas funções vão sendo modificadas e, em um momento isso [...] vira outra coisa. Nesse ciclo nada é substituído, mas muito surge em camadas, em algo que tem como marca maior a mutação. Em intervenção-ocupação-instalação que vai sendo construída com objetos-coisas exalta-se a ação de inversão. Os horizontes mutantes, ambulantes, aproximam-se e afastam-se. Fragmentos-paisagens suprimem e alargam distâncias. (MARTINELLI, 2012, p.21).
2 Figura 01. Luís M.Martinelli, Horizontes Ambulantes, 2012 Figura 02. Luís M.Martinelli, Horizontes Ambulantes, 2012
3 As coisas saem de dentro de uma época que as construiu. Repenso a exposição Avesso (MARTINELLI, 2012, p.21): Avesso, ao contrário; contrário à imagem e ao funcional. À imagem, por ser gravura; ao funcional, por ser composta por peças transformadas em apenas matéria. A com-posição recria um novo espaço, onde outras relações de paisagem são construídas. Figura 03. Luís M.Martinelli, Avesso, 2012 Os fragmentos são coletados, colecionados, e, expostos, organizam-se e reorganizam-se. Coloca-se tudo sobre uma mesa. A mesa já nem sabe se é mesa. As coisas já não sabem o que estão fazendo ali. E
4 [...] essa indefinição de tudo o que está definido, a mesa, o programado não, representa em nada o que é, representa somente uma não direção, uma não harmonia, uma forma de se ver o que não é. Fragmentos fazem parte da coleção de um ladrão de realidades. Seria esta uma boa definição de artista? Aqui, o antiluxo anti-herói de cada elemento não se pega. O que não se vê não faz parte real de seu horizonte ambulante, de sua vida ambulante. Ser ambulante. Somos todos marginais a excluir ainda mais as margens. E vivemos em transformação. E a instalação efêmera de uma coleta se transforma em fotografia e a foto já é e está outra coisa. Fenômeno poético. (MARTINELLI, 2012, p.24). Figura 04. Luís M.Martinelli, Horizontes Ambulantes, 2012 [...] a forma deixou de ser mesa para existir como personagem viva, para, kamikaze, con-fundir-se, e se jogar e explodir de vez outros seres que só sabem ser mesa, ser máquina. A mesa passa a ser coisa de sustentar, sem cobrar para outros que não sabem mais o que querem. (MARTINELLI, 2012, p.24).
5 Figura 05. Luís M.Martinelli, InCômodo, 2012 Minha experiência com instalações e arranjos escultóricos de objetos foi tomando corpo. Na exposição INcômodo", realizada no Espaço Cultural Casa Azul, em Campinas, pensei no mais privado dos (in)cômodos, explorando a leveza e as possibilidade do espaço. A experimentação se deu com efeitos sonoros, visuais e táteis.
6 Figura 06. Luís M.Martinelli, InCômodo, 2012 Podemos entrar em trocas, em novas relações com os espaços, as coisas e a natureza; com nossas casas, nossos bairros e nossa cidade. Os horizontes, dessa maneira, deixam de ser utópicos, e fazem-se maquínicos, ambulantes e experimentais. Figura 07. Luís M.Martinelli, InCômodo, 2012
7 Referências Bibliográficas CANTON, K. Espaço e Lugar. (Coleção Temas da Arte Contemporânea). São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, MARTINELLI, L. M. Paisagens Ambulantes. Trabalho de Conclusão de Curso em Artes Visuais, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 2014.
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