3º bimestre ª série Era Moderna (séc. XV/XVIII) Teorias da soberania e do Absolutismo. Cap. 30. Roberson de Oliveira
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- Afonso Fialho Paixão
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1 3º bimestre ª série Era Moderna (séc. XV/XVIII) Teorias da soberania e do Absolutismo Cap. 30 Roberson de Oliveira
2 1. A justificação divina do poder real 1.1 Jean Bodin (1529/1596) Seis livros sobre a república somente Deus está acima do rei 1.2 Jacques Bossuet (1627/1704) Política retirada das palavras das Sagradas Escrituras a autoridade do rei emana de Deus; portanto, não pode ser contestada Roberson de Oliveira 2
3 2. A invenção da política moderna Nicolau Maquiavel (1469/1527) O príncipe separa a moral cristã da política 3. A teoria da Soberania e do Contrato Thomas Hobbes (1588/1679) Leviatã separa religião da política relaciona teoria do poder soberano à do contrato Roberson de Oliveira 3
4 BODIN, Jean. Seis Livros sobre a República, citado por CHEVALLIER, Jean Jacques. As Grandes Obras Políticas: de Maquiavel a Nossos Dias. Rio de Janeiro: Agir, p O rei sábio deve governar harmonicamente o seu reino, entremeando suavemente os nobres e os plebeus, os ricos e os pobres, com tal discrição, no entanto, que os nobres tenham alguma vantagem sobre os plebeus, pois é bem razoável que o gentil homem, tão excelente nas armas e nas leis quanto o plebeu, seja preferido nos estados de judicatura ou da guerra; e que o rico, em igualdade das demais condições, seja preferido ao pobre nos estados que têm mais honra que lucro; e que ao pobre caibam os ofícios que dão mais lucro que honra; assim, todos ficarão contentes. (...) Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens, é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar -lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu príncipe soberano despreza a Deus, de Quem ele é a imagem na terra. Roberson de Oliveira voltar 4
5 BOSSUET, Jaques-Bénigne (1627/1704): Politique tirée de l escriture Sainte, Livre III, 1709 Ouvres complètes, édit. Guillaume, T. 8, pp , Berch et Tralin, ª Proposição: A autoridade real é sagrada. Deus estabelece aos reis como seus ministros e reina através deles sobre os povos. Nós já vimos que todo este poder vem de Deus. O príncipe, acrescenta São Paulo, é ministro de Deus para o bem. Se fazeis o mal, tremei, pois não é em vão que ele tem a espada: e ele é o ministro de Deus, vingador das más ações.... É por isso que vemos que o trono real não é o trono de um homem, mas o próprio trono de Deus... 2ª Proposição: A pessoa do rei é sagrada. Aparece de tudo isto que a pessoa dos reis é sagrada e que atentar à sua vida é um sacrilégio... 3ª Proposição: Deve-se obedecer ao príncipe por dever de religião e consciência. São Paulo, após dizer que o príncipe é ministro de Deus, concluiu assim: É, portanto, necessário que se lhe sejais submissos, não só por medo de sua cólera, mas também pela obrigação de vossa consciência.... É por isso que São Pedro disse: Sede, portanto, submissos ao rei como aquele que tem o poder supremo e àqueles a quem ele dá a sua autoridade como sendo mandados por ele para o louvor das boas ações e a punição das más. Mesmo se eles não cumprirem este dever, é preciso respeitar nele seu cargo e seu ministério: Obedecei a vossos senhores, não só àqueles que são bons e moderados, como também aos que são desagradáveis e injustos. Roberson de Oliveira voltar 5
6 MAQUIAVEL N.: O Príncipe 1513/1515 Cap. XV - Das coisas pelas quais os homens, e especialmente os príncipes, são louvados ou vituperados. 2. Deixando de lado as fantasias sobre um príncipe e discorrendo sobre a realidade, digo que todos os homens, sobretudo os príncipes, por estarem em um nível mais alto, são notados por algumas qualidades que lhe acarretam censura ou louvor. Há quem seja considerado generoso, outro miserável (usando o termo toscano, pois avaro, no nosso idioma, é ainda aquele que, por rapina, quer possuir, mísero é aquele que se abstém de usar o que é seu); um capaz de doar, outro rapace; um cruel, outro piedoso; um traidor, outro fiel; um efeminado e pusilânime, outro truculento e corajoso; um humano, outro soberbo; um lascivo, outro casto; um franco, outro astuto; um rigoroso, outro benevolente; um severo, outro superficial; um religioso, outro incrédulo; e assim por diante. 3. Sei que todos confessarão que seria extremamente louvável para um príncipe possuir, de todas as qualidades acima descritas, as que são consideradas boas. Mas como todas não se podem ter nem observá-las por completo, pois a condição humana não o permite, é necessário ser prudente e saber fugir à infâmia dos vícios que podem lhe tirar o Estado e guardar-se na medida do possível, daqueles que lhe fariam perdê-lo; se não o conseguir, entretanto, poderá, sem grande preocupação deixar estar. Também não deverá importar-se de incorrer na infâmia dos vícios sem os quais lhe seria difícil conservar o estado porque, considerando tudo muito bem, se encontrará alguma coisa que parecerá virtú e, sendo praticada, levaria à ruína; enquanto uma outra que parecerá vício, quem a praticar poderá alcançar segurança e bem-estar. Roberson de Oliveira voltar 6
7 Cap. XVII Da crueldade e da piedade e se é melhor ser amado que temido ou melhor temido que amado. 3. Surge daí uma questão: é melhor ser amado que temido ou o inverso? A resposta é que seria de desejar ser ambas as coisas, mas, como é difícil combiná-las, é muito mais seguro ser temido do que amado, quando se tem de desistir de uma das duas. Isso porque geralmente se pode afirmar o seguinte acerca dos homens: que são ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar e, enquanto lhes fizeres bem, pertencem inteiramente a ti, te oferecem o sangue, o patrimônio, a vida e os filhos, como disse acima, desde que perigo esteja distante; mas, quando precisas deles, revoltam-se. O príncipe que se apoia inteiramente sobre suas palavras, descuidando-se de outras precauções, se arruína, porque as amizades que se obtém mediante pagamento, e não com a grandeza e nobreza de ânimo, compram, mas não se possuem, e, no devido tempo, não podem ser usadas. Os homens têm menos receio de ofender a quem se faz amar do que a outro que se faça temer; pois o amor é mantido por vínculo de reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é rompido sempre que lhes interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao castigo, que nunca te abandona. 4. Deve, contudo, o príncipe fazer-se temer de modo que se não conquistar o amor, pelo menos evitará o ódio; pois é perfeitamente possível ser temido e não ser odiado ao mesmo tempo, o que conseguirá sempre que se abstenha de se apoderar do patrimônio e das mulheres de seus cidadãos e súditos. Se precisar derramar o sangue de alguém, deverá fazê-lo quando houver justificativa conveniente e causa manifesta. Mas, sobretudo, deverá respeitar o patrimônio alheio, porque os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio. Roberson de Oliveira voltar 7
8 Cap. XVIII - De que modo devem os príncipes manter a palavra dada. 1. Todos sabem o quando seja louvável para um príncipe manter a palavra dada e viver com integridade e não com astúcia. Todavia, por experiência, veem-se, nos nossos tempos, príncipes que alcançaram grandes coisas sem manter promessas feitas e que souberam, com astúcia, confundir a mente dos homens. No final, superaram os que sempre agiram com lealdade. 2. Deve-se saber, portanto, que há dois modos de combater. Um com as leis e outro com a força. O primeiro é próprio do homem; o segundo, dos animais. Como, muitas vezes, o primeiro não basta, convém recorrer ao segundo. Portanto, é necessário que um príncipe saiba usar bem o animal e o homem Tendo o príncipe necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto, é preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas, e leão, para aterrorizar os lobos. Os que se limitam, simplesmente, ao leão não governam. Um príncipe prudente não pode, nem deve, manter a palavra dada, quando lhe for prejudicial, e as razões que o fizeram dar a palavra não mais existirem. Se todos os homens fossem bons, este preceito não seria bom, mas como são malvados e não a manteriam para ti, tu, também, não deves mantê-la para eles. Para um príncipe, nunca lhe faltaram motivos legítimos para disfarçar a quebra da promessa. Disto podem se dar infinitos exemplos modernos e mostrar quantos tratados de paz, quantas promessas tornaram-se nulas e vãs pela deslealdade de príncipes. O que soube usar melhor a raposa saiu-se melhor. Mas é necessário saber disfarçar bem essa natureza e ser capaz de fingir e dissimular. Os homens são tão simples e tão obedientes às necessidades presentes que quem engana sempre achará quem se deixe enganar. Roberson de Oliveira voltar 8
9 Cap. XVIII A um príncipe, portanto, não é necessário ter, de fato, todas as qualidades acima descritas, mas é bem necessário parecer tê-las. Ou melhor, ousarei dizer que, tendo-as e observando-as sempre, são nocivas; parecendo tê-las, são úteis. O príncipe deve parecer clemente, leal, humano, íntegro, religioso e deve sê-lo. Mas deve estar com o espírito pronto para que, precisando não ter essas qualidades, possa e saiba assumir o contrário. É preciso entender que um príncipe, sobretudo um príncipe novo, não pode observar todas as coisas pelas quais um homem é considerado bom, necessitando muitas vezes agir contra a lealdade, a caridade, a humanidade, a religião, para manter o Estado. É indispensável que tenha um ânimo disposto a mudar, conforme comandarem os ventos da sorte e as variações das coisas. Como disse antes, não se desviar do bem, se possível, mas saber sempre como usar o mal, se necessitar Nas ações de todos os homens, sobretudo dos príncipes, quando não há tribunal ao qual recorrer, deve-se considerar o resultado. Assim, um príncipe deve conquistar e manter um Estado. Os meios serão sempre considerados honrados e por todos louvados. Porque o vulgo atenta sempre às aparências e ao resultado e no mundo só existe o vulgo. Os poucos não têm lugar quando os muitos têm onde se apoiar. Um príncipe de nosso tempo, cujo nome não é oportuno citar, predica sempre paz e lealdade, e seja de uma como de outra é inimigo. Se houvesse observado uma ou outra, já teria perdido a reputação ou o Estado muitas vezes. MAQUIAVEL, Nicolau(1469/1527): O Príncipe, Rio de Janeiro, Paz e Terra, MAQUIAVEL, Nicolau(1469/1527): O Príncipe, São Paulo, Martins Fontes, Roberson de Oliveira voltar 9
10 HOBBES, Thomas: Leviatã. 1ª edição inglesa de Cap. XIII - Da condição natural da humanidade relativamente à sua felicidade e miséria A natureza fez os homens tão iguais quanto às faculdades do corpo e do espírito que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro (...) a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo... Desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins. Portanto, se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos... Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. (...) A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades do corpo ou do espírito. (...) São qualidades que pertencem aos homens em sociedade, não na solidão. Outra consequência da mesma condição é que não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre o meu e o teu; só pertence a cada homem aquilo que ele é capaz de conseguir, e apenas enquanto for capaz de conservá-lo. É, pois, esta a miserável condição em que o homem realmente se encontra, por obra da simples natureza. Roberson de Oliveira 10
11 Cap. XIV - Da primeira e segunda leis naturais, e dos contratos. É dado que a condição do homem (conforme foi declarado no capítulo anterior) é uma condição de guerra de todos contra todos, sendo neste caso cada um governado por sua própria razão, e não havendo nada de que possa lançar mão, que não possa servir-lhe de ajuda para a preservação de sua vida contra seus inimigos, segue-se daqui que numa tal condição todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros. Portanto, enquanto perdurar esse direito de cada homem a todas as coisas, não poderá haver para nenhum homem (por mais forte e sábio que seja) a segurança de viver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos homens viver. Consequentemente é um preceito ou regra geral da razão: Que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas as ajudas e vantagens da guerra. A primeira parte dessa regra encerra a lei primeira e fundamental de natureza, isto é, procurar a paz, e segui-la. A segunda encerra a suma do direito de natureza, isto é, por todos os meios que pudermos, defendermo-nos a nós mesmos. Cap. XVII - Das causas, geração e definição de um estado. O fim último, causa final e desígnio dos homens (que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre os outros), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera condição de guerra que é a consequência necessária (conforme se mostrou) das paixões naturais dos homens, quando não há um poder visível capaz de os manter em respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao cumprimento de seus pactos e ao respeito àquelas leis de natureza que foram expostas nos capítulo décimo quarto e décimo quinto. Roberson de Oliveira 11
12 ... A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade. O que equivale a dizer: designar um homem ou uma assembleia de homens como representante de suas pessoas, considerando-se e reconhecendo-se cada um como autor de todos os atos que aquele que representa sua pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e segurança comuns; todos submetendo assim suas vontades à vontade do representante, e suas decisões à sua decisão. Isto é mais do que consentimento, ou concórdia, é uma verdadeira unidade de todos eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de cada homem com todos os homens, de um modo que é como se cada homem dissesse a cada homem: cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. Feito isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. Roberson de Oliveira 12
13 É esta a geração daquele grande Leviatã, ou antes (para falar em termos mais reverentes) daquele Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é lhe conferido o uso de tamanho poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles no sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os inimigos estrangeiros. É nele que consiste a essência do Estado, a qual pode ser assim definida: uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum. Aquele que é portador dessa pessoa se chama soberano, e dele se diz que possui poder soberano. Todos os restantes são súditos. (HOBBES,Thomas (1588/1679). Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 1 a edição inglesa (1651), São Paulo: Abril Cultural, 1983.) Roberson de Oliveira 13
14 Lição para casa 17/setembro 1. Tópicos do roteiro 2. Atividades p.288/289 1 até 9, 12 e 13. Roberson de Oliveira 14
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