Rio de Janeiro, ORLANDO SECCO DES. RELATOR

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Wagner Belo Guterres
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1 OITAVA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº 11377/2009 APELANTE: ALVARO DE ABREU SAMPAIO. APELADO: CAER COMÉRCIO AUTOMÓVEIS ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Juízo de Origem: 1ª Vara Cível de Duque de Caxias. RELATOR: DES. ORLANDO SECCO 363. R E L A T Ó R I O Tratam os presentes autos de recurso de Apelação interposto às fls.84/96 por ALVARO DE ABREU SAMPAIO, consumidor aceitante de proposta de compra e venda de veículo autor da Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais ajuizada em face da concessionária policitante, através da qual alega que sendo policial militar recebera comunicado por parte da ré em Abril/2007, sem qualquer informação quanto a prazo de validade, no qual oferecia proposta de venda de automóveis FORD Zero Km. com isenção de ICMS (Lei Estadual 4819/2006), tendo aderido à publicidade e, desejando adquirir um Ford KA modelo básico no valor de R$17.300,00, iniciara procedimento administrativo junto a Secretaria de Fazenda para consecução do incentivo fiscal, providenciara a venda do automóvel de sua esposa para dar o preço como início do pagamento, bem como celebrara contrato de financiamento para pagamento do valor restante, sendo surpreendido em Junho/2007 com a informação pela concessionária de que a tabela de preços da montadora havia sido alterada (R$20.570,00), inviabilizando a aquisição do bem no valor inicial, contra sentença proferida pelo Juízo a quo (fls.77/79) que, em exame ao contexto probatório, considerou a morosidade do autor em providenciar os documentos para a formalização da venda com isenção, bem como a ausência de responsabilidade pela ré quanto a política de preços da montadora dos veículos, reconhecendo a inexistência de falha pela demandada para julgar improcedentes os pedidos formulados. Sustenta o demandante, o provimento do Apelo e reforma da sentença, em síntese, sob a alegação de que houve falha efetiva da ré, porquanto todo o ocorrido se deveu pela falta de informação clara e precisa quanto aos termos e validade da isenção que motivara o recorrente a contratar; que é inverídica a afirmação de que o autor agira morosamente, pois que o procedimento administrativo na Secretaria de Fazenda levara apenas cinco dias, tendo o autor aguardado em função de afirmação do próprio preposto da ré no sentido de que a montadora estava atrasada com a entrega dos veículos em aproximadamente dois meses; que a prova testemunhal é segura em apontar a falha cometida pelo preposto da ré. Recurso recebido (fls.98) e contra-razoado (fls.100/102). É o Relatório. À Douta Revisão. ORLANDO SECCO DES. RELATOR Rio de Janeiro,

2 OITAVA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº 11377/2009 APELANTE: ALVARO DE ABREU SAMPAIO. APELADO: CAER COMÉRCIO AUTOMÓVEIS ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Juízo de Origem: 1ª Vara Cível de Duque de Caxias. RELATOR: DES. ORLANDO SECCO 363. APELAÇÃO CÍVEL. Consumidor. Concessionária de veículos. Oferta de venda com isenção de ICMS, baseada em Lei Estadual de Incentivo Fiscal (Lei 4819/2006). Publicidade lacunosa. Ausência de informação clara e precisa quanto ao tempo do incentivo. Aceitação da proposta. Revogação do benefício pela montadora. Não concretização do negócio. Frustração das justas expectativas. Boa-fé Objetiva. Violação ao Dever de Informação. Vinculação a publicidade. Teoria da Perda da Chance. Súmulas 94 e 75, a contrario sensu,tjrj.// Se a prova dos autos (fls.70/71) é segura no sentido de que o negócio jurídico ofertado ao consumidor/recorrente não se concretizara pela falha da proponente com seu dever de prestar informações claras e precisas quanto aos termos da isenção fiscal que o motivara a contratar, então, inviabilizado o negócio, deve o aceitante ser indenizado pela frustração de suas justas expectativas causadas pela perda da chance. Inteligência conjunta dos Arts.31;34;35,III e 37, 3º e 4º,CDC. Dano moral configurado. Procedência parcial do pedido. Reforma da sentença. Provimento parcial ao recurso VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 11377/2009, em que é Apelante ALVARO DE ABREU SAMPAIO, e Apelado COMÉRCIO AUTOMÓVEIS ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

3 ACORDAM, os Desembargadores que integram a Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro POR UNANIMIDADE em PROVER EM PARTE O APELO, nos termos do voto do Des. Relator. V O T O Cremos deva ser provido em parte o recurso. O mérito do presente Apelo cinge-se exclusivamente em saber a quem cabe a responsabilidade pela inviabilização do negócio jurídico de compra e venda proposto pela ré e aceito pelo autor em Abril/2007, em virtude da revogação, por fato de terceiro, de incentivo fiscal (Maio/2007) que determinara a vontade de contratar pelo consumidor. A sentença impugnada, em exame ao contexto probatório, entendeu pela inexistência de fundamento para a responsabilização da concessionária proponente, pois que a inexecução do contrato se dera por morosidade e negligência do próprio consumidor que não providenciara em tempo os documentos relativos ao processo administrativo fiscal para a compra do automóvel com isenção; que o slogan Promoção de Abril, constante da oferta de contratação seria suficiente a deixar claro que o aceitante teria que concluir toda a negociação naquele mês e que a concessionária não poderia se comprometer a manter o mesmo preço para o mês seguinte, este determinado pela montadora em virtude das variações de mercado de carros zero km. Equivocado o decisum. A prova documental carreada aos autos pelo autor, diversamente do que afirmara o Juízo a quo, demonstra com segurança a efetiva violação pela concessionária ao Dever de Informação clara e precisa da publicidade veiculada quanto ao termo final do incentivo fiscal que determinara a vontade de

4 contratar (fls.15), tornando ineficazes todas as providências tomadas pelo consumidor com relação a instauração do processo administrativo-fiscal (fls.19 e 21/23), alienação do automóvel que possuíam para dar o preço como entrada do pagamento (fls.26), bem como financiamento do valor remanescente (fls.17). Por outro lado, o testemunho de preposto da própria demandada (fls.70/71) é espantosamente elucidativo quanto a falha administrativa ocorrida, quando afirma que o autor se dirigiu a ré para comprar um Ford KA, tendo entregado um documento ao autor para que o levasse a Secretaria de Fazenda do Estado, sendo que tal documento não retornou no prazo devido; que se o autor o tivesse entregue dentro do prazo ele teria direito à bonificação porque estava dentro do prazo vigente e porque ele é policial militar (...); que a autorização voltou fora do prazo, por volta de 10 a 12 dias fora do prazo; que o valor do aproveitamento da bonificação era em torno de R$4.000,00; (...) que o prazo da bonificação não estava expresso em propagandas, devendo o autor ter tomado conhecimento através de seus colegas de trabalho, além de talvez ter o vendedor informado; que a bonificação não está expressa na proposta de compra do veículo; (...) que na autorização que a empresa emite para levar até a Fazenda não existe menção ao prazo de apresentação do documento para compra; (...) que tem conhecimento que o vendedor Fábio passava para os clientes que o prazo de entrega seria de 2 a 3 meses; que quando o autor compareceu para comprar o carro ainda tinha 20 dias de vigência da proposta dos 12% de bonificação (...). Demonstrada inequivocamente a violação ao dever de Informação pelo preposto da ré, deve responder pelo fortuito interno (súmulas 94 e 75,a contrario sensu.tjrj) que, inviabilizando a conclusão do negócio jurídico, causara frustração das justas expectativas do consumidor (fls.20) em virtude da perda da chance (CDC, Arts.31;34;35,III e 37, 3º e 4º).

5 O dano moral in casu, por questão de simetria do raciocínio, deve corresponder ao valor a que teria acesso o recorrente como benefício fiscal para aquisição do veículo (R$4.000,00), com juros da citação e correção do presente julgado. Quanto aos danos materiais, contudo, irretocável se mostra a sentença porquanto o fato de o recorrente ter alienado em vão seu automóvel a fim de adquirir o veículo com isenção, conquanto tenha lhe frustrado as expectativas, não trouxe decréscimo patrimonial. Por tais fundamentos, DÁ-SE PARCIAL PROVIMENTO ao Apelo para, reformando a sentença, julgar-se parcialmente procedente o pedido, distribuindo-se os ônus sucumbenciais na forma do Art.21,caput,CPC. Data do julgamento e da apresentação (Art.94, RITJRJ). Rio de Janeiro, 28 de abril de ORLANDO SECCO DES. RELATOR Certificado por DES. ORLANDO SECCO A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 29/04/ :20:37Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 5

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