TB Tributação. Não cabimento de protesto extrajudicial de créditos fazendários. Considerações sobre o tema e jurisprudência.
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- Artur Sá Santiago
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1 PARECER Nº 2931/ TB Tributação. Não cabimento de protesto extrajudicial de créditos fazendários. Considerações sobre o tema e jurisprudência. CONSULTA: A Câmara consulente indaga a respeito da constitucionalidade de PL, de iniciativa do Executivo, que dispõe sobre o protesto de certidão de dívida ativa tributária e não tributária no municipio. RESPOSTA: De acordo com o Código Tributário Nacional - CTN, a dívida regularmente inscrita goza de presunção de liquidez e certeza, salvo prova inequívoca em contrário. O Poder Público dispõe de meio especial de execução de seus créditos, disciplinada pela Lei nº 6830/80, denominada execução fiscal. O art. 198 do CTN também veda a divulgação para qualquer fim de informação sobre a situação econômica ou financeira dos sujeitos passivos tributários, sendo certo que eventual protesto ou inscrição em cadastro de inadimplentes viola tal preceito. Dessa forma, o Município não poderá efetuar protestos de títulos e inscrever contribuintes em cadastros de inadimplentes, por violação ao art. 198 CTN e por dispor de meio especial de cobrança de créditos, que é a execução fiscal. A esse respeito existe o Enunciado nº 02/05 da Consultoria Jurídica do IBAM: "FINANÇAS MUNICIPAIS. O MUNICÍPIO NÃO PODE 1 PARECER SOLICITADO POR RAFAEL DE MORAES PESSATTI,ASSESSOR JURÍDICO - CÂMARA MUNICIPAL (IRACEMÁPOLIS-SP) 1
2 PROMOVER O PROTESTO DAS CERTIDÕES DA DÍVIDA ATIVA NEM INSCREVER OS DEVEDORES EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. (Pareceres nºs 0124/05, 1377/02 E 0468/01)". Com efeito, a inscrição do contribuinte inadimplente em cadastros restritivos é um dos exemplos mais comuns de sanções políticas. Tal prática é flagrantemente inconstitucional, entre outras razões, porque: (I) implica indevida restrição ao direito de exercer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, assegurado pelo art. 170, parágrafo único, da CRFB/88; e (II) configura cobrança sem o devido processo legal, com grave violação do direito de defesa do contribuinte, porque a autoridade que a este impõe a restrição não é a autoridade competente para apreciar se a exigência é ou não legal. Entretanto, em que pesem os argumentos supramencionados, em 28 de dezembro de 2012, foi publicada a Lei nº /12 que alterou a Lei 9.492/97, autorizando a União, Estados e Municípios a levarem a protesto as Certidões de Dívida Ativa. Senão vejamos: Lei /12 - Dispõe sobre a extinção das concessões de serviço público de energia elétrica e a prestação temporária do serviço e sobre a intervenção para adequação do serviço público de energia elétrica; altera as Leis nºs 8.987/1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no artigo 175 da Constituição Federal; (...) e /2003, que altera a Legislação Tributária Federal; e dá outras providências.) Art. 25. A Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, passa a vigorar com as seguintes alterações: Artigo 1º (...) Parágrafo único. Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas. 2
3 Insta mencionar que essa importante alteração legal não poderia ter sido disciplinada por uma lei ordinária que versa essencialmente sobre o Setor Elétrico, sob pena de restar maculado o art. 146, III, "b", da Constituição Federal. Além disso, a exposição de motivos da MP 577, de 29 de agosto de 2012, que deu origem à Lei nº , nada dispõe sobre o protesto de CDA, o que denota que tal inserção possivelmente ocorreu sem a devida audiência pública. Reiteramos o entendimento de que a Certidão de Dívida Ativa é um título extrajudicial dotado de liquidez e certeza, logo, pela simples leitura do art. 1º, caput, da Lei nº 9.492/97, o protesto de um título dessa natureza seria um contra-senso, pois a dívida regularmente inscrita tem efeito de prova pré-constituída, a dispensar que por outros meios tenha a Administração de demonstrar a impontualidade e o inadimplemento do contribuinte. O crédito tributário possui uma série de prerrogativas já estabelecidas no CTN, dentre as quais não se encontra o protesto de CDA. O uso de prerrogativas não previstas no CTN é considerado sanção política, sendo certo que o STF já condenou tal prática (Súmulas 70, 323 e 547 do STF), estabelecendo que o poder público não pode utilizar medidas coercitivas e vexatórias para cobrança de tributos, aplicando aquelas expressamente previstas na Constituição Federal e no Código Tributário Nacional. Por seu turno, e com base neos fundamentos acima expostos, há precedentes do STJ e demais Tribunais de Justiça reconhecendo a falta de interesse juridico do ente em protestar de CDA: TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DEINSTRUMENTO. CERTIDÃO DA DÍVIDA ATIVA - CDA. PROTESTO.DESNECESSIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem afirmado a ausência de interesse em levar a protesto a Certidão da DívidaAtiva, título que já goza de presunção de certeza e liquidez econfere publicidade à inscrição do débito na divida 3
4 ativa. 2. Agravo regimental não provido.(stj - AgRg no Ag: PR 2010/ , Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 17/05/2011, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/05/2011, g.n.) MANDADO DE SEGURANÇA - CERTIDÃO DE DIVIDA ATIVA - PROTESTO EXTRAJUDICIAL - DESCABIMENTO. Na esteira de precedentes do Colendo Superior Tribunal de Justiça, abusivo o protesto extrajudicial de certidão de dívida ativa - Ausência de interesse por parte da Fazenda, uma vez que a CD A é título hábil - de moto próprio -ao ajuizamento da ação executiva. Sentença reformada. Ordem concedida. Recurso provido.(tj-sp - APL: SP, Relator: Nogueira Diefenthaler, Data de Julgamento: 25/10/2010, 7ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 05/11/2010, g.n.) MEDIDA CAUTELAR. PROTESTO DE CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA. TÍTULO LÍQUIDO, CERTO E EXIGÍVEL. DESNECESSIDADE. PROPÓSITO DE COAGIR O CONTRIBUINTE AO PAGAMENTO DE CRÉDITO DE ELEVADO VALOR. ABUSO CARACTERIZADO. Ainda que se possa considerar que, em face do teor do art. 1º, da Lei nº 9.492/97 e do Provimento nº 67/1999 da Corregedoria-Geral de Justiça deste Tribunal, qualquer título executivo extrajudicial, ainda que não de natureza cambial, possa ser objeto de protesto, isto não significa que tal ato possa ser exercitado sem relevante razão de direito e por mero capricho do credor. O protesto somente haverá de ser realizado se se destinar a comprovar ou a constituir o devedor em mora ou ainda quando a lei assim o exigir para o exercício de determinada ação. No caso da Certidão de Dívida Ativa, "a presunção legal que reveste o título emitido unilateralmente pela Administração Tributária serve tão somente para aparelhar o processo executivo fiscal, consoante estatui o art. 38 da Lei 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais). Dentro desse contexto, revela-se desnecessário o protesto prévio do título emitido pela Fazenda Pública" (STJ, Resp nº /MG). Mais se justifica sustar o protesto de CDA, de elevado valor, quando transparece claro o propósito do Fisco de coagir o contribuinte ao pagamento 4
5 extrajudicial de tributo, cuja exigibilidade já fora intensamente impugnada no contencioso administrativo.(tj-sc - REEX: SC , Relator: Newton Janke, Data de Julgamento: 25/02/2009, Segunda Câmara de Direito Público, Data de Publicação: Reexame Necessário n., de Tubarão, g.n.) Sintetizando, a posição do IBAM é pela impossibilidade de protesto de Certidão de Dívida Ativa pelo Município, bem como pela impossibilidade da inclusão de contribuintes inadimplentes nos cadastros restritivos de créditos. Ao Fisco municipal cabe executar os contribuintes inadimplentes por meio de atividade administrativa plenamente vinculada (art. 3º, CTN), que é a execução fiscal, já que dispõe de meio especial de execução de seus créditos. Para maiores esclarecimentos a respeito, remetemos à leitura do parecer IBAM nº 2557/2013 Ante o exposto, conclui-se que o PL em apreço não reune condições para validamente prosperar, haja vista que viola os principios regentes e o devido processo legal exigível para a cobrança de seus créditos. É o parecer, s.m.j. Aprovo o parecer Rio de Janeiro, 29 de outubro de Ana Carolina Couri de Carvalho Assessora Jurídica Marcus Alonso Ribeiro Neves Consultor Jurídico PARA CONFIRMAR A AUTENTICIDADE DESTE DOCUMENTO ENTRE NO ENDEREÇO ELETRÔNICO E UTILIZE O CÓDIGO ffb3jdhcej 5
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