TEORIA DA ATIVIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA: MOTIVO E NECESSIDADE
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- Pedro Henrique Vilaverde Dinis
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1 TEORIA DA ATIVIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA: MOTIVO E NECESSIDADE Rosangela Miola Galvão de Oliveira - UEL Sandra Aparecida Pires Franco - UEL Roberta Francieli da Silva - UEL Vânia Alboneti Terra Dias UEL OBEDUC/CAPES 1. INTRODUÇÃO A leitura é essencial em todas as disciplinas do currículo escolar. Sendo assim, base para o aprendizado e o aprofundamento dos conteúdos que o compõem. Uma das grandes dificuldades que o docente encontra na Educação Básica é fazer com que o aluno desenvolva um sentido e um significado para o aprendizado. No caso da leitura, esta dificuldade é ainda maior. Para Vigotski (2010), a leitura e a escrita devem representar uma necessidade a criança, pois somente desta maneira ela irá aprender. Sabendo da importância da leitura e da escrita para o desenvolvimento do ser humano, no caso da linguagem, para o desenvolvimento do pensamento e das funções psíquicas superiores (LURIA, 1987), foi produzido um material didático pelos participantes do Projeto OBEDUC- UEL pautado no Materialismo Histórico e Dialético, para a intervenção em duas turmas do 8º ano escolar da Educação Básica. A aula observada baseou-se na Teoria da Atividade, de Leontiev (2001), na qual o motivo e a necessidade do aprendizado das charges foram os aspectos enfatizados com os alunos. Para demonstrar a pesquisa realizada optou-se pela escrita deste artigo que será dividido em duas partes. Na primeira parte faz-se necessário o entendimento da Teoria da Atividade e seus principais pontos: o motivo e a necessidade. Na segunda parte, serão apresentados a metodologia e os resultados observados pelas pesquisadoras. 2. METODOLOGIA A opção pelo uso de uma Unidade Didática para o trabalho com os alunos no Projeto de Intervenção advémdos estudos sobre Leontiev (2001), psicólogo que se preocupou em fundamentar juntamente com Vigotski (2010) uma psicologia marxista.
2 Para tanto, ocupou-se em investigar e compreender o desenvolvimento do psiquismo humano com base nas atividades que o homem realiza. Em seu livro O desenvolvimento do psiquismo (2001), Leontiev (2001) busca demonstrar por intermédio de experiências científicas atreladas às concepções do Materialismo Histórico e Dialético e as da Teoria Histórico Cultural, as inter-relações entre o desenvolvimento humano e a atividade humana como forma de superação das funções psíquicas. As pesquisas das produções sobre a Teoria da Atividade foram realizadas na base de artigos científicos do Scielo. Dentre os trabalhos foram selecionados quatro que contemplam o entendimento da teoria e o trabalho com a educação escolar. A pesquisa realizada por Piccolo (2012) buscou a historicidade da Teoria da Atividade, desde os primeiros traços realizados por Vigotski, para a posterior sequência e aprofundamento feitos por Leontiev. Segundo Piccolo (2012), o conceito de Atividade advém da categoria trabalho e estão fundamentados nos estudos de Marx. De acordo com Piccolo (2012), os processos mentais e a consciência se desenvolvem pela atividade e servem como base aos estudos que fundamentaram a psicologia histórico-cultural. Também concebe a mediação como fator preponderante para o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, sendo que os signos recebem destaque nesta função. A pesquisa de Piccolo (2012) diz que o objeto principal da Teoria da Atividade não é o sujeito ou o meio de forma isolada, mas o processo conjunto dialético de transformação entre sujeito e meio, [...] reflete a relação entre o sujeito humano como ser social e a realidade humana (PICCOLO, 2012, p. 285). Baseado em Leontiev, o autor diz que o motivo pode ser considerado o objetivo, ou seja, o que leva o aluno a realizar uma tarefa, o que necessita fazer para obter algo. Na pesquisa, Piccolo (2012) considera que só pode ser denominada Atividade as relações com os objetos que venham a sanar uma necessidade, ou seja, nem toda relação com objeto é uma Atividade, assim como nem toda necessidade visa a um objeto. Por isso, a presença do trinômio: motivo objeto sanar necessidade, estar presente nas ações para que sejam consideradas Atividades. A relação entre a necessidade e o objeto, conteúdo (o que faz) e o motivo (por que faz) se constituem fundamentais na Teoria da Atividade, sendo a necessidade considerada como estopim (PICCOLO, 2012). O artigo de Eidt (2010) é uma análise crítica das pedagogias alicerçadas no aprender a aprender, para demonstrar que elas se contrapõem ao objetivo de formação humana proposta pela Teoria da Atividade e por Leontiev, a autora ainda destaca que para Leontiev a Educação deve ampliar os horizontes culturais dos alunos, pois a apropriação não é espontânea, mas advém da atividade mediada pelo
3 professor que possibilita o desenvolvimento do psiquismo humano e cita Leontiev que considera ser Por meio do desenvolvimento da atividade produtiva foi possível ao homem o salto ontológico do biológico ao sócio-histórico (EIDT, 2010, p.181). A pesquisa feita por Eidt e Duarte (2007) discute sobre a natureza da Atividade no ensino. Os autores ressaltam duas questões que norteiam os trabalhos de Leontiev sobre a atividade, sendo eles: o que se adquire e como se adquire. Segundo os autores, para Leontiev, a criança forma as aptidões, falar, fazer tarefas ao mesmo tempo que se apropria do legado cultural da humanidade. Assim, a atividade escolar vem a contribuir com a ampliação dos conhecimentos culturais da criança e produzir novas necessidades. A pesquisa realizada por Asbahr (2005) possui como objetivo principal promover a reflexão teórica sobre a repercussão da Teoria da Atividade nas pesquisas de atividade pedagógica docente. Para isso, a autora começa o texto dizendo que para Vigotski a atividade social significativa é o princípio que explica a consciência e as relações sociais como princípio de formação da consciência. Segundo a autora, para os teóricos que se debruçaram na Teoria da Atividade, tais como Vigotski e Leontiev [...] uma necessidade só pode ser satisfeita quando encontra um objeto; a isso chamamos de motivo (ASBAHR, 2005). Para a autora, objeto e necessidades isolados não produzem Atividade, o motivo que impulsiona a ação. Também ressalta que a transformação da Atividade externa em interna acontece por meio do processo de internalização. Para ela, o reflexo psíquico desta passagem é a formação da consciência. Segundo Asbahr (2005), para Leontiev, a consciência que se forma primeiro é a social, pois advém do conhecimento partilhado. A partir da consciência social se pode ter a consciência individual, e conclui [...] no trânsito da consciência social para a individual a linguagem e a atividade coletiva laboral têm papel fundamental (ASBAHR, 2005, p. 111). A pesquisa ainda contribui com o conceito de significação social, que no caso da atividade pedagógica do educador é justamente proporcional as condições para que os alunos aprendam, ou melhor, engajem-se em Atividades de aprendizagem. Finaliza dizendo que alguns quesitos são fundamentais para o processo de significação social na Teoria da Atividade, sendo eles: a apropriação dos conhecimentos científicos e desenvolvimento da conduta crítica do discente. Desta forma, torna-se um desafio para a psicologia, segundo Leontiev (2001), entender como a atividade, os motivos e meios transformam as necessidades humanas ao mesmo tempo que suscitam novas necessidades. De acordo com Leontiev (2001), para Marx, a personalidade é adquirida nas relações sociais, então
4 por isso a importância da psicologia compreender a natureza sócio histórica do psiquismo humano. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A pesquisa é do tipo descritiva, na qual as pesquisadoras no papel de observadoras participaram de duas aulas baseadas em material elaborado pelos participantes do OBEDUC-UEL. Na observação, as pesquisadoras buscaram perceber como foram trabalhados pelo docente os quesitos de motivo e necessidade com os alunos, pontos fundamentais da Teoria da Atividade. Para evidenciar os resultados obtidos utilizou-se as produções de charges dos alunos, na qual a compreensão leitora foi considerada a partir das relações que os alunos apresentaram com outras dimensões do discurso, tais como: políticas, econômicas, históricas, sociais, culturais e o conteúdo de geografia trabalhado pelo docente, as Américas. Os participantes foram duas turmas do 8º ano escolar de uma instituição pública da zona rural de Londrina, totalizando 42 alunos. O docente responsável pela aplicação da unidade didática é participante do projeto OBEDUC-UEL como bolsista, juntamente com as pesquisadoras. O grupo elaborou a Unidade Didática que foi aplicada e que possui como base teórica o Materialismo Histórico e Dialético. O material seguiu os cinco passos para elaboração de uma aula, sugeridos por Gasparin (2012) e Saviani (2011) da Pedagogia Histórico-Crítica, com ênfase na Teoria da Atividade de Leontiev (2001). O projeto possui a aprovação do comitê de ética e como primeiro passo foi enviado e coletado dos alunos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE. Após a aplicação de dois passos (prática social inicial e a problematização) com os alunos, as pesquisadoras foram observar as aulas que correspondem ao início dos trabalhos com a instrumentalização, na qual o docente possui como objetivo o aprofundamento do conteúdo (GASPARIN, 2012; SAVIANI, 2011) do gênero charges, ao mesmo tempo o conteúdo as Américas. O recurso didático escolhido para o desenvolvimento das atividades com os alunos está baseado no ensino do gênero charge, devido sua estrutura que alia leitura, humor e atualidade, muito próximo da realidade dos discentes e presente também em outros instrumentos de ensino, tais como o livro didático. O que confere maior entrelace com o materialismo que pressupõe que o ensino deva partir do concreto, do real, dos conhecimentos dos alunos, para então aprimorá-los (SAVIANI, 2011; GASPARIN, 2012).
5 Como primeira investigação do contexto escolar no qual estão inseridos os participantes, fez-se um levantamento dos dados do IDEB- Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Os dados compõem o quadro 1 abaixo: QUADRO 1 Índice de desenvolvimento básico da instituição pesquisada. Escola Ideb Observado Metas Projetadas ESCOLA A Fonte: BRASIL (2015) Os dados indicam que em um intervalo de quatro anos houve um avanço considerável ultrapassando a projeção de Sendo 2,6 o índice alcançado no ano de 2009, para 3,6 no ano de Este resultado é superior a própria meta estabelecida de 3.0 para o ano de 2013 projetado pelo órgão responsável. Apesar dos resultados positivos desta instituição de ensino, observa-se que a média do índice IDEB do munícipio da qual a instituição faz parte é superior ao valor obtido pela Escola A, sendo o valor do índice de 3,8 no ano de Tomados os índices do IDEB como base de avaliação pode-se considerar que existe uma carência no ensino dos estudantes participantes. Outro dado que levou a evolução a pesquisa desta instituição de ensino foi o resultado da proficiência em Língua Portuguesa apontado pela Prova Brasil. Em 2007, a Escola A atingiu 196,57 pontos. No ano de 2011 houve uma elevação de 224,91 no ano de 2007 para 244,60 no ano de Observa-se que neste mesmo período a proficiência na avaliação de Língua Portuguesa do município no qual a escola faz parte foi decrescente, de 242,79 no ano de 2007 para 240,44 no ano de Apesar do saldo positivo da instituição estudada em relação ao município, a proficiência alcançada está aquém do ideal para os anos finais da educação básica, pois na escala de níveis de desempenho em leitura, o valor de 244,60 corresponde ao nível cinco de uma escala de nove, ou seja, os dados demonstram que faltam uma série de domínios de conhecimentos aos alunos. (BRASIL, 2011). O projeto de intervenção desenvolvido nesta instituição foi intitulado Leitura de Charge: Um projeto de Intervenção para o Ensino de Geografia na Educação Básica. Para a elaboração do material o projeto contou duas alunas graduandas do Curso de Pedagogia como bolsistas de Iniciação Científica do Projeto Obeduc A Práxis Pedagógica: concretizando possibilidades para avaliação da aprendizagem, uma
6 aluna mestranda como colaboradora do Mestrado em Educação da UEL e um professor bolsista do projeto OBEDUC. O professor participante ministra aulas de geografia. Houve a participação de 46 alunos do 8 ano escolar do período vespertino. Sendo este número dividido em duas turmas, denominadas neste trabalho de turma A e Turma B. Procurou-se elaborar uma Unidade Didática de acordo com os cinco passos da Pedagogia Histórico-Crítica elaborada por Gasparin (2012), sendo eles: Prática social inicial; Problematização; Instrumentalização; Catarse e Prática Social Final. O referencial teórico que embasou o trabalho foi o Materialismo Histórico, com ênfase na Teoria da Atividade que possui como maior representante Leontiev (2011). Conscientes da delimitação do artigo, foi exposto como amostra do trabalho desenvolvido duas aulas correspondentes a fase da Instrumentalização, no qual são aprofundados os conteúdos científicos com os alunos, para que se possa observar a influência da Teoria da Atividade proposta por Leontiev na compreensão das charges pelos alunos. No total, a Unidade Didática foi dividida em treze aulas. A Prática Social Inicial correspondeu a primeira aula, na qual houve o processo de resgate dos conhecimentos prévios dos alunos, sendo parte fundamental para o reconhecimento do gênero e a associação com o que já foi desenvolvimento em matéria de conhecimento pelos alunos em anos anteriores. O passo seguinte foi a Problematização na qual são lançadas questões que propiciam a mediação entre a prática e a teoria, É o momento que se inicia o trabalho com o conteúdo sistematizado (GASPARIN, 2012; p.35). Uma das atividades propostas para essa aula consistiu em que os alunos descrevessem como escolher o tema em uma charge. O terceiro passo, que corresponde ao foco desta pesquisa neste artigo, é denominado de instrumentalização. Nesse momento a intenção é o trabalho com o conhecimento cientifico poro meio das ações didático-pedagógicas, sistematizadas e organizadas pelo professor, o mediador entre o aluno e o conhecimento. Para Gasparin (2012), o aluno possui um conhecimento prévio advindo do senso comum e adquirido nas relações culturais. O papel da escola então é fazer com que o aluno possa aprofundar esse conhecimento, torná-los científicos. A aprendizagem passa a constituir-se com significado histórico, social e coletivo, tendo desta forma sentido para sua vida. Com finalidades predefinidas pelo docente que buscou conciliar o ensino da geopolítica com o uso do gênero charge, as aulas começaram com a contextualização do assunto e dialeticamente os alunos eram indagados sobre as principais temáticas do conteúdo, tais como: política; economia; sociedade; cultura política. Desta forma,
7 objetiva-se a formação de conceitos, fundamentais para a compreensão das charges e o aprimoramento dos alunos enquanto leitores, pois para Manguel (1997; LAJOLO, 1997, REZENDE, 2009) as leituras anteriores são essenciais para as futuras leituras. Do total de 46 produções dos alunos foram selecionadas para a análise deste artigo três produções. O critério para a seleção foi o de utilizar as produções nas quais os alunos apresentaram produções inéditas, sem a reprodução de outros meios, tais como: a internet, livros didáticos e da própria Unidade Didática. A primeira atividade consistiu em retratar temas atuais com o uso de charges. Além da intenção do docente em utilizar a estrutura do gênero charge, também houve a preocupação em produzir um motivo, em forma de ação e a necessidade do aluno retratar o real entendimento dos temas que cercam a realidade do discente. Na produção da figura 1 abaixo, do aluno A, observa-se que o aluno utiliza ironia ao conciliar dois temas atuais que estão presentes a todo momento na mídia: o consumo de energia e as eleições presidenciais. Desta forma, ele contempla duas características do gênero charge: a ironia e o uso de fatos atuais. Observa-se que o aluno aproximou-se do gênero charge, mas apresentou a produção no formato de tirinhas, ou seja, em partes como se fosse uma sequência de histórias, o que não corresponde a estrutura da charge, feita em apenas uma parte. A temática da política ganhou destaque em várias produções devido ao próprio contexto político das eleições presidenciais. FIGURA 1 - Aluno A Turma A Fonte: Produções dos alunos (2014). A segunda atividade desenvolvida com os alunos foi de buscar saber se os alunos conseguem entender quais os fatos que possuem uma repercussão a nível nacional, e assim, atender a uma outra característica da charge que é a de tratar de assuntos relevantes para a maioria da população. Assim, quatro temas foram expostos e os alunos deveriam escolher um deles e em seguida produzir uma charge correspondente. Os temas foram: Tema 1: Será inaugurado o viaduto da Rua Quinze neste fim de semana. Tema 2: Dona de casa quebra o braço após tombo no banheiro.
8 Tema 3: Ibope informa queda de audiência no Horário eleitoral. Tema 4: Humilhação no futebol brasileiro vira piada na internet. A produção do aluno B, turma A versou sobre a discriminação sofrida por um jogador de futebol promovida por uma torcedora durante partida de futebol. FIGURA 2 - Produção aluno B turma A tema futebol. Fonte: Produção dos alunos (2014). A produção do aluno B reflete com maior exatidão as características do gênero charge. A temáticas escolhida pelo aluno possui repercussão nacional, com certa ironia e expressa em uma única imagem. Pode-se considerar que a intencionalidade do aluno é demonstrar a opinião dele sobre o fato ocorrido. A terceira atividade realizada nas duas aulas observadas, contempla a mescla entre o uso do gênero charge e o conteúdo trabalhado pelo professor sobre as Américas. Na produção abaixo do aluno C, turma B, nota-se a necessidade da aluna em utilizar o gênero charge para expressar questões econômicas e sociais, ou seja, feita pelo discente das diferenças sociais e culturais entre ambas as américas.
9 FIGURA 3 - Produção aluno C turma B Diferenças entre as Américas. Fonte: Produção dos alunos (2014). Observa-se no diálogo entre mãe e filho que a ironia com relação ao país, para a mãe a única forma de ascensão econômica seria a mudança para a América Anglosaxônica. Para enfatizar este fato, o aluno C produziu duas charges com a mesma temática, embasada no poder aquisitivo, na qual a América Latina seria considerada uma região pobre e a América Anglo-saxônica a região rica. A ironia na segunda charge pode ser observada na apresentação da personagem que se coloca como morador da parte rica. As duas charges apresentam a estrutura característica do gênero charge, na qual o aluno C pode expressar os conhecimentos adquiridos do conteúdo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa partiu da observação de que os alunos apresentam uma leitura ingênua das charges apresentadas, o que reflete em produções desvinculadas de um contexto social mais amplo, que representem as dimensões: políticas, econômicas, sociais, históricas, afetivas, psicológicas, da qual fazem parte. Este olhar inocente pode ser resultado do trabalho fragmentado desenvolvido nas escolas em praticamente todos os anos escolares. Para Marx (1990), a compreensão do real só pode ser obtida quando se tem a dimensão do todo, e não somente das partes que o
10 compõe, ou seja, a forma mais desenvolvida seria a chave para a menos desenvolvida, assim a forma mais complexa seria a chave para a menos complexa (MARX, 1990; DUARTE, 2003). O aluno precisa compreender que o viver em sociedade constitui o próprio desenvolvimento do homem (MARTINS, 2004), assim somos produtos das relações histórico-sociais, das objetivações do homem na busca por sanar e construir novas necessidades, do movimento ininterrupto do saber. Alguns alunos apresentaram uma leitura mais aprofundada do conteúdo trabalhado, o que representa uma superação das metodologias até então oportunizadas aos estudantes. É na base da superação das funções biológicas (animal), que surgem novas funções cognitivas (LURIA, 1987; VIGOTSKI, 2010; LEONTIEV, 2001; MARTINS, 2004). Este passo representa o desenvolvimento humano, na qual funções elementares são superadas pelas funções psíquicas superiores, como ocorre com o pensamento que se organiza a partir da aquisição da linguagem (LURIA, 1987; VIGOTSKI; 2010). Faz-se necessário que mais intervenções busquem o desenvolvimento integral do aluno, mas para isso devem estar pautadas em teorias como o Materialismo Histórico e Dialético e as consideradas teorias que beberam em sua fonte, tais como: Teoria Histórico e Cultural, Pedagogia Histórico-Critica e a Teoria da Atividade. Sendo que a Teoria da Atividade, que possui Leontiev (2001) como maior representante, em muito contribui para o processo de ensino e aprendizagem quando ressalta a importância do envolvimento do aluno para a aprendizagem no intuito da formação da consciência, fornecendo ao educador um caminho a seguir, como o trabalho com o motivo (a ação do aluno) e a necessidade. REFERÊNCIAS ASBAHR, F. S. F. A pesquisa sobre a atividade pedagógica: contribuições da teoria da atividade. Revista Brasileira de Educação. N.29, mai/jun/jul/ago Disponível em: Acesso em: 22/01/2015. BRASIL. Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da Educação: Prova Brasil: ensino fundamental: matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC; SAEB; Inep,2011. Disponível: Acesso em: 15/05/2014.
11 BRASIL. Ministério da Educação. IDEB. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA. INEP Disponível em: Acesso em 10/03/2015. DUARTE, N. A anatomia do Homem é a chave da anatomia do macaco. In: DUARTE, Newton. Sociedade do conhecimento ou sociedade das ilusões?: quatro ensaios crítico-dialéticos em filosofia da educação. Campinas, SP: Autores Associados, EIDT, N. M. DUARTE, N. Contribuições da teoria da atividade para o debate sobre a natureza da atividade de ensino escolar. Psicologia e Educação, n.24, São Paulo jun/2007. Disponível em: Acesso em: 22/01/2015. EIDT, N. M. Uma análise crítica dos ideários pedagógicos contemporâneos à luz da teoria de A. N. Leontiev. Educação em Revista. Belo Horizonte, v.26, n.2, p Disponível em: Acesso em: 22/01/2015. GASPARIN, J.L.. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 5 ed. Ver.. Campinas, SP: Autores Associados, LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 3 ed. São Paulo: Ática, LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Cascavel, PR: Livros Horizonte. Centro de confecção de material em braile. Julho, Tradução: Manuel Dias Duarte. Disponível em: +O+Desenvolvimento+Do+Psiquismo, txt. Acesso em: 04/11/2014. LURIA, A. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, MARTINS, L. M. Da formação humana em Marx à crítica da pedagogia das competências. In: DUARTE, Newton (org.). Crítica ao fetichismo da individualidade. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.
12 MARX, K. O Capital: Crítica da Economia Política. Edições progresso-editorial Avante! Moscovo: Lisboa, Disponível emhttp:// Acesso em 15/10/2014. PICCOLO, G. M. Historicizando a teoria da atividade: do embate ao debate. Psicologia & Sociedade, v. 24, n.2, Disponível em: Acesso em: 22/01/2015. REZENDE, L. A. Leitura e formação de leitores vivências teórico-práticas. Londrina: Editora EDUEL, SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. 11 ed. Ver- Campinas, SP: Autores Associados, VIGOTSKI, L. S. Formação Social da mente. São Paulo, SP: Martins Editora, 2010.
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