TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL

Transcrição

1 Agravo Interno nos autos da Apelação Cível nº Agravante: ITAÚ UNIBANCO S.A. Agravado: JAVERT DO CARMO AZEVEDO FILHO Relator: DES. EDUARDO DE AZEVEDO PAIVA. AGRAVO INTERNO NOS AUTOS DA APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DO DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAL E MATERIAL. COBRANÇA INDEVIDA E POSSIBILIDADE DE APONTE DO NOME DA DEMANDANTE NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. NÃO COMRPOVAÇÃO DE QUALQUER DAS EXCLUDENTES. DANO MORAL CONFIGURADO. INCLUSÃO NOS CADASTROS DE MAUS-PAGADORES IMPORTA O CONCEITO DE INADIMPLENTE CONTUMAZ, O QUE GERA TANTO RESTRIÇÃO AO CRÉDITO, COMO TAMBÉM MÁCULA PERANTE OS QUE TOMAM CONHECIMENTO DA NEGATIVAÇÃO, ALÉM DE SENTIMENTOS DE REVOLTA E INDIGNAÇÃO PESSOAL. OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS DE PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. QUANTUM COMPENSATÓRIO ADEQUADO. RECURSO IMPROVIDO. DECISÃO MANTIDA INTEGRALMENTE. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Interno nos autos da Apelação Cível nº no qual é agravante ITAÚ UNIBANCO S.A. e, agravado, JAVERT DO CARMO AZEVEDO FILHO. A C O R D A M os Desembargadores da Décima Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em votação unânime, NEGAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do voto do Relator. Agravo interno nos autos da Apelação Cível nº LJF Página 1

2 RELATÓRIO Trata-se de recurso interposto em face da decisão de fls. 250/256, índice 250, insurgindo-se o agravante contra a condenação ao pagamento de indenização por dano moral, arbitrada em R$25.000,00, requerendo, caso mantida a procedência, a redução do quantum. É o relatório. Passo a votar. O recurso é tempestivo e guarda os demais requisitos de admissibilidade de molde a trazer seu conhecimento. Cuida-se de ação declaratória de inexistência de negócio jurídico cumulada com reparação por danos morais e materiais, ajuizada por JAVERT DO CARMO AZEVEDO FILHO em face do ITAÚ UNIBANCO S.A. Informa-se que a entidade demandada ativou cartão de crédito denominado ITAÚ MÚLTIPLO GLOD, final 9954, atribuindo-lhe limite de crédito para compras no valor de R$5.400,00, além da possiblidade de contratação de empréstimo denominado Crédito Pessoal, o que, evidentemente ocorreu, tendo sido contratados inúmeros empréstimos, dentre eles o pagamento de vinte e quatro parcelas de R$2.150,33, totalizando o valor de R$51.607,92. Continua informando que o débito oriundo das parcelas vencidas e não pagas vinculadas à conta do Autor, naquela ocasião, montava o total de R$9.888,68. Visando inibir a negativação do seu nome, sacou de sua conta corrente mantida em Nova Iguaçu o valor e pôs em dia os contratos questionados, surpreendendo-se com a informação do próprio preposto da instituição de que as fraudes ocorreram nas dependências da Agência Frutal, mediante senha pessoal e com uso do cartão de sua titularidade. Agravo interno nos autos da Apelação Cível nº LJF Página 2

3 A relação entre as partes é de consumo e, portanto, a responsabilidade do fornecedor de serviço é objetiva, razão por que deve responder pelos danos causados ao consumidor, sendo certo que a disposição do 3º do art. 14 da Lei prevê a inexistência de tal responsabilidade somente quando o fornecedor provar que tendo prestado o serviço, o defeito inexiste ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, o que constitui desdobramento lógico do próprio risco da atividade por ele desenvolvida no mercado de consumo. Assim, não demonstrada qualquer das excludentes, tendo o autor apontado os prejuízos sem que tivesse dado causa, o decisum se mostra correto ao reconhecer a responsabilidade do demandado. Seguem precedentes jurisprudenciais: APELACAO DES. ANDREA FORTUNA TEIXEIRA - Julgamento: 13/04/ VIGESIMA QUINTA CAMARA CIVEL CONSUMIDOR EMENTA: ORDINÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE DAR COISA CERTA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. COLISÃO DO VEÍCULO DO AUTOR, EM ESTACIONAMENTO PARTICULAR, QUANDO ESTE SE ENCONTRAVA COM O PREPOSTO DO MESMO E SOB SUA RESPONSABILIDADE. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA E AUSÊNCIA DAS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE DO ARTIGO 14, 3º, INCISOS I E II, DO CDC. DEVER DE O RÉU INDENIZAR O DANO MORAL SUPORTADO EM QUANTUM ARBITRADO EM OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. Apelação do Réu desprovida e Recurso Adesivo do Autor parcialmente provido APELACAO DES. TEREZA C. S. BITTENCOURT SAMPAIO - Julgamento: 13/04/ VIGESIMA SETIMA CAMARA CIVEL CONSUMIDOR APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM DANOS MORAIS. DIREITO DO Agravo interno nos autos da Apelação Cível nº LJF Página 3

4 CONSUMIDOR. - Inclusão indevida do nome do autor nos cadastros de restrição de crédito Falha na prestação de serviços pela parte ré, através de cobrança de débito inexistente e multa abusiva. - Incidência do artigo 14 3º CDC, ausente excludente da responsabilidade. - Dano moral configurado e mantido o valor fixado na sentença. Princípio da razoabilidade e proporcionalidade. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS DO ART.557, CAPUT, DO CPC APELACAO DES. MONICA FELDMAN DE MATTOS - Julgamento: 08/04/ VIGESIMA SETIMA CAMARA CIVEL CONSUMIDOR APELAÇÃO CÍVEL. RITO SUMÁRIO. INDENIZATÓRIA. CONTRATO DE CONSÓRCIO NÃO RECONHECIDO. DESCONTOS EM CONTA CORRENTE EM QUE O CONSUMIDOR RECEBE SEU BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. RELAÇÃO DE CONSUMO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ARTS. 2º, 3º E 14 DO CDC. AFASTADA A PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM, EIS QUE ERA O BANCO RÉU QUE REALIZAVA MENSALMENTE OS DÉBITOS, NÃO SENDO RAZOÁVEL OBRIGAR-SE O CONSUMIDOR A SABER QUAL A PESSOA JURÍDICA DAQUELE CONGLOMERADO ECONÔMICO QUE SERIA RESPONSÁVEL PELA CONTRATAÇÃO POR ELE HAVIDA COMO FRAUDULENTA. TEORIA DA ASSERÇÃO. NO MÉRITO, CABERIA AO RÉU DESCONSTITUIR AS ALEGAÇÕES AUTORAIS, ÔNUS CONFERIDO PELO ARTIGO 333, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, JÁ QUE AO AUTOR SERIA IMPOSSÍVEL A PRODUÇÃO DE PROVA NEGATIVA DA NÃO REALIZAÇÃO DO CONTRATO. INAPLICABILIDADE DA EXCLUDENTE PREVISTA NO ART. 14, 3º, II, DO CDC. TEORIA DO RISCO DO EMPREENDIMENTO. SÚMULA Nº 94 DESTE TJERJ. DANOS MATERIAIS CONSUBSTANCIADOS NA DEVOLUÇÃO DO VALOR DEBITADO INDEVIDAMENTE DE FORMA SIMPLES, EIS QUE, NA HIPÓTESE DE FRAUDE, O ENGANO É JUSTIFICÁVEL. ART. 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC. DANO MORAL IN RE IPSA. QUANTUM ARBITRADO QUE DEVE SER MANTIDO, EIS QUE CONSONÂNCIA COM OS CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. DADO PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO, NOS TERMOS DO ART. 557, 1º-A, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Embora sem notícias de que o nome do autor fora gravado nos cadastros restritivos de crédito, a mera possibilidade de tal ocorrência em razão de atos que não praticou, é o suficiente para gerar sentimentos de revolta e indignação pessoal. Tal fato configura falha no serviço, inserto no risco do empreendimento, não sendo lícito à ré pretender impor ao consumidor o ônus Agravo interno nos autos da Apelação Cível nº LJF Página 4

5 de sua atividade, já que, se aufere os bônus de sua inserção no mercado de consumo, deve arcar com os ônus daí advindos. No que concerne ao valor fixado pelo juízo monocrático, a Constituição da República, em seu art. 5º, incisos V e X, assegurou a indenização por dano moral, mas não estabeleceu os parâmetros para a sua fixação. Assim, o quantum deve ser arbitrado levando-se em consideração o grau de reprovabilidade da conduta ilícita, a capacidade econômica do violador, as condições sociais do ofendido e a extensão do gravame, sendo certo que a indenização deve representar caráter punitivo, intimidatório e de exemplaridade ao causador do dano, bem como proporcionar ao ofendido uma compensação pelo dissabor vivenciado, não se podendo ignorar que os fatos ocorreram no final do ano de 2010, estando o consumidor por cerca de quatro anos a aguardar a solução do litígio, tendo realizado pagamento de mais de R$50.000,00 a fim de proteger seu bom nome. Assim sendo, razoável se demonstra o valor fixado, não merecendo reparos. Ante o exposto, meu voto é por que SE NEGUE PROVIMENTO AO RECURSO, mantida a decisão na sua integralidade. Rio de Janeiro, 20 de janeiro de EDUARDO DE AZEVEDO PAIVA Desembargador Relator Agravo interno nos autos da Apelação Cível nº LJF Página 5