PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO. A execução trabalhista pode ser impulsionada de ofício, não havendo como extinguir o processo por inércia do exequente. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Agravo de Petição em que são partes, ANTONIO LUIZ RIBEIRO DA CRUZ (Adv. Jadir Nascimento Luciano - OAB: RJ 60363D), como agravante, e COIFATEC INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA (Adv. Humberto de Souza Carneiro - OAB:RJ 57756D), JURANDIR COELHO GUIMA (sem advogado nos autos) e WILSON COSME AZEVEDO MAIA (sem advogado nos autos), ANTÔNIO SERGIO DE SOUZA (sem advogado nos autos), como agravados. Inconformado com a r. decisão de fls. 291/293, proferida pela MMª Juíza Adriana Paula Domingues Teixeira, da 66ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou extinta a execução, agrava de petição o exequente, pugnando pela reforma da decisão. Razões recursais do exequente às fls. 295/298. Sem manifestação do Ministério Público do Trabalho, em razão do disposto no Ofício nº 27/08 Gab. da P.R.T., 1ª Região. É o relatório. CONHECIMENTO VOTO de petição. Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do agravo MÉRITO EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO

2 seguinte fundamento: O julgador de 1º Grau extinguiu a execução do crédito autoral com o (...) como o exequente não atendeu o chamamento judicial e permaneceu inerte no curso da execução por prazo superior a 2 anos, pronuncio, de ofício (art. 219, 5º, do CPC c/c art. 769 da CLT), a prescrição intercorrente e julgo extintos sem resolução do mérito os créditos trabalhistas existentes nos presentes autos, na forma do art. 269, IV, do CPC. Pugna o exequente pela reforma da decisão ao argumento de que não é aplicável ao processo trabalhista a prescrição intercorrente; que deve ser declarada nula a decisão por violação ao art. 7º, XXIX, da CRFB; que a prescrição intercorrente somente é aplicada se o exequente não apresentar artigos de liquidação no prazo de dois anos a contar da intimação do ato, o que não é o caso em tela; que deve ser afastada a prescrição intercorrente para prosseguimento da execução nos termos da Súmula 114 do TST, incluindo os sócios retirantes. Com razão. A inércia da parte autora no curso do processo pode no máximo acarretar a remessa dos autos ao arquivo geral, sem baixa. Nos termos do art. 889, da CLT, a Lei nº 6.830/80 é fonte subsidiária da legislação trabalhista no processo de execução. Aplicam-se aos trâmites e incidentes da execução trabalhista os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal, pelo que antes de recorrer às regras insertas no Código de Processo Civil, deve-se observar o disposto na Lei 6.830/80, cujo art. 40 estatui: Art O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição

3 1º - Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos ao representante judicial da Fazenda Pública. 2º - Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor ou encontrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos. 3º - Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou os bens, serão desarquivados os autos para prosseguimento da execução. 4º - Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato. (Incluído pela Lei nº , de 2004). Embora a lei faculte ao juiz impulsionar a lide, também é dever da parte promover os atos necessários ao desfecho da execução, seja diligenciando por meios próprios, seja requisitando diligências ao Juízo, tudo visando ao encerramento do litígio que por certo não pode se eternizar. Registre-se que foram no caso infrutíferas as diversas tentativas de satisfação do crédito obreiro pela ré e por seus sócios, conforme se verifica da certidão de fl. 218 ( realização de praça de bens sem licitantes) e fl. 276, por exemplo. Atualmente as circunstâncias permitem a expedição de Certidão de Crédito Trabalhista (CCT), consoante disposto no Ato 1/2012, da CGJT c/c a Resolução Administrativa 14/2012, deste Regional, em proveito do exequente. Convém lembrar que o Ato 01/2012 da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho - CGJT estabelece procedimentos para a expedição da CCT: Art. 1º. Exauridos em vão os meios de coerção do devedor, deverá ser providenciada a atualização dos dados cadastrais das partes tanto quanto a situação do devedor no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (BNDT), na conformidade da Resolução Administrativa nº 1470/2011, e, em seguida, expedida Certidão de Crédito Trabalhista

4 (CCT). (...) Art. 4º. O credor será comunicado sobre a obrigatoriedade de comparecimento à Secretaria da Vara do Trabalho para, no prazo de 30 (trinta) dias, retirar a Certidão de Crédito Trabalhista e os documentos de seu interesse. Parágrafo único. Decorrido o prazo, os autos do processo serão arquivados provisoriamente. Art. 5º A Secretaria da Vara do Trabalho deverá criar arquivo, preferencialmente digital, para manutenção permanente das Certidões de Crédito Trabalhista originais não entregues aos exequentes e das demais certidões expedidas. Art. 6º. Localizado o devedor ou encontrados bens passíveis de penhora, é assegurado ao credor, de posse da Certidão de Crédito Trabalhista, requerer, a qualquer tempo, o prosseguimento da execução, a teor do 3º do art. 40 da Lei nº 6.830/80. Parágrafo único. A execução prosseguirá sem o desarquivamento dos autos físicos, mediante a reautuação do processo com a Certidão de Crédito Trabalhista, preservada a numeração original. Art. 7º Para os fins de que trata a Lei nº 7.627/87, aplicar-se-ão aos processos arquivados provisoriamente, nos termos deste Ato, as mesmas regras adotadas para os processos arquivados definitivamente. Art. 8º Este Ato entrará em vigor na data da sua publicação. A Resolução Administrativa nº 14/2012 deste Regional determina que em nosso âmbito "para a expedição da Certidão de Crédito Trabalhista (CCT) e o restabelecimento do processo de execução, deverão ser observados os procedimentos previsto no Ato n. 1/2012 (...), da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho (CGJT)". Por certo, com a referida certidão o exequente poderá requerer a qualquer tempo o prosseguimento da execução, caso encontre o devedor ou bens

5 passíveis de penhora. Assim já verificado nos autos que todas as medidas possíveis para satisfação do crédito foram adotadas, como acima relatadas, e nenhuma se mostrou eficaz, nova notificação do exequente seria inócua neste momento. Deste modo, eventual expedição de Certidão de Crédito Trabalhista não impede que o exequente proceda a diligência para localizar bens para satisfação do seu crédito, nos termos do 6º do Ato 01/2012 da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho - CGJT, não incorrendo, portanto, em prejuízo. Aliás, a expedição de certidão de crédito foi determinada em um primeiro momento pelo julgador a quo, fl. 288, com comando de arquivamento dos autos, caso decorrido o prazo previsto no art. 2º da Resolução Administrativa 14/2012. Decorrido quase dois anos daquele ato, foi determinada a notificação dos autores a juntarem cópias dos seus CPF s, bem como fornecerem seus atuais endereços, fl. 289, o que não foi atendido, sendo por fim extinta a execução conforme decisão ora recorrida, com a aplicação da prescrição intercorrente, o que se faz indevido. A eventual desconsideração da personalidade jurídica dos sócios retirantes, ora perseguida, deverá ser suscitada perante o juiz do primeiro grau, descabendo neste momento processual a análise deste pedido. Registro ademais que não houve pronunciamento acerca na primeira instância. Nesta senda, dou provimento ao apelo, determinando o prosseguimento da execução com a adoção das medidas pertinentes. PREQUESTIONAMENTO Tendo esta relatora adotado tese explícita sobre o thema decidendum e sabendo-se que não está o Juiz obrigado a refutar todos os argumentos das partes desde que fundamente o julgado, ressalvados os capazes, em tese, de infirmar a conclusão adotada (art. 371, 489 CPC, 832 CLT e 93, IX CF/88), tem-se por prequestionados os dispositivos legais invocados (Súmula 297, I, TST)

6 Isto posto, conheço do agravo de petição e, no mérito, dou-lhe provimento, para determinar o prosseguimento da execução com a adoção das medidas pertinentes, na forma da fundamentação supra. ACORDAM os Desembargadores que compõem a 8ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do agravo de petição e, no mérito, por unanimidade, dar-lhe provimento, para determinar o prosseguimento da execução com a adoção das medidas pertinentes, nos termos do voto da Desembargadora Relatora. Rio de Janeiro, 23 de Agosto de DALVA AMÉLIA DE OLIVEIRA Desembargadora do Trabalho - Relatora dcm