pro uncionário Foto ilustrativa TÉCNICO EM Curso Técnico de Formação para os Funcionários da Educação
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1 pro uncionário Curso Técnico de Formação para os Funcionários da Educação Legislação escolar - Curso Técnico de Formação para os Funcionários da Educação / Técnico Gestão Escolar: Legislação escolar 12 pro uncionário Foto ilustrativa 12 TÉCNICO EM GESTÃO ESCOLAR
2 Brasília 2009
3 Governo Federal Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Diretoria de Políticas de Formação, Materiais Didáticos e de Tecnologias para a Educação Básica Universidade de Brasília(UnB)
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5 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P116l Pacheco, Ricardo Gonçalves. Legislação Educacional. / Ricardo Gonçalves Pacheco, Aquiles Santos Cerqueira. Brasília : Universidade de Brasília, p. : il A educação nas Constituições. 2. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/ O Plano Nacional de Educação e a proposta do Coned. I.Título. II. Universidade de Brasília. Centro de Educação a Distância. CDU 378(81)(094.3)
6 Apresentação Olá parceiro de jornada! Chegamos a mais uma etapa do Profuncionário, onde trataremos dos aspectos legais que estruturam a educação escolar. Nas reflexões apresentadas até aqui, avançamos bastante na discussão pedagógica e em boa parte das questões relativas à gestão escolar, agora trataremos da legislação e de suas implicações na educação desenvolvidas pelas escolas. Este material não pretende limitar-se a um mero módulo, porém, reconhecendo as demandas por conhecimento legal que a rotina do trabalho administrativo de uma escola impõe a seus executores, ele propõe-se a orientar e fundamentar o estudo da legislação educacional. Trata-se tanto de reflexão e crítica dos preceitos legais que regem o fazer administrativo escolar quanto de ferramenta de consulta para seus executores. Nesta perspectiva, a legislação da educação será abordada não de forma aplicada, mas como um conjunto de orientações para o ordenamento e fundamentação de uma prática profissional. Por não se tratar de peça do direito administrativo, esta reflexão apresenta preceitos legais da educação brasileira e analisa seus contextos de criação à procura das influências sofridas pelos legisladores nos diferentes momentos da história da educação brasileira. Objetivo Ao terminar esta etapa de estudos e reflexões, esperamos que o profissional da educação demonstre, em sua prática de trabalho, conhecimento da legislação compreendendo a finalidade de suas ações enquanto servidor público em uma escola pública. Esperamos, também, que conhecendo os processos que constituem a evolução da legislação da educação e refletindo sobre o conselho escolar e o regimento escolar, assuma papel ativo no aprimoramento da legislação e no fortalecimento da gestão democrática da escola e da educação escolar. Ementa A educação nas Constituições. O Plano Nacional de Educação e as propostas do Coned. O regimento escolar. A educação pública nas Constituições. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n o 9394/1996. Plano Nacional de Educação e propostas do Coned. Regimento escolar: contrução e significado na perspectiva da autonomia.
7 Sumário
8 UNIDADE 1 A educação e as contituições 15 Mas o que é o FNDE? UNIDADE 2 A gestão educacional na legislação 31 Como as escolas têm sido geridas? A gestão democrática A gestão democrática na legislação Como construir a gestão democrática? UNIDADE 3 Plano Nacional de Educação 47 Resgatando o Debate O que é um Plano Nacional de Educação? Antecedentes do PNE: breve histórico PNE do Governo PNE - Proposta da sociedade civil Tramitação do pne no congresso nacional Aprofundando a reflexão: UNIDADE 4 O regimento escolar 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 73
9 INTRODUÇÃO Refletindo sobre aspectos administrativos e o servidor público O princípio central desta reflexão é o entendimento de que os profissionais da educação que exercem funções administrativas nos estabelecimentos educacionais, sejam escolas ou outras instâncias do sistema educacional, são agentes públicos viabilizadores de um direito, o direito à educação. O que implica esta profissão em certas posturas em relação ao cidadão e à percepção de sua tarefa como algo além do simples cumprimento de ações burocráticas. Outro marco norteador deste trabalho, não menos importante que o primeiro, deriva do entendimento de que a área administrativa não se constitui por um saber único aplicável a qualquer área ou circunstância. Que a organização da educação exige mudanças na postura e na filosofia administrativa. Taylor propôs quatro processos para orientar uma administração científica planejamento; organização, execução e controle -, no que foi complementado por Fayol, que propunha um processo administrativo estruturado em planejamento; organização, direção, coordenação e controle (KWASNICKA, 1987). Compreender que quando se trata da educação escolar, mais do que adaptar as orientações da teoria clássica da administração, ainda em voga na maioria das práticas administrativas, devido às particularidades da educação ali empreendida, todo profissional que atua deve postar-se como educador. O que extrapola a aplicação de regras e propõe postura ativa na perspectiva de construção da cidadania, frente às demandas colocadas à escola. Nesta percepção do espaço escolar, o diretor, o secretário, o encarregado, o porteiro, a merendeira e os responsáveis pelos chamados serviços gerais manutenção não desenvolvem os mesmos papéis que os ocupantes destes mesmos cargos em uma instituição não escolar. Pois, a função dos cargos varia de acordo com os objetivos da instituição a qual eles pertencem. Por exemplo, num banco os diretores estão preocupados com a elevação dos ganhos financeiros de seus clientes, em combinar aplicações para gerar mais e mais lucros, esse é o referencial de qualidade de uma instituição financeira. Já os diretores de uma fábrica, cujo referente qualitativo é a produção de bens com boa qualidade a custos cada vez menores, ocupam-se em qualificar sua mão-de-obra visando à elevação do desempenho dos operários, do padrão de qualidade
10 dos produtos e à produção. Tal distinção entre as funções inerentes aos cargos em diferentes instituições estende-se, ainda, aos compromissos e às posturas de seus ocupantes. Nas empresas, de uma maneira geral, o operário compromete-se com um produto concreto, tangível e de fácil mensuração da qualidade. Já nas escolas, o comprometimento dos profissionais vai além da simples produção de algo, envolve a construção da cidadania nos seus aspectos afetivos e emocionais, o que torna inadmissível comparar gestão escolar e gestão empresarial. Sendo, até certo ponto, a proposta de transposição de métodos de uma para a outra, a revelação de desconhecimento de ambos os contextos. Contudo, a racionalidade técnica tem seu lugar onde se requer e se lida com a precisão de tempos e espaços. Onde os ganhos, tanto do patrão quanto dos empregados, estão condicionados à utilização de pouco tempo no desenvolvimento das tarefas de produção. Quem nunca ouviu a expressão tempo é dinheiro? Pois bem, esta racionalidade das técnicas no desenvolvimento das tarefas prioriza os lucros, colocando em segundo plano as necessidades humanas emocionais e relacionais consideradas de fórum pessoal. E, só serão levadas em conta quando, de alguma maneira, estiverem comprometendo os resultados, ou seja, a produção. No entanto, nas instituições que desenvolvem ações não necessariamente econômicas, caso de escolas, hospitais e outras do gênero, onde o tempo é determinado por questões pessoais e sociais, racionalidade e qualidade são princípios cujos significados e ritmos devem ser ditados pelo tempo do homem. Pelo tempo necessário ao atendimento de necessidades relativas às questões emocionais e sociais dos indivíduos, o que tem a ver com o respeito à condição cidadã. Nesta perspectiva, cabe então estabelecermos de maneira clara qual o papel da legislação e de seu principal agente, o servidor público, quando da sua aplicação no contexto educacional da escola pública. Para tanto, este módulo apresenta como ementa: a educação nas constituições. A gestão na Constituição de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases. O Plano Nacional de Educação e as propostas do CONED Congresso Nacional de Educação. O regimento escolar. E os seguintes conteúdos:
11 O que é uma legislação? O que ela representa? Qual a função social desta legislação? Qual o papel e lugar do servidor público administrativo em uma escola pública? Esses são alguns dos questionamentos que procuraremos debater neste módulo de estudo. UNIDADES OBJETIVOS CONTEÚDO 2) Analisar o tema educação nas diversas constituições brasileiras. 1) A educação pública nas constituições. 2) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/96. 3) Plano Nacional de Educação e propostas do CONED. 4) Regimento Escolar: construção e significado na perspectiva da autonomia 1) Analisar os artigos da Constituição de 1988 e da LDB que têm relação direta com a gestão escolar. 1) Cotejar o PNE e as propostas do CONED. 1) Entender os objetivos e limites do regimento escolar. 2) Compreender o papel do gestor escolar na elaboração do regimento escolar. 1) Análise da discussão educacional na conjuntura histórica em que se deu a elaboração das constituições. 2) Análise da correlação de forças entre as classes sociais e sua influência na inserção do tema educação nas constituições numa perspectiva gramsciniana de Estado e sociedade civil. 1) Lei n. 9394/ ) Constituição de ) PNE e resoluções do CONED. 2) Demonstrar o significado de um plano nacional para a educação. 1) Elaboração do regimento escolar. 2) Técnicas de reunião e mobilização social. 3) Valorizar a profissionalização dos funcionários com vista à sua atuação nos espaços da escola, problematizar a visão estática das leis e valorizar os meios de construção coletiva
12 QUESTÕES PRELIMINARES Bem, comecemos nossas reflexões falando um pouco sobre as questões colocadas na introdução, que, só para relembrarmos, são: o que é uma legislação? O que ela representa? Qual a função social desta legislação? Qual o papel e lugar do servidor público administrativo, no nosso caso, em uma escola pública? Segundo o Novo Aurélio Século XXI o dicionário da língua portuguesa, podemos entender legislação como as leis que regulam as relações sociais em um país ou em uma determinada área. Por exemplo: a constituição trata das relações gerais, já o código de trânsito trata das decorrentes do trânsito de veículos e pessoas nas ruas e estradas. Então, quando falamos da legislação da educação, ponto central de nossa reflexão, tratamos de todas as leis que procuram de certa forma organizar o setor educacional. Tanto nas questões pedagógicas quanto nas questões administrativas. A existência de uma legislação representa muito mais que um conjunto de ordens a serem cumpridas. Trata-se, antes de tudo, da superação do poder do mais forte, do mais rico ou qualquer outro fator de distinção entre os indivíduos. Representa o estabelecimento de uma igualdade entre as pessoas na definição ou garantia dos direitos. Com as leis, todos passaram a ter sua conduta limitada, mas, por outro lado, têm maior possibilidade de proteção de seus direitos. Já imaginou a convivência entre as pessoas sem a existência de leis? Prevaleceria a vontade dos mais fortes ou mais ricos. Lembra do seu tempo de estudos de História, das monarquias absolutas onde os reis decidiam tudo considerando apenas a sua vontade? Pois bem, num Estado democrático as leis vêm garantir a igualdade dos direitos. Perante a lei, todos são iguais, têm os mesmos direitos e deveres como cidadãos. Seja rico ou pobre. Tenha nascido em palácio ou choupana. No entanto, a simples existência de legislações não garante os direitos. Faz-se necessário, além de conhecer as leis, organizar-se para que suas determinações sejam cumpridas. Para que os fatores decorrentes de
13 diferenças entre os indivíduos, sejam quais forem, não interfiram no cumprimento da legislação. Nessa perspectiva, a participação democrática, como cidadão, nos seus diferentes espaços de convivência - no trabalho, no bairro onde mora - e até mesmo nas instâncias legislativas por meio dos canais de comunicação disponíveis, torna-se importantíssima. Atuando desde a proposição de melhoras até como fiscalizador da execução do proposto e na defesa de seus direitos. Outro fator que merece destaque nessa reflexão sobre as leis e a cidadania da educação escolar refere-se à compreensão da hierarquia existente na estrutura educacional. Nessa estrutura estão acima de todos os outros, os órgãos federais, que representam a União. São eles o Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Educação. Estes órgãos definem diretrizes para a educação a ser desenvolvida em todo o país. Bem abaixo dos órgãos da União estão as Secretarias Estaduais de educação e os Conselhos Estaduais de Educação. Nessas instâncias de poder são tomadas decisões que orientarão a organização da educação nos estados, não podendo ser contrariadas as deliberações das instâncias federais, que constarão das diretrizes estaduais para a educação. Nos estados existem os municípios, onde se encontram as escolas efetivamente. A rede municipal de ensino é organizada pelas Secretarias Municipais de Educação, que têm poderes para organizar e gerenciar a educação nas instâncias locais. A legislação da educação, por se caracterizar como o conjunto de normas leis, resoluções, portarias, decretos e atos que dá forma e regulamenta a estrutura hierárquica educacional, acaba por se hierarquizar, havendo, portanto, leis que estão acima de outras. Imagine-se diante de uma escada na qual cada degrau representa um nível de poder, sendo mais poderoso aquele que estiver nos degraus mais elevados. Pensou? Pois bem. Na nossa escada, a Constituição Federal encontra-se no topo. Mais abaixo fica a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Num nível posterior encontra-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Estadual. E já no nível das escolas encontramos o regimento escolar. No entanto, a subordinação das leis no sistema educacional não segue rigidez hierárquica (FAUSTINI, 2002). Pois a Constituição Federal de 1988 delega aos estados e municípios, no artigo 23, poder de legislarem concorrentemente com a união sobre algumas matérias, entre elas as educacionais.
14 Ou seja, sobre a educação, as três instâncias da federação poderão definir leis, desde que uma menor não descumpra uma instância de maior poder. Por exemplo, a Lei de Diretrizes e Bases permite à iniciativa privada atuar no ensino fundamental, o que impede a existência de leis estaduais ou municipais que proíbam a instalação em seu território de escolas particulares. Como se vê, conhecer a legislação educacional tornase fator relevante no exercício da cidadania, uma vez que é nela que estão definidos tanto nossos direitos quanto nossos deveres. Passamos a conhecer nossos limites, os limites das autoridades de nosso município e estado, bem como a quais instâncias cabem cada responsabilidade, o que eleva nossa capacidade de reivindicação e de proposição de sugestões. Nessa perspectiva, o servidor público assume papel relevante. Pois nesta função, antes de um simples trabalho, dada a sua natureza de atendimento ao público, o servidor torna-se um agente viabilizador de um direito, sendo ele um preposto do Estado, o elo entre ele e o cidadão. Direito subjetivo é o direito do qual um sujeito é o titular de uma prerrogativa própria desse indivíduo, essencial para sua personalidade e para a cidadania. (CURY, 2002, p.21) Em órgãos educacionais o profissional deve procurar ser mais atento. Pois, trata-se de oferta de um direito subjetivo, cuja não garantia ou obstrução pode resultar em ação pública contra a instituição ou até mesmo contra o próprio servidor, caso se caracterize ter sido sua postura obstrutora do exercício de um direito. Não obstante à represália legal, órgão e ou setor do Estado no qual atue, o servidor público tem o dever ético de, no exercício de suas funções, atender ao cidadão com presteza, auxiliando-o para que ocorra a efetivação de seu direito. Que tal retomar as reflexões apresentadas no módulo Funcionários de escolas: cidadãos, educadores, profissionais e gestores, que trata dessa postura do servidor?
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17 A sociedade moderna inaugura-se com o advento da Revolução Francesa de Você deve estar lembrado dos efeitos dessa revolução, estudados no módulo Educação, Sociedade e Trabalho do bloco pedagógico, que influenciam a humanidade até o presente. Se por um lado a grande revolução aboliu os privilégios de nascimento e de fortuna do clero e da nobreza - segmentos sociais que não tinham nenhuma atividade produtiva -, por outro, o programa burguês vitorioso não atendia a todos, mas somente a uma minoria privilegiada que dominava os meios de produção e a própria burguesia. Dessa forma, os ideais de democracia, igualdade e fraternidade que conduziram a burguesia ao poder há mais de dois séculos são ainda perseguidos pela maioria dos povos. Um dos aspectos da modernidade é que os compromissos sociais estabelecidos a partir do jogo de forças entre os diversos segmentos da sociedade são firmados por meio de contratos. Para se cumprir determinada ação ela deve estar escrita, deve ter o poder de lei. 16 Assim, o maior contrato de um país é sua Constituição, considerada por alguns juristas como a certidão de nascimento de uma nação. É bem verdade que nem tudo que está escrito está garantido. A lei, muitas vezes, pode refletir uma situação que pode não ser a mesma em conjunturas posteriores. Por isso que muitas leis somente são implantadas quando a sociedade encontrase organizada, mobilizada em torno de seus direitos, numa participação e vigilância permanentes na garantia de direitos já consagrados na legislação. UNIDADE 1 A educação e as contituições Leia sobre a França, no módulo Educação, Sociedade e Trabalho: abordagem sociológica da educação. O conturbado nascimento da França republicana trouxe um debate acalorado sobre a extensão de direitos ao conjunto da sociedade. Um desses direitos que causou controvérsias e foi objeto de debate na elaboração da Constituição francesa foi o direito à educação. Os intelectuais do liberalismo divergiam entre si quanto à universalização da educação. Locke e Voltaire, por exemplo, não defendiam a extensão da educação às massas. Acreditavam que todos têm liberdade para se educar, mas essa liberdade
18 não vem acompanhada da igualdade de condições devido às diferenças de ordem econômica e social das diversas classes dentro da sociedade burguesa, o que deveria ocasionar escolas e instruções diferenciadas. Será que isso mudou? Procure ver no seu município se há distinção na educação que é ofertada a diferentes classes sociais. Já Diderot, Condorcet, Lepelletier e Horace Mann eram ardorosos defensores da educação como dever do Estado. Este, para esses intelectuais, tinha de garantir os meios para que todos tivessem acesso à escola, assegurando uma mesma e igual instrução para todos, independentemente de sua origem social, para se concretizar uma verdadeira equalização de oportunidades. No decorrer do século XIX, tanto na França como em boa parte dos países europeus, devido às pressões das massas e a necessidade da modernização tecnológica, instituíram-se sistemas educacionais que garantiram instrução a todos os cidadãos. É bem verdade que as diferenças sociais conduziram a escolas e currículos distintos que levavam em conta a origem dos indivíduos. Aos filhos da burguesia, a preparação para ocupar cargos de direção no Estado e na sociedade, para os do proletariado, salvo raras exceções, os trabalhos técnicos e braçais. Contradições inerentes a qualquer sociedade que estrutura-se sob os ditames capitalistas. E no Brasil, como se deu o tratamento à educação nas suas diversas constituições? Esta é a questão a qual nos dedicaremos neste momento, procurando enfatizar os contextos nos quais estavam fundamentados os debates e as concepções de educação defendidas e aprovadas. Diferentemente dos movimentos de independência das colônias européias na América, que tiveram a decisiva participação do povo, nossa libertação da metrópole foi negociada. Isso manteve o sistema monárquico, tendo por imperador o filho do rei de Portugal e a estrutura social oligárquica apoiada no trabalho escravo e no latifúndio. Ou seja, os interesses da elite lusitana residente na então ex-colônia foram preservados, bem como dos grandes fazendeiros. 17 UNIDADE 1 A educação e as contituições
19 Para saber mais sobre liberalismo e positivismo visite os sites: wiki/liberalismo wiki/positivismo O vocábulo outorga significa anuência, consentimento, permissão, concessão e ato ou efeito de outorgar. E, sendo extensão deste processo de independência, a constituinte de 1823, encarregada de elaborar a primeira carta constitucional brasileira, caracterizou-se pelo embate pela hegemonia no poder no Brasil independente. De um lado os monarquistas defensores do poder supremo e paralelo à constituinte do imperador e, obviamente, dado aos seus interesses pessoais na manutenção das relações coloniais com Portugal. E de outro os não declaradamente republicanos, mas que esperavam, por meio da Constituição, limitar os poderes imperiais e as regalias de que gozavam os lusitanos em território brasileiro. Os debates constituintes, alimentados pelas idéias liberais e positivistas que aportavam no Brasil com o retorno dos estudantes brasileiros que regressavam da Europa, especialmente da França, em termos de educação pouco produziram. Pois, a disputa entre os monarquistas e republicanos foi decidida com a dissolução, pelo imperador, da Assembléia Constituinte após cerca de seis meses de trabalhos. Em substituição aos deputados, D.Pedro I nomeou uma comissão formada por juristas de sua confiança que elaboraram a primeira Constituição do país ao seu gosto. Ela foi outorgada em UNIDADE 1 A educação e as contituições A Constituição Política do Império do Brasil, outorgada em março de 1824, definia o Brasil como uma monarquia centralista e hereditária e estabelecia os Poderes Legislativo, Executivo (Imperador e seus ministros), Judicial (juízes e jurados) e Moderador (Imperador). O Poder Legislativo era delegado à Assembléia- Geral (composta pelo Senado e Câmara dos Deputados) com a sanção do Imperador. Dadas as influências filosóficas e políticas vindas do continente europeu, a carta constitucional de 1824 apresentava alguns avanços no que tange aos direitos civis, sendo considerada, à época, legislação avançada. Estas influências, notadamente liberais, tinham na instrução pública fator de desenvolvimento das nações, o que resultou na definição da educação primária gratuita como direito de todos os cidadãos, organizada de maneira uniforme sob o controle central do Estado. A discussão sobre a oferta e controle legal da educação escolar no território brasileiro não cessou com a promulgação da Constituição de Pelo contrário, pode-se afirmar que a discussão da comissão constituinte, embora embargada pelo poder imperial, foi apenas o começo. Em 1827, a Comissão de Instrução Pública aprovou projeto de lei, que de certa forma complementava o texto constitucional, criando Escolas de Primeiras Letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos (FÁVERO, 2005, p.88), abolia os castigos físicos nas escolas, estabelecia a admissão de professores na forma de exame em caráter vitalício e estabelecia piso para a remuneração docente. Entre outras coisas esta legislação desceu a detalhes referentes ao conteúdo a ser ministrado pelas escolas.
20 Nelas os professores ensinariam a ler e escrever, as quatro operações de aritmética, práticas de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática de língua nacional e os princípios da moral cristã e da doutrina da religião católica romana, proporcionadas à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a constituição do império e a história do Brasil (Art. 6) (FÁVERO, 2005, p. 58). A abdicação de D. Pedro I em 1831 deixou aberto o caminho para as propostas de cunho liberal que, contrárias à centralização estabelecida em 1824, propunham imediata reforma da constituição brasileira. A proposta apresentada à Câmara, de nítida influência norte-americana, praticamente criava uma república presidida por um imperador (FÁVERO, 2005, p.60), uma vez que não reconhecia o poder moderador exercido pelo monarca e, além de outras medidas de cunho republicano, dava à Assembléia Geral o poder de vetar as decisões do poder executivo. IMPORTANTE Após os debates no Senado, nos quais as propostas de reforma constitucional foram duramente criticadas, as modificações foram enfim promulgadas pelo Ato Adicional de Este ato conferiu maior autonomia às províncias, aboliu o Conselho de Estado e efetivou a descentralização apenas da educação primária, que passava a ser legislada pelas províncias, mantendo o ensino superior sob a jurisdição do poder central. Sobre esta questão vale lembrar que os fatores que resultaram no fracasso da proposta de organização do sistema escolar da lei das escolas de primeiras letras de 1827, ainda não haviam sido sanadas, o que representava certo perigo ao bom andamento da instrução primária. Como se pode ver, apesar de várias discussões propostas pelos liberais, visando à ampliação da oferta da educação, esta se manteve restrita aos setores privilegiados economicamente. Proclamada a República, como passou a ser tratada a educação? Proclamada a República, como era de se esperar quando se pretende implantar um novo regime de governo, e dadas as influências liberais ao movimento republicano, ainda no governo provisório, antes mesmo do amparo constitucional, a O relatório do Visconde de Macaé apontava como problemas a efetivação da proposta: falta de qualificação dos professores; baixos salários dos professores; deficiências do método de ensino; precariedade das instalações escolares (FÁVERO,2005, p.59). 19 UNIDADE 1 A educação e as contituições
21 educação foi objeto de preocupação e deliberações dos dirigentes. Criou-se a Secretaria da Instrução Pública, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, o Instituto Nacional que atuava como uma espécie de ministério, o Pedagógium, que atuava com um centro de estudos e pesquisa e o Conselho de Instrução Superior. Descentralizou-se a instrução pública, definindo-a como competência dos estados e permitiu o funcionamento de escolas particulares religiosas. Como se vê, embora não explicitada, a obrigação estatal com a educação estava clara nas atitudes da União em relação às questões educacionais, assim como a luta pelo controle político entre positivistas e liberais. Aspectos externados na Carta Constitucional republicana de 1891 centralizavam a legislação educacional básica no governo federal e descentralizavam para os estados a implementação dessa educação. Ambigüidade que, na realidade, vai caracterizar a legislação educacional brasileira até os dias atuais, e tem suas raízes e explicações na forma pela qual o movimento republicano centralizador positivista, que culminou num golpe militar Proclamação da República - (FÁVERO, 2005), assimilou os ideais liberais de redução dos poderes estatais, que a propósito, vinham bem a calhar à defesa dos interesses das oligarquias regionais brasileiras. 20 Nesse contexto, não se pode dizer que a educação foi ignorada pela Carta Constitucional de Porém, diante do aprofundamento das práticas e ideais liberais, que davam autonomia às unidades da federação, o que de fato representava conferir autonomia às oligarquias locais, não se pode afirmar que existiram avanços na educação enquanto obrigação do Estado. UNIDADE 1 A educação e as contituições Pois, embora reconhecida como um direito, não se garantiu a gratuidade da educação, nem tão pouco se obrigou a implementação de uma rede mínima de escolas nos estados. Ficando esta tarefa à mercê dos interesses e jogos políticos locais, nos quais as classes populares não tinham representatividade, nem tão pouco poder para debater e reivindicar seus direitos. As influências liberais não se limitaram à diminuição das obrigações estatais em relação à educação. Abriram caminho para a iniciativa privada no setor educacional quando, de maneira sutil, sinalizaram para a possibilidade de existência de outros promotores da educação que não o Estado. Uma vez que, embora afirmando o controle do Estado sob a educação como único ente legislador para a área, expressões do tipo não privativamente
22 e nos estabelecimentos públicos encontradas nos artigos 35 e no 2º do art. 72, respectivamente, sugiram a coexistência de outros animadores para ser fiel ao texto da lei não públicos, portanto, não mantidos e organizados pela União. Como se pode ver, embora ampliasse e até mesmo consolidasse os direitos civis, a primeira Carta Constitucional republicana pouco avançou em termos de educação. Limitou-se a confirmar as tendências liberais de inserção dos setores privados no setor educacional e de minimização do Estado em favor das oligarquias regionais. E o século XX? O século XX no Brasil, pelo menos no seu nascedouro, pode ser entendido como um período de fortalecimento do Estado como defendiam os positivistas, e da iniciativa privada, bem ao gosto dos princípios liberais. E, na mesma toada do início do período republicano, a União tomava para si as atribuições referentes à organização estatal no plano legal numa perspectiva centralizadora enquanto concedia espaço a particulares em áreas antes privativas do Estado. A educação era uma dessas áreas. Os cenários político e social, tanto internacional quanto interno, eram de mudanças. Os ideais comunistas e a participação política da classe operária culminaram na criação, em 1922, da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, estabelecendo nos planos político e econômico internacional um contraponto à proposta liberal de ordenamento estatal. Internamente, vivenciava-se a luta por melhores salários e condições de trabalho, que teve por marcos a greve dos trabalhadores de 1917 em São Paulo que, apesar de duramente combatida, findou num acordo com elevação dos salários; e a guerra do contestado, envolvendo tropas da União e trabalhadores rurais que perdiam seus empregos e terras nos estados do Paraná e de Santa Catarina. E, em 1922, ocorreu o que viria a ser o maior evento artístico do país, a Semana de Arte Moderna, uma espécie de grito de independência cultural brasileiro. O país era conduzido pelas oligarquias cafeeiras e pecuaristas, que com a chamada política dos governadores, revezavam-se na Presidência da República. Tratava-se de um acordo político A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), fundada em 30 de dezembro de 1922 pela reunião dos países que formavam o antigo Império Russo, na Europa e na Ásia. O número de repúblicas constitutivas variou ao longo do tempo, mas foram quinze durante a maior parte da existência do país. A União Soviética foi uma das duas superpotências durante a Guerra Fria e dissolveuse oficialmente em 25 de dezembro de A Semana de Arte Moderna foi um evento ocorrido em São Paulo no ano de 1922 no período entre 11 e 18 de fevereiro no Teatro Municipal da cidade. Várias apresentações de poesia, música e palestras sobre a modernidade aconteceram durante três dias. Participaram da Semana nomes consagrados do Modernismo brasileiro, como Mário e Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia. IMPORTANTE 21 UNIDADE 1 A educação e as contituições
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